fls. 1 DECISÃO Classe : Reclamação n.º 0016659-50.2015.8.05.0000 Foro de Origem : Salvador Órgão : Relator(a) : Desª. Maria do Socorro Barreto Santiago Reclamante : Petrobras - Petroleo Brasileiro S/A Advogado : Rafael de Medeiros Chaves Mattos (OAB: 16035/BA) Advogado : Mário Ferreira Araújo Filho (OAB: 17313/BA) Advogado : Wellington Cunha Cerqueira (OAB: 3586/BA) Reclamado : Juiz de Direito de Salvador 6ª Vara dos Feitos de Rel de Cons Civ e Comerciais Assunto : Indenização por Dano Ambiental Trata-se de RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL, com pedido liminar, ajuizada pela PETROBRÁS PETRÓLEO BRASILEIRO S.A contra ato da JUIZA DE DIREITO DA 6ª VARA DOS FEITOS DE RELAÇÕES DE CONSUMO, CÍVEIS E COMERCIAIS DA COMARCA DE SALVADOR, que, nos autos da Ação Judicial tombada sob o nº 0058754-05.2009.8.05.0001, expediu alvará para levantamento da quantia de R$77.513.220,72 (setenta e sete milhões, quinhentos e treze mil, duzentos e vinte reais e setenta e dois centavos). Aduz a Reclamante que o ato da parte Reclamada teria afrontado o conteúdo da decisão proferida pela 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia nos autos do Agravo de Instrumento de nº 0002388-12.2010.8.05.0000, que tramitou sob a minha Relatoria. Narra a Reclamante que a Federação de Pescadores e Aquicultores do Estado da Bahia, na qualidade substituto processual dos pescadores e marisqueiras dos Municípios de Candeias, Madre de Deus, Saubara, São Sebastião do Passé e Santo Amaro, moveu Ação Judicial de Reparação de Danos contra a Petrobrás, ora Reclamante, por conta de um
fls. 2 derramamento de solução aquosa no mês de abril de 2009. Afirma que, inobstante tenha sido concedida a antecipação da tutela em favor dos substituídos, no decorrer de toda a instrução processual, foi questionado o real número de pescadores substituídos, quer pela não indicação da relação quando da petição inicial, quer pela ausência de comprovação de vínculo com a referida Federação de Pescadores. Sustenta que, após várias decisões e incidentes processuais, restou consignado no acórdão proferido nos autos do Embargos de Declaração no Agravo de Instrumento nº 0002388-12.2010.8.05.0000 o seguinte: (I) o pensionamento da antecipação da tutela pelo prazo de 1 (um) ano; (II) a desnecessidade de caução para liberação dos valores correspondentes a esse pensionamento; (III) a necessidade de que o Juízo de origem apreciasse as impugnações feitas pela Reclamante em relação aos pescadores substituídos e (IV) a necessidade de que o levantamento da quantia se desse de modo individual pelos próprios pescadores. Denuncia a Reclamante que a parte Reclamada descumpriu a decisão do Tribunal, na medida em que, ao expedir o Alvará, manteve os advogados da Federação como legitimados ao levantamento, determinando o destacamento de 30% (trinta por cento) do valor depositado em favor dos advogados, sem que estes tivessem comprovado nos autos possuir poderes especiais para recebimento de valores, nem a existência de contrato de honorários firmado com os substituídos. Assim, postula a Reclamante que seja autorizada a suspensão liminar do processo, sob o argumento de que O periculum in mora é mais que evidente, na medida em que
fls. 3 o dano de impossível reparação encontra-se à espreita, já que levantada a quantia milionária de mais de R$77.000.000,00 (setenta e sete milhões de reais) sem caução, a cada minuto antes de uma decisão que reverta o quadro torna-se maior a impossibilidade de retorno da quantia à disposição do juízo para fazer face aos levantamentos individuais pelos pescadores, e ver assim garantida a autoridade da decisão dessa Corte. O risco se torna ainda maior quando se observa a real possibilidade de levantamento imediato, pelos patronos da entidade autora, de honorários advocatícios na ordem de R$ 23.253.966,21 (vinte e três milhões, duzentos e cinquenta e três mil, novecentos e sessenta e seis reais e vinte e um centavos), sem qualquer caucionamento. No mérito, requer a procedência desta Reclamação. É o relatório. Passo a decidir o pedido de medida liminar. Examinados os autos, convenci-me de que a Reclamante não conseguiu demonstrar plenamente o periculum in mora que autorizasse o deferimento por inteiro da medida de urgência. Explico. Colhe-se do próprio teor do ofício encaminhado pela parte Reclamada ao Banco do Brasil S/A, acostado pela Reclamante às folhas 325-326/TJ que, em relação ao repasse dos valores aos pescadores, ficou ali esclarecido que os valores correspondentes a 70% (setenta por cento), serão
fls. 4 depositados em conta criada pela Federação dos Pescadores e que deverão ser repassados individualmente a cada pescador. Vejamos: Outrossim, o valor correspondente a 70% (setenta por cento) deverá ser depositado em conta corrente nº 26165-3, agência 2957-2, criada pela Federação dos Pescadores visando o repasse individual aos mesmos, nos termos do convênio firmado com o Banco do Brasil. DESTAQUE CONSTANTE DO ORIGINAL Como se pode verificar, em relação ao pagamento a ser feito aos pescadores, não se vislumbra, embora em cognição sumária, qualquer divergência entre a decisão tomada pela parte Reclamada e aquela da qual fui Relatora, pois o Acórdão proferido pela 2ª Câmara Cível, nos autos do Agravo de Instrumento nº 0002388-12.2010.8.05.0000 foi exatamente no sentido de que se observasse o pagamento de forma individualizada a cada um dos pescadores (folhas 102-115/TJ). Vejamos: Diante do exposto VOTO no sentido de DAR PROVIMENTO PARCIAL aos embargos declaratórios opostos pela FEDERAÇÃO DE PESCADORES E AQUICULTORES DO ESTADO DA BAHIA e pelo PETRÓLEO BRASILEIRO S/A PETROBRAS para dispensar a exigência de prestação de caução para levantamento da quantia depositada nos autos da ação de origem, o que deverá se dar através de alvará, de forma individualizada pelos próprios pescadores, cujos nomes estejam inseridos como ativos na relação fornecida pela Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (SEAP), após o acolhimento, ou não, das impugnações formuladas pela parte acionada, ao tempo em que estabeleço o período de 01 (um) ano para o cumprimento da decisão antecipatória da tutela. DESTAQUE CONSTANTE DO ORIGINAL
fls. 5 Com relação à determinação de que seja autorizado o levantamento de 30% (trinta por cento) do valor total do depósito pelos advogados da Federação, no entanto, penso que a decisão do Juízo de origem deve ser suspensa, pelo menos até que as informações sejam prestadas pela parte Reclamada, na medida em que, quando do julgamento do Agravo de Instrumento de nº 0002388-12.2010.8.05.0000, essa matéria não fora objeto de apreciação, necessitando esta Relatora de mais esclarecimentos acerca de como foram estabelecidos tais valores. Diante do exposto, DEFIRO PARCIALMENTE A MEDIDA LIMINAR apenas para suspender o pagamento dos valores correspondentes aos honorários advocatícios, confirmando, no entanto, a determinação que continuem a ser pagos aos pescadores os valores já reconhecidamente devidos. Na forma estabelecida regimentalmente (artigo 249, I), solicito o envio de informações por parte da parte Reclamada, no prazo de 10 (dez) dias. Após as informações, conceda-se vista dos autos à Procuradoria de Justiça. Publique-se. Salvador, 30 de julho de 2015 Desª. Maria do Socorro Barreto Santiago Relatora