MULTIPARENTALIDADE E FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA: EFEITOS JURÍDICOS Jennifer Helena Mendes 1

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Transcrição:

Revista do Curso de Direito da Universidade Braz Cubas V1 N2: Junho de 2017 MULTIPARENTALIDADE E FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA: EFEITOS JURÍDICOS Jennifer Helena Mendes 1 Resumo Com a evolução da sociedade, a família, sofreu mudanças e adaptações ao longo da história de modo que atualmente se busca desconstruir o tradicional conceito de família para que os novos núcleos familiares possam ser reconhecidos, e consequentemente seus direitos e deveres perante a sociedade. Dentre as diversas novas modalidades de família que se tem conhecimento na atualidade, a família socioafetiva, que tem por objeto a valorização jurídica e social da afetividade sobre o caráter biológico. Dessa forma nasce o direito ao reconhecimento da multiparentalidade, que é conceituado como a possibilidade de um indivíduo possuir filiação registral tanto dos pais biológicos quanto da família socioafetiva, apesar de posição contrária o entendimento atual é pelo seu reconhecimento. Palavras-chave: Multiparentalidade. Filiação. Socioafetividade. Família. Abstract With the evolution of society, the family has undergone changes and adjustments throughout history therefore, nowadays, it seeks to rebuild the traditional concept of family so that new families can be recognized, and consequently their rights and duties as sons and daughters. Among the many new forms of family which are known at present, the socio-affective family, which values the affection before the biological character. Thus is born the right to recognition of multiparentality, which is regarded as the possibility of an individual having birth record of both the biological parents and the socio-affective family, despite the contrary understanding, the current position comes from recognition. Key-worlds: Filiation. Socio-affective Family, multiparentality. SUMÁRIO 1. Introdução. 2. Do Histórico. 3. Da Família: 3.1. Do Conceito; 3.2. Dos Princípios; 3.3. Da função social da família. 4. Da Filiação Socioafetiva. 5. Da Multiparentalidade: 5.1 Do Conceito; 5.2 Do Reconhecimento da Multiparentalidade; 5.3 Efeitos jurídicos do reconhecimento da multiparentalidade. 6. Considerações finais. Referências Bibliográficas. 1 INTRODUÇÃO O presente artigo tem como objetivo a demonstração da importância do reconhecimento da multiparentalidade através da afetividade, bem como os efeitos jurídicos consequentes de tal reconhecimento. A sociedade está em constantes mudanças, de modo que a família, como base da sociedade, é o reflexo de tais mudanças, assim passam a existir novas formações de família, ou seja, não somente o modelo tradicional composto por mãe, pai e filhos biológicos. 1 Graduanda em Direito pela Universidade Braz Cubas

A família, independentemente de sua estrutura deverá obedecer aos princípios que a regem, através do respeito entre seus membros, buscando a igualdade de direitos e tratamentos, para que a função social da família seja alcançada, sendo esta a composição da sociedade. Importante esclarecer que a família para que assim seja conceituada não necessita seguir os padrões da sociedade arcaica, motivo pelo qual a valorização da afetividade sobre o caráter biológico é de extrema importância, sendo capaz de incluir no núcleo familiar, em termos de concessão de direitos iguais aos que detém os filhos biológicos, aquele que já possui afetividade e convivência diária com família que não de sangue. Através do reconhecimento da multiparentalidade ou pluriparentalidade, o filho que já se encontra inserido em um lar afetivo pode ter incluído em seu registro de nascimento o nome dos genitores, sem que isso acarrete a exclusão dos genitores biológicos. O principal objetivo do reconhecimento é demonstrar que o vínculo afetivo é, em diversos casos, muito mais relevante que o biológico, e que também pode se manter ambos os vínculos sem que haja prejuízo ao filho. Ressalta-se que em analise ao caso concreto o juiz, mediante provocação, deve observar os princípios constitucionais e infraconstitucionais, bem como a veracidade e intenção final o qual acarreta o pleito de reconhecimento da multiparentalidade, para que o impeça quando realizado com má-fé e interesses somente patrimoniais. Portanto, o que se pretende analisar no presente artigo é que tanto a doutrina, como a jurisprudência e a legislação devem sempre buscar a evolução e inclusão de novos direitos e reconhecimento de outros já presentes no cotidiano, para que, na temática abordada, seja possível a inclusão do filho na família socioafetiva de maneira completa, não somente a afetividade de fato, mas o que juridicamente ela acarreta. 2 DO HISTÓRICO No Direito Romano, a constituição familiar tinha como base o Instituto da Autoridade, sendo exercidas pelo pater famílias sobre os descendentes o pleno direito de vida e morte. O exercício de tal instituto era realizado através das mais diversas formas de punição, como por exemplo, a venda de um dos membros da família, ou como no caso do banimento da mulher, esta que deveria se manter submissa durante toda a relação conjugal, vindo a ser banida pelo consorte em caso de insubordinação. Já na fase pós-romano, a interpretação da família recebe parcela de contribuição do Direito Germânico, em particular, a espiritualidade cristã, ao centralizar o núcleo familiar entre os pais e os filhos, trazendo no casamento um caráter de Consagração, deixando para trás, uma

perspectiva autocrática para uma mais democrática e afetiva. Posteriormente, durante a idade média, os liames familiares norteavam-se unicamente pelo código canônico, estabelecendo o matrimônio religioso o único reputado. Embora os preceitos romanos continuassem a desempenhar satisfatória influência acerca do pátrio poder e às vinculações patrimoniais entre os consortes, notava-se também a progressiva importância de diferentes regras de princípio germânico. Ao longo da história, a matéria familiar foi se desenvolvendo, criando mudanças resultantes de decisões inovadoras de toda sistemática jurídica processual, revendo conceitos tidos até então como verdades absolutas e abandonando moldes que já não se aplicam à realidade moderna. Através de tais modificações na instituição familiar, fica claro que torna em desuso o caráter puramente religioso, econômico e social para se manter por base a relação humana, a afetividade, criando-o a partir da identificação individual entre pai e filho, e não advindo pura e simplesmente do resultado da genética. 3 DA FAMÍLIA 3.1 Do Conceito Em primeiro plano, pode-se dizer que atualmente o conceito de família, apesar de possuir definições mais antigas e petrificadas, tem três definições, a jurídica, o presente nos dicionários e aquela que se encontra em processo de modificação através da evolução da sociedade. De acordo com o entendimento da jurista Maria Helena Diniz 2 a família é composta por todos os indivíduos que possuírem ligação através de vínculo de consanguinidade ou da afinidade, podendo ser incluídos na definição terceiros que não possuam tais vínculos. Como é possível notar diferentemente da proposta trazida por Gonçalves, em maioria o conceito de família se torna obsoleto, ficando em desconforme com a evolução da sociedade 3. Contudo, a busca para que cada vez mais se possa abranger todos os tipos de família em um conceito amplo, no mês de abril de 2016 vieram à tona a modificação de um dos mais importantes dicionários do Brasil, onde vislumbra-se por definição o núcleo social de pessoas 2 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 19 3 Nesse sentido, a definição de Carlos Rodrigues Gonçalves: As leis em geral referem-se à família como um núcleo mais restrito, constituído pelos pais e sua prole, embora esta não seja essencial à sua configuração. É a denominada pequena família, porque o grupo é reduzido ao seu núcleo essencial: pai, mãe e filhos 2, correspondendo ao que os romanos denominavam domus. Trata-se de instituição jurídica e social, resultante de casamento ou união estável, formada por duas pessoas de sexo diferente com a intenção de estabelecerem uma comunhão de vidas e, via de regra, de terem filhos a quem possam transmitir o seu nome e seu patrimônio. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito de Família, p. 23

pelos laços de afeto. 4 De acordo com a entrevista concedida ao jornal online Notícias do Dia, de Florianópolis, no dia 15 de maio de 2016, pelo diretor e coautor do Instituto Antônio Houaiss é necessário que os conceitos antigos sejam modificados para que sejam mais bem adaptados, onde pode se notar a mudança de linguagem para uma definição. Portanto, de diante todo o exposto conclui-se que o conceito de família, apesar de estar em notável processo de mudança, ainda se encontra estagnado se visto em um sentido mais restrito, mas que quando aplicado na sociedade moderna encontra um amplo acolhimento. 3.2 Dos Princípios Os princípios que norteiam o direito de família têm como principal fonte a Constituição Federal de 1988, garantindo direitos fundamentais para a constituição familiar. Pode-se dizer que o princípio da dignidade da pessoa humana é um dos mais importantes, tendo em vista que é base para todos os demais princípios do direito de família. No que concerne ao tema em discussão, o principio garante que dentro do ambiente familiar haja o respeito, para que seja saudável a convivência entre os membros, uma convivência digna. Quando discorremos acerca do princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e dos companheiros. Nesse mesmo sentido, o princípio em questão também é abarcado na Constituição Federal de 1988, quando esta dispõe que todos são iguais perante a lei devendo inexistir distinção entre homens e mulheres, em direitos e obrigações. O princípio da igualdade jurídica de todos os filhos, também se encontra consagrado na CF/88, em seu art. 227, 6º, objetivando tratamento igualitário aos filhos, deixando certo que a igualdade se apresentará mesmo que os filhos não tenham advindo de um casamento, ou que frutos de adoção, possuindo os mesmo direitos e qualificações daqueles, ou seja, garantindo a isonomia de tratamento 5. Ainda no mesmo artigo, 7º fica disposto o princípio da paternidade responsável e 4 O Dicionário Houaiss, passando a ter como definição de família núcleo social de pessoas unidas por laços afetivos, que geralmente compartilham o mesmo espaço e mantém entre si uma relação solidária. 5 Maria Helena Diniz o faz brilhantemente: Com este princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e companheiros, desaparece o poder marital, e a autocracia do chefe de família é substituída por um sistema em que as decisões devem ser tomadas de comum acordo entre conviventes ou entre marido e mulher, pois os tempos atuais requerem que marido e mulher tenham os mesmos direitos e deveres referentes à sociedade conjugal, o patriarcalismo não mais se coaduna com a época atual, nem atende aos anseios do povo brasileiro; por isso juridicamente, o poder de família é substituído pela autoridade conjunta e indivisiva, não mais se justificando a submissão legal da mulher. Há uma equivalência de papéis, de modo que a responsabilidade pela família passa a ser dividida igualmente entre o casal. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 20

planejamento familiar deixando certo que o planejamento familiar é livre decisão do casal, fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, sendo que ao falar de casal entende-se também os genitores, cônjuges ou companheiros. Ademais, o princípio da comunhão plena de vida baseada na afeição é previsto no art. 1.511 do Código Civil de 2002, ficando expresso o intuito do legislador de fazer com que a família possua uma relação mais humana, trazendo direitos e deveres aos componentes da instituição, independente da forma que a mesma se constituiu, casamento, união estável, família substituta ou monoparental, prevalecendo sempre os laços de afetividade sobre os elementos meramente formais. 6 Por fim, na análise do princípio da liberdade de constituir uma comunhão de vida familiar, fica certo que o mesmo tem objetivo de assegurar ao indivíduo que escolha os moldes os quais formaram a instituição familiar, seja ela iniciada mediante casamento, união estável, ou o regime de bens a ser adotado, ou qual será a base educacional, cultural ou religiosa da família. Portanto, fica claro que os princípios do direito de família, também denominados pela doutrina como princípios constitucionais de família, dão ao indivíduo autonomia para constituir a sua família, trazendo em relação aos direitos e deveres capazes de manter um ambiente saudável e equilibrado para formar o instituto mais importante para a composição da sociedade. 3.3 Da função social da família Como anteriormente, porém brevemente, explanado a família possui uma grande importância para a constituição de uma sociedade, sempre ressaltando que o modelo o qual a constitui não é fator determinante para sua relevância. Quando adentra-se na questão da função social da família, quer dizer que o instituto deve cumprir sua função, uma finalidade, observando sua aplicação para que não a desvirtue, sendo a aplicação das normas do direito de família sintonizada com as garantias e funcionalidade exposta na CF/88. Guilherme Calmon Nogueira da Gama e Leandro Santos Guerra 7, expressam que os institutos do direito de família para que não percam a sua função social devem sempre buscar amparo nos princípios constitucionais para que alcancem a plenitude de suas aplicações. Insta ressaltar que é de extrema necessidade que os conteúdos dos institutos do ramo do 6 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito de Família, p. 28 7 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da; GUERRA, Leandro Santos. Função Social da Família, p. 125.

direito em questão estejam sempre adaptados ao atual momento histórico da sociedade e principalmente aos valores constitucionais, para que jamais percam sua função na sociedade. Desse modo, é passível o entendimento de que a função social encontra-se na plena aplicação dos institutos do direito de família nas situações concretas, sempre baseados nos valores e princípios constitucionais, permitindo sua flexibilização e atualização para que nunca impliquem em efeitos jurídicos negativos às partes interessadas 8. 4 DA FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA É fato que a conceituação e estrutura de família na sociedade moderna têm evoluído de forma que é necessária adequação no que tange a proteção a toda e qualquer forma de família, em especial, para o presente estudo, a valorização da afetividade como fator imprescritível, uma conexão que transforma uma estrutura familiar. Pode se traduzir a afetividade como respeito, acolhimento, a conexão emocional entre seres humanos. No âmbito da família que denominam como tradicional, é certo que existe afetividade, porém de forma que não influência ou valora o afeto como valor jurídico capaz de formar o núcleo familiar, pois na referida família o que vincula os membros é o elemento biológico. O que se extrai de tal explanação é, que quando da formação de uma família não vinculada pelo elemento biológico à afetividade se torna elemento essencial para a construção de um novo tipo de núcleo familiar, aquele que não necessita de vínculo biológico para o surgimento do instituto da filiação sociofetiva. Desse modo, passa-se a extrair a denominação de filiação socioafetiva, que surgirá independente de relação de parentalidade conectada pelo vínculo biológico, o que é encontrado de forma sutilmente expressa no art. 1.593 do Código Civil, que deixa certo que o parentesco pode ser denominado natural ou civil, de acordo com a compatibilidade consanguínea ou origem diversa. Para que se configure essa modalidade parental é necessária a análise de três aspectos capazes de compor a configuração da filiação socioafetiva, a saber: o estado de filiação, posse do estado de filho e a valoração do afeto como valor jurídico e formador de núcleo familiar, que 8 Nesse mesmo sentido, Faris e Rosenvald, dispõem que o reconhecimento do direito de visitas aos diferentes membros das entidades familiares, como tios, avós ou madrastas e padrastos, é um exemplo do cumprimento da função social dos institutos do direito de família. FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil Família, p. 122.

serão analisados em apartado. Nas palavras de Cristiano Chaves de Faria e Thiago Felipe Vargas Simões 9 o estado de filiação é reconhecido de maneira doutrinária e jurisprudencial, e como anteriormente explanado, o estado de filiação se desligou da origem biológica, se desenvolvendo através da convivência familiar. No caso da posse do estado de filho, a doutrina majoritária reconhece através de três aspectos complementares: a. tractatus - denominação que se dá no tratamento concedido através de educação, criação e apresentação à sociedade, pelo pai e mãe, como se filho fosse; b. nominatio - é a utilização do sobrenome familiar; e c. reputatio - o conhecimento da sociedade da posição de filho conferida ao indivíduo e participação no núcleo familiar. Já no que concerne ao valor jurídico e formação de núcleo familiar, a doutrina destaca a busca em criação de legislação capaz de incluir o conceito contemporâneo de família independente de a filiação ser biológica ou socioafetiva, assegurando a ambos os mesmos direitos e deveres, exaltando o afeto como elemento caracterizador de um núcleo familiar. Ressalta-se que a afetividade capaz de transformar a instituição familiar tradicional é baseada no princípio da dignidade da pessoa humana, sendo o princípio base das relações familiares, com respeito à dignidade dos membros, a liberdade dos indivíduos, sem discriminações. Sendo assim, é possível concluir que através da evolução do instituto da família foram trazidas novas composições, dentre elas, a filiação socioafetiva que desconstrói o estereótipo de que família é somente aquela com vínculo biológico, surgindo o conceito de que família pode ser aquela que se escolhe através do afeto e convivência diária. 5 DA MULTIPARENTALIDADE 5.1 Do Conceito Assim como a família de forma geral, a multiparentalidade passou a ser desenvolvida mediante a evolução da sociedade e a necessidade de encontrar amparo doutrinário, jurisprudencial e jurídico para a adequação de novas formas de representação do núcleo familiar. A doutrina majoritária entende que a Lei nº 11.924 de 2009, que promoveu alterações na Lei 6.015 de 1973 que trata de registros públicos, estabelecendo que o enteado ou a enteada pudesse adotar o nome da família do padrasto ou da madrasta, ficando evidente que as legislações estão se adaptando a realidade da família brasileira. 9 O qual é traduzido pelo brocardo jurídico "pai não é aquele que faz, mas sim aquele que cria e ama como se filho seu fosse". FARIAS, Cristiano Chaves; SIMÕES, Thiago Felipe Vargas. Reconhecimento de Filhos e a Ação de Investigação de Paternidade, p. 23

A multiparentalidade pode ser definida como a existência de duas paternidades coexistentes ou somatórias. 10 Dessa maneira, a partir do momento que é estabelecido um vínculo de filiação com mais de duas pessoas, coexistindo vínculos parentais biológicos e afetivos, é necessário que haja a preservação dos direitos fundamentais, da dignidade da pessoa humana, dos preceitos constitucionais, reconhecendo a multiparentalidade como uma instituição familiar. 5.2 Do Reconhecimento da Multiparentalidade Para que haja a constituição da multiparentalidade é necessária a desconstrução das famílias tradicionais que apenas se constituem pelos pais e filhos biológicos, sendo um avanço não somente da sociedade mas também para o Direito de Família que cria os institutos para que haja proteção efetiva dessas novas instituições. Nesse sentido, é possível verificar, por exemplo, a figura do padrasto ou madrasta e enteado, que poderá efetivamente se tornar uma família perante a lei, adquirindo direitos e deveres, somente concretizando o que de fato é: uma família socioafetiva, através do reconhecimento da multiparentalidade. Insta sempre ressaltar, que quando da ocorrência do reconhecimento da afetividade como aspecto objetivo para o reconhecimento da parentalidade é efetivada a observância do princípio da dignidade da pessoa humana, principalmente quando a própria Constituição Federal prevê a família socioafetiva. Em se tratando de reconhecimento de filhos, pode-se dizer que este é um ato voluntário ou forçado, sendo que aquele se dá pela própria vontade dos genitores, já este através de decisão do Poder Judiciário em ação investigatória de parentalidade. O reconhecimento da multiparentalidade se dá através da inclusão no registro de nascimento, onde será acrescentado o pai ou mãe socioafetivo e permanecendo o nome dos pais biológicos, ambos ou somente de um deles, a depender do caso concreto. 11 10 No entendimento da 3ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, na apelação nº 20130610055492, de 03 de fevereiro de 2016: O conceito de multiparentalidade exsurge, pois, como uma opção intermediária em favor do filho que ostenta vínculo de afetividade com o pai afetivo e com o pai registral, sem que se tenha de sobrepor uma paternidade à outra. Não há critério que possa definir preferência entre as duas formas de paternidade, sobretudo, quando há vínculo afetivo do menor tanto com o pai registral, como em relação ao pai biológico. 11 Nesse sentido a jurisprudência do Tribunal do Distrito Federal: TJ-DF - Apelação Cível APC 20141310025796 (TJ-DF) Data de publicação: 02/02/2016 Ementa: PROCESSO CIVIL. DUPLO REGISTRO DE PATERNIDADE.MULTIPARENTALIDADE. PAI SOCIOAFETIVO E BIOLÓGICO. VERDADE BIOLÓGICA COMPROVADA. INCLUSÃO DA FILIAÇÃO BIOLÓGICA COM A MANUTENÇÃO DA SOCIOAFETIVA. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA

É importante ressaltar que não se deve confundir a multiparentalidade com o conceito de adoção unilateral, pois essa quando se dá extingue o vínculo de filiação com os pais, criando um novo vínculo, como por exemplo a madrasta que adota o enteado retificando o registro de nascimento de modo que será a única constante no polo maternal. No caso da multiparentalidade haverá o reconhecimento e afirmação da existência do direito de convivência no núcleo familiar entre os pais e a criança ou adolescente, ou seja, o exercício da paternidade socioafetiva sem a exclusão do vínculo biológico, ou vice e versa. A doutrina majoritária possui entendimento de que não há cabimento no reconhecimento da multiparentalidade pois a filiação é determinada através do critério da socioafetividade ou biológica. O que é possível observar é que o posicionamento contrário aos dos Tribunais se dá em razão do temor em fragilizar a o vínculo socioafetivo, exigindo cautela nos casos concretos, pois é de se reconhecer que há possibilidade de um indivíduo requere a pluripaternidade apenas por interesse patrimonial, pois como será explanado posteriormente, em razão do instituto em debate o filho adquire o direito de ser herdeiro de ambos os pais em caso de falecimento. Em caso de ajuizamento de ação para o reconhecimento da multiparentalidade o interesse daquele que pretende deve ser sempre estar em primeiro lugar, principalmente quando se tratar de menores, caso em que segundo a norma processual brasileira, o Ministério Público deve fazer parte da lide. No que tange as provas na ação em debate, estas serão todas as admitidas em direito, ou seja, documental, pericial, testemunhal, ou seja, não é somente levado em consideração o desejo do autor, mas sim a análise minuciosa das provas, haja vista a irreversibilidade do reconhecimento da multiparentalidade. Como anteriormente explanado a análise das provas é de extrema importância também para evitar que haja abuso do direito ao reconhecimento fragilizando a socioafetividade com interesses patrimoniais ou qualquer outro que desvie do principal objetivo que é a constituição do núcleo familiar. DE AMPARO LEGAL. A filiação socioafetiva deverá prevalecer sobre a biológica no interesse dos próprios filhos. Precedentes do STJ. Admite-se o reconhecimento da paternidade biológica, embora já existente vínculo socioafetivo, para retificar o registro civil e anular a paternidade socioafetiva, quando o próprio filho buscar o reconhecimento biológico com outrem. Decorre essa possibilidade do direito ao reconhecimento da ancestralidade e origem genética (verdade biológica), que se inserem nos direitos da personalidade. Precedentes do STJ. De outro lado, é possível o reconhecimento da dupla paternidade nas hipóteses de adoção por casal homoafetivo. Não há amparo legal para a averbação em registro civil de dois vínculos paternos (socioafetivo e biológico) e um vínculo materno (biológico), tampouco se encontra embasamento jurisprudencial para tanto. Não é possível regular os efeitos sucessórios decorrentes dessa situação, pois se estabeleceriam três vínculos de ascendência, hipótese ainda não abarcada pela legislação civil vigente. Recurso de apelação conhecido e não provido.

Belmiro Pedro Welter 12 explana, ainda acerca das provas na ação de reconhecimento da multiparentalidade, que é obrigatório que se prove o estado de filiação na ocasião da propositura da ação, ou seja, a afetividade deve ser permanente e perdurar antes, durante e depois da ação, existindo posição doutrinária contrária defendendo que interrupção não deve ser levada em consideração. 5.3 Efeitos jurídicos do reconhecimento da multiparentalidade Passamos a falar sobre os efeitos jurídicos do reconhecimento da multiparentalidade. O primeiro efeito que é possível observar é o que se dá no parentesco do filho, pois passará a ter, até o quarto grau, parentesco em linhas reta e colateral, tanto com a família do pai e mãe afetivo, quanto com os pais biológicos. Importante ressaltar que, como anteriormente explanado, adquirirá todos os direitos inerentes ao filho, em matéria de direito de família, como a sucessão. Posteriormente, o efeito em relação ao nome que é direito fundamental, o filho poderá fazer compor seu prenome dos apelidos de família, sobrenome como popularmente é denominado, de ambas as famílias, ou seja, no caso em que se é reconhecida a multiparentalidade o filho poderá manter o sobrenome do pai, mãe ou ambos os pais biológicos e acrescentar o dos pais socioafetivos, de modo que não há necessidade de escolha. Quando da existência da família socioafetiva bem como a biológica, ou seja, não há caso de falecimento de um ou ambos os genitores, e for o caso de prestação alimentar, a obrigação será de ambos os genitores, como fica expresso no art. 1.696 do CC que tal direito, portanto, como há proximidade de ambos os genitores será de ambos a responsabilidade em eventual pagamento de pensão alimentícia. Em se tratando das visitas dos filhos, deve-se analisar o caso em suas peculiaridades, pois poderão existir casos em que os filhos apesar de conviverem com a família socioafetiva, e ter obtido o reconhecimento da multiparentalidade, aqueles mantém proximidade com os pais biológicos, dessa forma pela tutela dos interesses do menor poderá conceder direitos de visitas aos genitores biológicos. Os efeitos jurídicos quando do reconhecimento da multiparentalidade nos direitos sucessórios são significativos, pois se através de tal reconhecimento se dá aos filhos status de igualdade perante o ordenamento jurídico e em relação aos filhos biológicos, é fato que quando se tratar de sucessão a herança será direito também do filho fruto da família socioafetiva. 12 WELTER, Pedro Belmiro. Igualdade entre as filiações biológica e socioafetiva, p. 160

Veja o direito à herança é legalmente dos filhos, pois estes são considerados herdeiro necessário, desse modo a partir do momento em que há o reconhecimento da multiparentalidade esse terá o direito sucessório de ambas as famílias, pois em razão do próprio conceito de multiparentalidade essa se dá com a inclusão da família no registro do filho. Portanto, diante de todo o exposto, é de se reconhecer que através da multiparentalidade, reconhecimento que deve ser minuciosamente julgado diante do caso concreto, são muitos os efeitos jurídicos, de modo que sempre buscam a observância do princípio da dignidade da pessoa humana e da igualdade entre os filhos biológicos e socioafetivos, bem como a proteção destes. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Restou certo que o direito de família, bem como a matéria familiar em si, sofreu drásticas alterações ao longo da história da sociedade, sendo que tais mudanças trouxeram atualizações na sistemática processual, atingindo conceitos pétreos que não condiziam com a realidade da família brasileira moderna. Mediante as evoluções nos conceitos das entidades familiares, ou melhor, no conceito tradicional de família, nota-se que a impositividade do caráter religioso, econômico e social se tornou marginalizado, não se mantendo como os únicos pilares das relações humanas, de modo que passou a valorizar a afetividade sobre o caráter genético. A família é a junção de indivíduos que conectados mediante vinculo sanguíneos e, a partir da evolução acima mencionada, se tornou capaz de incluir de forma efetiva outros membros ligados pela afetividade, carinho e convivência diária, de forma que tal inclusão fosse feita, também, com efeitos jurídicos. Os princípios que norteiam o direito de família se tornaram mais essenciais ainda, para a garantia de todos os direitos fundamentais, estes extraídos principalmente do texto constitucional, sendo claro que através da observância de tais princípios dão à família autonomia na sua constituição, mantendo ambiente saudável e equilibrado, trazendo direitos e deveres, independentemente de sua formação, ou seja, capaz de igualar as relações familiares. Importante ressaltar a função social da família, que através dos princípios acima citados somente será eficaz se esses forem devidamente observados, sendo que apesar da evolução social e a consequente necessidade de reforma no direito à função social deve permanecer a mesma, a base da vida em sociedade. Por isso a importância do reconhecimento da multiparentalidade, que demonstra tão

claramente a busca pela inclusão de novas formas das instituições familiares, nessa é constituído vínculo entre a família socioafetiva e o filho que não possuem ligação biológica, coexistindo ambos os vínculos, sem que haja necessidade de exclusão de um ou outro, preservando a dignidade da pessoa humana, a liberdade de escolha e os demais preceitos fundamentais aplicados. Para que haja o efetivo reconhecimento é necessário que seja analisado aspectos capazes de demonstrar a existência da afetividade, de maneira a não banalizar o instituto, sendo eles o estado de filiação, posse do estado de filho e a valoração do afeto como valor jurídico e formador de núcleo familiar. Após o reconhecimento nota-se que os efeitos jurídicos se apresentam através do princípio da igualdade dos filhos biológicos e afetivos, o filho terá parentesco com ambos os genitores, seu nome poderá ser composto pelo apelido familiar de ambos os genitores, em caso de obrigação de caráter alimentar e na mantença dos registros da família socioafetiva e biológica esta será comum, bem como os direitos sucessórios em que se tornará herdeiro de eventuais herança de ambas as famílias. Conclui-se assim que o reconhecimento da multiparentalidade consiste em grande avanço no que tange a evolução e adequação do Direito Civil de Família no Brasil, de modo que reconhece a valoração da afetividade sobre o caráter biológico, garantindo ao filho integrante da família socioafetiva os mesmos direitos garantidos aos filhos biológicos, garantindo inclusive o direito de escolha de manter a convivência com ambas as famílias, mesmo possuindo posicionamento contrário, o seu reconhecimento tem sido o habitual. REFERÊNCIAS BOSCARO, Márcio Antônio. Direito de Filiação. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo. 2002. DIAS. Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 10ª Edição. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais, 2015. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Direito de Família. Vol. 5. 22. São Paulo: Editora Saraiva, 2007., Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Direito de Família. Vol. 5. 23. São Paulo: Editora Saraiva, 2008. FARIAS, Cristiano Chaves. ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Vol. 6 Famílias. 7ª Edição. São Paulo. Editora Atlas. 2015

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