OBSERVAÇÕES DA UGT SOBRE A ACTUALIZAÇÃO DA RETRIBUIÇÃO MÍNIMA MENSAL GARANTIDA I. ELEMENTOS PARA A ACTUALIZAÇÃO DA RETRIBUIÇÃO MÍNIMA MENSAL GARANTIDA Documento distribuído pelo Governo em CPCS Regista-se a entrega de um documento incorporando elementos, sobretudo de natureza estatística, sobre a evolução da retribuição mínima mensal garantida (RMMG). Considera-se o conjunto de informação disponibilizada relevante para uma futura discussão sobre a actualização da RMMG, sendo igualmente um importante instrumento complementar na apreciação do Relatório Interministerial que brevemente o Governo submeterá aos Parceiros Sociais. 1. Algumas considerações sobre as informações estatísticas disponibilizadas a) Concordando-se com os princípios genéricos de actualização da RMMG apresentados, encontra-se, no entanto, omisso um importante compromisso assumido em sede de concertação social e que, no entender da UGT, deverá estar presente na discussão sobre a futura actualização do salário o compromisso do salário mínimo crescer, pelo menos, ao mesmo nível do salário médio, o que não se tem vindo a verificar nos últimos anos. b) Considera-se positiva a divulgação, pela 1ª vez, dos valores relativos à mediana salarial, o que permite efectuar uma análise da evolução da RMMG à luz do princípio associado à Carta Social Europeia, ou seja, o de que o salário mínimo não deve ser inferior a 60% do salário mediano. Este valor permite, no entanto, termos uma percepção ainda mais clara do baixo nível salarial existente em Portugal e, particularmente, das fortes assimetrias na distribuição do rendimento. De facto, perante um ganho médio de cerca de 954.14, a mediana salarial ou seja, o valor central da distribuição de rendimentos - em que 50% dos trabalhadores estão abaixo e 50% acima é de apenas 678.80, o que equivale a 71.1% do ganho médio.
Esta informação reforça a necessidade de o salário mínimo se constituir efectivamente como um verdadeiro instrumento de política de rendimentos, cumprindo uma das suas principais funções, que se prende com o combate à pobreza. c) Na apreciação da informação disponível, gostaríamos de destacar alguns elementos: No período de 2002-2006, o salário mínimo perdeu poder de compra, registando-se mesmo uma variação negativa de 0.8% em 2003 e uma quase estagnação nos restantes anos. Em 2006, a RMMG foi actualizada em 3.0%, o que se traduzirá numa nova estagnação do poder de compra deste salário ou mesmo numa ligeira perda, tendo em conta a nova série da inflação que aponta para uma inflação anual acima dos 3%. O crescimento real da RMMG tem ficado geralmente aquém da variação da produtividade. Como se pode observar do gráfico seguinte, aqueles diferenciais são ainda superiores quando, em vez da produtividade por empregado se utiliza a produtividade horária. Gráfico 1: Evolução real do SMN e da Produtividade Horária 5,6 4,8 4 3,2 2,4 1,6 0,8 0-0,8-1,6 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 SMN Produtividade Horária O crescimento da RMMG ficou, na generalidade dos anos, aquém do crescimento médio dos salários, independentemente do agregado de salário escolhido salário base, ganho base ou remuneração total. Tal significa que o salário mínimo tem vindo a perder peso nos salários médios, não se cumprindo por conseguinte o acordado em sede de concertação social sobre esta matéria.
Gráfico 2: Evolução do peso da RMMG nos salários médios 80 70 Peso do SMN 69,8 70,0 69,6 69,2 68,3 67,2 66,5 60 50 51,5 53,9 51,1 54,0 50,7 53,3 47,5 51,9 46,9 48,7 46,3 48,0 46,5 47,7 40 30 20 10 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 No Salário Médio Na Remuneração Base (mediana) No Ganho Mensal (mediana) A evolução do salário mínimo no contexto europeu permite-nos concluir, não só pelo seu baixo valor relativo em que Portugal é ultrapassado por todos os países da UE15 e também pela Eslovénia e Malta (na UE25) -, como também pela sua trajectória de divergência face a vários países comunitários, mas em especial aos países da coesão. II. POSIÇÃO DA UGT PARA A ACTUALIZAÇÃO DA RETRIBUIÇÃO MÍNIMA GARANTIDA 1) Princípios Para a UGT, a actualização da RMMG deverá continuar a ter como referenciais fundamentais a taxa de inflação prevista e os ganhos de produtividade esperados e ter em conta a recuperação das perdas verificadas nos últimos anos face ao salário médio. Nesse contexto, afigura-se particularmente relevante a construção de um cenário macroeconómico credível e ajustado à realidade, muito especialmente no que se refere à taxa de inflação. Estamos profundamente preocupados com o cenário macroeconómico constante do Projecto de Orçamento do Estado para 2007, onde o Governo prevê uma inflação de 2.5% em 2006 e uma
descida para 2.1%, em 2007, ignorando-se a revisão de série efectuada recentemente pelo INE e que coloca a taxa de inflação, em Setembro de 2006, nos 3.1%. Note-se que se, até ao final do ano, os preços estagnassem, a taxa de inflação seria de 3.0%; se os preços tiverem, neste último trimestre, uma evolução mensal idêntica à de 2005, a taxa de inflação anual seria de 3.2%. Defendemos, portanto, uma revisão urgente daquelas previsões de modo a que a discussão sobre a actualização do salário mínimo nacional se possa fazer em bases adequadas. 2) Proposta de actualização da UGT 1 Tendo presente que o salário mínimo é um importante instrumento de combate à pobreza e um garante de um rendimento mínimo de subsistência e que, nos últimos anos, este tem perdido poder de compra o que é inaceitável -, a UGT considera que é prioritário assegurar um crescimento real mais elevado. Em Setembro de 2006, a UGT defendeu: 1. Que fosse assegurada uma imediata desindexação das pensões e prestações sociais ao SMN para que a sua actualização em 2007 não seja condicionada por constrangimentos de natureza orçamental. Nesse sentido, regista-se positivamente o acordo alcançando na discussão sobre a Reforma da Segurança Social. 2. Que o salário mínimo fosse fixado em 405.00 a partir de 1 de Janeiro de 2007, o que equivale a um aumento de 19.10 e de 5.0% (note-se que, no mesmo documento, a UGT defendeu um aumento médio dos salários entre os 3.0% e 4.0%, o que asseguraria um crescimento mais elevado do salário mínimo). 1 Uma Política de Rendimentos Justa e Solidária - Documento aprovado a 6 de Setembro pelo Secretariado Nacional da UGT
Quadro 1: Proposta de Aumento do Salário Mínimo SMN 2006 Propostas da UGT para o SMN em 2007 Euros Valor Euros Variação Euros Variação % 405.00 19.10 5.0% O diploma de actualização deve ser publicado o mais cedo possível (ainda em 2006), evitando situações que possam penalizar os trabalhadores. 3. Que fosse encetada uma discussão tripartida, em sede de CPCS, sobre o crescimento do salário mínimo a 4 anos, visando obter um consenso sobre uma adequada evolução deste salário a médio prazo, garantindo-se o seu crescimento real e uma progressiva aproximação aos valores médios da União Europeia e, em especial, de Espanha. Por conseguinte, acolhemos positivamente a proposta avançada pelo Governo na reunião de CPCS quanto à discussão da actualização do salário mínimo para 3 anos 2007, 2008 e 2009, que vai no sentido da nossa proposta anterior. Entendemos que, para além de se consolidarem princípios e regras de actualização da RMMG, um dos objectivos dessa discussão deverá ser o estabelecimento de uma meta para 2009 certamente uma meta ambiciosa que assegure uma verdadeira melhoria daquele agregado, que garanta um progresso importante em matéria de convergência face aos salários mínimos europeus e que seja um instrumento eficaz de luta contra a pobreza e a exclusão social. 24.10.2006