CUIDADOS COM A SAÚDE BUCAL DE PACIENTES HOSPITALIZADOS: CONHECIMENTO E PRÁTICAS DOS AUXILIARES DE ENFERMAGEM



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CUIDADOS COM A SAÚDE BUCAL DE PACIENTES HOSPITALIZADOS: CONHECIMENTO E PRÁTICAS DOS AUXILIARES DE ENFERMAGEM ORAL HEALTH CARE OF HOSPITALIZED PATIENTS: KNOWLEDGE AND PRACTICES OF NURSES' AIDES Andréa Moreira Bernini Faiçal 1 ; Arthur Eumann Mesas 2 1 Cirurgiã-dentista, especialista em Saúde Coletiva (Universidade Estadual de Londrina). 2 Cirurgião-dentista, especialista e mestre em Saúde Coletiva (Universidade Estadual de Londrina). * Artigo baseado em monografia apresentada ao Curso de Especialização em Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Londrina. Correspondência: Andréa Moreira Bernini Faiçal (faical@uel.br) RESUMO A manutenção da saúde bucal é de muita importância para a condição sistêmica de saúde de pacientes hospitalizados, pela relação que existe entre infecções bucais e doenças sistêmicas. Este trabalho visou levantar informações sobre o conhecimento e práticas de cuidados com saúde bucal por auxiliares de enfermagem, e compreendeu o total desses profissionais servidores do Hospital Universitário do Norte do Paraná, Londrina, PR. Após consentimento livre e esclarecido, foram coletados, por meio de um questionário não identificado e auto-aplicável, dados referentes ao conhecimento e práticas em relação aos cuidados com a saúde bucal. Entre os 209 auxiliares de enfermagem que responderam ao questionário, a média de idade encontrada foi de 42 anos, sendo a maioria mulheres (78,9%). Cerca de 60% não receberam informações sobre cuidados com a saúde bucal durante sua formação ou em cursos posteriores. Os resultados mostram a necessidade de melhores orientações sobre cuidados específicos nos cursos preparatórios, e implementação de protocolos de avaliação de saúde bucal no hospital. Descritores: Auxiliares de Enfermagem; Hospitalização; Cuidados Básicos de Enfermagem; Higiene bucal; Saúde bucal. ABSTRACT Oral health maintenance is very important for the general condition of hospitalized patients because of the existent relation between oral infections and systemic illnesses. This study aimed to investigate information about the knowledge and care practices of oral health of nurses' aides, and involved all 209 nurse aides from the University Hospital of the North of Paraná, Londrina, PR, Brazil. After free and cleared consent, data were collected through a non-identified and self-applicable questionnaire. The mean age was 42 years, most women (78.9%). Around 60% informed they had not received information about oral health care during their school formation or in subsequent courses. The results show the need of better orientation about specific care in the nursing aides courses and the implementation of oral health evaluation protocols in the hospital routine. Key words: Nurses' Aides; Hospitalization; Primary Nursing Care; Oral Hygiene; Oral Health. 1

Saúde bucal de pacientes hospitalizados INTRODUÇÃO Atualmente, a manutenção da saúde bucal é um importante aspecto a ser considerado para a condição sistêmica de saúde. Diversas associações foram descritas na literatura, como a relação entre doença periodontal e alterações cardiovasculares 1-3, infecções bucais e pneumonia aspirativa 4-6, entre outras 7. Em pacientes hospitalizados, essas associações assumem uma importância ainda maior, considerando a condição debilitada do paciente acamado em função, especialmente, da presença de comorbidades. Além desse aspecto, o tipo e consistência do alimento consumido durante a internação, a reduzida produção de saliva e a conseqüente deficiência no processo de limpeza natural dos dentes são fatores que indicam a maior necessidade de cuidados com a saúde bucal desses pacientes 7. No ambiente hospitalar o cuidado cotidiano de higiene e conforto, incluindo a higiene oral, é uma atribuição da equipe de enfermagem com capacidade técnica, sob supervisão de enfermeiros e médicos responsáveis pelo paciente 8. As informações necessárias para a capacitação de auxiliares de enfermagem quanto aos cuidados com a saúde bucal são descritas, entre outras fontes, em livros da área 5 e em um artigo realizado em um hospital geriátrico de reabilitação 9. No entanto, não foram encontrados estudos que analisassem os cuidados com saúde bucal realizados pelos auxiliares de enfermagem em hospitais-escola. O objetivo deste estudo foi verificar em auxiliares de enfermagem do Hospital Universitário do Norte do Paraná, Londrina, Paraná, o conhecimento e as práticas relacionadas aos cuidados com a saúde bucal dos pacientes hospitalizados. MÉTODOS Foi realizado um estudo descritivo, no Hospital Universitário - HU, no município de Londrina, Paraná, com dados coletados no período de setembro a outubro de 2006. A população de estudo foi composta por todos os auxiliares de enfermagem do HU, totalizando 374 indivíduos, com base em relação fornecida pela Divisão de Recursos Humanos do hospital. Foram excluídos previamente da pesquisa 121 (32,4%) auxiliares de enfermagem por não entrarem em contato direto com o paciente ou por estarem de férias e de licença, resultando em uma amostra de 253 auxiliares de enfermagem. Para a coleta dos dados foi utilizado um questionário auto-aplicável e não identificado. Este instrumento foi preenchido pelos auxiliares de enfermagem constantes na referida relação, após esclarecimento dos objetivos da pesquisa e o consentimento formalizado por assinatura de um termo de consentimento. Os formulários foram recolhidos por um dos autores deste estudo imediatamente na seqüência do preenchimento, sendo então depositados em uma urna de plástico lacrada e transparente. Realizou-se estudo piloto com os auxiliares de enfermagem do Hospital da Zona Norte no município de Londrina, possibilitando o teste e a adequação da redação das questões incluídas no formulário de pesquisa. As variáveis de estudo foram: idade, sexo, tempo de trabalho, turno de trabalho, tipo de paciente atendido, conhecimento sobre saúde bucal, práticas realizadas em higiene bucal, tipo de material utilizado e freqüência da prática de higiene bucal. As respostas obtidas nos formulários foram digitadas em um banco de dados no programa estatístico Epi Info, versão 3.3.2. 10 Após a dupla digitação e validação do banco de dados, foi realizada a análise estatística descritiva, que consistiu na verificação da distribuição das freqüências das variáveis de estudo, além de medidas de tendência central (média e mediana). O estudo recebeu parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina (CEP 0110.0.268.000-06). Após a realização da coleta de dados, os sujeitos de pesquisa foram convidados a participar de palestras sobre cuidados com s saúde bucal em pacientes hospitalizados. RESULTADOS Entre os 253 auxiliares de enfermagem entrevistados, foram registradas 44 perdas (17,4%), sendo 14 (5,5%) por recusa e 30 (11,9%) por indisponibilidade de tempo para responder ao questionário, mesmo considerando que foram realizadas três tentativas, em dias e horários alternados. Assim, a análise dos resultados foi feita com 2

Faiçal AMB, Mesas AE base em 209 (89,6%) auxiliares de enfermagem que efetivamente responderam ao questionário. A média de idade foi de 42 anos (DP= 8,2; mediana= 42), sendo 165 (78,9%) mulheres e 44 (21,1%) homens. A maior freqüência de tempo de trabalho encontrada foi de 177 (84,7%) auxiliares que trabalham há 10 anos ou mais. A maioria (70,8%) atende a pacientes internados, 85 (40,7%) trabalham no turno da manhã, 70 (33,5%) à tarde e 89 (42,6%) à noite. Na avaliação dos conhecimentos em relação à saúde bucal, observou-se que 182 (87,1%) realizaram cursos de reciclagem recente em sua área de atuação, e que 126 (60,3%) não receberam informações sobre cuidados específicos com a saúde bucal (Figura 1). Para 199 (95,2%) auxiliares de enfermagem, o sangramento gengival pode estar associado à má higiene bucal ou também a algum problema de saúde e/ou ao uso de medicamentos, e 199 (95,2%) responderam que pacientes que usam prótese total (dentadura) devem consultar o dentista para verificar a condição da prótese e saúde bucal. Quanto à conduta de práticas realizadas com a saúde bucal, apenas 90 (43,1%) não questionam o paciente sobre sua saúde bucal na admissão na unidade (Tabela 1). Foi identificado que 23 (11%) auxiliares de enfermagem não realizam a higiene bucal dos pacientes, sendo que 11 (5,25%) justificaram que não dá tempo, 7 (3,3%) que não faz parte da rotina de serviço, 2 (1,0%) que os pacientes não deixam realizar higiene bucal, um (0,5%) referiu que não sua responsabilidade, outro (0.5%) assumiu não realizar, apesar de ter recebido essa orientação, e outro (0,5%) não realiza pois há pouco funcionário, muita cobrança e pouca condição de trabalho. Três auxiliares (1,5%) responderam que em seu setor os pacientes realizam a higiene bucal sozinhos, que o acompanhante da criança realiza a sua higiene bucal e que os pacientes ambulatoriais não possuem escova e creme dental para realizar a higiene. Encontrou-se uma freqüência de 182 (87,1%) que disseram existir material disponível para a realização da higiene bucal nos pacientes, sendo que só três (1,4%) utilizam fio dental (Figura 2). % 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 34,2 65,8 Recebeu orientação sobre saúde bucal 87,1 12,9 Reciclagem recente 90,9 9,1 Tem necessidade de informações sobre saúde bucal Sim Não Figura 1. Características das informações sobre saúde bucal dos auxiliares de enfermagem, Londrina (PR), 2007. 3

Saúde bucal de pacientes hospitalizados Tabela 1. Atividades dos auxiliares de enfermagem relativas à condutas de cuidados com a saúde bucal dos pacientes hospitalizados, Londrina (PR), 2007. Conduta n % Registra informações sobre saúde bucal no prontuário 62 29,7 Questiona paciente sobre sua saúde bucal na admissão 90 43,1 Examina a cavidade oral do paciente 186 89,0 Realiza higiene bucal do paciente 104 55,9 Escova e creme dental 41,1 58,9 Antisséptico bucal 51,2 48,8 Não Espátula com gaze 23,9 76,1 Sim Somente gaze 15,3 84,7 Fio dental 1,4 98,6 0 20 40 60 80 100 120 Figura 2. Materiais utilizados pelos auxiliares de enfermagem para realizar a higiene bucal dos pacientes hospitalizados, Londrina (PR), 2007. % DISCUSSÃO Este estudo apresentou como limitação o fato de ser baseado em dados subjetivos coletados por meio de um questionário estruturado, o que poderia limitar ou induzir algumas respostas. No entanto, foram tomados cuidados relacionados ao método para minimizar esse efeito, como a reestruturação das opções após realização do piloto, e a inserção de espaços de preenchimento livre em alguns campos. É fato que existe grande importância dos cuidados com a saúde bucal como benefício para a saúde geral do paciente internado, e que a má higiene bucal está associada a infecções hospitalares pela colonização da placa dental por patógenos respiratórios 4. A higiene bucal é uma atribuição da equipe de enfermagem, é dela a responsabilidade de garantir o cuidado diário de higiene, inclusive a higiene bucal 8. Observou-se que 88% dos auxiliares de enfermagem acham que é sua a função da higiene bucal dos pacientes hospitalizados, e que 70,3% orientam o paciente, mesmo sendo capaz de realizar a sua própria higiene bucal. Deve-se ressaltar que atualmente existe a profissão dos técnicos em higiene dental (THD), que poderiam exercer esta função, diminuindo a sobrecarga das atividades dos auxiliares de enfermagem. 4

Faiçal AMB, Mesas AE Embora 87,1% dos auxiliares de enfermagem tenham citado que fizeram cursos de reciclagem recentemente, o que mostra a preocupação desses profissionais com a atualização, 60,3% relataram que não receberam orientações sobre cuidados específicos com a saúde bucal nesses cursos. Resultados semelhantes foram encontrados por Chung, Morjon e Jorgensen 11, que relataram que a maioria dos auxiliares de enfermagem alegou não ter recebido instruções sobre os cuidados com a higiene bucal nos pacientes. O expressivo percentual (91,4%) que assumiu necessitar de mais informações sobre cuidados específicos com a saúde bucal sugere que as disciplinas específicas sobre odontologia nos cursos preparatórios dos auxiliares de enfermagem são insuficientes. Além disso, a classe odontológica poderia colaborar nesse sentido, direcionando atividades educativas específicas sobre os cuidados bucais para profissionais de outras áreas. Existe um protocolo a ser seguido no HU, segundo o qual a equipe de enfermagem deveria registrar no prontuário a necessidade dos pacientes internados quanto aos cuidados com a higiene bucal, mas neste estudo identificou-se que apenas 52,6% dos auxiliares de enfermagem anotam no prontuário as condutas realizadas, 29,7% o questionam sobre sua saúde bucal, e 43,1% examinam superficialmente sua cavidade bucal. Com base nessas informações, sugerese que a avaliação básica das condições bucais dos pacientes deveria não apenas compor os protocolos de atuação da enfermagem, mas também que, em alguns casos identificados nessa avaliação fossem inspecionados por um cirurgião-dentista visando às devidas condutas e encaminhamentos do paciente, sob este aspecto. Conceição et al. 9 verificaram em estudo com 65 auxiliares de enfermagem de um hospital geriátrico em Belo Horizonte que 51,9% não realizam a higiene bucal dos pacientes, enquanto que encontramos que 23 (11%) não realizam, sendo apenas um do sexo masculino. Diante dos resultados encontrados e considerando as limitações do estudo, sugerese que sejam realizadas outras pesquisas com uma abordagem qualitativa para evidenciar uma avaliação mais precisa das percepções dos auxiliares de enfermagem quanto à saúde bucal de seus pacientes. REFERÊNCIAS 1. Genco RJ, Offenbacher S, Beck J, Rees T. Doenças Cardiovasculares e Infecções Orais. In: Rose LE, Genco RJ, Mealey BL et al. Medicina Periodontal. São Paulo: Santos; 2002. p. 63-79. 2. Nóbrega FJO, Garcia Filho AO, Seabra EG, Seabra FRG. Doença periodontal como fator de risco para o desenvolvimento de alterações cardiovasculares. Rev Bras Patol Oral. 2004;3(1):41-7. 3. Cunha-Cruz J, Nadanovsky P. Doenças periodontais causam doenças cardiovasculares? Análise das evidências epidemiológicas. Cad Saúde Pública. 2003;19(2):357-68. 4. Scannapieco FA. Relação entre doença periodontal e doenças respiratórias. In:Rose LE, Genco RJ, Mealey BL, Cohen W. Medicina Periodontal. São Paulo: Santos; 2002. p. 83-93. 5. Carpenito LJ. Planos de Cuidados de Enfermagem Clínica: condições médicas e distúrbios respiratórios. In: Carpenito LJ. Planos de cuidados de enfermagem e documentação: diagnóstico de enfermagem e problemas colaborativos. Porto Alegre: Artmed; 1999. p. 127-31. 6. Page RC. Relação entre a periodontite e as doenças e condições sistêmicas em crianças, adolescentes e adultos jovens. In: Bimstein E, Needleman HL, Karimbux N et al. Saúde e Doenças Periodontais e Gengivais: crianças, adolescente e adultos jovens. São Paulo: Santos; 2003;p.107-110 e 120-23. 7. Almeida OP, Corrêa MEP. Infecções bucais e doenças sistêmicas. Rev Bras Med. 2003;60(4):175-8. 8. Brasil. Conselho Federal de Enfermagem. Lei n.º 7498/86 de 1986 art. 13, regulamentação do exercício de enfermagem e de outras providências. Atividades do auxiliar de enfermagem [Acesso 5 nov 2006]. Disponível em: http://www.portalcofen.gov.br. 9. Conceição FR, Salles RE, Nogueira CN, De Freitas RMT, Silami de MC, Nogueira MA. La actuación del equipo de enfermería en la higiene bucal de los ancianos dependientes hospitalizados. Invest Educ Enferm. 2006;24(1):48-57. 5

Saúde bucal de pacientes hospitalizados 10. Decano AG. et al. Epi Info 2002: um banco de dados e programa de estatística para profissionais de saúde pública para uso em Windows 95, 98, NT, e 2002. Atlanta: Centro para Controle e Prevenção de Doenças, 2002. 11. Chung JP, Mojon P, Budtz-Jorgensen E. Dental care of elderly in nursing homes: perceptions of managers, nurses, and physicians. Spec Care Dent. 2000;20(1):12-7. Recebido em 18/04/2008 Aprovado em 15/05/2008 6