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Transcrição:

Estudo comparado ado da morfologia ologia externa de Zaretis itys itylus (Westw estwood) e Agrias claudina annetta (Gray) (Lepidoptera, Nymphalidae, Charaxinae). axinae). III. Abdome 1 Carlos Guilherme C. Mielke 2, Olaf H. H. Mielke 3 & Mirna M. Casagrande 3 1 Contribuição número 1293 do Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná. 2 Caixa postal 1206, 84145-000 Carambeí, Paraná, Brasil. E-mail: cmielke1@uol.com.br 3 Laboratório de Estudos de Lepidoptera Neotropical, Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná. Caixa Postal 19020, 81531-980 Curitiba, Paraná, Brasil. Pesquisador do CNPq. E-mail: omhesp@ufpr.br; mibras@ufpr.br ABSTRACT. Comparativ ative study of the external morphology of Zaretis itys itylus (Westw estwood) and Agrias claudina annetta (Gray) (Lepidoptera, Nymphalidae, Charaxinae) axinae) III. Abdome. Two species of Charaxinae, Zaretis itys itylus (Westwood, 1850) and Agrias claudina annetta (Gray, 1832) were subject of a detailed and comparative study of external morphology of the abdome. The results obtained were compared with other studies published and related to the external morphology of other Nymphalidae (Brassolinae, Morphinae, Danainae and Ithomiinae) and Lycaenidae. KEY WORDS. Butterflies, comparative study, morphology, Neotropical. RESUMO. Realizou-se um estudo detalhado e comparado da morfologia externa do abdome de duas espécies de Charaxinae, Zaretis itys itylus (Westwood, 1850) e Agrias claudina annetta (Gray, 1832). Os resultados obtidos foram comparados com outros já publicados e relacionados com morfologia externa de alguns Nymphalidae (Brassolinae, Morphinae, Danainae e Ithomiinae) and Lycaenidae. PALAVRAS CHAVE. Borboletas, estudo comparado, morfologia, neotropical. Esta é a terceira contribuição ao estudo morfológico externo e comparado de Zaretis itys itylus (Westwood, 1850) e Agrias claudina annetta (Gray, 1832). Aspectos taxonômicos, material e metodologia utilizados, como mencionados nas contribuições anteriores (MIELKE et al. 2004a, b). Muitas são as divergências entre autores quando se trata do primeiro esterno abdominal. EHRLICH (1958a) indica uma estreita barra esclerotinizada como e este fundido ao ; BROCK (1971) considera esta porção como um esclerito secundário do ; SORENSEN (1980) considera como, com ressalvas, a área membranosa anterior ao esterno II; CASAGRANDE (1979), BILOTTA (1994) e BIZARRO et al. (2003) indicam um esclerito bem definido como em EHRLICH (1958a), enquanto para SCOBLE (1992) o é ausente nos Heteroneura e presente nos Lepidoptera mais primitivos. Da mesma forma confusa são tratados os termos gnato e subunco. Para NICULESCU (1973) esta confusão pode ser evitada se considerarmos o subunco como estrutura acima do tubo anal e gnato abaixo deste. No entanto, essa forma de interpretação não parece tão fácil, muitas vezes, os braços laterais não se unem ventralmente abaixo do tubo anal, formando placas laterais dirigidas distal, dorsal ou ventralmente. SORENSEN (1980) baseado nas conclusões de OGATA et al. (1957) considera gnato e subunco estruras sinônimas. Como gnato foi descrito por PIERCE (1909) e subunco por CHAPMAN (1911), utiliza-se o primeiro. Com relação aos termos saco e vínculo, como identificado por CASAGRANDE (1979) e considerando que até a presente data os termos são tratados como estruturas distintas como em NIELSEN & COMMON (1991), SCOBLE (1992) entre outros, salienta-se que o próprio PIERCE (1909) autor do termo vinculo (vinculum) em publicação posterior, em 1914 (página XXII), o sinonimiza com saco (saccus) de BETHUNE-BAKER (1891). Zaretis itys itylus (Westwood, 1850) Figs 1-16 Abdome composto de 10 segmentos, sendo que no macho os dois últimos estão reduzidos e modificados para a formação de parte da genitália e na fêmea, os três últimos. Nos machos é compacto anteriormente e alargado dorso-ventralmente no primeiro terço; não apresentam estruturas glandulares inseridas na pleura. Cada um dos segmentos é composto por um tergo e um esterno, ambos esclerotinizados, interligados lateralmente pela pleura membranosa que na máxima altura é maior que a somatória de tergo e esterno. Tergo I composto por porção dorsal onde os dois terços anteriores são membranosos e o posterior é esclerotinizado, retangular e com a porção lateral

906 C. G. C. Mielke et al. III IV II V barra tergo-pleural sulco tergo-pleural VI I II III IV V 1 VI barra tergo-pleural sulco tergo-pleural I IX+X área de Downey I I II I II I 4 2 3 5 6 Figuras 1-6. Zaretis itys itylus. (1-3) Abdome do macho: (1) vista lateral; (2) Tergos I, II e III; (3) Esternos I, II e III; (4-6) abdome da fêmea: (4) vista lateral; (5) Tergos I, II e III; (6) Esternos I, II e III. caracterizada por uma barra horizontal, denominada de barra tergo-pleural, ligada póstero-ventralmente à e anteriormente à. Espiráculo I inserido entre estas três barras. Barra tergo-pleural com uma inflexão denominada de sulco tergo-pleural. Nos machos a desce lateralmente até próximo ao, o que não acontece nas fêmeas. Esterno I reduzido, projetado desde o ponto de inserção da barra tergo-pleural até a fusão com o lado oposto, sendo a parte anterior mais esclerotinizada ventralmente; látero - dorsalmente, a margem posterior estreita-se para acomodar o espiráculo, este estreitamento define a. Tergo II é o maior esclerito do abdome e apresenta na região ânterodorsal uma inflexão projetada internamente que forma uma parede de margem ventral bilobada, como o primeiro fragma

Estudo comparado da morfologia externa... III. Abdome 907 unco membrana anal processo póstero-ventral do valva gnato bulbo ejaculatório manica juxta edeago 7 8 saco projeção anterior do saco costa unco sáculo gnato membrana anal processo póstero-ventral do 10 projeção lateral forame do edeago juxta projeção caudal 9 projeção anterior do saco 11 12 vesica bulbo ejaculatório 13 14 Figuras 7-14. Zaretis itys itylus, genitália masculina: (7) vista lateral; (8) vista dorsal; (9) vista ventral; (10) vista interna da valva; (12) vista externa da valva; (12-14) edeago: (12) vista lateral; (13) vista ventral; (14) vista dorsal.

908 C. G. C. Mielke et al. lamela ante-vaginal apófise posterior papila anal lamela pós-vaginal óstio da bolsa duto da bolsa signos lamela ante-vaginal corpo da bolsa 15 16 Figuras 15-16. Zaretis itys itylus, genitália feminina: (15) vista lateral; (16) vista ventral. torácico; mostra uma expansão ântero-lateral projetada ventralmente que se funde ao longo de toda a. Na porção ântero-lateral, uma pequena área arredondada e mais clara, também citada por SORENSEN (1980) para Glaucopsyche Scudder, 1872, como área de Downey. Esterno II apresenta ânterolateralmente duas regiões mais esclerotinizadas, no centro do esclerito uma região mais esclerotinizada em forma de T invertido, posteriormente e se destacando deste, uma invaginação da membrana forma uma dobra no nto, constituindo uma barra retangular de margem anterior bilobada. A fêmea difere do macho por não mostrar pontos de inflexão e apresentar duas porções, onde a primeira, ou anterior é semelhante ao macho e a última, ou posterior é caracterizada por duas regiões centrais menos esclerotinizadas. Segmentos abdominais não modificados, do terceiro ao oitavo nos machos e do terceiro ao sétimo nas fêmeas, apresentam os tergos e esternos como placas transversais sobrepostas às placas posteriores. Na fêmea, o sétimo esterno é triangular lateralmente, provido de inúmeras cerdas. Entre os dois, a pleura membranosa contem os espiráculos abdominais, desde o primeiro até o sétimo segmento. Genitália masculina constituída pelo (nono tergo) fundido ao unco (décimo tergo). Unco triangular e de comprimento total semelhante a sua maior largura, apresenta uma crista na linha mediana dorsal e porção distal descendente, com ponta curvada para baixo. Tegume projeta-se látero-ventralmente para dar origem ao braço ventral do que se funde ao braço dorsal do saco. A fusão destes dois escleritos é representada por uma banda estreita menos esclerotinizada. A margem anterior do é definida por uma dobra do nto que projeta-se externa e posteriormente para inserção da membrana intersegmentar; na margem posterior, na porção ventral, uma projeção lateral, o processo póstero-ventral do é curvado internamente para articular com a parte dorso-basal da valva. Saco (nono esterno) forma a projeção anterior, duas vezes mais longa que larga. Gnato (décimo esterno), em forma de alça, encostado na margem posterior do e sustentando o hilo anal. Valva articulada com o braço póstero-ventral do e com o braço dorsal do saco; retangular, apresenta uma projeção caudal pontiaguda e uma lateral mais suave na margem dorsal; porção esclerotinizada interna e basal forma o sáculo que está articulado anteriormente ao processo posterior do saco; a costa uma dobra dorso-basal interna da valva, com forma de gancho articula com o braço póstero-ventral do. Anteriormente entre as valva, a juxta em forma de semicircunferência responsável pela sustentação do edeago. Cilíndrico e inteiramente esclerotinizado, o edeago, possui duas porções distintas, uma interna e anterior e outra externa e posterior, separadas pela região onde a manica se conecta a estrutura. A anterior, mais esclerotinizada, mostra o bulbo ejaculatório terminal por onde penetra o ducto ejaculatório. A posterior, distalmente com a vesica sem cornuto e quando em repouso retraída como também o prolongamento esclerotinizado lateral direito. Genitália feminina composta pelos oitavo, nono e décimo segmentos abdominais. O oitavo tergo é representado por duas placas laterais triangulares de pouca esclerotinização, uma a cada lado, unidas ântero-dorsalmente por uma barra em direção ventral à lamela ante vaginal. O oitavo esterno é composto por duas porções, uma posterior ou lamela pós-vaginal caracterizada por uma placa transversal estreitada na porção central, e uma anterior ou lamela ante vaginal com duas barras transversais não fundidas ventralmente, de forte esclerotinização que sustentam o óstio da bolsa. Bolsa copuladora formada pelo óstio, ducto e corpo. Corpo da bolsa esférico e provido de dois signos, placas longitudinais semelhantes, situadas na porção lateral esquerda. Papilas anais, duas placas verticais, formadas pelo nono e décimo segmentos, parcialmente membranosas e com muitas cerdas, possuem na margem anterior duas projeções rudimentares, as apófises posteriores. As papilas anais abrigam o ânus e o oviporo. Agrias claudina annetta (Gray, 1832) Figs 17-32 Tergo I composto por porção dorsal com o terço anterior membranoso e os dois terços posteriores esclerotinizados e projetado dorsalmente, de tal forma que aparenta ser uma estrutura independente do restante do abdome.

Estudo comparado da morfologia externa... III. Abdome 909 II III IV V VI barra tergo-pleural sulco tergo-pleural placa glandular III IV 17 II V sulco tergo-pleural VI barra tergo-pleural barra pósespiracular I placas glandulares II II 18 19 21 22 Figuras 17-22. Agrias claudina annetta. (17-19) Abdome do macho: (17) vista lateral; (18) tergos I, II e III; (19) esternos I, II e III; (20-22) abdome da fêmea: (20) vista lateral; (21) tergos I, II e III; (22) esternos I, II e III. IX+X I barra pósespiracular I II 20 I papila anal Pleuras II e III com placas glandulares nos machos. A primeira menor, contígua e posterior ao I e a segunda contígua, anterior, dorsal e posterior ao II. Estas placas também são citadas por CASAGRANDE (1979) para Caligo beltrao (Illiger, 1801), porém em segmentos e posições distintas. Genitália masculina constituída pelo e unco parcialmente fundidos e com uma profunda constricção que permite identificar cada um dos escleritos. Unco triangular com comprimento aproximadamente o dobro de sua maior largura, com crista na linha media dorsal, porção distal ascendente com ponta curvada para baixo. Projeção anterior do saco uma

910 C. G. C. Mielke et al. unco processo póstero-ventral do gnato manica vesica valva processo pósteroventral do saco projeção anterior do saco bulbo ejaculatório gnato juxta edeago 23 unco membrana anal 24 26 valva forame do edeago costa juxta projeção anterior do saco 25 sáculo 27 vesica 28 bulbo ejaculatório 29 Figuras 23-30. Agrias claudina annetta, genitália masculina: (23) vista lateral; (24) vista dorsal; (25) vista ventral; (26) vista interna da valva; (27) vista externa da valva; (28-30) edeago, (28) vista lateral; (29) vista ventral e (30) vista dorsal. 30

Estudo comparado da morfologia externa... III. Abdome 911 lamela ante-vaginal papila anal corpo da bolsa óstio da bolsa duto da bolsa lamela ante-vaginal signos 31 32 Figuras 31-32. Agrias claudina annetta, genitália feminina: (31) vista lateral; (32) vista ventral. vez mais longa que larga. Gnato formado por duas placas, separadas que sustentam na região basal e lateral anterior a membrana anal, a região distal em forma de clava revestida por espinhos se projeta dorsalmente. Valva triangular com extremidade distal arredondada. Projeção da valva emitida do sáculo contígua à juxta. Juxta em forma de placa trinagular cuja base sustenta a porção ventral do forame do edeago. Edeago, um tubo esclerotinizado apenas nas porções dorsal e lateral esquerda, e na parte centro mediana sem prolongamentos. Vesica totalmente membranosa e sem cornutos. Tanto a vesica como o bulbo ejaculatório estão direcionados ventralmente, como se o edeago tivesse sofrido uma torção de 180º. Sétimo esterno, nas fêmeas, não distinto dos demais. Genitália feminina com a lamela-antevaginal em forma de Y em cuja junção de braços se sustenta o óstio e parte do duto da bolsa. A lamela se projeta anteriormente até aproximadamente a metade do comprimento total do duto. Corpo da bolsa fusiforme e provido de dois signos representados por duas placas longitudinais e semelhantes que ocupam todo o comprimento da porção lateral direita da bolsa. Lamela pós-vaginal ausente. Comparação morfológica Na tabela I relaciona-se resumidamente, as diferenças encontradas entre as espécies em questão. Tabela I. Comparação resumida sas diferenças encontradas entre as espécies analisadas. Caráter Zaretis itys itylus Agrias claudina annetta Tergo I Dois terços anteriores membranosos e o terço posterior esclerotinizado; não projetado dorsalmente Placas glandulares Ausentes Presentes Terço anterior membranoso e os dois terços posteriores esclerotinizados; projetado dorsalmente Esterno da fêmea Triangular lateralmente, diferenciado dos demais segmentos Não diferenciado dos demais segmentos Tegume/ unco Fundidos com tênue delimitação Fundidos mas com significativa constricção Razão entre o comprimento total e a largura máxima do unco 1 2 Extremidade distal do unco Descendente Ascendente Formato do gnato Alça fundida Duas placas separadas Formato da valva Retangular Triangular Projeção oriunda da valva em direção ao sáculo Distinta da juxta Contígua à juxta Formato da juxta Semicircunferência Triangular Posição das aberturas do bulbo ejaculatório e da vesica Dorsal Ventral Bulbo ejaculatório em relação ao edeago Apical Pré-apical Esclerotinização da porção posterior e externa do edeago Tubo inteiramente esclerotinizado com prolongamentos que se retraem com a vesica Tubo esclerotinizado na parte dorsal e lateral esquerda sem prolongamentos Lamela pós-vaginal Presente Ausente Lamela ante-vaginal Fendida ventralmente Contígua ventralmente Corpo da bolsa Esférico Fusiforme Posição dos signos no corpo da bolsa Lateral esquerda Lateral direita

912 C. G. C. Mielke et al. AGRADECIMENTOS Agradecemos aos amigos e colaboradores Guilherme Pereira de Almeida Neto (Conceição dos Ouros, MG), Herbert Miers (Joinville, SC) e Ivo Rank (São Bento do Sul, SC) pela disponibilização de informações e exemplares de suas coleções. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BETHUNE- BAKER, G.T. 1891. I. Notes on the genitalia of a gynandromorphous Eronia hippia. Transctions of the Entomological Society of London: 1-6. BILOTTA, I.G. 1994. Morfologia comparada do abdome das espécies sulbrasileiras de Morphinae (Lepidoptera, Nymphalidae). Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, 11 (4): 737-748. BIZARRO, J.M.S.; M.M. CASAGRANDE & O.H.H. MIELKE. 2003. Morfologia externa de Thyridia psidii cetoides (Rosemberg & Talbot). IV. Abdome e apêndices (Lepidoptera, Nymphalidae, Ithomiinae). Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, 20 (4): 681-684. BROCK, J.P. 1971. A contribution towards an understanding of the morphology and phylogeny of the Ditrysian Lepidoptera. Journal of Natural History, London, 5: 29-102. CASAGRANDE, M.M. 1979. Sobre Caligo beltrao (Illiger). III (sic) Morfologia externa do adulto abdome (Lepidoptera, Satyridae, Brassolinae). Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, 39 (3): 711-716. CHAPMAN, T.A. 1911. On the scaphium of Gosse. Entomological Record & Journal Variation, London, 23: 285-288. DOHERTY, W. 1886. A list of Butterflies taken in Kumaon. Journal Asiatic Society of Bengal 55 (2): 103-140. EHRLICH, P.R. 1958a. The inntal anatomy of the monarch butterfly Danaus plexippus L. (Lepidoptera: Danaidae). University of Kansas Science Bulletin, Lawrence, 38 (18): 1315-1349. MIELKE, C.G.C.; O.H.H. MIELKE & M.M. CASAGRANDE. 2004a. Estudo comparado da morfologia externa de Zaretis itys itylus (Westwood) e Agrias claudina annetta (Gray) (Lepidoptera, Nymphalidae, Charaxinae). I Cabeça, apêndices e região cervical. Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, 21 (2): 357-369.. 2004b. Estudo comparado da morfologia externa de Zaretis itys itylus (Westwood) e Agrias claudina annetta (Gray) (Lepidoptera, Nymphalidae, Charaxinae). II Tórax e apêndices. Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, 21 (3): 421-433. NICULESCU, E.V. 1973. L armure génitale chez les Lépidoptères. Supplement du Bulletin de la Societé Entomologique de Mulhouse, 96p. NIELSEN, E.S. & I.F.B. COMMON. 1991. Lepidoptera (Moths and butterflies), p. 817-915. In CSIRO (Ed.). The Insects of Australia. Carlton, Melbourne University Press, 1137p. OGATA, M.; Y. OKADA; H. OKAGAKI & A. SIBATANI. 1957. Male genitália of Lepidoptera: moorphology and nomenclature III. Appendages pertaining to the tenth somite. Annals of the Entomological Society of America, New York, 50 (1): 237-244. PIERCE, F.N. 1909. The genitalia of the Noctuidae. Liverpool, A.W. Duncan Printer, 88p.. 1914. The genitalia of the Group Geometridae of the Lepidoptera of the British Island. Liverpool, XII+88p. SCOBLE, M. 1992. The Lepidoptera form, function and diversity. Oxford, Natural History Museum Publications- Oxford University Press, 404p. SORENSEN, J.T. 1980. An inntal anatomy for the butterfly Glaucopsyche lygdamus (Lepidoptera: Lycaenidae): a morphological terminology and homology. Zoological Journal of the Linnean Society, London, 70: 55-101. Recebido em 06.VI.2003; aceito em 12.XI.2004.