Imagem e linguagem
Cartaz de frutas Esta fotografia de Walker Evans foi feita em 1936, durante sua viagem ao Sul dos Estados Unidos.
Características da imagem: imagem poluída e confusa enquadramento prioriza as placas em detrimento da arquitetura externa Foto se divide em 3 níveis - inferior- 2 cartazes de gêneros alimentícios - intermediário- placas históricas, discurso e estenógrafo representando o mundo da política, do trabalho, dos negócios - superior- cartaz da escola de arte, pairando acima das necessidades materiais e dos afazeres públicos e privados da cidade.
Ironias na imagem: contraste histórico da placa do discurso do general Lafayette em 1924 com as placas de serviços oferecidos um século mais tarde. placa do estenógrafo- avanço técnico da escrita rápida, da pressa representação das uvas, abacaxi ou repolho na placa das verduras não depõe em benefício da escola de arte.
Sobre Walker Evans (1903-75) Fotógrafo americano. Desde suas primeira fotos, no final da década de 20, Evans sempre se caracterizou por uma abordagem direta e documental dos fatos, das pessoas e das coisas, procurando enquadramentos simples, evitando colocar a câmera em ângulos extravagantes, fugindo dos gestos sensacionais, dos exageros de sombra e luz. Rostos fotografados de frente, objetos caseiros, cenas de rua, fachadas de casas compõem a maior parte de sua produção.
Cartaz Marcelo Coelho chama a atenção na fotografia de Walker Evans para a questão dos cartazes de rua. As relações entre imagem e texto nos produtos oferecidos nas ruas da cidade e sua correspondência rígida entre palavra e imagem.
Qual a razão dos cartazes conterem as ilustrações e suas respectivas legendas? Isso é uma pizza, isso é uma cortina?
1- garantir a compreensão, todos entendem o que está se oferecendo 2- satisfação do reconhecimento 3- realidade e linguagem em sintonia 4- imagem dá mais confiança ao que está escrito Somente a imagem garantiria a confiança? E somente o texto? Imagem X texto
Isso não é um cachimbo Tela A traição das imagens de René Magritte, 1929
Tudo não passa de uma ilusão, de uma representação de um cachimbo no papel. Se algum dia alguém conseguir fumar este cachimbo, avise...
Magritte redistribuiu no espaço o texto e a imagem; cada um retoma seu lugar, ele expõe de forma original a ruptura entre imagem e enunciado. A forma desenhada do cachimbo expulsa todo texto explicativo ou designativo, tanto é reconhecível; seu esquematismo escolar diz muito explicitamente: "você vê tão bem o cachimbo que sou, que seria ridículo para mim dispor minhas linhas de modo a lhes fazer escrever: isto é um cachimbo. As palavras, de certo, me desenhariam menos bem do que eu me represento".
O estudo de Foucault sobre Magritte, Isto não éum cachimbo, sustenta a idéia de que o enunciado nunca conterá o visível, assim como o visível nunca conterá o enunciado. Há uma dissociação contínua entre figura e discurso.
O conceito é irrepresentável, mas a imagem é inexplicável. Entre eles há, portanto uma distância irreparável. E por isso a imagem vive da nostalgia do texto; e o texto, da nostalgia da imagem. Baudrillard
Nova York, 1943 André Kertész
Fotografia analisada por Rodrigo Naves O que tem na imagem: Um homem lendo jornal no teto de um edifício, cercado por respiradores do prédio
Composição O ponto de vista elevado da foto e a tampa de um dos respiradores logo em primeiro plano possibilitam um contraste claro entre a homogeneidade e a regularidade dos cones que protegem a saída dos dutos e as suaves nuances da cabeça do homem, levemente curvada sobre o jornal. As sombras chapadas dos elementos construídos se diferenciam marcadamente dos leves tons de cinza que constroem a figura masculina, e que em sua suavidade refazem a complexidade da atividade em que o leitor está envolvido.
Análise: Há uma oposição clara entre as coisas artificiais e o homem que lê: a reflexão e o repouso proporcionados pela leitura em oposição a um lugar inóspito, o alto de um prédio, com seu concreto áspero, dutos de ventilação regulares e monótonos. A foto aponta quase uma fraternidade entre o homem e seu ambiente urbano. Há uma afinidade entre o leitor e o espaço em que se instalou. Nada da artificialidade do local o incomoda.
Significado: Ele soube revelar pelo enquadramento, ponto de vista, escolha do tema, da luz, do momento uma situação singular de leitura. O personagem criou para si uma situação que lhe garantia simultaneamente atenção e um contato acentuado com o mundo. Mesmo sua postura corporal demonstra isso nem muito relaxada nem excessivamente tensa, algo intermediário, uma disposição de quem trabalha e se distrai ao mesmo tempo.
Sobre André Kertész (1894-1985) Fotógrafo húngaro, ele é um dos fundadores da vertente fotográfica que se convencionou chamar realista, naturalista, humanista. Ele recusava todos os malabarismos possibilitados pelos recursos técnicos, admitindo apenas o reenquadramento viabilizado pelas ampliações.