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Transcrição:

PN 4711.04-51; Ap.: Tc. Porto, 4ª Vara (); Ap.e2: Ap.a3: Em Conferência, no Tribunal da Relação do Porto I. Introdução: (a) O Ap.e discordou da improcedência dos embargos de terceiro que moveu contra a Ap.a, fundado em ter remido em anterior execução na qual fora vendido judicialmente prédio dado de hipoteca, depois penhorado nestes autos, defendendo que a garantia executada haveria de ter caducado com a remissão: o tribunal assim não entendeu. (b) Da sentença recorrida: (1)...há-de ser realçado que desde 28/08/90 a embargada, antiga Aliança Seguradora SA, dispõe de registo a seu favor de hipoteca voluntária sob o imóvel em questão, e no momento em que o embargante exerceu o direito de remissão na execução que intentou contra no processo nº 280/96, do Tribunal Judicial de Ponte de Lima, já aquela garantia do crédito da embargada estava devidamente publicitada, sendo certo que o registo era até constitutivo da referida garantia nos termos do art. 687 do C. Civil. (2) Ainda assim, a embargada nunca interveio naqueles autos, não tendo tido oportunidade de, como seria normal, ir reclamar o seu crédito e se cobrar do produto dos bens; ou seja, a embargada viu o bem em que incidia a sua 1 Vistos: Des. Marques Peixoto ( ); Des. Fonseca Ramos ( ). 2 Adv.: Dr. 3 Adv.: Dr. 1

garantia ser alienado sem que o seu crédito fosse satisfeito no todo ou em parte. (3) Mas o direito de sequela nos direitos reais de garantia permite ao credor descansar sobre a mesma independentemente das vicissitudes sofridas pela titularidade de outros direitos reais incidentes sobre a coisa. (4) Ora, nos termos do art. 686 do C. Civil a hipoteca vem definida como direito de o credor ser pago pelo valor de certas coisas imóveis ou equiparadas pertencentes ao devedor ou a terceiro; e é também por isso que o art. 101, nº 1 al. a) do Cód.Reg.P., determina o registo por simples averbamento à anterior inscrição da penhora, arresto, arrolamento/penhor e demais actos ou providências sobre créditos garantidos por hipoteca. (5) Neste quadro pode afirmar-se que o credor que promove a execução e faz registar a penhora sob o imóvel hipotecado tem de beneficiar por inteiro da prioridade e preferência derivadas do anterior registo da hipoteca. (6) Flui do exposto que a embargada não opõe apenas ao embargante a penhora mas a hipoteca de onde aquela promana, que subsiste [1] por virtude do respectivo crédito não ter sido contemplado na execução acima aludida e [ 2] através do registo anterior à circunstância de a embargante ter exercido o seu direito de remissão: a garantia real da embargante é plenamente válida e oponível a qualquer adquirente do imóvel. II. Matéria assente: (1) Nos autos de execução sumária que com o nº 22 -A/2001, corre os seus termos na 3ª Secção, 4ª Vara, das Varas Cíveis d o Porto, foi orden ada a citação de credores desconhecidos para reclamarem o pagamento dos respectivos créditos, pelo produto do bem imóvel penhorado e publicada no Jornal de Noticias, nº 298 do dia 26/03/2003. (2) Contudo, no dia 11/07/2000, o embargante tinha requerido o ex ercício do seu direito de remissão sobre esse prédio, penhorado também que foi [ 07/03/19964], nos autos de execução, com o nº 280/1996, do 1º Juízo no Tribunal Judicial de Ponte de Lima. (3) No dia 25/09/2000, depositou o preço da aquisição de tal imóvel. 2

(4) E em 09/10/2000, nesses mesmos autos de Ponte de Lima, processo já em arquivo, foi consider ado validamente exercido o direito de remissão em causa, por parte do ora embargante, quanto a esse prédio urbano constituído por um edifício de R/C (armazém), lugar da Laje, Calendário, VN Famalicão, insc. mat. art. 3079 (antigo 2075) e desc. C. Reg. P. nº 00264/210388/Calendário: a partir de tal data o embargante é o seu exclusivo proprietário. (5) Entretanto, o indicado bem imóvel foi nomeado à penhora nos autos da 4ª Vara por requerimento datado de 27/06/2001, ordenada em 05/07/2001 e registada no dia 28/12/2001. (6) O p rédio tinha sido dado de hipoteca a favor da ALIANÇA SEGURADORA, hoje incorporada na embargada AXA PORTUGAL. (7) Hipoteca essa registada a favor da embargada pela Ap. 08 de 28.8.90 e seu averbamento de 13.2.91. (8) O referido bem imóvel fora adquirido pelos anteriores proprietários [ex ecutados no processo da 4ª Vara], que o tiveram registado a seu favor pelos menos desde 21/03/1988. (9) Nem a Aliança Seguradora nem a embargada Axa Portugal foram citadas para a execução 280/1996 do 1º Juízo do T. J. de Ponte de Lima. (10) O embar gante não fez registar a seu favor a aquisição do imóvel. (11) O ora embargante apresentou à administração fiscal como rendimentos prediais relativos às rendas do indicado bem imóvel, o montante de 5.100 euros. III. Cls./Alegações: (a) Ao ex ercer o seu direito de remissão, o embargan te adquiriu o bem livre de quaisquer direitos reais de garantia, maxime da hipoteca que sobre ele fora constituída a favor da embargada; (b) É que nos termos dos arts. 824/2 e 826 CC, essa mesma hipoteca caducou quando o bem foi validamente remido pelo recorrente; (c) E de acordo com o disposto no art. 864/3 CPC, aplicável ao caso sub judice, a não citação da embargada na execução em que o bem foi remido pelo 4 Vd. certidão junta com a petição de embargos. 3

embargante, não importa a invalidade da remissão, uma vez que o coevo exequente não foi beneficiário exclusivo; (d) Contudo, a sentença recorrida desatendeu completamente estes arts. de lei, preceitos que se revelam determinantes para o bom julgamento da causa; (e) Na verdade, nas considerações da sentença recorrida não foram conjugadas as características do direito de hipoteca com as directivas legais de especialidade da venda executiva; (f) No entanto, tal conjugação terá de ser feita, e em consequência é necessário subsumir o caso à disciplina dos já citados arts. 824 CC e 864 CPC: os embargos de terceiro procederão. IV. Contra-alegações: (a) O embargante não é parte na execução em que foi ordenada a penhora do bem em causa, apenas filho dos executados, pelo que é terceiro, na definição do Cód.R eg.p., mas não em relação ao credor hipotecário, cujo direito é compatível com a transmissão do bem para um novo adquirente; (b) Entretanto, o bem penhorado continuava definitivamente registado em nome dos executados e presume-se que o direito pertence aos titulares inscritos; (c) Ora, o embar gante não pode fundar o seu direito na simples aquisição derivada5; (d) Por outro lado, o embargante não pode justificar a sua posse através do acto de remissão que não registou; aliás, por via da penhora o anterior possuidor perdeu a posse que porventura tinha do imóvel penhorado; (e) Não pode pois opor-se à penhora do bem em execução movida contra o titular inscrito, tanto mais que essa penhora emerge de hipoteca registada precedentemente, compatível, como se disse, com o alegado direito de propriedade do recorrente, ainda que este não seja devedor, art. 56/2 CPC; (f) Resta-lhe a expurgação, art. 725 CC, e tanto basta para que os embargos tenham de improceder, art. 351 CPC; (g) Por fim, o embargante não alega nem prova que na execução onde remiu tenham sido mandados cancelar os registos dos direitos reais que caducam (ou devam caducar) nos termos do art. 824/2 CC; 4

(h) E, na verdade, o cancelamento supõe que tenha sido cumprido o art. 864/1.b CPC, o que não aconteceu neste caso: o credor inscrito não pôde reclamar o seu crédito e, por isso, este se não transferiu para o produto da venda do bem dado em hipoteca, art. 824/3 CC; (i) Enfim, a remissão foi o expediente de que os executados se serviram para se livrarem de uma hipoteca sem ter sido dada possibilidade ao credor de se fazer pagar do seu crédito e de, nomeadamente, controlar a venda; (j) Por isso, o art. 888 CPC deve ser lido cum granus salis, ou seja, pressupõe tenham sido citados os credores inscritos para a execução em que o bem foi vendido; (k) Ainda assim, pela simples leitura da certidão de encargos junta à execução, qualquer possível interessado fica a saber quais os ónus ou encar gos que pesam sobre o prédio, circunstância que naturalmente o embargante pesou e interveio na decisão dele sobre o preço aceite e satisfeito da remissão; (l) Deverá, pois, ser inteiramente confirmada a sentença recorrida. V. Recurso foi julgado nos termos do art. 705 CPC: (a) Invoca o recorrente a transmissão livre de direitos de garantia que os oneram dos bens imóveis remidos em execução; logo, a penhora contra a qual se opõe seria de prédio estranho à titularidade ou a qualquer vinculação eficiente, aqui, dos executados, frente aos quais é terceiro, segundo a relação processual executiva, muito embora familiar. (b) Em contraponto, diz a embargada: o adversário não alega nem prova que na execução onde remiu tenham sido mandados cancelar os registos dos direitos reais que caducam (ou devam caducar) nos termos do art. 824/2 CC:...o cancelamento supõe que tenha sido cumprido o art. 864/1.b CPC, o que não aconteceu neste caso, onde o credor inscrito não pôde reclamar o seu crédito e, por isso, este se não transferiu para o produto da venda do bem dado em hipoteca, art. 824/3 CC. (c) Esta última posição traz ao debate afinal, mas numa modalidade não inteiramente exacta, o ponto crítico do problema posto nestes embargos de terceiro: conquanto o cancelamento seja oficioso, só acontece quando 5 Cf. Ac. STJ, 99.07.07, ASTJ.VII.II.166. 5

corresponde p onto por ponto, na verdade, a uma transmissão executiva livre de ónus e encargos nem todas o são. (d) Seguindo: não é pelas razões finais das contra-alegações que improcede o recurso, mas a ausência do cancelamento, na fórmula da questão posta e escolhida pelo recorrente, corresponde em todo o caso à circunstância de a hipoteca ter permanecido, pois a lei assim claramente o diz em contrário da regra geral esgrimida. (e) Com efeito, segundo o art. 824/2 CC, exceptua-se da transmissão livre dos direitos de garantia que oneram os préd ios remissos, aqueles q ue são constituídos em data anterior à penhora e produzem necessariamente efeitos em relação a terceiros, como é o caso desta hipoteca6, de registo constitutivo. (f) Por conseguinte, foi decidido que a execução hipotecária contra a qual o recorrente deduziu embargos p rosseguisse fundad a na sequela: foi mantida, pois, sob este ponto de vista, a sentença de 1ª instância. VI. Reclamação do Ap.e, nos termos do art. 700/3 CPC: (a) De acordo com o disposto nos arts. 601, 686 e sobretudo 824/2 CC; nos arts. 158, 668/1.b, 669/2.b, 864 e 878 CPC; com o Acórdão de Uniformização de Jurisprudência, Ac. STJ, 99.05.18, DR Iª S.-A, 99.07.10, sendo terceiros para efeitos do disposto no art. 5 C.Reg.P., os adquirentes de boa fé, de um mesmo transmitente comum, de direitos incompatíveis sobre a mesma coisa, deve ser proferido acórdão que revogue a decisão singular; (b) Por outro lado, esta padece do vício de falta de fundamentação: esta não é a simples alusão a determinado preceito jurídico, sem qualquer juízo crítico ou interpretativo sobre o mesmo, sem recurso a motivação doutrinal ou jurisprudencial que a sustente ou que infirme a argumentação de sentido oposto (carreada pelo Reclamante). VII. Resposta: (a) Nada mais tem a Ap.a a acrescentar ao que ficou dito nas contra- alegações; 6

(b) Mas chama à atenção para o inadmissível golpe processual que representaria verem-se os executados, pelo expediente de uma remissão por um valor muito aquém do real, livres de uma hipoteca que onerava o prédio remido por seu filho, então solteiro e com eles convivente; (c) E sem que tenham tido o cuidado de assegurar a citação da credora hipotecária, para reclamar o seu crédito; (d) Mas não podendo deixar de conhecer ele a situação do prédio remido quer através da execução quer atr avés da Conservatória, não pode o Ap.e sequer ser considerado terceiro de boa fé; (e) Por conseguinte, deve ser mantida a decisão reclamada. VIII. Cumpre apreciar e decidir. IX. Sequência: (a) A motivação do despacho singular tanto existe que o Reclamante a compreendeu de todo e sem dúvidas; não acolhe, porém, o ponto de vista que tem defendido, embora numa certa pequena medida divirja dos argumentos de 1ª instância: considerou só a inerência própria à hipoteca. (b) E não têm êxito os novos argumentos do Reclamante quando no seio do art. 824/2 CC pretende distinguir entre direitos reais de garantia e outros direitos reais, só estes últimos permanecendo quando tenham registo anterior ao da penhora. (c) Na verdade, após a investigação de Oliveira Ascensão7 parece não poder haver dúvidas de que a primeira ex cepção do nº2 do referido artigo da lei respeita também aos direitos reais de garantia: o preceito refere-se justamente a direitos inerentes, tal como se defendeu no despacho reclamado. (d) Assim, nem sequer tem autonomia a questão de saber se tem de haver despacho do juiz da execução ou n ão para o cancelamento, ou se a oficiosidade deste coincid e com qualquer automaticidade: o cancelamento nunca caberia segundo a lei substantiva, no caso em espécie. 6 Vd. II.(2)(4)(7). 7 Vd. ROA, 45º-352. 7

(e) Neste sentido, portanto, que é o da decisão singular, mantêm-na e fazem- na do Colectivo neste acórdão, dando ao art. 824/2 CC a mesma interpretação sob a qual foi mantida a sentença de 1ª instância. X. Custas: sem custas, por se tratar de passo necessário para a interposição da Revista na intercalaridade não há, portanto, sucumbência. 8