Implantação de uma horta medicinal e condimentar para uso da comunidade escolar

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Transcrição:

http://dx.doi.org/10.5902/2236117015546 Revista do Centro do Ciências Naturais e Exatas - UFSM, Santa Maria Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental - ReGet e-issn 2236 1170 - V. 19, n. 1, jan.- abr. 2015, p.167-171 Implantação de uma horta medicinal e condimentar para uso da comunidade escolar EImplantation of a garden medicinal and condiment for use school community Geovane Rafael Theisen; Grazieli Mafalda Borges; Marilene Ferrari Vieira Graduandos, Ciências Biológicas, Universidade Federal de Santa Maria, Palmeira das Missões, RS, Brasil geovane_theisen@hotmail.com; gra_ziborges@hotmail.com; marileneferrarivieira@yahoo.com.br Tais Lazzari Konflanz; Franciele Antonia Neis e André Boccasius Siqueira Docentes, Ciências Biológicas, Universidade Federal de Santa Maria, Palmeira das Missões, RS, Brasil tais_lk@hotmail.com; franci_neis@yahoo.com.br; andre.siqueira@ufsm.br Resumo O presente trabalho é parte integrante de um estágio em espaços educativos. A atividade foi desenvolvida com estudantes do 4º ano de uma escola da rede básica de ensino do município de Palmeira das Missões/RS sob a orientação de três acadêmicos do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Maria Campus Palmeira das Missões/RS. Na proposta educativa foi desenvolvida uma horta medicinal e condimentar no ambiente da instituição. Tal proposta objetivou aproximar os conhecimentos sobre as espécies de plantas terapêuticas utilizadas pela comunidade escolar. A modalidade de prática desenvolvida atuou para integrar os educandos sobre a importância das plantas no seu dia a dia, permitindo-os contextualizar o tema e ampliar seus saberes sobre o assunto. Palavras-chave: Estudantes. Atividade educativa. Horta medicinal. Abstract This work is part of an internship in educational spaces. The activity was developed with students from grade 4 to a state school in municipality of Palmeira das Missões/RS under the guidance of three students of Biological Sciences, Federal University of Santa Maria Campus Palmeira of Missões /RS. The educational proposal was developed a garden medicinal and condiment on institution environmental. This proposal aimed to bring together knowledge about the species of therapeutics plants used by the school community. The mode of practice developed served to integrate the students about the importance of plants in day to day, allowing them to contextualize the topic and expand their knowledge on the subject.. Keywords: Students. Educational activity. Medicinal garden. Recebido em: 12.03.14 Aceito em: 26.11.14

168 Theisen et al. 1 Introdução Os fitoterápicos têm sido utilizados como uma forma complementar ou alternativa de terapia e seu uso vem crescendo cada vez mais, demonstrando sua importância. De acordo com Dorigoni (2001), o conhecimento empírico sobre a ação de vegetais existe desde as antigas civilizações até os dias atuais, sendo o uso de plantas medicinais uma prática generalizada na medicina popular. Os condimentos também são muito utilizados na alimentação mundial e podem trazer grandes benefícios à saúde da população, além de proporcionar um sabor agradável aos alimentos. Segundo Pires (1984), planta medicinal é qualquer vegetal produtor de drogas ou substâncias bioativas utilizadas direta ou indiretamente como medicamento. A Organização Mundial da Saúde (OMS), nos últimos 20 anos, tem, gradativamente, incentivado os países em desenvolvimento a implantar programas que incorporem em seus sistemas de saúde os conhecimentos e usos da medicina tradicional local. Dessa forma, a associação do ensino de Ciências com o saber empírico torna-se necessária para relacionar o emprego e manuseio correto das plantas à prevenção e/ou cura de doenças, bem como associadas ao preparo dos alimentos. Isso pode ser realizado através da implantação de hortas medicinais e condimentares em lugares públicos ou privados, que terão a finalidade de suprir as necessidades do público menos favorecido. Nessa perspectiva, o objetivo deste trabalho foi resgatar os conhecimentos populares dos educandos e relacionar seus saberes com o conhecimento científico a fim de promover a divulgação do conhecimento popular de plantas medicinais, condimentares e aromáticas. 2 Metodologia A implantação da horta medicinal e condimentar foi desenvolvida em uma escola estadual da rede pública no município de Palmeira das Missões/RS por três acadêmicos do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Maria, Campus Palmeira das Missões, na proposta da disciplina de estágio em espaços educativos. A atividade ocorreu no período de março a junho de 2014, tendo como público alvo alunos do 4º ano do ensino fundamental. Antes de iniciar as atividades realizou-se a avaliação do espaço físico da escola para constatar qual o local disponível para construção da horta. Após a avaliação organizou-se um encontro com a equipe diretiva da escola para que o grupo pudesse expor o projeto que seria realizado na instituição. A etapa subsequente foi a realização de uma conversa informal com os estudantes do 4º ano e seus professores sobre os benefícios e cuidados com o uso de plantas medicinais e condimentares. Em seguida, realizou-se a implantação da horta com espécies de plantas que os discentes citaram na atividade em sala de aula. 3 Resultados e discussão O uso de plantas terapêuticas e condimentos surgiu com as primeiras sociedades humanas tradicionais de que se tem conhecimento. Seu aprendizado se estruturou através de observações sistemáticas e de experimentações, passando de geração a geração através da oralidade, para a sobrevivência e sustentabilidade dos grupos (SILVEIRA; FARIAS, 2009). Nos últimos anos houve um aumento significativo das pesquisas científicas relacionadas ao tema, visto que o uso de recursos vegetais vem se tornando cada vez mais constante, especificamente para fins medicinais. Segundo Oliveira (2008), cerca de 80% da população mundial já teve alguma experiência com a utilização de plantas medicinais com fins preventivos ou curativos. A medicina popular é inicialmente uma medicina de saber local, que designa certo modo de transmissão essencialmente oral e gestual, comunicada por intermédio da família e da vizinhança. Ela é praticada no cotidiano e se compõe de receitas cuja base é essencialmente vegetal, e de conhecimentos e habilidades que se inscrevem no âmbito do empirismo médico (PASA, 2011). As plantas medicinais apresentam eficiência terapêutica e toxicológica ou segurança de uso, dentre outros aspectos, e estão cientificamente aprovadas a serem utilizadas pela população nas suas

Implantação de uma horta medicinal e condimentar para uso da comunidade escolar 169 necessidades básicas de saúde, em função da facilidade de acesso, do baixo custo e da compatibilidade cultural com as tradições populares (Martins et al., 1994). Entretanto, deve haver uma maior preocupação no sentido de auxiliar quanto ao modo e medidas corretas de uso, além de alertar quanto à toxidez de algumas espécies. Por essas razões trabalhos de divulgação e resgate do conhecimento de plantas em vários espaços, incluindo os escolares, se fazem imprescindíveis, pois, conforme ratificam Lorenzi e Matos (2002) o emprego correto de plantas para fins terapêuticos pela população em geral requer o uso de plantas medicinais selecionadas por sua eficácia e segurança terapêuticas, baseadas na tradição popular ou cientificamente validadas como medicinais (p. 512). Diante disso, o consumo de plantas medicinais e condimentares pode ser desenvolvido numa instituição de ensino com o envolvimento dos alunos. Além da satisfação de poder aproveitar na alimentação escolar os vegetais que ajudou a cultivar, o aluno aprende o seu valor nutritivo, bem como seus benefícios para a sua saúde. De acordo com Bianco, citado por Kurek e Butzke (2006), uma horta bem planejada e organizada pode oferecer inúmeras vantagens, dentre elas: fornece vegetais que têm vitaminas e minerais essenciais para à saúde; propicia uma alimentação de qualidade, saudável e variada; diminui os gastos com a alimentação; permite a colaboração dos educandos, enriquecendo seus conhecimentos e aprimorando experiências; é fonte de renda familiar quando a produção é maior que o consumo; melhora a aparência e o valor nutritivo das refeições; e permite produção em curto espaço de tempo. Uma etapa importante nesse processo foi a participação integrativa dos membros escolares, desde o apoio na recepção até a concretização do projeto. Exemplo disso pode ser destacado na disponibilidade da escola em financiar os custos para efetivação da horta. A participação dos alunos, professores e funcionários na implantação da horta na escola foi, nesse caso, importante para que ocorresse uma maior interação escola/comunidade, propiciando troca de experiências entre as diferentes fontes de informação (Figura 01). Figura 01 - A-B: Apresentação da ideia do projeto aos estudantes C-D: Estudantes do 4º ano realizando a atividade prática de construção da horta medicinal e condimentar Fonte: Presente pesquisa

170 Theisen et al. Durante todo o processo de diálogo com a turma em sala de aula em relação às plantas medicinais e condimentares, os estudantes trouxeram de seu cotidiano múltiplas experiências de suas vivências, como, por exemplo: Minha vó dá chá de boldo quando estou com ânsia, dor de barriga [SIC], Lá em casa minha mãe planta alho e salsinha para colocar na comida [SIC], Eu ajudo minha mãe a dar água para as plantinhas na horta da nossa casa [SIC]. Quando a atividade de plantio foi encerrada, os alunos se mostraram orgulhosos do trabalho que realizaram: Gostei muito de ajudar a plantar os chás, vou falar pra minha mãe fazer uma horta lá em casa [SIC], Queremos participar de mais projetos na escola [SIC], A horta ficou muito linda, vamos cuidar direitinho [SIC], Sempre gosto quando temos aula fora da sala [SIC]. Assim, as hortas medicinais ou os espaços verdes medicinais implantados nas escolas podem se transformar num laboratório vivo e se tornarem uma estratégia para promover estudos, pesquisas, debates e atividades sobre a questão ambiental, além de estimular o trabalho pedagógico dinâmico, participativo, prazeroso, interdisciplinar (NEVES et al., 2010, p. 22). Na mesma perspectiva, Pires et al. (2013) evidenciam que as hortas escolares podem atuar como instrumento didático, substituindo os limites físicos da sala de aula por um ambiente natural, proporcionando ao aluno uma situação interdisciplinar de aprendizagem, contextualizada e problematizada, preparando-o como cidadão. A horta inserida no ambiente escolar possibilita o desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas em educação ambiental e alimentar, unindo teoria e prática de forma contextualizada, auxiliando no processo de ensino-aprendizagem através da promoção do trabalho coletivo e cooperado entre os agentes sociais envolvidos. 4 Conclusões A horta escolar constitui uma importante ferramenta no ensino das séries iniciais do ensino fundamental. É importante que propostas pedagógicas como a horta escolar se tornem vigentes no ensino de ciências para quebrar a barreira existente entre teoria e prática. Dessa forma, tais plantas podem ser vistas como um elo entre o conhecimento acadêmico (científico) e o empírico (popular), colaborando assim com a busca de alternativas para os impasses do momento, além de inserirem-se na interface das especificidades científicas. Propõe-se a continuidade desse projeto na instituição e que a horta escolar se torne um instrumento pedagógico vigente, principalmente em escolas públicas, onde a horta pode incrementar alguns pratos, tornando-os mais apetitosos e saudáveis. Agradecimentos Os autores agradecem à Escola Carimela Pugliesi Bastos por acolher o projeto e pela participação dos estudantes na construção da horta escolar. Referências BRASIL, 2006. Ministério da Saúde Aprova a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e dá outras providências. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/ arquivos/pdf/decreto_fito.pdf. Acesso em: 20 mar. 2012.

Implantação de uma horta medicinal e condimentar para uso da comunidade escolar 171 DORIGONI, P. A. et al. Levantamento de dados sobre plantas medicinais de uso popular no município de São João do Polêsine, RS, Brasil. I Relação entre enfermidade e espécies utilizadas. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, v.4, n.1, p. 69-79, 2001. LORENZI, H.; MATOS, F.J.A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas cultivadas. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2002. 512p KUREK, M.; BUTZKE, C. M. F. Alimentação escolar saudável para educandos da educação infantil e ensino fundamental. Revista de Divulgação Técnico-Científica do ICPG. Santa Catarina, v. 3, n. 9, p. 139-144, 2006. MARTINS, E. R.; CASTRO, D. M.; CASTELLANI, D. C.; DIAS, J. E. Plantas Medicinais. Viçosa: Ed. Imprensa Universitária, 1994. p. 220 NEVES, J. D. S.; SILVA, C. G.; BARROS, R. P. Experiência de Gestão e Educação Ambiental no projeto Farmácia Viva em duas Escolas. In: Anais... 1º SIMAGA Simpósio Alagoano de Gestão Ambiental, Arapiraca-AL, Brasil, 2010. UNEAL/CAMPUS I, p. 21-30. CD ROM ISSN 2177-7268. OLIVEIRA, G.N. O projeto terapêutico e a mudança nos modos de produzir saúde. São Paulo: Hucitec, 2008. PASA, M. C.; SOARES, J. J.; Neto, G. G. Estudo etnobotânico na comunidade de Conceição-Açu (alto da bacia do rio Aricá Açu, MT, Brasil). Acta bot. bras. 19(2): 195-207, 2005. PASA, M. C. Saber local e medicina popular: a etnobotânica em Cuiabá, Mato Grosso, Brasil. Universidade Federal de Mato Grosso. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi Ciências Humanas, Belém, v. 6, n. 1, p. 179-196, 2011. PIRES, M. J. P. Aspectos históricos dos recursos genéticos de plantas medicinais. Rodriguésia, Rio de Janeiro, jun. 1984. PIRES, S. S.; LIMA, R. A.; BRAGA, A. G. S. Horta medicinal escolar: um recurso didático para o ensino- -aprendizagem de Botânica. 64º Congresso Nacional de Botânica. Belo Horizonte, 2013. SILVEIRA, A. P.; FARIAS C. C. Estudo etnobotânico na educação básica. Tubarão: POIÉS IS, 2009. PEREIRA, M. C.; DEFANI, M. A. Plantas Medicinais: Modificando Conceitos. Disponível em: <http://www. gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/file/producoes_pde/artigomarlica ndidopereira.pdf>. Acesso em: 20 maio de 2014.