EDUCAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO: TEORIAS, METODOLOGIAS E PRÁTICAS NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIPLAC



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Transcrição:

EDUCAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO: TEORIAS, METODOLOGIAS E PRÁTICAS NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIPLAC Resumo POLETTO, Cesar Augusto Rodenbusch 1 - UNIPLAC Grupo de Trabalho 05- Didática: teorias, metodologias e práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento A globalização e a mundialização compreendem uma abertura histórico-geográfico de um campo de disputas entre capital e trabalho. O mundo transforma-se em uma imensa fábrica, a fábrica global. Este relato de experiência pretende discutir a formação de dentistas inserida nesse processo de mundialização do capital onde o Estado vem tratando a Educação enquanto mercadoria de troca. Neste trabalho buscamos compreender a relação existente entre a formação de professores e cursos de pós-graduação em odontologia: relato de experiência com o mercado de trabalho e os ditames teórico-filosóficos deste mercado. Assim a ciência só pode ser pensada como atividade neutra desvinculada da política (valores e ideologia das tendências de classe) se concebida abstraída do contexto histórico, da práxis. Nesse sentido é que se pode falar de formação de professores enquanto um contributo para o progresso do patrimônio comum do saber humano. A formação dos professores em todas as áreas do conhecimento é fundamental pois é neste espaço que são formados os intelectuais orgânicos capazes de mudar a realidade, não tenho conclusões, mas sim idéias e angústias que pretendo discutir ao longo do texto. O foco está na argumentação de que um modelo tem aderido à concepção de mercado, e pauta nela suas decisões, estimulando políticas públicas que trabalham no sentido de tornar a Universidade uma Empresa. Nesse caso, a formação do dentista está totalmente inserida nesta relação entre Educação Superior e Mercado, mediada pela Política Educacional que tem no Banco Mundial e nas políticas internas este respaldo. Palavras-chave: Formação de Professores. Pós-Graduação em Odontologia. Relato de Experiência. 1 Graduado em Odontologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Radiologia bucomaxilofacial pela UFSC. Doutorando em Ortodontia pela Pontificia Universidade Católica do Paraná. (PUCPR). Docente e Pesquisador da Uniplac. Mestrando em Educação PPGE/UNIPLAC. Email: cesarpoletto2@gmail.com

16960 Introdução Há que ser pensado ainda nas relações do homem com o mundo do trabalho, ou seja da formação dos professores de Odontologia e o mercado profissional. Com tem sido? Ao analisarmos historicamente as formas em que se estabelece a existência humana, especialmente considerando-se o período a partir do qual se consolida o desenvolvimento da ciência modernidade, identificamos que a estrutura organizativa do trabalho se constitui por meio da troca entre diferentes ramos de produção, a partir da produção interna a cada grupo ou comunidade e da troca de seu excedente. Com a divisão entre campo-cidade, as formas de relacionamento entre os diferentes produtos passam a ser pautadas na produção excedente, ou seja, na produção externa, voltada ao atendimento das necessidades de outros grupos ou comunidades. O comércio, o intercâmbio entre as cidades e a evolução das relações comerciais entre nações, irão determinar mudanças nas formas de organização do trabalho e produção, associadas ao crescimento de uma classe de comerciantes e proprietários. O trabalho passa a ser cada vez mais coletivo, baseado na divisão social do trabalho e na distinção entre meios de produção e produtores. A crescente divisão do trabalho, determinando tarefas cada vez mais parciais, incrementando a produtividade, levam ao embrutecimento dos homens individuais, subsumindo-os à lógica do trabalho coletivo, parcial e fragmentado. Esta condição está, por sua vez, associada à produção de máquinas e equipamentos que, cada vez mais, irão enfatizar a divisão do trabalho, com o objetivo de aumentar a produtividade. Novas formas de organização do trabalho, incorporando novas tecnologias, evidenciam, assim, cada vez mais a divisão e fragmentação do trabalho, cujo princípio é a produção coletiva, que agrega um conjunto de trabalhos individuais e parcelares. A lógica subjacente é exploração do trabalho por meio do incremento do tempo de trabalho excedente, da mais-valia. Neste processo, a defesa da liberdade individual como base para a vida social e coletiva se consolida. Tendo em vista a capacidade de troca, os indivíduos constroem a vida social e coletiva. O Estado aparece como resultado da vontade coletiva e individual, como resultado natural das relações sociais. Na concepção dos economistas clássicos, como Smith (1993), é o mercado que regula as desigualdades próprias às relações de troca, originalmente baseadas no egoísmo, no interesse pessoal. Segundo Smith (1993:99) os indivíduos têm o objetivo de tirar vantagem, obter através da troca um excedente, algo mais para além de suas necessidades. Assim, ao

16961 produzir, o indivíduo o faz buscando trocar uma parte de sua produção, da qual não necessita por outros produtos que lhes possam ser útil. Esta capacidade leva à divisão do trabalho, sendo esta sempre limitada pela dimensão do mercado. As diferenças entre os indivíduos são naturais à medida que alguns têm a propriedade da terra, outros da força de trabalho e outros do capital. Igualam-se, assim, como proprietários e suas diferentes características levam à riqueza geral da nação. Neste aspecto, o papel do Estado consiste em deixar livres as forças naturais, de mercado, mantendo-se através de impostos mínimos, garantindo educação e justiça. Segundo os economistas clássicos, ainda que ao Estado forte coubesse manter a com mão de ferro a propriedade privada, os subsídios a determinados setores e a interferência direta do Estado na economia poderiam impedir o curso natural da vida, cuja base esta na capacidade de troca. Como professor tenho constatado uma distância muito grande entre o conteúdo desenvolvido nas aulas com os alunos e aquilo o que eles aprendem. Frequentemente observo alunos ao final do curso com deficiências teóricas importantes, assuntos que muitas vezes eu mesmo trabalhei com os mesmos. Acredito que a formação do professor de Odontologia passa por algumas deficiências, com grande enfoque no aspecto técnico e de pesquisa e com limitações no aspecto pedagógico. Esta limitação auto constatada levou me a procurar o Curso de Mestrado em Educação da UNIPLAC em 2012, objetivando compreender melhor o processo ensino aprendizagem nos seus aspectos teórico-metodológico e filosóficos, bem como as dimensões culturais, sociais e políticas. Esta experiência de estar no Mestrado em Educação tem levado a muitas reflexões sobre o fazer como professor. Paralelo à experiência de professor de graduação e formação no stricto sensu, iniciei em 2005 iniciei como professor no curso de Pós-Graduação em Ortodontia, que atualmente encontra-se na 14ª turma de especialização, com mais de 80 especialistas formados, e 800 tratamentos realizados à população carente. A Serra Catarinense é constituída por 18 municípios e aproximadamente 270 mil habitantes. Apresenta um clima subtropical, com temperaturas abaixo de zero, colonizada principalmente por portugueses e espanhóis, com forte presença indígena, o que leva a ter uma cultura peculiar. Lages é o município pólo desta região e tem um índice de desenvolvimento humano de 0,813, inferior à média catarinense. É neste contexto, com um mercado, na perspectiva capitalista, que tem levado os profissionais a buscar as especialidades mais lucrativas. Contraditoriamente tem-se observado

16962 uma grande procura pelo tratamento ortodôntico, principalmente motivado pelos fatores estéticos. Sobre o objeto da Pesquisa Pressupõe-se que o curso de pós-graduaçao em ortodontia permitiu o acesso e a horizontalizaçao da área do conhecimento da odontologia a profissionais e pacientes. O maior número de profissionais promove o aumento da concorrência e respeitando a lógica do mercado levando à uma diminuição do preço dos tratamentos e facilitando o acesso da população aos mesmos. A Ortodontia é a especialidade com maior número de profissionais inscritos, e uma das especialidades mais procuradas, de acordo com informação do Conselho Federal de Odontologia em 2013. As cinco especialidades com maior número de profissionais registrados são: a Ortodontia (12.083); a Endodontia (10.090); a Odontopediatria (7.718); a Periodontia (7.562); e a Prótese Dentária(7.436). Na Ortodontia, observou-se o maior incremento de especialistas entre os anos de 2005 e 2009; período em que foram registrados 5.474 novos ortodontistas. Há vinte anos atrás, época em que concluí o curso de graduação, não era permitido ao cirurgião dentista freqüentar cursos de pós-graduação com menos de dois anos de formado. O profissional era assim forçado a adquirir experiência de trabalho e finalmente decidir por qual especialidade escolher. Existia um sentimento de vocação e identificação com a área escolhida. Atualmente o cirurgião dentista já pode iniciar a pós-graduação imediatamente após a formatura. Como professor dos cursos de pós-graduação, tenho percebido que a motivação pela escolha por uma ou outra área se fundamenta muito na rentabilidade que a mesma apresenta, ficando de lado o gosto e a identificação com o desenvolvimento das atividades em si. Um dos dilemas que sempre me acompanhou como professor de graduação e pósgraduação em odontologia foi o questionamento em relação à qualidade de ensino na formação dos professores, haja vista, que eu mesmo não havia passado por uma formação adequada para ser professor. Estudei em colégio público até a sexta série, e da sétima série até o terceiro ano do segundo grau no colégio Franciscano Diocesano de Lages. Prestei vestibular para Odontologia na Universidade Federal de Santa Catarina no final do ano de 1983. Acredito que

16963 a escolha foi influenciada por um primo dentista, mas não tenho bem certeza. Formei em Odontologia no ano de 1988 aos 21 anos. Trabalho em consultório particular desde 1989 até então. No primeiro ano de formado trabalhei como Oficial Dentista do Exército, oportunidade excelente para poder aprender com outros profissionais há mais tempo formado. Em 1990 fui aprovado no concurso para seleção de Cirurgião Dentista da Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina, onde permaneço até hoje trabalhando como Cirurgião Dentista Clínico Geral. Percebia no início da carreira a grande dificuldade das pessoas em realizar tratamentos ortodônticos, pela pouca quantidade de profissionais habilitados em realizar tais tratamentos. Em 1991 iniciei minha carreira na Ortodontia, freqüentando em Curitiba o curso do professor Cabrera até 1994. A formação em ortodontia era algo muito difícil na época pois os cursos eram distantes e de alto custo. Em 1995 cursei a especialização em Radiologia Odontológica, na UFSC, com o intuito de adquirir currículo para poder ser aprovado nos exames de seleção para o curso de especialização em Ortodontia. De 1997 a 1999 fiz o curso de especialização em Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares, na Associação Maringaense de Odontologia. Durante todo este período tive a oportunidade de realizar mais de 2000 tratamentos ortodônticos em pacientes de toda a região da Serra Catarinense, tendo inclusive mantido consultório satélite na cidade vizinha de São Joaquim. A procura pelo tratamento ortodôntico era alta e tive a chance de realizar diversos tipos de tratamento, desde tratamentos preventivos e interceptivos mais simples até o preparo ortodôntico para cirurgia ortognática, tarefa das mais difíceis para o ortodontista. Em muitos casos tive oportunidade de verificar que a minha formação como especialista nem sempre me oferecia total segurança para realizar todos os tratamentos. Constatei com muita frustração que a Ortodontia era uma das especialidades mais difíceis da Odontologia. Como professor ministrei a primeira aula em 2000, como voluntário num curso de formação técnica para Auxiliares em Consultório Odontológico no Centro de Educação Profissional Renato Ramos da Silva CEDUP, escola da rede estadual de ensino. Em 2001 fui aprovado no concurso seletivo para professor da cadeira de Radiologia Odontológica do Curso de Odontologia da UNIPLAC. De 2002 a 2003 fiz o Curso de Mestrado em Radiologia Bucomaxilofacial na UFSC. Em 2004 iniciei as atividades como professor nos Cursos de Pós-

16964 graduação em Odontologia da UNIPLAC. Em 2010 iniciei o Doutorado em Ortodontia na PUC-PR, com previsão de defesa da tese em junho de 2013. Considerando as relações entre as necessidades individuais e o proposto pelo mercado, lembramos os dizeres de Smith (1985, p. 50) no caso de quase todas as outras raças de animais, cada indivíduo, ao atingir a maturidade, é totalmente independente e, em seu estado natural, não tem necessidade da ajuda de nenhuma outra criatura vivente. O homem, entretanto, tem necessidade quase constante da ajuda dos semelhantes, e é inútil esperar esta ajuda simplesmente da benevolência alheia. Ele terá maior probabilidade de obter o que quer se conseguir interessar a seu favor a auto-estima dos outros, mostrando-lhes que é vantajoso para eles fazer-lhe ou dar-lhe aquilo de que ele precisa. É isto o que faz toda pessoa que propõe um negócio à outra. Dê-me aquilo que eu quero e você terá isto aqui, que você quer - esse é o significado de qualquer oferta desse tipo; e é dessa forma que obtemos uns dos outros a grande maioria dos serviços de que necessitamos. Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse. Dirigimo-nos não à sua humanidade, mas à sua auto-estima, e nunca lhes falamos das nossas próprias necessidades, mas das vantagens que advirão para eles. O credo liberal foi-se afirmando, graças à industrialização, frente aos princípios da ética paternalista católica e do mercantilismo. Nesse sentido, o individualismo inerente ao liberalismo clássico tornou-se a ideologia dominante do capitalismo, cujos princípios norteadores foram o egoísmo, a frieza calculista e o atomismo. Os indivíduos agiriam movidos pelos impulsos egoístas de maximizar sua felicidade, isto é, diminuir o sofrimento e aumentar os prazeres. Adam Smith, o grande sistematizador do ideário liberal, por exemplo, afirma que devemos esperar o pão não da bondade do padeiro, mas do seu egoísmo, pois seria pensando em aumentar os seus lucros e não em fazer uma boa ação que ele se empenharia em produzir suas mercadorias. A noção liberal de Estado reflete o anseio da burguesia revolucionária no combate a um Estado marcado por interesses aristocrático-feudais. Portanto, a derrubada do poder do Estado corresponde ao modo por meio do qual o capitalismo se estrutura, rompendo com as tradições econômico-político-culturais da sociedade feudal. Nesta perspectiva, cada indivíduo, ao obter o melhor desempenho, tornando-se mais produtivo, proporciona um benefício coletivo.

16965 As transformações ocorridas, nas últimas décadas, no mundo do trabalho e nos padrões societários em geral resultaram na produção de uma complexa gama de análises explicativas, muitas vezes opostas. De um modo geral podemos afirmar que se configurou, principalmente ao longo das duas últimas décadas do século passado, uma corrente de pensamento que relacionava as mudanças em curso ao fim da luta de classes e à ruptura com um padrão centrado no conflito capital-trabalho (SHAFF,1995) e, outra corrente que indicava estarmos vivendo um processo de ruptura-continuidade (HARVEY, 1992) tendo, esta última, como lócus de análise as dinâmicas transformações capitalistas que objetivam assegurar o processo de auto-valorização do capital. Diante desta esteira encontramos a Educação permeada pelas Políticas Curriculares e comandada pela batuta da Gestão. A gestão da universidade pode ser enfocada sob diversos aspectos. Como expressão do ordenamento de uma organização educativa e produtora de conhecimento, a gestão diz respeito aos rumos institucionais. Esses rumos compreendem tanto às tomadas de decisão técnicas em que saberes e experiências instrumentais são acionados quanto também a decisões colegiadas, que, nas instituições democráticas, se dão através da interação entre pessoas que se encontram nos diversos espaços físicos e simbólicos das instituições. No primeiro caso, o saber gerencial estratégico já estaria de certo modo sedimentado, não exigindo grandes dispêndios de energia na busca de um consenso, e encontra-se disponível para os especialistas credenciados tecnicamente para definir os meios mais adequados para se alcançar determinados objetivos. No segundo caso, em que o saber não é dado por um treinamento gerencial, nem por análises rigorosas de modelos econômicos de tomada de decisão e muito menos pela familiarização da rotina institucional, a gestão se define pela presença do des/entendimento ou do processo de produção coletiva de decisões, que só pode ser compreendido por uma investigação que se atenha aos fatores culturais, psicológicos, político e morais que permeiam a vida institucional. Na primeira perspectiva, a gestão se articula como problema operacional que envolve o domínio da racionalidade econômica, e exige a capacidade de manipulação de variáveis gerencias com aspectos mais qualitativos e objetivos, de forma que o gestor deve ser avaliado por sua competência técnica. No que se refere à dimensão interativa da gestão, o desafio maior está em possibilitar que a interação entre os diversos participantes da vida institucional se dê de forma democrática, ou seja, sem restrições que gerem o monopólio da

16966 decisão coletiva por parte de membros que estrategicamente manipulam e passam a usar os demais como meio para alcançar seus propósitos institucionais. Considerações finais Neste trabalho buscamos compreender a relação existente entre a formação de professores e cursos de pós-graduação em odontologia: relato de experiência com o mercado de trabalho e os ditames teórico-filosóficos deste mercado. Assim a ciência só pode ser pensada como atividade neutra desvinculada da política (valores e ideologia das tendências de classe) se concebida abstraída do contexto histórico, da práxis. Nesse sentido é que se pode falar de formação de professores enquanto um contributo para o progresso do patrimônio comum do saber humano. Desta maneira, ela se compreende como atividade pública desinteressada. Essa ilusão já foi duramente denunciada, mesmo em seu nascedouro no século XVIII, mas coube as diversas correntes marxistas denunciarem o caráter ideológico e classista de tal atividade. A formação dos professores em todas as áreas do conhecimento é fundamental pois é neste espaço que são formados os intelectuais orgânicos capazes de mudar a realidade, não tenho conclusões, mas sim idéias e angústias que pretendo discutir ao longo do Mestrado em Educação, que tem me propiciado acesso à leituras instigantes e que de alguma forma estão mudando meu fazer como professor. REFERÊNCIAS AMURES - Associação dos Municípios da Região Serrana www.amures.org.br/, acessado em 19 de março de 2013 as 14h00. GRAMSCI, A. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira. 1978a. GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organização da cultura. R. J. Civilização Brasileira. 1978b. HARVEY, D. Condição pós-moderna. São Paulo Ed Loyolla, 1999. HUNT & SHERMAN. História do Pensamento Econômico. R.J. Ed. Vozes.1977. Jornal do Conselho Federal de Odontologia Ano 21 Nº 106 Jan-Fev-Mar de 2013

16967 KUENZER, A.Z. As políticas de formação: a constituição da identidade do professor sobrante. In: Educação e Sociedade. Campinas: CEDES. Número especial 68, 1999. KOSIK, K. Dialética do Concreto. R. J. Paz e Terra, 1969. LOWY, M. Método dialético e teoria política. R. J. Paz e Terra, 1975. MARX, K. Contribuição para a crítica da economia política. Lisboa, Estampa, 1973. Relatório do SEBRAE. Santa Catarina em números Lages. 2010. SCHAFF. A. História e Verdade. Lisboa, Estampa, 1974. SMITH, A. A riqueza das nações, S.P. Nova Cultural. 1985, vol. I., p. 50.