10 DE OUTUBRO/2012 Reminiscências da greve dos servidores públicos federais



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Transcrição:

10 DE OUTUBRO/2012 Reminiscências da greve dos servidores públicos federais Para o antropólogo americano William Ury existem basicamente três meios de resolver um conflito: poder, direitos ou interesses. O melhor deles é por interesses, o pior, pelo poder. Não é necessária uma análise muito profunda para se concluir que na recente greve o Governo optou por impor a força do poder do Executivo, estabelecendo uma vontade unilateral à maioria das representações dos servidores públicos, que receberão, de maneira parcelada, reajustes que sequer cobrem a metade das perdas inflacionárias dos últimos anos. Diferentemente do governo anterior que, pelo menos no final de seu mandato, teve uma convivência harmoniosa com os servidores, o atual governo impôs um arremedo de negociação, arrastada por meses, e ao final sequer obedeceu as garantias mínimas previstas no artigo 37, X da CF: "É assegurada revisão geral anual dos subsídios e vencimentos, sempre na mesma data e sem distinção de índices. Devemos recordar que antes dos movimentos começarem a proposta do Governo era reajuste Zero, como justificativa a interminável crise econômica Europeia. Para conseguir dobrar o movimento grevista, utilizouse de métodos da cartilha Neoliberal, tão em voga nos anos 90, liberando à imprensa análises econômicas que atribuem problemas ao Estado brasileiro como se decorrentes do setor público: déficits nas contas públicas e no sistema previdenciário. Houve, no entanto, um silêncio eloquente sobre o grande responsável pelo escoamento de dinheiro nas contas públicas: o pagamento de juros e encargos da dívida. Saindo desse enfoque maniqueísta, há aqueles que acreditam no papel estratégico do Estado no processo de desenvolvimento e sabem que este não poderá cumprir com suas obrigações se não possuir um quadro de servidores dedicados e estimulados. Um município, um estado ou a União tem em seu alicerce o esforço, a dedicação e o trabalho de milhares de servidores. Esses cidadãos carregam consigo a responsabilidade de estabelecer um elo entre o Poder Público e a sociedade, prestando serviços essenciais à população. É tarefa árdua desmistificar algumas premissas que permeiam o serviço público. Entender algumas considerações é um grande passo para melhor julgar o servidor: 1) Há, no Brasil, uma baixa relação servidor/habitante, situação muito abaixo da média mundial [1]; 2) Há um baixo peso relativo entre emprego público e total de ocupados num comparativo internacional [2]. Mesmo em um comparativo com países latino-americanos a relação brasileira é inferior a de muitas Nações, só sendo melhor que a de países muito pobres; 3) Há, de maneira geral, pouca variação no quantitativo do emprego público, bem como pouco aumento substancial da folha a ponto de impactar significativamente o gasto com pessoal; 4) O montante que a União gasta em percentual do PIB com despesas de pessoal, civis e militares, nas três esferas do governo, inclusive aposentados e pensionistas, vem mantendo-se estável, como mostra a tabela a seguir. Todas essas afirmativas sequenciadas anteriormente são levadas à sociedade de maneira distorcida, com má fé, estimulando uma opinião crítica sobre os servidores, suas obrigações e remunerações. A existência

de um Estado de Welfare State caracteriza-se também pela ampla oferta de serviços públicos, baseados em políticas sociais universalistas, que, para serem executadas, necessitam de mão de obra qualificada no setor público. A greve de quase 370 mil servidores federais, distribuídos em cerca de 30 categorias, e as consecutivas quedas do nível de atividade industrial, pouco incremento do PIB e da arrecadação federal demonstram que a crise econômica está cada vez mais presente no cotidiano dos brasileiros. Além desse quadro ruim, a inflação permanece em patamares elevados, corroendo a renda dos trabalhadores. Mesmo assim, o governo federal mostrou-se intransigente em relação às pautas dos grevistas. Um paradoxo é visto quando são anunciadas novas privatizações e incentivos para o empresariado. As desonerações tributárias com o propósito de incentivar a economia estão a todo vapor, inclusive com novos setores de atividade sendo incluídos para 2013. Mas como resultado para a economia, por enquanto, quase nada. Quando o assunto é o legítimo direito, a busca por justiça e melhores remunerações e condições de trabalho, com paralisações das atividades e reivindicações, volta à cena o descaso com o servidor. E como são irônicas algumas evidências. Os AFRFB em greve por entenderem que além do descumprimento do artigo 37, inciso X, CF, há o descumprimento da Lei 10.331/2001, que define a data-base para efeito de reajuste anual, sem distinção de índice; por almejarem a regulamentação da Convenção 151, da OIT, que estabelece regras permanentes para a negociação coletiva no serviço público são justamente aqueles que fiscalizam, que mais contribuem para o pleno exercício da arrecadação federal, tão retraída pelos efeitos do desaquecimento econômico e das desonerações. A quem interessa manter um quadro de servidores de Estado desmotivado, destreinado, e sem a reposição de perdas remuneratórias dos últimos quatro anos? Com certeza os sonegadores e fraudadores estão a aplaudir. Reconhecer o trabalho do servidor público é fundamental para melhorar os serviços prestados à sociedade. Por outro lado, questionar seus atributos, seus rendimentos ditos generosos, sua presença maciça em prol da sociedade, e, principalmente, seus direitos adquiridos, em nada contribui para melhorar o serviço público, tampouco para alavancar a economia. E somente valorizados e motivados, poderão prestar um serviço público de excelência e qualidade. Notas [1] Ipea: Comunicado da Presidência. Emprego Público no Brasil: Comparação Internacional e Evolução, março de 2009. [2] Idem (1) (FONTE: FLORIANO MARTINS DE SÁ NETO - PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO ANFIP DE ESTUDOS DA SEGURIDADE SOCIAL DIAP) Ministro aplica rito abreviado a Adin contra Decreto 7.777, sobre greve de servidores A Confederação dos Servidores Públicos do Brasil (CSPB) ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o Decreto 7.777/12, sobre greve de servidores públicos. O relator do processo, ministro Dias Toffoli, afirmou que o objeto da Adin enviada pela CSPB (Adin 4857) é idêntico ao das ações 4828, 4830 e 4838. Sendo assim, ele determinou a aplicação do rito abreviado do artigo 12 da Lei 9.868/99, para que a decisão seja tomada em caráter definitivo. As quatro ações terão o mérito julgado sem a apreciação do pedido de medida cautelar. No mês de agosto, foram encaminhadas ao STF as Adins 4828, 4830 e 4838. A primeira ação foi ajuizada pela Federação Brasileira de Associações de Fiscais de Tributos Estaduais (Febrafite). A segunda, pela Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social, Central Única dos Trabalhadores (CNTSS/CUT) e pelo Sindicato Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários. A terceira ação foi encaminhada pela Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip). A Adin 4857 é a quarta a chegar ao STF e foi enviada ao Tribunal pela CSPB no mês de setembro. Decreto 7.777 em questão As quatro ações questionam a constitucionalidade do Decreto 7.777/12, publicado no Diário Oficial da União no dia 25 de julho deste ano e retificado no dia 31 do mesmo mês. A norma tem como função dispor sobre medidas para a continuidade de atividades e serviços públicos dos órgãos e entidades da administração pública federal durante greves, paralisações ou operações de retardamento de procedimentos administrativos promovidas pelos servidores públicos federais. O decreto estabelece que essas medidas seriam adotadas por ministros de Estado e supervisores de órgãos e entidades em que ocorrer greve. As entidades afirmam que a norma fere o direito à greve garantido aos trabalhadores pela Constituição Federal de 1988. Além disso, questionam a autorização dada pelo decreto para que ministros de Estado adotem providências entre elas convênios com estados, Distrito Federal ou municípios para garantir a continuidade das atividades e serviços de órgãos alvo de paralisação.

O julgamento do mérito das Adins sem prévia análise liminar foi determinado, segundo o ministro Dias Toffoli, em razão da relevância da matéria e seu especial significado para a ordem social e para a segurança jurídica. O ministro também determinou que as quatro ações tramitem em conjunto. (Fonte: STF) O convênio Petrobrás-CUT Como outras empresas que necessitam de mão de obra qualificada não disponível no mercado, a Petrobrás tem realizado diretamente ou com a contratação de empresas especializadas cursos de formação e preparação de técnicos em vários níveis nas áreas de petróleo, gás e energia. A educação básica, porém, não tem nada a ver com a natureza da estatal e, para isso, já existem programas específicos do governo, sob a responsabilidade do Ministério da Educação (MEC). Não foram suas necessidades nem seus objetivos sociais que justificaram os convênios de R$ 26 milhões firmados em 2004 e 2007 com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), braço sindical do PT, e à sua coligada Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS), para alfabetização de 200 mil pessoas. Trata-se de área inteiramente estranha às atividades sindicais e aos objetivos definidos pelos estatutos da Petrobrás. Se há algo surpreendente na decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) - tomada no último dia 26, de determinar a abertura de tomadas de contas especiais para calcular os prejuízos e identificar eventuais responsáveis por irregularidades, por não haver comprovação suficiente de que o trabalho tenha sido realizado em condições satisfatórias - é o fato de a providência ter demorado tanto. Além da CUT, são alvo de processos para apuração de danos três outras instituições, que receberam da estatal valores menores, mas também deixaram de apresentar os documentos comprobatórios exigidos. A área técnica do TCU havia proposto a aplicação imediata de multas aos dirigentes da estatal, o que não foi aceito pelo relator do processo, tendo o tribunal decidido avaliar antes as tomadas de contas especiais. O relatório do TCU nota que os convênios foram firmados sem uma exposição de motivos ou documentos que permitam saber a razão pela qual a CUT e a ADS receberam os recursos da Petrobrás para um projeto do programa Brasil Alfabetizado, do MEC. Além de não ser equipada para proporcionar ensino básico, a CUT nunca mostrou preocupação especial com o tema. Sua cartilha é outra, versando, principalmente, sobre o direito de greve. Quanto à ADS, constituída em 1999, da qual também participam o Dieese e outras instituições, suas atividades têm sido orientadas, principalmente, para o fortalecimento de cooperativas e outros empreendimentos coletivos, sem vínculo, pelo que se tem conhecimento, com atividades na área de educação fundamental. O relatório diz também que a Petrobrás não apresentou fichas de acompanhamento individual dos alunos, listas de presença, documentos sobre o acompanhamento das ações dos alfabetizadores e o número de alfabetizandos. Por isso, não é possível aferir se o dinheiro pago era compatível com as atividades previstas. A CUT alega ter cumprido todas as etapas da parceria e que apresentou comprovantes dos serviços prestados. A Petrobrás afirmou que não existem irregularidades ou beneficiamento políticopartidário nos convênios firmados durante a gestão de José Sérgio Gabrielli, "o que será comprovado pela companhia no andamento do processo". Nem a CUT nem a estatal explicaram, no entanto, por que o MEC foi mantido inteiramente à margem desses convênios, já que, como assinala o TCU, a pasta deveria, no mínimo, atuar como fiscal dos projetos. Parece longe de ser casual o fato de a Federação Única dos Petroleiros, que representa os funcionários da Petrobrás e com a qual a direção da estatal procura manter as melhores relações, ser filiada à CUT. Isso pode explicar por que a diretoria da empresa transferiu generosamente recursos para a central sindical petista, para um programa sem justificativas, pois não faz parte das suas finalidades, e cuja execução, como mostrou o TCU, não tem comprovação adequada. Acertos financeiros motivados por interesses político-partidários ou ideológicos, como tudo indica ser esse entre a Petrobrás e a CUT, são condenáveis em quaisquer circunstâncias. Quando envolvem, como falsa justificativa, o déficit educacional do País, o "malfeito" é ainda mais grave. (FONTE: AGÊNCIA ESTADO) Ministério vai conter criação de sindicatos, que agora terá regras mais duras Para dificultar a abertura desenfreada de sindicatos no Brasil, o Ministério do Trabalho e Emprego vai aumentar as exigências impostas para a liberação dos registros sindicais. Está sendo analisada a possibilidade de se exigir uma cota mínima de trabalhadores em assembleia para aprovar a criação de uma entidade sindical, assim como certificação digital de um representante legal e provas documentais de que os fundadores realmente fazem parte da categoria que pleiteia uma nova representação. Essas exigências devem constar em nova norma em substituição à polêmica Portaria 186, de 2008, cuja legalidade está sendo discutida no Supremo Tribunal Federal (STF). O texto deve ficar pronto ainda este mês. O objetivo do governo é impedir a pulverização de sindicatos no país, o que leva a uma diminuição do poder de negociação. Nos últimos cinco anos foram criados 1.378 sindicatos. Atualmente, existem 14.464 entidades sindicais, sendo 9.957 de trabalhadores e 4.737 de empregadores. O restante são federações e confederações. A Portaria 186, no entanto, estimulou esse movimento ao abrir a possibilidade de existência de várias entidades sindicais representando uma mesma categoria, numa mesma cidade. A legislação brasileira veda

a criação de mais de uma organização sindical de um setor em um mesmo território. A nova portaria deve corrigir esse problema. Sua efetividade, no entanto, depende ainda de atualização da tabela de categorias. Situação preocupante Em entrevista ao Valor, o secretário de Relações de Trabalho do ministério, Messias Melo, explicou que, no atual cenário econômico do país, a criação de tantos sindicatos é preocupante, pois enfraquece as negociações trabalhistas e aumenta as diferenças regionais no mercado de trabalho. O movimento em países desenvolvidos é totalmente inverso. Além disso, segundo Melo, o governo quer impedir a criação de entidades fantasmas. Para evitar acusações de que o governo está intervindo nos sindicatos, paralelamente, Messias busca a constituição, em conjunto com o Conselho Nacional de Relações de Trabalho, de um "manual de boa conduta" para estimular a autorregulação. "É correto fazer uma assembleia de criação de entidade sindical na noite de réveillon? Eu, ministério, não posso dizer a hora, o local e as condições, mas podemos, junto com as entidades, acumular alguns conceitos do que seriam boas práticas", questionou o secretário. "Nessa parte, que eu não posso intervir, queremos criar alguns consensos", acrescentou. O ministério quer também elaborar uma nova tabela de categorias profissionais para limitar os desmembramentos ou a criação de sindicatos essencialmente da mesma categoria. Alteração na Portaria 186 Os representantes dos trabalhadores e empregadores defendem alteração na Portaria 186, mas ainda há divergências. Segundo o presidente nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes, a portaria incentiva a criação de entidades fantasmas e isso precisa ser alterado. Ele defende ainda a elaboração de uma tabela de categorias. Recentemente, foi criado no Rio de Janeiro o sindicato do soldador, sendo que essa categoria, na avaliação de Gomes, já é representada pela representação dos metalúrgicos. Mas como não há uma especificação clara na tabela, o registro do novo sindicato foi liberado. Para o gerente de Relações de Trabalho da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Emerson Casali, a sindicalização funciona por setor, ou seja, vários sindicatos formam uma federação estadual e juntas uma confederação. "A Portaria 186 possibilitou, de forma inconstitucional, que qualquer grupo de sindicatos de uma mesma categoria poderia se juntar e formar uma federação." Casali também ressaltou a discussão sobre tabela de categorias. Segundo ele, a partir de 2005, o ministério começou a adotar uma lista interna e "criou uma confusão muito grande no registro sindical". "A tabela original tem uma base legal. A partir do momento em que o ministério criou uma tabela interna, isso começou a gerar muitos problemas. Um dos desafios é tentar organizar o sistema." (FONTE: VALOR ECONÔMICO) STF condena Dirceu Maioria considerou o ex-ministro da Casa Civil culpado por corrupção ativa; Também foram condenados José Genoino e Delúbio Soares; Decisões do mensalão poderão alterar entendimento da primeira instância sobre crimes de quadrilha e lavagem. Mensalão Especial - Sete anos após o início do escândalo do mensalão, a maioria dos integrantes do STF condenou José Dirceu pelo crime de corrupção ativa. Para a Corte, o ex-ministro participou do esquema de compra de apoio político. Dirceu ainda não foi julgado por formação de quadrilha, da qual é acusado de ser o "chefe" pela Procuradoria-Geral da República. Embora sua defesa diga não haver provas de sua participação em compra de voto, o STF concluiu que não havia como Dirceu não saber do esquema que envolvia o PT - partido que ajudou a fundar em 1980 - e mais quatro siglas. Para o STF, a ordem para formar a base de apoio a Lula saiu do Palácio do Planalto. Com isso, os ministros também abrem um novo capítulo no combate à corrupção: a inexistência de um "ato de ofício" não será mais garantia de impunidade para autoridades que praticarem crimes no exercício da função pública. O STF selou também o destino de outros dois réus do PT: José Genoino, ex-presidente do partido, e Delúbio Soares, ex-tesoureiro, foram condenados. Após a condenação, Dirceu publicou nota em seu blog em que diz que "acatará a decisão", mas "não se calará". Por 6 votos a 2 até a sessão de ontem, Supremo condena ex-ministro por corrupção; faltam as decisões de Celso de Mello e Ayres Britto O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi condenado ontem pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção ativa. Para a maioria dos integrantes da Corte, o petista comandou de dentro do Palácio do Planalto um esquema de compra de apoio político no Congresso Nacional durante o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nas palavras dos ministros do STF, Dirceu era "o mentor", "o mandante", "o principal articulador da engrenagem" do esquema que, de acordo com os ministros, comprometeu a autonomia e liberdade do Legislativo. José Genoino e Delúbio Soares, dirigentes do PT à época do escândalo, também foram condenados por corrupção.

A Corte julgou que Dirceu estava por trás do esquema de captação de recursos ilícitos para financiar o mensalão - seja dos cofres públicos, seja de empréstimos fraudados -, negociava acordos com lideranças partidárias e oferecia recursos em troca de apoio ao governo. Até a sessão de ontem, seis ministros julgaram haver provas suficientes para responsabilizar Dirceu: o relator do processo, Joaquim Barbosa, Rosa Weber, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello. Dois integrantes da Corte entenderam que o Ministério Público não conseguiu comprovar que Dirceu comandou o esquema: Ricardo Lewandowski, revisor do processo, e Dias Toffoli. Os votos de Celso de Mello e do presidente, Carlos Ayres Britto, na sessão de hoje, encerrarão o julgamento desse item. Ministros que votaram pela condenação admitiram não haver uma prova documental que incriminasse Dirceu. Não havia no processo, por exemplo, um ofício assinado por ele ordenando a entrega de recursos aos partidos da base do governo. Reuniões. O encadeamento dos fatos, como montado pelo relator, colocou Dirceu no posto de comando do esquema. A começar pela relação que mantinha com Marcos Valério, operador do mensalão. O empresário intermediava as reuniões de Dirceu com dirigentes do Banco Rural e do BMG. Reuniões que contavam com a participação considerada "incomum" de Delúbio Soares. Depois dessas reuniões, segundo o relato de Barbosa, os bancos liberavam os empréstimos para as empresas de Valério - dinheiro que era repassado por ordem de Delúbio a líderes partidários e parlamentares do Congresso- estes também condenados no julgamento por corrupção passiva. A maioria do STF entendeu que não seria possível que o ex-tesoureiro tivesse operado com autonomia absoluta o esquema, como sugeriu a defesa de Dirceu. Na sessão de ontem, o ministro Gilmar Mendes disse que Delúbio não teria força política, por exemplo, para viabilizar o desvio de recursos do Banco do Brasil para o mensalão. "O que não é crível é a pretensa e absoluta dissociação do ministro, desde sua posse, de interesses partidários", afirmou Gilmar Mendes. "O ministro (Dirceu), além de cuidar dos assuntos da pasta, tinha responsabilidade de coordenação política do governo Lula". Para Mendes, a atuação de Dirceu ia além e misturava o crescimento do PT e a formação da base aliada. "Não só sabia do esquema como contribuiu intelectualmente para sua elaboração", afirmou. Ex-assessor da Casa Civil na época do mensalão e advogado das campanhas eleitorais de Lula, o ministro Toffoli votou pela absolvição de Dirceu, argumentando que ele não poderia ser condenado por estar no comando da Casa Civil. Ele acrescentou que o Ministério Público não exibiu provas de que Dirceu participou da compra de apoio político. Para ele, as acusações do MP levariam, no máximo, à condenação de Dirceu por outros crimes, como tráfico de influência. Nas próximas semanas, o tribunal julgará a acusação com poder simbólico e que pode elevar a pena de Dirceu e obrigá-lo a cumprir a pena em regime fechado: a eventual formação de quadrilha para a prática dos crimes. (FONTE: FELIPE RECONDO, EDUARDO BRESCIANI, COLABORARAM MARIANGELA GALLUCCI e RICARDO BRITO - O ESTADO DE S. PAULO) Médicos de planos de saúde iniciam paralisação no atendimento nesta quarta Manifestação deve ocorrer em quase todo o País. Categoria cobra reajuste médio de 50% na tabela de serviços e o fim das "intervenções" que as operadoras exercem sobre os médicos Médicos de planos de saúde de quase todo o País iniciam uma greve de 15 dias em defesa de reajuste médio de 50% na tabela de serviços e o fim do que chamam "intervenções antiéticas" que as operadoras estariam exercendo sobre os profissionais para baixar os custos dos tratamentos em prejuízo dos pacientes. Os serviços de urgência e emergência não serão afetados, mas as consultas e a chamada assistência eletiva, mesmo marcadas com meses de antecedência, podem ser reagendadas para depois da greve. Em sete Estados (Acre, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, Rio Grande do Norte e Rondônia), a paralisação atingirá todos os convênios. Em outras oito unidades da Federação, entre os quais São Paulo, a greve atingirá seletivamente as operadoras que não fecharam acordo. No caso paulista, serão afetados os planos Golden Cross, Green Line, Intermédica, Itálica, Metrópole, Prevent Sênior, Santa Amália, São Cristóvão, Seisa, Tempo Assist, Trasmontano e Universal. Os outros Estados que terão paralisação seletiva são: Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em cinco unidades (Amapá, Ceará, Distrito Federal, Pará e Roraima), a categoria decidiu fechar acordo com as operadoras e, a princípio, não haverá paralisação. Em São Paulo, nesta quarta-feira e no dia 18 de outubro, quando é comemorado o Dia do Médico, a suspensão dos serviços vai atingir todas as especialidades médicas. Entre os dias 11 e 17 de outubro, haverá um rodízio: a cada um destes dias haverá suspensão de determinadas especialidades atendidas por esses planos de saúde. Em entrevista, o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Aloísio Tibiriçá, explicou que a paralisação foi inevitável diante da intransigência das operadoras na relação com os médicos e da deterioração da qualidade do atendimento aos usuários. Ele disse que está havendo evasão de profissionais

e que o sistema caminhará para o caos se não houver intervenção do poder público. "Estamos caminhando para um apagão na saúde suplementar", enfatizou. "O médico hoje é tratado como o bóia-fria da saúde", criticou. Por consulta, o médico recebe das operadoras em média R$ 45. A proposta da categoria é que os valores sejam fixados entre R$ 60 e R$ 80, conforme a complexidade da área. A categoria pede também a criação de um indexador que permita o reajuste da tabela de serviços com a mesma periodicidade do aumento na mensalidade dos usuários. Eles exigem ainda o fim das intervenções das operadoras na autonomia da relação médico-paciente, além do estabelecimento de sistema de contrato com o mínimo de garantias aos profissionais. Hoje, segundo Márcio Bichara, secretário de Saúde Suplementar da Federação Nacional dos Médicos, o repasse dos reajustes das mensalidades dos convênios não está sendo feito aos médicos. De 2000 a 2011, os reajustes autorizados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) às operadoras somaram 150,89%, mas apenas 65% foram repassados aos médicos. No período, o IPCA teve variação de 119,8%. Segundo Tibiriçá, o setor de saúde suplementar passa por grave crise de credibilidade. Levantamento do CFM mostra que dois em cada dez pacientes dos planos estão buscando atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) - a deterioração do atendimento dos planos tem causado filas cada dia mais semelhantes às do SUS. "Os planos boicotam os tratamentos de alto custo, abreviam internações e pressionam os médicos a adotar medidas de contenção que ameaçam a eficácia do tratamento dos pacientes", denunciou. Pesquisa recente realizada pela Associação Paulista de Medicina (APM) revelou que oito em cada dez pacientes tiveram problemas no atendimento nos últimos dois anos. Em todo o País, essa proporção representa um total de 40 milhões de pacientes, num universo de 50 milhões de usuários de planos de saúde. Em 65% dos casos, o problema ocorreu no agendamento de consulta, devido à escassez cada vez maior de profissionais. "A evasão de médicos atinge níveis preocupantes", disse Tibiriçá. (FONTE: IG)