PARTIÇÃO DE MATÉRIA SECA DA SOJA (GLYCINE MAX (L.) MERRILL) EM RESPOSTA AO ESTRESSE DE LUZ E ÁGUA Francisca Zenaide de Lima 1 e Luiz Cláudio Costa 2 RESUMO: O objetivo deste trabalho foi o de avaliar os efeitos do estresse de luz e água, aplicados durante a fase vegetativa da soja (Glycine Max (L.) Merrill), na partição de matéria seca (MS) para os órgãos das plantas, ao longo do ciclo. A soja foi semeada, no dia 9/12/1998 e recebeu os seguintes tratamentos: Irrigado e não sombreado por todo período (); Não irrigado na fase vegetativa e não sombreado por todo período () e Irrigado por todo período e sombreado na fase vegetativa (). Cada tratamento teve 2 repetições com fileiras de plantas espaçadas de 7 cm e com 22 plantas.m -2. Os resultados mostraram que as plantas cultivadas sob estresse de luz tenderam a alocar menores percentuais de MS para as vagens e grãos enquanto que para os demais órgãos os percentuais são maiores ou iguais aos da testemunha. Os maiores percentuais de MS para as vagens e grãos, foram identificados nas plantas cultivadas sob estresse de água (). Palavras chaves: Soja, estresse de água e luz, partição de matéria seca. ABSTRACT: The objective of this study was to evaluate the effects of stress of light and water, during the vegetative phase of the soybean (Glycine Max. (L.) Merrill), in partitioning of dry matter (DM) for organs of the plant, along the cycle. The crop was sowed in day 12/9/1998 and it received the following treatments: Irrigated and not shaded for whole period (INSW), not irrigated in the phase vegetative and not shaded by the whole period (NVNW) and Irrigated by the whole period and shaded in the vegetative phase (IWSV). The treatments were two replications with arrays of spaced plants of 7 cm and with 22 plants.m -2 of them. The results indicate weak trends for the allocation of DM to beans and grains, of plants cultivated under stress light, while for the other organs the allocation are larger or same to the control. For the plants cultivated under water stress they tend to allocate larger DM for the beans and grains. Key words: Soybean, stress of water and light, partition of dry matter. INTRODUÇÃO 1 Pós-Doutoranda. Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Agrárias - Departamento de Engenharia Agrícola/Meteorologia Agrícola. Av PH Rolfs, s/n : Campus Universitário Centro. 36.57-1, Viçosa-MG Brasil. (31)-3899192, Fax (31) 38992735 fzenaide@vicosa.ufv.br. 2 Prof. Adjunto. Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Agrárias - Departamento de Engenharia Agrícola/Meteorologia Agrícola. Av PH Rolfs, s/n : Campus Universitário Centro. 36.57-1, Viçosa_MG Brasil. (31)-3899193, Fax (31) 38992735. l.costa@ufv.br.
Do ponto vista genético sabe-se que as culturas possuem um potencial máximo de produtividade, o qual encontra-se condicionado às restrições impostas pelo meio ambiente. Mas por outro lado, também é conhecido que quando as plantas ficam submetidas a algum tipo de estresse, são capazes de realizar alterações fisiológicos, morfológicas e anatômicos, que resultam em mudanças no seu metabolismo, visando alcançar uma redução dos efeitos do estresse na sua produtividade. Esse mecanismo de ajuste das plantas é conhecido como plasticidade vegetal (HUGHES, 1988). A soja (glycine max (L.) Merrill), por exemplo, é uma cultura com características de plasticidade (LIMA et al. 24; HEIFFIG, 22; COSTA et al., 1999). Assim, adquirindo-se informações de como as culturas respondem mediante condições ambientais desfavorável ao seu metabolismo de crescimento e desenvolvimento, pode-se identificar um meio seguro de se obter a sua máxima produtividade (JOHNSON et al., 1995; PACHEPSKY, 1996). A evolução temporal da fitomassa dos vegetais define o seu crescimento que é caracterizado pelo.surgimento de novas estruturas. Assim, o crescimento dos órgãos que compõem as plantas depende da quantidade de matéria seca que lhes é direcionada, sendo variável ao longo do ciclo da cultura (MEDEIROS et al., 2). O presente trabalho teve como objetivo analisar a partição de biomassa para os órgãos da cultura da soja, cultivada sob estresse de luz e de água durante a fase vegetativa. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no campus da Universidade Federal de Viçosa, localizada no município de Viçosa (2 45 S; 42 51 W e 65 m), Minas Gerais, Brasil. A semeadura da soja (Glycine Max (L.) Merrill), foi feita em 9/12/1998. Após a emergência, soja recebeu os tratamentos: Irrigado e não sombreado por todo período (); Não irrigado na fase vegetativa e não sombreado por todo período () e Irrigado por todo período e sombreado na fase vegetativa (), sendo que cada um teve 2 repetições. As fileiras de plantas ficaram espaçadas de 7 cm e utilizou-se 22 plantas.m -2. O solo da área recebeu uma aração, seguida de uma adubação (conforme recomendação) e finalizando-se com uma gradagem. A lâmina de água aplicada (ETc) foi calculada a partir da evaporação do tanque classe A, corrigida pelos coeficientes de tanque (Kt) e da cultura (Kc), utilizando-se os valores recomendados pela FAO (DOORENBOS e KASSAM, 1979). No, as plantas foram mantidas sob estresse hídrico por meio de coberturas de plástico (polietileno) transparente e no receberam coberturas de telas plásticas pretas (sombrite, com redução de 5%), ambas montadas em suporte de madeira com 2,5 m de altura. Ambas as coberturas foram colocadas no início da fase vegetativa da soja e retiradas somente após o término desta fase. Para avaliar a matéria seca dos órgãos das plantas de soja, em cada parcela, foram coletadas 1 plantas, em intervalos de 2 em 2 dias, nos 3 primeiros dias após a emergência (DAE)
e, a partir do 31 DAE, a amostragem foi feita de 7 em 7 dias. Depois de coletadas, raízes das plantas eram lavadas e, em seguida, cada órgão eram separados e colocados para secar em estufa a 75 o C, durante 72 horas. Decorrido este tempo, fez-se a pesagem da matéria seca em uma balança de precisão. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 1 ilustra a evolução da matéria seca total acumulada (g.m -2 ) pela soja, em função do número de dias após a emergência (DAE), considerando-se os três tratamentos aplicados à soja. Observa-se que, tanto o efeito do estresse de luz () como o de água () diminuiram a produção de matérias seca da soja, sendo o efeito do estresse de luz notadamente maior. Não houve diferença significativa, entre tratamentos, ao 1% de probabilidade na matéria seca total produzida pela soja. M S (g.m -2 ) 16 14 12 1 8 6 4 2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 Figura 1 Evolução da matéria seca total (MS) produzida pela soja. Não foi observada diferença significativa, entre tratamento, na partição de MS para os órgãos das plantas. Durante todo o ciclo da cultura os percentuais de MS para a raiz (Figura 2) do tratamento foram superiores aos do, sendo que, durante a fase vegetativa, esses valores foram próximos dos observados no e, nas demais fases, foram maiores. Partição de matéria seca para as raizes (%) 3 25 2 15 1 5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 - DAE Figura 2 Partição de matéria seca para as raízes soja.
A partir do quarto DAE, os percentuais de matéria seca para os cotilédones (Figura 3) foram em torno de 35%,e em seguida, decresceram, atingindo valores mínimos aos 16 DAE. O foi o tratamento que apresentou os maiores percentuais em todo o ciclo da cultura. Durante o ciclo de vida da cultura os percentuais de matéria seca, destinados ao caule das plantas (Figura 4), nos três tratamentos, tiveram valores próximos. De modo geral, a configuração das curvas dos percentuais de matéria seca para o caule é simétrica. Assim, observa-se que, desde o início até a metade do ciclo da cultura (55 DAE) os percentuais recebidos por esse órgão foram crescentes, variando de 2% a 55%, e a partir de então, começaram a decrescer. Partição de matéria seca para os cotilédones (%) 4 35 3 25 2 15 1 5 2 4 6 8 1 12 14 16 18 Figura 3 Partição de matéria seca para os cotilédones da soja. Em todos os tratamentos, a partir do quarto DAE os percentuais de matéria seca nas folhas (Figura 5) foram em torno de 25% e os valores máximos, dependendo do tratamento, variaram entre 45% e 5%, sendo que ocorreram quando as plantas estavam em torno 2 DAE. Partição de matéria seca para o caule (%) 6 5 4 3 2 1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 Figura 4 Partição de matéria seca para o caule da soja. As plantas que ficaram sob algum estresse ( e ) receberam maiores quantidade de MS para as flores (Figura 6), sendo que os valores máximos foram de 1,4% (), 2,25% () e 2,4% ().
Nas curvas de evolução da MS distribuídas para as vagens (Figura 7), nos três tratamentos, observa-se que as plantas com estresse hídrico (), de um modo geral, foram as que receberam os maiores percentuais de MS para as vagens. Os percentuais de matéria seca da soja distribuídos para os grãos (Figura 8) revelaram que o estresse de luz reduziu consideravelmente os percentuais de MS para os grãos da soja. Partição de matéria seca para as folhas (%) 6 5 4 3 2 1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 Figura 5 Partição de matéria seca para as folhas da soja. Partição de matéria seca para as flores (%) 3, 2,5 2, 1,5 1,,5, 3 35 4 45 5 55 6 65 7 75 8 85 9 Figura 6 Partição de matéria seca para as flores da soja. % de MS para as vagens 22 2 18 16 14 12 1 8 6 4 2 5 55 6 65 7 75 8 85 9 95 1 15 11 (DAE) Figura 7 Partição de matéria seca para as vagens da soja.
Partição da matéria seca para os grãos 45 4 35 3 25 2 15 1 5 65 7 75 8 85 9 95 1 15 11 (DAE) Figura 8 Partição de matéria seca para os grãos da soja. CONCLUSÕES O estresse de luz na FV da soja fez com que a partição de MS para as diversas partes das plantas ficasse caracterizada por maiores percentuais de MS para as raízes, cotilédones e menores para as vagens e grãos. O estresse de água resulou num aumento na partição de matéria seca para as flores, vagens e grãos, em relação ao tratamento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSTA, L. C.; CONFALONE, A. E.; PERREIRA, C.R. Effect of water stress on the efficiency of capture of water and radiation by soybean. Tropical Sci., v.39, n.1, p.1-7, 1999. DOORENBOS, J.; KASSAM, A. H. Yield response to water. Roma: FAO, 1979. 193 p. (FAO Irrigation and Drainage, 33). HEIFFIG, L.S. Plasticidade da cultura da soja (Glycine max (l.) Merrill) em diferentes arranjos espaciais. Piracicaba, SPESALQ. 22. 84p. Dissertação (mestrado em agronomia) Universidade de São Paulo, 22. HUGHES, G. Modelling the effect of spatially heterogeneous pest injury on crop yields. Crop Res. (Hot. Res.), v.28, p.137-144, 1988. JOHNSON, I.R.; RIHA, S.J; WILKS, D.S. Modelling daily net canopy photosynthesis and its adaptation to irradiance and atmospheric CO 2 concentration. Agricul. Systems, v.5, p.1-35, 1995. LIMA, F.Z.; COSTA, L.C.; PEREIRA, C.R. DOURADO NETO, D.; CONFALONE, A.E. Efeito do estresse de luz e água na cultura da soja (Glycine Max (L.) Merrill). Rev. Bras. de Agrometeorologia, v.12, n.1, p.1-7, 24. MEDEIROS, S.L.P.; GOSSE, G.; CHATLER, M.; MANFRON, P.A. Ajuste dos coeficientes de repartição de matéria seca do modelo CERES-Sorghum para simulação da cultura do sorgo sacarino. Ver. Brás. de Agrometeorologia, v.8, n.2, p.231-238, 2. PACHESPSKY, L. B. An adequate model of photosyntesis - I : Parameterization, validation and comparison of models. Agricult. Systems, v. 5, p. 29-225, 1996.