Estudo das plantas medicinais, utilizadas pelos pacientes atendidos no programa Estratégia saúde da família em Maringá/PR/Brasil

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Transcrição:

702 Estudo das plantas medicinais, utilizadas pelos pacientes atendidos no programa Estratégia saúde da família em Maringá/PR/Brasil LOPES, M.A. 1* ; NOGUEIRA, I.S. 1 ; OBICI, S. 2 ; ALBIERO, A.L.M. 1. 1 Universidade Estadual de Maringá, Av. Colombo, 5790 CEP 87020-900, Maringá-PR 2 Farmacêutica do Município de Maringá. * Autor para correspondência: lopes.a.mariana@gmail.com RESUMO: Estima-se que 80% da população mundial dependam das plantas medicinais no processo da atenção primária em saúde, e grande parte destes tem nas plantas a única fonte de medicamentos. O presente estudo teve como objetivo verificar a utilização de plantas medicinais pela comunidade, pertencente à equipe 10 da Estratégia Saúde da Família (ESF) da Unidade Básica de Saúde (UBS) Pinheiros, em Maringá, Paraná, Brasil. Os dados foram coletados no período de março de 2012 a maio de 2012. A equipe de pesquisadores aplicou 95 questionários intercalando os domicílios. Observou-se que 24,2% utilizam plantas medicinais com frequência, 40% utilizam esporadicamente e 35,8% não utilizam. Entre as pessoas que utilizam, observou-se que a forma mais citada foi o uso era pela indicação de amigos ou pelos ancestrais As plantas medicinais mais citadas foram: hortelã (Mentha sp.), boldo (Plectranthus barbatus), camomila (Matricaria recutita), erva cidreira (Melissa officinalis) e guaco (Mikania glomerata). Quando perguntados se o uso de plantas medicinais somente fazem bem à saúde, 68,5% dos participantes afirmaram que plantas medicinais não causam nenhum mal à saúde. A partir destes resultados, observou-se que a utilização de plantas medicinais é bem aceita pela população e que ainda existe uma lacuna grande a ser preenchida pelos profissionais da saúde no que diz respeito à orientação sobre o uso correto desse tipo de terapia. Palavras-chave: Estratégia Saúde da Família; Plantas Medicinais; Uso Racional. ABSTRACT: Study of the use of medicinal plants by population served by the family health strategy in Maringá, Paraná, Brazil. It is estimated that 80% of the population depends on herbal medicine regarding primary health care and most of these people use plants as their only source of drugs. The current study aimed to know the profile of the community served by the staff 10 of the Family Health Strategy (FHS) of Basic Unity of Health (BUH) Pinheiros, in Maringá, Paraná State, in regard to the use of medicinal plants. The data was collected between March of 2012 and May of the same year. Ninety-five questionnaires were applied. 24.2% of people employ medicinal plants frequently, 40% use it occasionally and 35.8% do not appeal to them at all. Most of them learnt about medicinal plants with family and friends. The most mentioned medicinal plants by population were the following: Mentha sp., Plectranthus barbatus, Matricaria recutita, Melissa officinalis and Mikania glomerata. 68.5% of the participants believe that medicinal plants do not cause any harm to health. From these results, we can notice that medicinal plants are widely accepted and there is a big gap to be filled by health professional in terms of proper orientation about the use of this kind of therapy. Keywords: Family Health Strategy, Medicinal plants, Racional use. INTRODUÇÃO Desde a antiguidade, as plantas são utilizadas como fonte de medicamentos para o tratamento das enfermidades que acometem o homem, de modo a aumentar suas chances de sobrevivência através da melhoria da saúde (Carvalho et al., 2010). Estima-se que 80% da população mundial dependa das plantas medicinais no que se refere à atenção primária em saúde e grande parte destes tem nas plantas a única fonte de medicamentos (OMS, 1979; Moreira et al., 2002; Recebido para publicação em 07/12/2012 Aceito para publicação em 12/11/2014 10.1590/1983-084X/12_173

703 Tomazzoni et al., 2006; Brasileiro et al.,2008;veiga Junior, 2008). Dentro deste contexto, o Brasil tem buscado estabelecer diretrizes na área de plantas medicinais e saúde pública, como a aprovação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde e a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que incluem em suas diretrizes a promoção do uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos no Sistema Único de Saúde (SUS) (Brasil, 2006; Brasileiro et al., 2008). Desta forma, conhecer e estudar o perfil de cada população no que diz respeito ao conhecimento e uso de plantas medicinais é importante para que se possa direcionar qualquer estratégia de implantação de um programa de uso racional de plantas medicinais (OMS, 2002). Apesar disso, existem poucos trabalhos que fazem este tipo de estudo no Estado do Paraná. Assim, o presente estudo teve como objetivo conhecer o perfil da comunidade, pertencente à Equipe 10 da Estratégia Saúde da Família (ESF) do Núcleo Intensivo de Saúde (NIS) Pinheiros, em Maringá, Paraná, Brasil em relação ao uso de plantas medicinais, para que a partir destes resultados oferecer assistência à população, baseando-se no conhecimento popular e científico. MATERIAL E MÉTODOS Essa pesquisa foi desenvolvida na cidade de Maringá, situada na Região Noroeste do Estado do Paraná, com uma população de 357.117 habitantes. Este trabalho é resultado de um projeto desenvolvido por participantes do Programa de Educação para o Trabalho em Saúde (PET-Saúde) da Universidade Estadual de Maringá. Os dados foram coletados do período de março de 2012 a maio de 2012, na área de abrangência da equipe 10 da ESF do NIS Pinheiros. A equipe de pesquisadores aplicou os questionários intercalando os domicílios em cada rua sorteada. Em situações de recusa à participação, presença de crianças sozinhas, ausência de moradores ou estabelecimento comercial, o domicílio foi excluído, visitando-se o domicílio subseqüente. Os questionários foram respondidos por homens e mulheres, que aceitaram participar da pesquisa após a explicação da natureza e finalidade do trabalho e após assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os questionários foram aplicados por quatro acadêmicos dos cursos de Enfermagem, Farmácia, Medicina e Psicologia, participantes do PET-Saúde. Foram aplicados 95 questionários, e o número de domicílios visitados correspondeu a 10% do número de domicílios atendidos por esta equipe da ESF. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, com o parecer n o 017/2012. RESULTADOS A partir dos dados obtidos no estudo, observou-se que 40% da população tem renda familiar entre três e cinco salários mínimos, 21% entre um e dois salários, 16,9% entre seis e nove salários, 2,1% possuem renda acima de dez salários, 2,1% recebem até um salário, 4,2% não sabem e 13,7% não quiseram responder. Quanto à utilização de plantas medicinais, 24,2% (23) utilizam com frequência, 40% (38) utilizam esporadicamente e 35,8% (34) não utilizam. Entre as pessoas que utilizam (n=61), quando perguntadas sobre a forma de aprendizagem sobre as plantas medicinais, o aprendizado através de profissionais da saúde recebeu apenas 13,1% de citações, como podemos observar na figura 1. FIGURA 1. Forma de aprendizagem do uso de plantas medicinais.

704 A planta medicinal mais citada pela população foi a hortelã (Mentha sp) (36 citações), como observa-se na tabela 1. (Tabela 1). Na tabela 2 encontram-se as situações em que os participantes da pesquisa utilizam as plantas. Em relação ao local de obtenção, a maior parte das pessoas adquire as plantas medicinais nos próprios quintais ou com os vizinhos (67,0%), seguido pela compra em farmácias e em lojas de produtos naturais (33,0%). Na tabela 3 podemos observar a lista completa de modos de preparo. Entre aqueles que usam plantas medicinais, 5 (8,2%) já apresentaram alguma reação adversa devido ao uso de plantas, 36 (59%) não falam para o médico que fazem uso de algum produto a base de plantas, em sua maioria por não considerarem importante. Seis (9.8%) já abandonaram um tratamento alopático para utilizar apenas plantas medicinais. Entre todos os pesquisados (que usam ou não plantas medicinais), 62 (65,3%) procuram primeiro o médico em caso de doença, 11 (11,6%) utilizam alguma planta medicinal primeiro, 10 (10,5%) procuram o farmacêutico, 4 (4,2%) procuram o balconista da farmácia, 2 (2,1%) procuram uma benzedeira e 6 (6,3%) procuram outras formas de atendimento. Quando perguntados se plantas medicinais somente fazem bem à saúde, 65 (68,5%) acreditam que plantas medicinais ou medicamentos feitos a base de plantas não causam nenhum mal à saúde. DISCUSSÃO A prevalência de uso de plantas medicinais relatada pela amostra foi de 64,3%, um número relativamente baixo quando comparamos outros estudos realizados em várias regiões do país, que apresentaram na sua maioria prevalências superiores à 80% (Oliveira & Gonçalves, 2006; Schwambach & Amador, 2007; Veiga Junior, 2008). O fato de que grande maioria da população pesquisada recebeu indicação do uso de plantas medicinais com os ancestrais, é coincidente com TABELA 1. Plantas utilizadas pela população pesquisada. Nome popular/nome científico Número de citações *( %) Hortelã (Mentha sp.) 36 (14,6%) Boldo (Plectranthus barbatus) 35 (14,2%) Camomila (Matricaria recutita) 29 (11,8%) Erva cidreira (Melissa officinalis) 27 (10,9%) Guaco (Mikania glomerata) 26 (10,5%) Chá Verde (Camelia sinensis) 12 (4,8%) Babosa (Aloe vera) 11 (4,4%) Poejo (Mentha pulegium) 10 (4,1%) Capim-limão/ Capim cidreira (Cymbopogon citratus) 9 (3,6%) Carqueja (Baccharis trimera) 7 (2,8%) Alecrim (Rosmarinus Officinalis) 6 (2,4%) Quebra pedra (Phyllanthus niruri) 5 (2,1%) Arnica (Arnica montana) 5 (2,1%) Confrei (Symphytum officinale) 5 (2,1%) Sene (Cassia angustifolia) 4 (1,6%) Ginko (Ginkgo biloba) 3 (1,2%) Espinheira santa (Maytenus ilicifolia) 3 (1,2%) Chapéu de couro (Echinodorus grandiflorus) 3 (1,2%) Losna (Artemisia absinthium) 2 (0,8%) Mastruz (Chenopodium ambrosioides) 2 (0,8%) Soja (Glycine max) 2 (0,8%) Unha de gato (Uncaria tomentosa) 2 (0,8%) Erva doce (Pimpinella anisum) 2 (0,8%) Cava-cava (Piper methysticum) 1 (0,4%) *Cada indivíduo podia citar mais de uma planta medicinal.

705 TABELA 2. Situações em que as plantas medicinais são utilizadas. Afecções Número de citações(%) Gripe 42 (21,6%) Dor 28 (14,4%) Tosse 26 (13,4%) Antidepressivo/calmante 18 (9,3%) Mal estar gástrico 16 (8,2%) Sistema respiratório 12 (6,2%) Problemas intestinais 8 (4,1%) Emagrecimento 8 (4,1%) Sistema genitourinário 7 (3,6%) Outros 7 (3,6%) Hipertensão 6 (3,2%) Pele e lesões 5 (2,6%) Diabetes 5 (2,6%) Circulação 4 (2,1%) Doenças infecciosas e parasitárias 1 (0,5%) Colesterol 1 (0,5%) TABELA 3. Modo de preparo das plantas medicinais. Modo de preparo Número de citações (%)* Infusão 49 (67,1%) Decocção 9 (12,5%) Comprimido/cápsula 4 (5,5%) Xarope 3 (4,1%) Maceração 3 (4,1%) Tintura 2 (2,7%) Suco 2 (2,7%) In natura 1 (1,3%) *Cada indivíduo podia citar mais de um modo de preparo para a mesma planta. outros trabalhos realizados em diferentes regiões brasileiras (Arnous et al., 2005; Pereira et al., 2004; Schwambach & Amador, 2007; Veiga Junior, 2008; Brasileiro et al., 2008), e reforça a ideia de que os mais velhos detêm o conhecimento acerca do assunto e que as novas gerações caso não tenham interesse no aprendizado podem perder esse conhecimento. No presente estudo, as plantas mais citadas pela população foram: boldo, hortelã, camomila, erva cidreira e guaco. Resultados muito semelhantes foram encontrados por Brasileiro et al. (2008) e Cortez et al. (1999). Já o trabalho de Souza & Felfili (2006), realizado em Alto Paraíso de Goiás, Goiás, apresentou resultados bastante diferentes, sendo que as plantas encontradas como mais usadas pela população deste estudo não foram nem citadas pela população do nosso estudo. Essa diferença pode ser explicada pela diversidade botânica e nomes populares diferentes existente entre as regiões brasileiras (Rodrigues & Carvalho, 2001; Medeiros et al., 2004; Souza & Felfili, 2006). Gripe foi a situação de uso de plantas medicinais mais citada, assim como em nos trabalhos de Brasileiro et al. (2008) e Mendonça Filho & Menezes (2003). O uso como calmante, para problemas respiratórios ou problemas gastrointestinais receberam bastante citações, o que também aconteceu em outros trabalhos (Cortez et al., 1999; Mendonça Filho & Menezes, 2003; Schwambach & Amador, 2007; Souza & Felfili, 2006; Brasileiro et al., 2008). A maioria da população obtem as plantas medicinais no próprio quintal, o que coincide com outros trabalhos publicados anteriormente (Cortez et al., 1999; Mendonça Filho & Menezes, 2003; Pereira et al., 2004; Souza & Felfili, 2006; Arnous et al., 2005; Veiga Junior, 2008; Brasileiro et al., 2008;). Isso mostra um grande conhecimento e proximidade da população com as plantas e um baixo índice de compra de produtos certificados, neste caso existe o risco de identificação errônea da planta, o que pode levar a possíveis efeitos adversos ou até intoxicações. Hortas de plantas medicinais poderiam ser instaladas próximas as Unidades Básicas de Saúde, fornecendo plantas medicinais certificadas por botânicos de forma gratuita para a população, além disso, farmacêuticos poderiam orientar a população sobre as melhores formas de utilização. O chá, preparado por meio de infusão seguido pela decocção são as formas mais utilizadas pela população para o consumo das plantas medicinais. Esses processos também foram relatados como mais utilizados em trabalhos semelhantes (Arnous et al., 2005; Veiga Junior, 2008; Brasileiro et al., 2008). A orientação sobre a melhor forma de preparo das plantas medicinais é de extrema importância, não somente para garantir a presença do princípio ativo, mas também para certificar uma baixa toxicidade do que está sendo consumido. O fato de 68,5% dos participantes da pesquisa acreditarem que plantas medicinais não fazem mal à saúde é preocupante, uma vez que muitas plantas quando usadas de forma abusiva ou inadequada podem ser tóxicas ou causar diversos efeitos adversos, além de poder interagir com outros medicamentos já utilizados. Outros trabalhos da literatura apresentaram porcentagens semelhantes ou até superiores, como o de Oliveira & Gonçalves (2006), com 60% e o de Veiga Junior (2008), com 87,4%. No que se refere aos aspectos metodológicos

706 deste trabalho, tentamos eliminar ao máximo os possíveis vieses, utilizando a seleção aleatória dos participantes, incentivando a participação no estudo para garantir a validade interna e padronizando os procedimentos. Este trabalho mostrou que grande parcela da população ainda faz uso de plantas medicinais, algumas vezes até em substituição aos medicamentos alopáticos. Como grande parte utiliza plantas de acordo com o conhecimento que foi apreendido com familiares, amigos ou vizinhos, e que a maioria das pessoas acredita que plantas ou remédios à base de plantas não fazem mal à saúde, existe uma grande lacuna a ser preenchida pelos profissionais da saúde na área das plantas medicinais. Os profissionais da saúde, tem pouco ou nenhum contato com o assunto durante sua formação acadêmica (Lopes et al., 2012), fazendo com que esses profissionais não saibam como agir quando se deparam com essa demanda na prática clínica. Dessa forma, esses profissionais deveriam ser treinados, capacitados e bem informados sobre o assunto para que possam não só prescrever o uso de plantas medicinais para a população, uma vez que esses são muitas vezes mais baratos e muito bem aceitos, mas também para informar e orientar melhor os usuários a fim de evitar problemas decorrentes das automedicações e contribuir para o desenvolvimento de uma terapêutica alternativa e complementar, com embasamento científico, que possa ser ofertada à população pelo SUS, visando obter resultados terapêuticos definidos, com conseqüente melhora na sua qualidade de vida. REFERÊNCIAS ARNOUS, A.H. et. al. Plantas medicinais de uso caseiro Conhecimento popular e interesse por cultivo comunitário. Revista Espaço para a Saúde, v. 6, n. 2, p. 1-6, 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n o 971, de 3 de maio de 2006. Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da União, n. 84, seção 1, 2006. 19p. BRASILEIRO, B.G. et. al. Plantas medicinais utilizadas pela população atendida no Programa de Saúde da Família, Governador Valadares, MG, Brasil. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 44, n. 4, p. 629-636, 2008. CARVALHO, M.C.G. et. al. Evidências para o uso de Indigo naturalis no tratamento da psoríase tipo placa: uma revisão sistemática. Natureza on line, v. 8, n. 3, p. 127-131, 2010. CORTEZ, L.E.R. et. al. Levantamento das plantas medicinais utilizadas na medicina popular de Umuarama, PR. Arquivos de Ciências da Saúde da Unipar, v. 3, n. 2, p. 97-104, 1999. LOPES, M.A. et. al. Conhecimento e intenção de uso da fitoterapia em uma Unidade Básica de Saúde. Interfaces Científicas - Saúde e Ambiente, v. 1, n. 1, p. 52-59, 2012. MEDEIROS, M.F.T. et. al. Plantas medicinais e seus usos pelos sitiantes de Reserva Rio das Pedras, Mangaratiba, RJ, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 18, n. 2, p. 391-399, 2004. MENDONÇA FILHO, R.F.W.; MENEZES, F.S. Estudo da utilização de plantas medicinais pela população da Ilha Grande RJ. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 13, p. 55-58, 2003. MOREIRA, R.C.T. et al. Abordagem Etnobotânica acerca do Uso de Plantas Medicinais na Vila Cachoeira, Ilhéus, Bahua, Brasil. Acta Farmacéutica Bonaerense, v. 21, n. 3, p. 205-2011, 2002. OLIVEIRA, F.Q.; GONÇALVES, L.A. Conhecimento sobre plantas medicinais e fitoterápicos e potencial de toxicidade por usuários de Belo Horizonte, Minas Gerais. Revista Eletrônica de Farmácia, v. 3, n. 2, p. 36-41, 2006. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Cuidados Primários em Saúde. Relatório da Conferência Internacional sobre Cuidados Primários da Saúde, Alma Ata, URSS, 6 a 12 de setembro de 1978. Brasília: Ministério da Saúde, 1979. 64p. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Estrategia de la OMS sobre medicina tradicional 2002-2005. Genebra, Suíça, 2002. 65p. PEREIRA, R.C. et. al. Plantas utilizadas como medicinais no município de Campos de Goytacazes RJ. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 14, n. 1, p. 37-40, 2004. RODRIGUES, V.E.G.; CARVALHO, D.A. Levantamento etnobotânico de plantas medicinais no domínio do cerrado na região do Alto Rio Grande Minas Gerais. Ciência e Agrotecnologia, v. 25, n. 1, p. 102-123, 2001. SCHWAMBACH, K.H.; AMADOR, T.A. Estudo da Utilização de Plantas Medicinais e Medicamentos em um Município do Sul do Brasil. Acta Farmacéutica Bonaerense, v. 26, n. 4, p. 602-608, 2007. SOUZA, C.D.; FELFILI, J.M. Uso de plantas medicinais na região de Alto Paraíso de Goiás, GO, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 20, n. 1, p. 135-142, 2006. TOMAZZONI, M.I. et. al. Fitoterapia popular: A busca instrumental enquanto prática terapêutica. Texto e Contexto Enfermagem, v. 15, n. 1, p. 115-121, 2006. VEIGA JUNIOR, V.F. Estudo do consumo de plantas medicinais na Região Centro-Norte do Estado do Rio de Janeiro: aceitação pelos profissionais de saúde e modo de uso pela população. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 18, n. 2, p. 308-313, 2008.