A ASSISTÊNCIA JURÍDICA COMO EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: ANALISANDO O EMAJ/UNEMAT Guilherme Angerames Rodrigues Vargas - UNEMAT Silvia Noronha Muniz - UFMT RESUMO O Escritório Modelo de Assistência Jurídica EMAJ, vinculado ao Departamento de Ciências Jurídicas do Campus Jane Vanini em Cáceres/MT da UNEMAT, funciona como laboratório do Curso de Direito. Oferece serviços jurídicos gratuitos a pessoas de baixa renda e residentes no município de Cáceres. Após identificar as características da clientela e estudar a estrutura física e humana oferecidas, identificou-se a estrutura assistencial disponível de acordo com a demanda. Constatou-se que a clientela do EMAJ se compõe de 72% de mulheres sendo que destas 51% representam menores. A Ação de Alimentos representa 39% das ações que as mulheres propõe em desfavor do pai de seus filhos. A discussão da paternidade também é levada à intervenção do judiciário sendo 11% das ações de investigação de paternidade, todas promovidas pela mãe. Ações em que se evidencia o difícil relacionamento entre filhos e pais. Os dados obtidos através da coleta subsidiam várias análises, como o problema familiar gerado das relações de conflitos entre os pais de menores, os motivos da predominância de mulheres na clientela e os alimentos como complementação da renda familiar. Além de deficiência como a necessidade de assistência social e em determinadas situações, acompanhamento psicológico. Permitem o EMAJ atender à extensão universitária e garantir o estagia no ensino de graduação. Palavras-chave: Extensão universitária, Assistência jurídica. A formação do CEPRAJU e o Estágio O Escritório Modelo de Assistência Jurídica EMAJ - surgiu com a criação do CEPRAJU (Centro de Prática Jurídica) da Faculdade de Direito da Unemat.. O CEPRAJU foi criado em 1998, para atender o Estágio Supervisionado no Curso de Direito da instituição. A Universidade do Estado de Mato Grosso foi gerada a partir do Instituto de Ensino Superior de Cáceres IESC - criado em Cáceres em 1978. A partir de estadualização a instituição passa a atender o interior do estado. Em seus primeiro anos objetivava a formação de professores ofertando apenas licenciaturas. Com a criação dos cursos de bacharelado em Ciências Contábeis e Direito no Campus de Cáceres 1 em 1995 passa a ser designada Unemat. 1 A partir de 2002 o Campus Universitário de Cáceres para a se chamar Jane Vanini.
O projeto de criação do CEPRAJU objetiva coordenar as práticas do estágio atendendo a Portaria Ministerial nº 1886 de 1994, que dispunha sobre o estágio para os cursos de Direito. Percebe-se que por mais que se trate de bacharelado, a prática através de estágio era novidade para os cursos de Direito. O projeto disciplina sobre uma estrutura de estágio voltado para instituições jurídicas, sendo estruturado para as instituições presentes em Cáceres, como a justiça estadual, a do trabalho, o Ministério Público, a Ordem dos Advogados do Brasil. Assim justifica a criação do Centro: O Centro de Prática Jurídica desenvolverá atividades predominantemente práticas, buscando a participação do estudante em situação concreta de vida e trabalho, relacionadas ao campo jurídico e a articulação entre ensino, prática e extensão. Sendo certo seu desenvolvimento dentro do mais absoluto espírito da ética profissional. (SOUZA & MALDONADO, 1998). Os Estágios Práticos Civil I, Civil II, Pena I, Penal II e do Trabalho estão na matriz curricular do curso de Direito. Esses estágios ocorrem juntamente com as demais disciplinas do curso e por esse motivo em muitas vezes são confundidos como aulas teóricas. Não há ligação direita entre as disciplinas de estágio e o estágio prático do EMAJ. O CEPRAJU, em seu projeto, previa a realização desses estágios práticos em conexão com todas as disciplinas de Estágio Supervisionado. O CEPRAJU propunha, além atuação do estagiário no EMAJ, a prática através de outras instituições, inclusive o cadastramento de escritórios de advocacia, porém esses definições não chegaram a serem praticadas. A EMAJ na prática só presta atendimento nas esferas civil e penal. A pesar menção de atendimentos éticos no escritório, o CEPRAJ não menciona uma das partes mais valorosas resultantes das atividades do EMAJ: a atividade de extensão. O EMAJ não buscava conhecer sua clientela nem sua função na sociedade cacerense. Os dados produzidos pelo EMAJ seriam fundamentais para tomar diretrizes na estrutura da Faculdade de Direito da UNEMAT, pois através da práxis, se formaria o arcabouço teórico para ações de pesquisa e ensino e se otimizaria a formação do jurista local. As atividades de pesquisa, através da criação de um núcleo no EMAJ propiciaria o desenvolvimento de pós-graduação, principalmente no desenvolvimento de programa voltado as realidades locais. Os dados produzidos pelo EMAJ formariam os mais ricos elementos para uma melhor formação acadêmico-científica.
A Rotina do EMAJ A prática do EMAJ consiste primeiramente na seleção da clientela. Às quintasfeiras são realizadas as triagens. A inscrição das triagens tem início às 7:30 h, porém é comum que uma fila de candidatos à vaga de assistido forme-se desde as 4 h da madrugada. São 06 (seis) assistidos por semana com a propositura de ações, mais inúmeros atendimento de orientação jurídica durante o expediente dos estagiários. Os estagiários são distribuídos em 03 (três) grupos de aproximadamente 10 (dez). Cada grupo atuará em um dia da semana: um às segundas-feiras, outro às terçasfeiras e o terceiro às quartas-feiras. São distribuídos 02 (dois) dos 06 (seis) clientes selecionados por cada dia de atendimento. Os estagiários atendem os assistidos em rodízio, ou seja: a cada semana (02) estagiários do grupo de aproximadamente 10 (dez) atendem um assistido. O início e finalização de cada turma de estágio são feitos através das transferências das pastas. Cada atendimento com propositura de ação resulta uma pasta. As pastas a serem transferidas são resultado do número de pastas recebidas do estágio anterior, somados ao número de pastas adquiridas durante o estágio (pelo atendimento dos novos assistidos) e deduzido o número de pastas arquivadas durante o estágio. O horário de atendimento aos assistidos é das 14 h às 18 h, período este controlado por livro ponto na secretaria do EMAJ. Cada grupo de estagiários é atendido por um orientador. A figura do orientado consiste em ser advogado, ou seja, possuir registro na Ordem dos Advogados do Brasil OAB. Por questões administrativas da Unemat, o orientador consta no quadro de professores do Curso. A função de cada orientador é de instruir o estagiário quanto ao acompanhamento do assistido. Passa pela analise do orientador todo material produzido pelos estagiários. O orientador é o defensor (advogado) do assistido, no âmbito do poder judiciário. O EMAJ tem sede na rua São Pedro, aos fundos do antigo Juizado Especial de Cáceres, o Escritório possui uma estrutura física e de pessoal insuficientes à demanda. O prédio possui uma ampla sala para atendimento aos assistidos, dividida em pequenos boxes. Há a sala da secretaria que também é utilizada pelo coordenador do dia.
Uma assistente universitário atua no EMAJ. Uma bolsa de extensão é dedicada ao projeto. Cabe a estes a parte administrativa do Escritório Resultados No período de 2004 a 2006 foi realizada coleta de dados objetivando caracterizar a clientela do EMAJ em aspectos diversos. Através da técnica de amostragem randômica constitui-se uma população de cem assistidos, totalizando 11% do universo de 912 (novecentos e doze) clientes em atendimento. Feito o sorteio das pastas individuais e levantamento de dados passou a conjugar demais dados para formar um perfil da clientela e sua figuração perante sociedade loca. Dentre esse total de pastas, a grande maioria são ações de alimentos e de divórcio. Porém há de se observar que algumas ações não são tão comuns ao cotidiano do EMAJ, como ação de reintegração de posse e indenização por ato ilícito. Segue o gráfico: Ações por pastas 3% 3% 3% 3% 3% 6% 6% 39% 11% 23% Alimentos - 14 Divórcios - 8 Investigações de Paternidade c/c Alimentos - 4 Indenizações - 2 Inventários - 2 Reconhecimento de União Estável - 1 Reintegração de Posse - 1 Revisão de Guarda c/c Alimentos - 1 Separação Judicial Litigiosa - 1 Conversão de Separação Judicial em Divorcio - 1 O grande número de ações é em Direito de Família. Na grande maioria os assistidos atuam como proponentes da ação, mas há de se observar que as contestações correspondem a mais de um quarto das pastas:
Ações por triagem 26% 74% Contestações - 9 Proposições - 25 Das 09 (nove) contestações, 06 (seis) dos assistidos são homens. Das 25 (vinte e cinco) proposições 22 (vinte e duas) são mulheres e 04 (quatro) são homens. Essa soma ultrapassa as 25 (vinte e cinco) proposições, pois numa ação de inventário figuram o inventariante (homem) e a mãe do filho menor do de cujo como assistidos. O gráfico a seguir evidencia melhor a divisão pro sexo dos assistidos: Assistidos por sexo 28% 72% Mulheres - 26 Homens - 10 Um dos fatores que demonstram o maior número de mulheres assistidas se evidencia porque o maior número de assistências é para proposição de alimentos. As mães, em ampla maioria, possuem a guarda dos filhos. Mais da metade das ações envolvem menores, com a totalidade de mães representarem seus filhos menores: Menores representados 49% 51% Com Menores Representados - 18 Sem Menores Representados - 17 Conclusões e discussão
Conjugando os três últimos gráficos poderá chegar a um perfil da maioria dos assistidos do EMAJ: são mulheres representando os filhos menores, propondo ação de alimentos em desfavor do pai de seus filhos. A discussão da paternidade também é levada à intervenção do judiciário, e considerando que a maioria dessas mulheres foi mãe solteira ou mantiveram curto relacionamento formal (Casamento ou União Estável) com o parceiro, revela um retrato da sociedade atual local: menores sob a guarda da mãe e com pouco contato ou de difícil relacionamento com o pai. Supõe-se de que se o relacionamento entre os pais fosse estável ou adequado, para melhor desenvolvimento do menor, não haveria discussão judicial sobre a guarda, paternidade ou alimentos. Denota-se que as famílias atendidas pelo EMAJ são chefiadas por mulheres que detém a guarda dos filhos, buscando complementação da renda familiar através da ação de alimentos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DINIZ, Maria Helena. Compendio de introdução à ciência do Direito. - 18. edi. - São Paulo: Saraiva, 2006. FRAGALE FILHO, Roberto, VERONESE, Alexandre. A pesquisa em Direito: diagnóstico e perspectivas. in R.. P. G. v. 1 nº 2, p 53-70 nov, 2004 SOUZA, Expedito F. MALDONADO, João Mário S. Centro de prática jurídica da Faculdade de Direito da Unemat. Projeto de Ensino. Cáceres: Unemat, 1998