Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Efeito da Adubação Química em Mudas de Mangabeira Priscila Sales Rodrigues¹, Talita Cristina Mamedes¹, Adílson Pelá², Nei Peixoto³ ¹Graduandos do Curso de Engenharia Florestal. ²Orientador, professor dos cursos de Agronomia e Engenharia Florestal. UEG, UnU Ipameri. ³Docente dos Cursos de Agronomia e Engenharia Florestal. UEG, UnU Ipameri, Rodovia GO 330, km 241, Anel Viário, 75780-000, Brasil. E-mail: priscila.ueg@gmail.com; adilson.pela@ueg.br PALAVRAS-CHAVE: Hancornia speciosa, adubação parcelada, espécie nativa, cerrado. 1 INTRODUÇÃO No Bioma Cerrado são encontrados arbustos e árvores com potencial medicinal, frutífero, ornamental, madeireiro, artesanal, cosmético, forrageiro, alimentar, bem como espécies que fornecem resina, cortiça, látex entre outros. A maioria destas plantas tem resistência à seca desenvolvendo raízes profundas e/ou tubérculos para obtenção e armazenamento de alimento e água nos períodos secos. Entre as diversas espécies do cerrado, encontra-se a Hancornia speciosa Gomes, conhecida popularmente como mangabeira. É uma espécie de porte arbustivo nativa do Cerrado, que apresenta potencial tanto como planta frutífera quanto produtora de borracha (SOUZA et al, 2007). A espécie ocorre em ambientes com temperaturas elevadas, em torno de 25 C, com pluviosidade variando de 750 a 1500 mm anuais, vegetando espontaneamente em várias regiões do país, desde os cerrados da Região Centro-Oeste, até as Regiões Norte e Sudeste (VIEIRA NETO 1994). Além do consumo in natura, o maior aproveitamento da mangaba se dá na forma de sucos, doces e sorvetes, sendo esse processamento feito em sua maioria por pequenas empresas (LEDERMAN et al., 2000).
Contudo a falta de informações sobre essa cultura vem restringindo seu cultivo comercial, tornando o aproveitamento limitado a pequenos produtores e à exploração extrativista, criando-se uma barreira ao aproveitamento de todas suas propriedades (AGUIAR FILHO et al., 1998; DONADIO et al., 2002). São de importância significativa conhecimentos técnicos referentes à propagação, adubação e exigências nutricionais para a exploração racional de uma espécie nativa (COSTA et al., 2005). Aparentemente a mangabeira não é exigente em fertilidade, já que vegeta bem em solos pobres e ácidos. Seu sistema radicular explora grande volume de solo, absorvendo água e nutrientes em camadas profundas do perfil do solo (VIEIRA NETO, 1994). No entanto, é reconhecido que a reposição ou suprimento apropriado dos nutrientes do solo é vital para o crescimento e desenvolvimento vegetativo das plantas (ARAÚJO et al., 2003). O excesso ou a deficiência de nutrientes no solo produz reflexos negativos na produtividade, na qualidade dos frutos, na sanidade e longevidade do pomar (BASSO et al., 1985). Há diversos fatores que afetam a disponibilidade de nutrientes, tais como, a dosagem, o tipo de fertilizante e a distribuição da adubação (Hoffmann et al., 1996), sendo os aspectos principais a serem observados na aplicação de fertilizantes: a disponibilidade de água, temperatura, luz, tipos de solo, espécie e cultivar, idade da planta, porta-enxerto, espaçamento, produção estimada, condição e equilíbrio nutricional entre outros (TROCMÉ & GRAS, 1979; NOGUEIRA, 1985). O presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito do parcelamento da adubação química no crescimento e desenvolvimento de mudas de mangabeira. 2 MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi conduzido no período de abril a setembro de 2010, no município de Ipameri, GO (Lat. 17 0 43 19 S, Long. 48 0 09 35 W, Alt. 773,0 m). A região possui clima predominante Aw, segundo a classificação de Köppen, ou seja, clima quente e úmido (A) e chuvas de verão (w). Foram utilizadas mudas de mangabeira, provenientes de sementes coletadas no município de Ipameri. A germinação das sementes foi conduzida em laboratório, utilizando germinador, em dezembro de 2010. A semeadura foi feita em embalagens de polietileno com 30 cm de altura e 12 cm de diâmetro, e o substrato utilizado foi areia lavada. As mudas de
quatro meses foram selecionadas quanto à uniformidade de altura por ocasião da aplicação dos adubos. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, com oito tratamentos, três repetições e quatro plantas por parcela. Os tratamentos consistiram em: T1 sem adubação (testemunha); T2 - adubo NPK de liberação lenta e controlada; T3 adubação com NPK comum em aplicação única; T4 NPK comum parcelado, 50% no início e 50% aos 90 dias; T5 - NPK comum parcelado, 33% no início, 33% aos 60 e 33% aos 120 dias; T6 aplicação de solução nutritiva a cada 30 dias; T7 aplicação de solução nutritiva a cada 20 dias; e T8 aplicação de solução nutritiva a cada 10 dias. Todos os tratamentos forneceram no total uma quantidade equivalente a 0,9 g de N, 0,9 g de P 2 O 5 e 0,9 g de K 2 O por planta. Para a preparação da solução nutritiva estoque utilizou-se 270g de uréia, 450g de KCl e 165,51 ml de ácido fosfórico diluídos em 6 L de água. Para cada aplicação dos tratamentos T6, T7 e T8 foram diluídos 330 ml, 220 ml e 110 ml de solução nutritiva estoque em água, no volume de 10 L, respectivamente. Para os tratamentos T3, T4 e T5 utilizou-se uréia, KCl e SSA (Super simples amoniado). Os dados obtidos foram submetidos ao teste Tukey a p < 0,05. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO As médias obtidas para a variável taxa de sobrevivência encontram-se na Tabela 1. Observa-se que T1 apresentou maior taxa de sobrevivência, porém, diferindo estatisticamente apenas de T3 e T4 os quais apresentaram menores taxas de sobrevivência. Verifica-se que houve um aumento da taxa de sobrevivência à medida que houve aumento do parcelamento dos formulados aplicados.
Tabela 1: Valores médios de altura, crescimento e de plantas sobreviventes em função do parcelamento do formulado. Ipameri, 2010. Tratamento Altura final Crescimento Plantas sobreviventes (cm) (cm) (%) T3 0,00 a 0,00 a 0,00 a T4 9,00 b 6,00 abc 11,00 ab T5 9,00 b 3,66 ab 50,00 abc T6 13,00 b 8,33 bc 52,66 abc T2 15,33 b 10,33 c 52,66 abc T7 12,00 b 7,00 abc 55,33 bc T8 13,33 b 8,66 bc 72,33 bc T1 10,33 b 5,00 abc 100 c CV (5%) 29,06 35,96 38,29 Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey a p<0,05. Tratamentos: T1= sem adubação (testemunha); T2= adubo NPK de liberação lenta e controlada; T3= adubação com NPK comum em aplicação única; T4= NPK comum parcelado, 50% no início e 50% aos 90 dias; T5= NPK comum parcelado, 33% no início, 33% aos 60 e 33% aos 120 dias; T6= aplicação de solução nutritiva a cada 30 dias; T7= aplicação de solução nutritiva a cada 20 dias; e T8= aplicação de solução nutritiva a cada 10 dias. Os resultados de altura das mudas revelam que não houve efeito significativo para o adubo de liberação lenta e controlada, embora tenha apresentado maior crescimento das plantas. Observa-se na que as alturas das mudas variaram de 9 a 15 cm, porém não diferiram significativamente. A solução nutritiva é de fácil preparo, entretanto para a espécie em estudo verificou-se que a adubação química foi prejudicial à sobrevivência das mudas. Embora o adubo de liberação lenta e controlada tenha tido alta taxa de mortalidade, este apresentou o melhor desenvolvimento das mudas sobreviventes, mesmo não diferindo estatisticamente dos demais tratamentos. Estes resultados podem refletir no desenvolvimento das mudas no campo. Em contrastes a estes resultados, VIERA NETO et al. (2010) relatam que adubações químicas com formulações à base de macro e micronutrientes têm resultado em melhoria do desenvolvimento de plantas jovens. Com tamarindeiro, FERREIRA et al. (2008), obtiveram maior crescimento das mudas com a aplicação de 3 kg m -3 de cloreto de potássio e maior enraizamento com aplicação de 5 kg m -3 de superfosfato simples. Para recomendações de adubação para produção de mudas de mangabeira, sugere-se mais estudos.
4 CONCLUSÃO Adubação química, nas doses em estudo, foi prejudicial à sobrevivência de mudas de mangabeira. O adubo de liberação lenta e controlada e a solução nutritiva aplicada a cada 10 dias favoreceram o desenvolvimento de mudas de mangabeira. As mudas que não receberam nenhuma dose de adubação obtiveram a maior taxa de sobrevivência. REFERÊNCIAS AGUIAR FILHO, S. P.; BOSCO, J.; ARAÚJO, I. A. A mangabeira (Hancornia speciosa): domesticação e técnicas de cultivo. João Pessoa: Emepa-PB, 1998. 26p. (Documentos, 24). ARAÚJO, I. A.; SANTOS, E. S.; MACÊDO, L. S. Resposta da Mangabeira (Hancornia speciosa Gomes) à Adubação com NPK Micronutrientes em Alissolo Distrófico. In: Simpósio Brasileiro sobre a Cultura da Mangaba. Aracaju, SE. Anais Embrapa semi-árido, 2003. BASSO, C., WILMS, F.W.W., SUZUKI, A. Fertilidade do solo e nutrição da macieira. In: EMPASC. Manual da cultura da macieira. Florianópolis : EMPASC, 1986. p.236-265 COSTA, C. M. C.; CAVALCANTE, U. M. T.; GOTO, B. T.; SANTOS, V. F.; MAIA, L. C. Fungos micorrízicos arbusculares e adubação fosfatada em mudas de mangabeira. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.40, n.3, p.225-232, 2005. DONADIO, L. C.; MÔRO, F. V.; SERVIDONE, A. A. Frutas Brasileiras. Jaboticabal: Novos Talentos, 2002. 288p. FERREIRA, E.A.; MENDONÇA, V.; SUOZA, H.A.; RAMOS, J.D. Adubação fosfatada e potássica na formação de mudas de tamarindeiro. Scientia Agrária. v.9, n.4, p.475-480, 2008. LEDERMAN, I. E.; SILVA JÚNIOR, J. F.; BEZERRA, J. E. F.; ESPÍNDOLA, A. C. M. Mangaba (Hancornia speciosa Gomes). Jaboticabal: Ed. São Paulo, 2000. 35 p. (Série frutas nativas, 2). NOGUEIRA, D. J. P. Nutrição das fruteiras. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, n. 125, p. 12-31, 1985. SOARES, F. P.; PAIVA, R.; ALVARENGA, A. A.; NOGUEIRA, R. C.; EMRICH, E. B.; MARTINOTTO, C. Organogênese direta em explantes caulinares de mangabeira (Hancornia speciosa Gomes). Ciênc. agrotec., Lavras, v.31, n.4, p.1048-1053, 2007. TROCMÉ, S.; GRAS, R. Suelo y fertilización en fruticultura. Madrid: Mundi-Prensa, 1979. 340 p.
VIEIRA NETO, R. D. Cultura da Mangabeira. Sergipe: EMBRAPA/CPATC, 1994. 16 p. Circular técnica, 02. VIEIRA NETO, R. D.; CINTRA, F. L. D.; SILVA, A. L. da; SILVA JÚNIOR, J. F., COSTA, J. L. da S.; SILVA, A. A. G. da; CUENCA, M. A. G. Sistema de produção de mangaba para os tabuleiros costeiros e baixada litorânea. Aracaju: Embrapa Tabuleiros Costeiros, 2002. 22p. (Embrapa Tabuleiros Costeiros. Sistemas de Produção, 02). Disponível em: <http//www.cpatc.embrapa.br> Acesso em: 24 out, 2010.