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Transcrição:

Homem, Cultura e Sociedade 3) O HOMEM NA SUA DIFERENÇA CULTURAL 3.1 A cultura do outro na visão colonialista, iluminista e evolucionista 3.2 Etnocentrismo e a questão da diferença cultural 3.3 Antropologia no século XX: relativando a visão etnocêntrica 3.4 A Antropologia estruturalista de Lévi-Strauss 3.5 Divisão, campos e função da Antropologia 3.6 Reconceituando pensamento mítico e racional 3.7 Reflexão final: os isolados

Literatura: ROCHA, Everardo, O que é Etnocentrismo, São Paulo: Editora Brasiliense 2007 ROCHA, Everardo, O que é Mito, São Paulo: Editora Brasiliense 1996 LANZONI ALVES, Elizete, REIS DOS SANTOS, Sidney Francisco, Iniciação à Antropologia Jurídica: Por onde caminha a humanidade?, Florianópolis: Conceito Editora 2007 CHAUÍ, M. Convite à Filosofia, São Paulo: Editora Attica, 2010

3.1 A cultura do outro na visão colonialista, iluminista e evolucionista Visão colonialista: Gravura Amerigo Vespucci descobrindo America. Artista: Theodore Galle 1589

3.1 A cultura do outro na visão colonialista, iluminista e evolucionista Interpretação da Gravura de Galle por Allen Farber e Louis Montrose (EUA)* Visão colonialista: superioridade Semelhança da gravura de Galle (1589) com pintura de Michelangelo: A criação de Adão. (Capela Sistina,1511) Homem deitado nu, estendendo a mão, esperando ser despertado, criado Frase em latim no rodapé da gravura: "Americus redescobre América, ele a chamou uma vez e desde então ela sempre estava acordada." *Fontes:http://employees.oneonta.edu/farberas/arth/arth200/amerigovespucci_text.html http://www.jstor.org/discover/10.2307/2928756?uid=3737664&uid=2&uid=4&sid=21102336475807

3.1 A cultura do outro na visão colonialista, iluminista e evolucionista Visão colonialista: dominação Amerigo = colonizador europeu (ativo masculino...) Atributos: Cruz cristã = poder divino Espada = poder da violência Astrolábio = poder do saber científico (instrumento para a navegação marítima)

3.1 A cultura do outro na visão colonialista, iluminista e evolucionista Visão colonialista: ambiguidade America = mulher simbolizando o novo continente Vista como figura ambígua: passiva, feminina, nua, convidativa perigosa, antropófaga: Banquete canibal por trás

3.1 A cultura do outro na visão colonialista, iluminista e evolucionista Visão iluminista [relembrando 1.9 O Sujeito do conhecimento no Iluminismo] Iluminismo crê nos poderes da razão, chamada de As Luzes a razão é capaz de evolução e progresso, e o homem é um ser perfectível. o aperfeiçoamento da razão se realiza pelo progresso das civilizações, que vão das alguns mais atrasadas (também chamadas de primitivas ou selvagens ) alguns mais adiantadas e perfeitas (as da Europa Ocidental); diferença entre Natureza e civilização, Natureza= reino das relações necessárias de causa e efeito ou das leis naturais universais e imutáveis, enquanto Civilização = reino da liberdade e da finalidade proposta pela vontade livre dos próprios homens, em seu aperfeiçoamento moral, técnico e político.

3.1 A cultura do outro na visão colonialista, iluminista e evolucionista Visão iluminista 1781 obra Crítica da razão pura e 1800 obra Lógica 1) O que eu posso saber? Metafísica (e Epistemologia) 2) O que devo fazer? Ética 3) O que posso esperar? Religião 4) Que é o homem? Antropologia Immanuel Kant 1724-1804 Michel Foucault 1926-1984 Filósofo francês Michel Foucault (obra: Ditos e Escritos) questiona racionalismo: a partir de Kant surge a possibilidade ou o perigo de uma Antropologia Governo da razão pura sobre as questões do ser humano? Ciência ocidental sobre as práticas societárias de todas as outras culturas?

3.1 A cultura do outro na visão colonialista, iluminista e evolucionista Visão iluminista: 1798 obra A antropologia de ponto de vista pragmático: Antropologia fisiológica estuda o homem como ser submetido às leis da natureza homem como objeto da razão Antropologia pragmática estuda o homem como ser auto determinado da civilização homem como sujeito da razão 1802 obra Curso de Geografia Física: A humanidade tem sua maior perfeição na raça branca. O índios amarelos têm menor talento. Os negros são inferiores, e ainda inferior são uma parte dos povos americanos. Antropologia fisiológica kantiana se resume em racismo Immanuel Kant 1724-1804

3.1 A cultura do outro na visão colonialista, iluminista e evolucionista Visão evolucionista: Teoria geral da Evolução de Charles Darwin: Obra 1859: Sobre a Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida Charles Darwin Teoria da Evolução biológica (não social ou cultural) 1724-1804 Princípio da Seleção natural: Indivíduos dotados de alguma vantagem tem maior probabilidade de sobreviver e reproduzir seu tipo. Variações de indivíduos são repassadas por hereditariedade Espécies se adaptam gradualmente ao ambiente evoluem Obra 1891: "A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo" Descendência do Homem a partir de formas inferiores Teoria da seleção sexual: "luta entre indivíduos de um sexo, geralmente os machos, pela posse do outro sexo"

3.1 A cultura do outro na visão colonialista, iluminista e evolucionista Visão evolucionista: Evolucionismo social: Herbert Spencer populariza termo evolução, falando da sobrevivência do mais apto aplica as noções de evolução e sobrevivência do mais apto às sociedades e nações Herbert Spencer 1820-1903 Evolucionismo cultural: Morgan (1818-1881) e Leslie Alvin White (1900-1975), entre outros Três períodos: 1. Antigo: Selvageria: Energia despendida do próprio corpo Exemplos: Pré-Hominidas, Australianos, Polinésios 2. Intermediário: Barbárie: Energia despendida na domesticação de animais, cultivação de plantas Exemplos:Iroqueses (tribos norte-americanos), Gregos Homéricos 3. Recente: Civilização: Energia despendida da maquina de vapor Exemplo:Culturas modernas

3.2 O que é Etnocentrismo (Rocha 2007) O homem na sua diferença cultural Visões colonialista, iluminista e evolucionista da cultura do outro são etnocéntricas "Etnocentrismo é uma visão do mundo onde nosso próprio grupo é tomado como o centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. (Rocha 2007, p.7) No plano intelectual: Dificuldade de pensarmos a diferença No plano afetivo: estranheza, medo, hostilidade etc. Éthnos (ἔθνος), = Etnia (povo, raça) Diferença é percebida como ameaçadora, porque fere nossa identidade Visão do "outro" como anormal, engraçado ou ininteligível reforça a identidade do "nosso" grupo, como sento normal, certo, inteligível etc.

3.2 O que é Etnocentrismo O homem na sua diferença cultural Imagem do "outro" oscila: "brabos e traiçoeiros", "mansos e bondosos" -> Duas formas de Etnocentrismo; 1. Etnocentrismo como apreensão do "outro" que se reveste de forma violenta, fazendo parte de uma lógica do extermínio: Exemplo: Cientista Hermann von Ihering, diretor do Museu Paulista, 1911: nada se podendo esperar de útil dos índios que representavam um empecilho para a colonização, parece que não há outro meio, de que se possa lançar mão, senão seu extermínio...... exterminem-se os refratários à marcha ascendente da nossa civilização. 2. Etnocentrismo cordial Exemplo (Rocha 2007, p.10-12): História de um missionário da seu relógio para um índio Índio pendura relógio numa árvore alta numa ornamentação com penas Após missão, pendura arco e flecha e instrumentos na parede Ambos privilegiam as funções estéticas, ornamentais dos objetos. Exemplo: Criança em centro urbano "o índio é o maior amigo do homem"

3.2 O que é Etnocentrismo O homem na sua diferença cultural O "outro" é representado pela ótica etnocêntrica segundo as dinâmicas ideológicas de determinados momentos. Livros didáticos carregam valor de autoridade, muitas vezes aplicam adjetivos como "indolente" ou "preguiçoso", fixando assim a visão etnocentrista O Índio, na História do Brasil aparece em três papeis: 1. No descobrimento: "selvagem, primitivo, pré-histórico, antropófago" 2. No contexto da catequese: Índio como "criança inocente" 3. Como etnia brasileira, corajoso, ativo, cheio de "amor à liberdade"

3.2 O que é Etnocentrismo O homem na sua diferença cultural Antropologia social = ciência sobre a diferença entre os seres humanos nasceu marcada pelo etnocentrismo possui o compromisso de superá-lo Pensamento etnocentrista deve ser superado pelo pensamento de relativização Pensamento etnocentrista: transformar a diferença pura e simples em um juízo de valor "Saber" sobre o "outro baseado em formulações ideológicas Pensamento de relativização não transformar a diferença em hierarquia ou em bem ou mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferença. pensar diferença como forma pela qual seres humanos deram soluções diversas a limites existenciais comuns.

3.3 Relativando a visão etnocêntrica do outro Franz Boas: propõe estudar culturas nas suas particularidades busca conhecer uma cultura menos pelas manifestações oficias, públicas busca conhecer universos microscópicos, manifestações culturais descontraídas, privadas mostra pluralidade de culturas diferentes relativiza a noção etnocentrista de cultura Franz Boas 1858-1942 propõe estudar história concreta de cada cultura no evolucionismo: História com H maiúsculo (história da humanidade, períodos evolutivos...) na Antropologia a partir de Boas: História com h minusculo (diversas concepções de história e tempo) relativiza a noção etnocentrista de história Boas forma grandes antropólogos: Ruth Benedict, Margaret Mead, Edward Sapir, Julien Steward... Gilberto Freire: Casa Grande e Senzala = estudo na tradição de Franz Boas

3.3 Relativando a visão etnocêntrica do outro Radcliffe-Brown: ruptura definitiva com abordagem histórica: sincronia (o presente) não está submetida a diacronia (a história) Qual a diferença entre estudo sincrônico ou diacrônico? Comparação: partida de xadrez, no vigésimo passo: Alfred Reginald análise do primeiro até vigésimo passo = diachrônica Radcliffe-Brown análise das forças dentro do tabuleiro = sincrônica 1881-1955 Estudo sincrônico = estudo funcional das sociedades Estudar o "funcionamento" de uma sociedade significa pensá-la em seus próprios termos Conceitos para analisar sincronia: Processo = encadeamento de das relações, ações e interações entre seres humanos, ocupando "papeis sociais" Estrutura = Constância de certos tipos de relação, ações e interações que se tornam significativamente repetitivas, formam redes complexas de relações sociais Função = ligação entre processo e estrutura Teoria de Radcliffe Brown = Funcionalismo

3.3 Relativando a visão etnocêntrica do outro Para a Antropologia, Malinowski foi a grande ousadia de navegar a diferença, viajar ao 'outro'.(rocha 2007) Bronisław Malinowski 1884-1942 Foto: Malinowsky entre indígenas Trobriand em 1918 Fonte: http://www.theage.com.au/news/reviews/malinowski-odyssey-of-an-anthropologist/2005/06/02/1117568312895.html

3.3 Relativando a visão etnocêntrica do outro Bronisław Malinowski 1884-1942 "Trabalho de campo" introduzido por Malinowski como maior instrumento de relativização Malinowski vive 31 meses nas aldeias dos Trobriand Estudo da festa "Kula": torca de presentes: braceletes, fritos de conchas brancas sempre repassados, mantidos dentro de um grupo de duas dezenas de ilhas Ao final, os indivíduos ficam de posse dos objetos que tinham no início. Quem tentasse obter mais paga pena de desonra definitiva. Obra "Os Argonautas do Pacifico Ocidental" Índios Trobriand como Argonautas (navegantes ousados) Relativização: Malinowski encontra similar na sociedade do "eu": Joias da coroa do Império Britânico (explicados por guia turístico no castelo de Edimburgo) seve m para veicular histórias vinculadas a cada objeto. Objetos britânicos e trobriandeses se equivalem, se pensados na relação com seus contextos não valem pelo seu aspecto utilitário ou comercial valem pela gloria, pelos sentimentos ligados ao prazer de possuí-los.

3.4 A Antropologia estruturalista de Lévi-Strauss Claude Lévi-Strauss (Lanzoni Alves 2007, p.44-52) 1908-2009 Vida: Estudo de direito e filosofia em Paris 1935-1939: Pesquisa com indígenas no Brasil: 1940 Capitulação francesa contra Alemanha nazista emigração para Nova Iorque (EUA) Contato com linguista Roman Jakobson conhecimento da teoria linguística estruturalista Conceito central: Estrutura social Lévi Strauss = fundador da Antropologia Estruturalista Principáis obras: 1949 As estruturas elementares do parentesco 1955 Tristes trópicos (autobiografia) 1958 Antropologia Estrutural 1962 Pensamento selvagem

3.4 A Antropologia estruturalista de Lévi-Strauss Claude Lévi-Strauss 1908-2009 1949 As estruturas elementares do parentesco Questão do incesto como marco da passagem do estado pré-cultural (da natureza) ao estado cultura 1958 Antropologia Estrutural Objeto de estudo da Antropologia: relações sociais Metodo: Pesquisas estruturais Pesquisa das relações com auxilio de modelos explicativos Estrutura = modelo explicativo que possui A) caráter sistêmico: a modificação de um de seus elementos afeta todos os outros; B) caráter grupal: um modelo deve corresponder a um grupo de transformações na sociedade C) caráter de previsibilidade: é possível prever como o modelo reagirá caso se modifique algum de seus elementos; D) caráter totalizante: explica todos os fatos que possam ser observados nesta sociedade num dado momento e numa determinada conjuntura. linguística estuda estrutura de uma linguagem antropologia estuda estrutura de uma cultura

3.4 A Antropologia estruturalista de Lévi-Strauss Claude Lévi-Strauss 1908-2009 1962 Pensamento selvagem O antropólogo Claude Lévi-Strauss estudou o pensamento selvagem para mostrar que os chamados selvagens não são atrasados nem primitivos, mas operam com o pensamento mítico. (Chauí 2000, p.204) O pensamento mágico não é uma estreia, um começo, um esboço, a parte de um todo ainda não realizado; ele forma um sistema bem articulado; [...] Portanto, em lugar de opor magia e ciência, seria melhor colocá-los em paralelo, como dois modos de conhecimento desiguais quanto aos resultados teóricos e práticos [ ] mas não devido à espécie de operações mentais que ambas supõem e que diferem menos na natureza que na função dos tipos de fenômeno aos quais são aplicadas. (LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem, Tradução: Tânia Pellegrini - Campinas, SP: Papirus, 1989, p.28)

3.4 A Antropologia estruturalista de Lévi-Strauss Claude Lévi-Strauss 1908-2009 1.Três momentos do processos de pesquisa no campo antropológico: 1. Etnografia: Coleta direta dos fenómenos: notas, gravações, fotiografia, filme; 1. Etnologia: Primeiro nível de abstração: análise dos materiais colhidos, fazer aparecer a lógica específica da sociedade estudada 2.Antropologia: Segundo nivel de abstração: construção de modelos que permitem comparar sociedades entrre si.

3.5 Divisão, campos e função da Antropologia (Rocha 2007) Uma das finalidades da disciplina é ser uma espécie de 'arquivo universal', de 'catálogo geral' das alternativas humanas de existência. Arqueologia tem vocação de ser uma ciência, um saber, um conhecimento, ou, se quisermos, uma literatura que não é das verdades absolutas, mas das interpretações relativas Tudo isso é muito pouco, realmente, frente a um sem-número de ideologias, morais, princípios e juízes espalhados na nossa sociedade, constituindo um sem-número de estereótipos do 'outro'. A Antropologia é uma pequena ilha num oceano de pensamentos e práticas sociais marcadamente etnocêntricas.

3.6 Reconceituando pensamentos mítico e racional O mito é capaz de revelar o pensamento de uma sociedade, a sua concepção da existência e das relações que os homens devem manter entre si e com o mundo que os cerca. (Rocha 1996) O mito é uma forma de as sociedades espelharem suas contradições, exprimirem seus paradoxos, dúvidas e inquietações. Pode ser visto como uma possibilidade de se refletir sobre a existência, o cosmos, as situações de "estar no mundo" ou as relações sociais. (Rocha 1996) A razão não seria, afinal, um mito que nossa cultura inventou para si mesma? a razão não é a estrutura universal do espírito humano e sim um meio precioso de que dispomos para criar, julgar e avaliar conhecimentos, para dar sentido às coisas, às situações e aos acontecimentos e para transformar nossa existência individual e coletiva. (Chauí 2000, p.108f)

"Eu acho que é importante, para a humanidade, que esses povos existam. São a lembrança viva de que é possível viver de outra forma". (José Carlos Meirelles, Sertanista, Acre) O homem na sua diferença cultural 3.7 Reflexão final: os isolados Para uma sociedade que tem poder de vida e morte sobre muitas outras, o etnocentrismo se conjuga com a lógica do progresso, com a ideologia da conquista, com o desejo da riqueza, com a crença num estilo de vida que exclui a diferença. (Rocha 2007)? (Foto: Gleison Miranda/ Funai/ Survival/ Divulgação) No Acre, há ainda quatro grupos distintos de índios isolados

3.7 Reflexão final: os isolados Recomendação de filmes: Paralelo 10: O documentário acompanha a viagem de três semanas do sertanista José Carlos Meirelles, em companhia do antropólogo Terri de Aquino, à região fronteiriça do Acre com o Peru. Eles levam adiante a difícil missão de proteger os índios isolados da região. Direção: Silvio Da-Rin, 2012 https://www.facebook.com/paralelo10filme - Informação sobre o filme (acesso 06/2013) Belo Monte, Anúncio de uma Guerra: Documentário independente com depoimentos e fatos reveladores sobre a maior e mais polêmica obra da atualidade no Brasil, que vem gerando diversas reações na sociedade nacional e internacional. Direção: André D'Elia, 2012 https://www.youtube.com/watch?v=091gm9g2jgk - filme completo (acesso 06/2013)