ESCOLA DE GUERRA NAVAL CMG JORGE HENRIQUE MACHADO PROPOSTAS PARA O FORTALECIMENTO DOS FATORES DE ATRAÇÃO DA CARREIRA NAVAL NA ÁREA MÉDICA

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Transcrição:

ESCOLA DE GUERRA NAVAL CMG JORGE HENRIQUE MACHADO PROPOSTAS PARA O FORTALECIMENTO DOS FATORES DE ATRAÇÃO DA CARREIRA NAVAL NA ÁREA MÉDICA Rio de Janeiro 2009

CMG JORGE HENRIQUE MACHADO PROPOSTAS PARA O FORTALECIMENTO DOS FATORES DE ATRAÇÃO DA CARREIRA NAVAL NA ÁREA MÉDICA Monografia apresentada à Escola de Guerra Naval como requisito parcial para a conclusão do Curso de Política e Estratégia Marítimas - 2009. Orientador: Capitão-de-Mar-e-Guerra (RM1) Oliveira Neto. Rio de Janeiro Escola de Guerra Naval 2009

RESUMO A Marinha se ressente de uma falta significativa quase um terço das suas necessidades de oficiais médicos, motivada pela obtenção aquém das quantidades estabelecidas pelo Sistema de Planejamento de Pessoal, aliada a elevados índices de evasão. A fim de contribuir na busca de soluções para a redução dessas faltas, este estudo aborda os Fatores de Atração elementos fundamentais de obtenção e de retenção da Carreira Naval, apresentando propostas para o seu fortalecimento na área de Medicina. Para tal, são analisadas as peculiaridades do desenvolvimento das carreiras desses profissionais, não só na Marinha, mas também no Mercado de Trabalho e no Mercado de Recursos Humanos. Delineados os perfis em cada um desses ambientes, procede-se à análise, à luz de reconhecidos conceitos de gestão de pessoas, comparando-os e identificando os fatores comuns, passíveis de serem explorados. Assim, aspectos como salário, jornada de trabalho, idade, gênero, condições físicas de trabalho e aspectos motivacionais, intimamente ligados aos fatores que podem gerar satisfação ou insatisfação no profissional médico, são levantados e analisados, propondo-se, caso necessário, medidas para o seu fortalecimento. Finalmente, é atribuído um grau de atratividade para cada um dos fatores relacionados, de modo a subsidiar a divulgação dos Processos Seletivos para ingresso no Corpo de Saúde da Marinha, sem a qual, nenhum Fator de Atração, seja ele forte ou fraco, terá importância, pois não chegará ao conhecimento do principal objeto deste estudo: o médico. Palavras-chave: Mercado de trabalho médico; Educação médica; Fatores de atração; Ingresso na carreira naval; Recursos Humanos em Saúde; Escolas médicas.

ABSTRACT The Brazilian Navy resents a significant lack almost one third of its necessities of medical officers, caused by the attainment on this side of the quantities established by the Personal Planning System, allied to an elevated rate of evasion. In order to contribute in the search of solutions for the reduction of these lacks, this study will approach the Appealing Factors basic elements of attainment and of retention of the naval career, presenting proposals for its strengthening in the area of Medicine. For such, it will be analyzed the peculiarities of the development of the careers of those professionals, not only in the Navy, but also in the job market and in the Market of Human Resources. After the profiles are outlined in each one of those environments, the next step will be to analyze them by the light of recognized concepts of personal management; we will compare them and identify the common factors that can be explored. Thus, aspects like salary, working hours, age, sex, physical conditions of work and motivations, will be connected with the factors that can produce satisfaction or dissatisfaction in the medical professional, and will be analyzed in order to find a solution for its strengthening. Finally, it will be attributed an attractive rank for each one of the factors related, in order to subsidize the disclosure of the Selective Processes for admission in the Health Department of the Brazilian Navy, without which, no Appealing Factor, either strong or weak, will be important, since it will not reach the knowledge of the principal object of this study: the doctor. Key Words: Medical job market; Medical education; Appealing factors; Admission in the naval career; Human resources in health; Medical schools.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Gráfico 1 - Evolução do Programa de Saúde da Família... 16 Gráfico 2 - Tipos de contrato profissional dos médicos nos hospitais públicos e privados de São Paulo... 18 Gráfico 3 - Percentagem de pessoas de 23 anos ou mais de idade trabalhando em área correspondente à formação - Brasil - 2000... 28 Gráfico 4 - Motivos para a escolha da Carreira Naval... 44 Gráfico 5 - Crescimento dos Postos de Trabalho x Formandos de Medicina... 57 Quadro 1 - Oferta de vagas para médicos do PSF... 17 Quadro 2 - Situação dos Mercados de Trabalho e de Recursos Humanos e suas características... 23 Quadro 3 - Fatores de Atração da Marinha, classificados segundo as Teorias de Maslow e de Herzberg... 53

LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Existente e TL de oficiais do Quadro de Médicos da Marinha, por posto... 12 Tabela 2 - Tabela de Lotação e existente de oficiais Md e relação médico/beneficiário, por Distrito Naval... 13 Tabela 3 - Número de atividades (vínculos) e local de exercício da profissão de médico.. 16 Tabela 4 - Indicadores gerais do Mercado de Trabalho de médicos, empregados na economia formal... 20 Tabela 5 - Distribuição das escolas médicas por categoria administrativa, 2009... 25 Tabela 6 - Distribuição das por Região do País, 2009... 26 Tabela 7 - Número de escolas médicas, vagas oferecidas, candidatos inscritos, ingressos e concluintes dos cursos de graduação de Medicina... 26 Tabela 8 - Conceitos obtidos no Exame Nacional de Cursos (ENC) Medicina, 1999-2003 29 Tabela 9 - Conceitos obtidos no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) Medicina, 2004/2007... 29 Tabela 10 - Vagas oferecidas, candidatos potenciais e atendimento dos cursos de Residência Médica, 2009... 31 Tabela 11 - Perspectiva principal de atuação, na Medicina, imediatamente após a conclusão do curso... 32 Tabela 12 - Evolução da relação habitante/médico, por Região Brasil, 1970/1980/ 2003/2009... 33 Tabela 13 - Vagas oferecidas nas Escolas de Medicina e nos cursos de Residência Médica das capitais... 36 Tabela 14 - Vagas, inscrições e matrículas no PS-CSM (Médicos), 2005-2008... 38 Tabela 15 - Formas de conhecimento do PS-CSM e quantidade de médicos formados no País, 2005-2008... 39 Tabela 16 - Recursos alocados no Plano Básico OSCAR, 2004-2009... 40 Tabela 17 - Número médio de plantões mensais realizados pelos médicos do HNMD, por Clínica... 43 Tabela 18 - Correlação entre as Teorias de Maslow e de Herzberg e a pesquisa realizada pelo GT-Saúde... 48

LISTA DE ABREVIATURAS AMB AMH CBHPM CCSM CFM CFO CNRM Cremesp CSM DASM DEnsM DGPM DPMM Enade ENC EXI GM GT Associação Médica Brasileira Assistência Médico-Hospitalar Classificação Brasileira Hierarquizada dos Procedimentos Médicos Centro de Comunicação Social da Marinha Conselho Federal de Medicina Curso de Formação de Oficiais Comissão Nacional de Residência Médica Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo Corpo de Saúde da Marinha Diretoria de Assistência Social da Marinha Diretoria de Ensino da Marinha Diretoria-Geral do Pessoal da Marinha Diretoria do Pessoal Militar da Marinha Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes Exame Nacional de Cursos Existente Guarda-Marinha Grupo de Trabalho GT-Saúde Grupo de Trabalho de Gestão de Recursos Humanos na Área de Saúde HNMD IBGE Inep Ipea MB Hospital Naval Marcílio Dias Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada Marinha do Brasil

Md MEC MRH MT MTE Quadro de Oficiais Médicos Ministério da Educação Mercado de Recursos Humanos Mercado de Trabalho Ministério do Trabalho e Emprego NESCON Núcleo de Educação em Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais NPP OM OMOT OMS PB PCO PCSM PGI PS PS-CSM PSF RAIS RPA SDP SINAES SPP SSM SUS TL TTC Núcleo de Pesquisas de Pessoal Organização Militar Organização Militar Orientadora Técnica Organização Mundial de Saúde Plano Básico Plano Corrente de Oficiais Plano de Comunicação Social da Marinha Plano Geral de Instrução Processo Seletivo Processo Seletivo para Ingresso no Corpo de Saúde da Marinha Programa de Saúde da Família Relação Anual de Informações Sociais Recibo de Pagamento a Autônomo Setor de Distribuição de Pessoal Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior Sistema de Planejamento de Pessoal Sistema de Saúde da Marinha Sistema Único de Saúde Tabela de Lotação Tarefa por Tempo Certo

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 10 2 NECESSIDADES DE MÉDICOS NA MB... 12 3 PERFIL DO MERCADO DE TRABALHO... 14 3.1 Postos de Trabalho... 15 3.2 Percepção do Mercado de Trabalho... 20 3.3 Síntese do Mercado de Trabalho... 22 4 PERFIL DO MERCADO DE RECURSOS HUMANOS... 23 4.1 Formação... 24 4.1.1 Escolas médicas... 25 4.1.2 Residência Médica... 29 4.2 Médicos e População... 32 4.3 Perfil Sócio-Econômico dos Graduandos em Medicina... 34 4.4 Síntese do Mercado de Recursos Humanos... 36 5 PERFIL DOS MÉDICOS DA MARINHA... 38 5.1 Ingresso... 38 5.2 Divulgação... 39 5.3 Aspectos Motivacionais... 41 6 FATORES DE ATRAÇÃO... 47 6.1 Teorias de Maslow e de Herzberg... 47 6.2 Salário x Jornada de Trabalho... 49 6.3 Idade e Gênero... 50 6.4 Condições de Trabalho e Aspectos Motivacionais... 51 6.5 Divulgação... 54 6.6 Situação dos Mercados (Oferta x Procura)... 56

7 CONCLUSÃO... 59 REFERÊNCIAS... 61 APÊNDICES... 65 APÊNDICE A Pesquisa do Anuário Estatístico RAIS... 65 APÊNDICE B Pesquisa salarial Médico do Programa de Saúde da Família... 72 ANEXOS... 74 Anexo A Valor da mensalidade das Faculdades de Medicina... 74 Anexo B Escolas de Medicina do Brasil... 77 Anexo C Pesquisa de opinião do GT-Saúde... 86

10 1 INTRODUÇÃO Atualmente, a Marinha do Brasil (MB) vem se ressentindo de uma falta significativa de oficiais de carreira médicos, motivada pela obtenção aquém das quantidades estabelecidas pelo Sistema de Planejamento de Pessoal (SPP), aliada a elevados índices de evasão nos primeiros postos da carreira. Muito embora a MB possua dificuldades em obter e reter outras habilitações, sejam elas atribuídas a oficiais ou praças, este estudo enfocará apenas a falta dos oficiais médicos, por esta apresentar valores elevados, que se situam em cerca de um terço das necessidades previstas na respectiva Tabela de Lotação (TL), e que podem estar influenciando no bem-estar da Família Naval. Cabe ressaltar que este problema não é recente. Em 2006, foi constituído pelo Setor do Pessoal um Grupo de Trabalho (GT), com o propósito de indicar linhas de ação que otimizem a gestão de pessoal na Área de Saúde, de modo a contribuir para a redução da falta de recursos humanos nos hospitais [...] (BRASIL, 2006c, p. 2). O Relatório gerado pelo GT, por conter rica pesquisa com esses profissionais, servirá como importante fonte para este trabalho. Esta monografia visa a apresentar propostas para o fortalecimento dos Fatores de Atração da Carreira Naval na área médica, identificando os aspectos preponderantes para a obtenção e retenção de médicos na Marinha e, em decorrência, os principais motivos que explicam as faltas desses oficiais. Além de pressupostos teóricos clássicos, encontrados nas Teorias de Maslow e de Herzberg, outros conceitos aplicados à Gestão de Pessoas balizarão este estudo, como aqueles apresentados por Chiavenato nos processos de agregar talentos (CHIAVENATO, 2008, p. 281): As recompensas não-financeiras oferecidas pela organização, como orgulho, autoestima, reconhecimento, segurança no emprego etc., afetam a satisfação das pessoas com o sistema de remuneração. Daí a necessidade de considerar todas as recompensas no seu conjunto total. Como se verifica, outros aspectos encontrados na carreira militar, como a estabilidade, o desenvolvimento profissional e a ética, dentre outros, exercem papel fundamental na obtenção e retenção de pessoal. Neste sentido, traçar o perfil dos profissionais médicos, entendendo a sua dinâmica no Mercado de Trabalho, no Mercado de Recursos Humanos e na própria Marinha,

11 ajudará a melhor identificar essas razões e será o primeiro passo para a busca do fortalecimento dos Fatores de Atração da Carreira Naval. O passo seguinte será relacionar e entender a concorrência de outros fatores com o processo. Fatores esses que envolvem um elevado grau de complexidade, como, por exemplo, o processo de divulgação dos Processos Seletivos para o ingresso na Marinha ou a existência da "Geração Y", um grupo formado por jovens entre 18 e 30 anos, que cresceram na Era da Informação. Assim, para a consecução dos propósitos apresentados nesta introdução, este estudo é desenvolvido e estruturado nos seguintes capítulos: O Capítulo 2, inicialmente, aborda as necessidades quantitativas de médicos da Marinha e as suas respectivas faltas. O Capítulo 3 destina-se à apresentação do perfil do Mercado de Trabalho médico, com os dados relativos à quantidade e distribuição dos postos de trabalho, remuneração, idade e gênero dos profissionais, bem como a percepção deste ambiente pelos médicos. O Capítulo 4 aborda o perfil do Mercado de Recursos Humanos, constituído pelas escolas médicas, onde se encontram os potenciais candidatos a emprego. Também é apresentada a distribuição dos médicos no país, visando à identificação de regiões que possuem sobreoferta desses profissionais. O Capítulo 5 é onde se delineia o perfil dos médicos da Marinha. Aqui são apresentados os principais aspectos motivacionais que afetam o ingresso e a permanência desses profissionais. O processo de divulgação também é abordado neste Capítulo. O Capítulo 6, no qual são relacionados e comparados todos os aspectos tratados nos capítulos anteriores, e cuja análise, à luz de conhecidos preceitos teóricos, resulta na identificação e classificação dos Fatores de Atração. E, por último, o Capítulo 7 traz uma breve conclusão, na qual são ressaltados os principais aspectos ligados ao desenvolvimento do trabalho e ao fortalecimento dos Fatores de Atração da Carreira Naval.

12 2 NECESSIDADES DE MÉDICOS NA MB A TL é o documento que representa a Determinação de Necessidades quantitativas e qualitativas de pessoal militar da MB, visando, em tempo de paz, ao cumprimento de suas atribuições regulamentares. As TL servem de base para o planejamento da função logística recursos humanos na Marinha (BRASIL, 2005). Dessa forma, as quantidades e habilitações de oficiais de carreira da área médica estão expressas na TL da Marinha. Atualmente, existem 717 cargos e funções estabelecidos para oficiais médicos, nos postos de CMG a 1 Ten. A TAB. 1 resume a relação Lotação x Existente dos oficiais do Quadro de Médicos da Marinha (Md), por posto, com dados da Diretoria de Pessoal Militar da Marinha (DPMM), atualizados até 31MAI2009: TABELA 1 Existente e TL de oficiais do Quadro de Médicos da Marinha, por posto Médicos Tabela de Lotação (TL) Existente (EXI) EXI - TL Diferença (%) CMG 51 30-21 -41,2 CF 128 78-50 -39,1 CC 156 108-48 -30,8 CT 215 138-77 -35,8 1 Ten 167 161-6 -3,6 Total 717 515-202 -28,2 Fonte: BRASIL, 2009c. Como se pode observar, a MB possui uma significativa falta de médicos de carreira, 28,2% das suas necessidades. Este déficit impacta, em parte, no funcionamento do Sistema de Saúde da Marinha (SSM) e dos seus subsistemas: Assistencial, Médico-Pericial, Logístico de Saúde e de Medicina Operativa. Somente o Subsistema Assistencial, responsável pela prestação da Assistência Médico-Hospitalar (AMH), cobre 318.035 usuários do SSM militares da ativa e inativos, ex-combatentes, anistiados e pensionistas. Os mesmos quantitativos de oficiais Md são apresentados na forma da TAB. 2, a seguir, desta vez distribuídos pelos Comandos Distritais (ComDN), a fim de serem localizadas as faltas, por região, bem como calculadas as relações beneficiário/médico nessas áreas. Para averiguação do correto dimensionamento da TL de médicos da Marinha, foi calculada a relação beneficiário/médico, considerando-se apenas os oficiais de carreira aplicados diretamente nas OM que prestam AMH aos beneficiários. As TL das demais OM foram consideradas fora do Subsistema Assistencial, para fim deste cálculo.

13 TABELA 2 Tabela de Lotação e Existente de oficiais Md e relação médico/beneficiário 1, por Distrito Naval ComDN Tabela de Lotação (TL) Existente (EXI) Beneficiários / Beneficiários / Beneficiários AMH Não Assist AMH Não Assist TL AMH EXI AMH Com1 DN 447 125 312 102 211.264 472,6 677,1 Com2 DN 16 2 13-15.621 976,3 1.201,6 Com3 DN 33 6 23 3 31.019 940,0 1.348,6 Com4 DN 17 2 11-14.088 828,7 1.280,7 Com5 DN.. 9.. 8 12.030.... Com6 DN 18 1 8 1 8.334 463,0 1.041,8 Com7 DN 17 3 13 + 6 HFA - 12.471 733,6 656,4 Com8 DN.. 6.. 5 6.141.... Com9 DN 10 5 10-7.067 706,7 706,7 Total 558 159 396 119 318.035 570,0 803,1 Fontes: DGPM e DPMM. Quando se considera o total de funções estabelecidas na TL da MB, para a prestação de AMH, obtém-se uma razão de 570,0 beneficiários/médico ou 1,75 médicos por mil beneficiários, valor próximo do verificado no Brasil, que se situa em 555,0 habitantes/médico (1,8 méd/1.000 hab), como será apresentado no decorrer deste trabalho. Assim, à luz dos parâmetros fixados pelo Ministério da Saúde (MS) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que estabelecem a relação ideal de 1 médico para cada 1.000 habitantes, pode-se afirmar que a TL de médicos da Marinha, atualmente, possui um dimensionamento satisfatório, bem próximo ao que se verifica no País. Por outro lado, ao se empregar nesse mesmo cálculo a quantidade de médicos de carreira existentes na MB, observa-se, obviamente, que a razão beneficiário/médico sofre uma degradação, passando a ser de 803,1 ou 1,25 médicos por mil beneficiários, o que, ainda assim, está dentro dos níveis ideais estabelecidos mundialmente. 1 A OMS estabelece como parâmetro ideal de atenção à saúde da população a relação de um médico para cada mil habitantes. Para centros com uma rede de serviços bem estruturada, os técnicos defendem a ampliação deste parâmetro. A Portaria nº 1.101, de 12 de junho de 2002, do MS, segue a razão médico por habitante preconizada pela OMS - 1/.1000 hab, especificando, ainda, as razões de médico generalista por habitante - 0,8/1.000 hab; e de médico especialista por habitante - 0,2/1.000 hab (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

14 3 PERFIL DO MERCADO DE TRABALHO Traçar o perfil dos profissionais médicos envolve, inicialmente, a análise das relações dessas pessoas com as organizações onde trabalham. Chiavenatto define o ambiente no qual se desenvolvem essas trocas da seguinte forma: É no mercado onde ocorrem as transações e relacionamentos. Mercado significa o espaço de transações, o contexto de trocas e intercâmbios entre aqueles que oferecem um produto ou serviço e aqueles que procuram um produto ou serviço. O mecanismo de oferta e procura é a característica principal de todo o mercado. O Mercado de Trabalho (MT) é composto pelas ofertas de oportunidades de trabalho oferecidas pelas diversas organizações. Toda organização na medida em que oferece oportunidades de trabalho constitui parte integrante de um MT (CHIAVENATO, 2008, p. 104). A análise das principais características da estrutura do Mercado de Trabalho dos médicos, no país, tomará por base a coleta dos dados pesquisados na Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS/MTE), compreendendo o período de 1997 a 2007. O Anuário Estatístico RAIS 2, disponível no site do MTE, reúne informações gerais sobre os trabalhadores do segmento formal regulamentado do emprego assalariado, dentre as quais se destacam: a quantidade e a natureza jurídica do vínculo empregatício, a remuneração, a idade e o sexo dos profissionais (BRASIL, 2009b). Todas os dados extraídos da RAIS e compilados para este trabalho encontram-se nas tabelas do Apêndice A. Os dois principais fatores que influenciam o Mercado de Trabalho do médico são aqueles determinados pelo sistema de educação, que cria a oferta desses profissionais, e o modelo de assistência à saúde, que atua decisivamente sobre a composição e a demanda dessa força de trabalho (MACIEL FILHO, 2007, p. 17). Lampert define assim a relação entre esses fatores: O Mercado de Trabalho médico é considerado a relação entre oferta e a necessidade de profissionais qualificados para o exercício da Medicina. Dita relação depende das características que assumam em cada sociedade os processos sociais complexamente articulados: o processo de produção de capacidade de trabalho médico a formação médica e o processo de produção de serviços de saúde a prática médica [...]. Embora intimamente relacionados, esses dois processos, uma vez que a educação médica tem por finalidade exclusiva a formação de recursos humanos para atender às necessidades de saúde da população, são independentes e estão submetidos a um conjunto de determinações sociais, políticas, econômicas e ideológicas.[...] Das necessidades desse complexo conjunto de processos de produção de serviços 2 Hoje, a RAIS, por sua rigorosidade técnica e multiplicidade de informações de interesse social, é assumido como um dos pilares do sistema estatístico do País. Em razão de possuir uma cobertura acima de 97% do universo formal é reconhecido como um censo anual do Mercado de Trabalho. Para ter acesso on-line às bases estatísticas do MTE, disponibilizadas com auxílio da ferramenta de consulta X-OLAP-W, é necessário possuir um Código e uma Senha de Acesso, a qual deve ser solicitada através do formulário específico disponível no link http://www.mte.gov.br/pdet/o_pdet/o_programa/solicit_acesso.asp (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2009).

15 depende a demanda de recursos humanos médicos, expressa em um número determinado de postos de trabalho nos quais o profissional é retribuído mediante salário, ou um número variável de atos médicos é retribuído mediante honorários, pagos diretamente pela população, ou de maneira indireta, através do sistema de seguridade social ou dos seguros privados. (LAMPERT, 2002, p. 23-24) 3.1 Postos de Trabalho Com relação aos postos de trabalho existentes em 2007, as ocupações relacionadas à profissão médica totalizavam 254.056 vínculos de emprego. Naquele ano, os três estados que possuíam as maiores concentrações de vínculos 57% do total pertenciam à Região Sudeste: São Paulo (85.496), Rio de Janeiro (33.553) e Minas Gerais (25.289), enquanto os de menores concentrações situavam-se na Região Norte: Roraima (145), Amapá (341) e Acre (523). Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo são os estados que apresentaram a melhor relação vínculo médico por mil habitantes, 1,986, 1,983 e 1,851, respectivamente. Esta maior oferta de empregos na Região Sudeste é fruto, em última instância, dos processos de urbanização e de industrialização pelos quais passaram o país, tornando essa Região polo de oportunidades profissionais e educacionais. Por outro lado, os estados do Piauí (0,342), Maranhão (0,278) e Roraima (0,270) foram aqueles que apresentaram os piores índices. Quando comparada a 1997, verifica-se um expressivo incremento na quantidade desses vínculos, de 86,5%, refletindo uma crescente oferta de postos de trabalho médico no país. Em termos comparativos, nesse mesmo período, o emprego assalariado no conjunto da economia do país experimentou um crescimento de 56,0%, saltando de 24,1 para 27,6 milhões. Neste contexto, cabe ainda mencionar que, entre 1997 e 2007, a população do país cresceu 14,6% (IBGE, 2009). Vale ressaltar que o número de vínculos empregatícios (postos de trabalho) é diferente do número de pessoas empregadas, pois um mesmo profissional pode estar ocupando mais de um posto de trabalho na data de referência dos registros contidos na RAIS. Esta definição aplica-se, sobretudo, aos médicos. Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha para o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), 27% desses profissionais informaram ter três empregos e 25%, dois. Apenas 18% afirmaram ter um único vínculo, enquanto 32% informaram ter quatro trabalhos ou mais. Dez por cento dos médicos disseram ter seis empregos ou mais (CREMESP, 2007). Em outro estudo, desta vez em nível nacional, intitulado O Médico e o seu Trabalho, produzido pelo Conselho Federal de Medicina, o número de atividades exercidas pelos médicos apresenta valores muito próximos daqueles verificados pelo Cremesp, corroborando os valores aqui apresentados. A TAB. 3 consolida essas proporções:

16 TABELA 3 Número de atividades (vínculos) e local de exercício da profissão de médico Número de Atividades em Medicina Onde exerce a profissão Nº de atividades Nº médicos Proporção Local Nº médicos Proporção 1 atividade 2.403 17,5% Consultório 9.454 67,0% 2 atividades 3.724 27,1% Setor público 9.756 69,7% 3 atividades 3.748 27,2% Setor privado 7.507 53,8% 4 atividades 2.298 16,7% Setor filantrópico 2.803 20,3% 5 atividades 1.024 7,4% Docência 2.621 18,9% 6 atividades ou mais 570 4,1% Fonte: CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2004, p. 87. Com relação à natureza jurídica dos postos de trabalho, observa-se pelos dados da RAIS que 74,1% dos empregos formais dos médicos, em 2007, estão no Setor Público, notadamente na esfera municipal, que detém 39,6% dos empregos. As demais proporções encontram-se distribuídas nas áreas federal (11,3%) e estadual (23,2%). As entidades empresariais estatais (0,5%) e privadas (8,9%), somadas às entidades sem fins lucrativos (16,6%), complementam o conjunto dos médicos empregados na economia. A supremacia do Setor Público Municipal como grande empregador desses profissionais, que já em 1997, segundo a RAIS, detinha 33,5% desses postos, explica-se pela consolidação do modelo de assistência à saúde adotado pelo país, expresso pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que levou a uma contínua expansão da política de municipalização dos serviços de saúde. Neste contexto, a maior contribuição para o montante dos vínculos médicos nos municípios foi, fundamentalmente, a criação do Programa de Saúde da Família (PSF), em 1994, e o significativo crescimento que o Programa experimentou desde então. Conforme apresentado no GRAF. 1, foram criados cerca de 26 mil postos de trabalho médicos, em pouco mais de dez anos. Número de Equipes do PSF 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 100,0 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 Proporção de Municópios com PSF GRÁFICO 1 - Evolução do Programa de Saúde da Família Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE (2009).

17 Sobre o Programa de Saúde da Família 3, o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, em discurso proferido na abertura do Fórum Nacional em Defesa do Trabalho Médico no Sistema Único de Saúde, em 28 de maio de 2009, ressaltou o impacto que esse programa causou no mercado de trabalho: Ainda que tenhamos dificuldades, a estratégia de saúde da família, via incentivos salariais, fixou já mais de duas dezenas de milhares de profissionais. A grande maioria deles cumpre as oito horas contratuais, conhece seus grupos familiares, acompanha e identifica os riscos epidemiológicos, biológicos e sanitários de forma a prevenir a instalação da enfermidade. Seu diferencial salarial causou transtornos momentâneos no mercado certamente a rarefação de pediatras nas urgências tem nesta uma das causas, mas é acertada a contribuição dos médicos para esta estratégia (TEIXEIRA, 2009). No que se refere aos incentivos salariais citados pelo Ministro da Saúde, Maciel Filho (2007, p. 32) comenta que o Programa oferece bons níveis de remuneração profissional (quatro mil reais, em média, para o médico, segundo a pesquisa do NESCON). Os salários pagos aos médicos pelo PSF são, em média, 76% superiores aos de mercado para esse profissional. Contudo, as formas precárias de contratação desses profissionais pelas Prefeituras 70% sob a forma de contratação temporária ou por prestação de serviços interferem na própria qualidade do emprego gerado pelo Programa, expressa pela instabilidade e desproteção do trabalho (MACIEL FILHO, 2007). O QUADRO 1, retirado do classificado eletrônico de currículos e empregos CATHO Online 4, dá uma amostra de como está se comportando o Mercado de Trabalho para o médico do PSF. A pesquisa completa encontra-se relacionada no Apêndice B. Data: 16/06/09 Título da vaga: Médico PSF (20 vagas) Descrição da vaga: Para atendimento em PSF. Ensino superior completo em Medicina. Possuir CRM. Salário: R$ R$ 9.875,01 Regime de contratação: CLT (Efetivo) Horário: Jornada: 40 horas semanais. Informações adicionais: Local: zona Leste. Oferecemos salário + benefícios. QUADRO 1 Oferta de vagas para médicos do PSF Nome da empresa: Somente para assinantes Local: São Paulo - SP Salário: R$ 9.875,01 Nacionalidade / Porte da Empresa: Nacional de grande porte com 12.000 funcionários Área profissional: Médico/ Hospitalar Nível hierárquico: Profissional especializado com curso superior (completo/cursando) Fonte: CATHO Online. 3 Criado em 1994, o PSF foi apresentado como uma proposta de atenção à saúde voltada para áreas de risco, definidas pelo Mapa da Fome, do Ipea. As equipes são compostas por um médico, um odontólogo, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e de cinco a seis agentes comunitários de saúde. Cada equipe é responsável por mil famílias, o que equivale a aproximadamente 3.500 pessoas (GIRARDI; CARVALHO, 2003). 4 CATHO Online está disponível em http://www.catho.com.br/. O site possui mais de 155 mil assinantes e mais de 70 mil empresas que anunciam vagas de emprego, com mais de 7 milhões de visitantes únicos mensais.

18 Ainda em relação aos vínculos empregatícios praticados no Mercado de Trabalho médico, a publicação intitulada Avaliação das condições de funcionamento dos hospitais e prontossocorros, 2001 2003, produzida pelo Cremesp em 2004, apresenta a situação das relações de trabalho entre médicos e estabelecimentos de saúde, públicos e privados, no Estado de São Paulo: No setor privado, o contrato como autônomo está presente em maior proporção de serviços. Em relação ao setor público, é possível observar que os contratos dos tipos empresa, cooperativa e autônomo, que não se esperaria encontrar no setor, aparecem com percentagens no conjunto de 11,5% e isoladamente de 6,5% com vínculo autônomo (CREMESP, 2004). O GRAF. 2 apresenta as proporções dos tipos de contrato profissional, encontrados pelo Cremesp em 1.011 vistorias, representando a avaliação de 95% dos hospitais e prontos-socorros paulistas. HOSPITAL PÚBLICO HOSPITAL PRIVADO GRÁFICO 2: Tipos de contrato profissional dos médicos nos hospitais públicos e privados de São Paulo Fonte: CREMESP (2004). De acordo com os dados contidos na RAIS, a carga horária semanal dos médicos é de 27 horas em cada vínculo empregatício, considerando o valor médio registrado nos últimos dez anos. Somados todos os empregos, os médicos paulistas, por exemplo, cumprem uma carga horária semanal média de 52 horas. Quase um terço deles, ou 30%, trabalha mais de 60 horas por semana. Na média, os mais jovens cumprem 65 horas por semana, enquanto aqueles com 50 anos ou mais trabalham 46 horas (CREMESP, 2007). O tempo médio de permanência do médico no emprego, que em 1997 era de 90 meses, passou a ser de 112 meses em 2007. Naquele ano, os dados colhidos na RAIS indicam que as médicas permaneciam em média 99 meses no mesmo emprego, enquanto os médicos apresentavam um vínculo mais duradouro, de 121 meses ou 10,1 anos. Tal estatística evidencia uma elevada fidelidade desses profissionais aos seus vínculos empregatícios, quando considerado o tempo médio de permanência do conjunto total de trabalhadores da economia formal, que foi de 61,7 meses ou 5,1 anos, em 2007.