Os riscos da franquia



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Ano 2 - Número 17 - Distribuição gratuita - DEZEMBRO 2003 Comigo ninguém pode Fotos: Josoé de Carvalho O lixo reciclável do Centro de Londrina tem dono. O nome dele é Ananias (na foto, de boné) gerente da terra de ninguém em que se transformou o Calçadão. Enquanto isso, Associação de Moradores do Centro se mobiliza para resolver o problema. Páginas 4 e 5 Os riscos da franquia As franquias são um dos segmentos da economia brasileira que mais crescem. Só no ano passado, o mercado de franchising mais que dobrou. Isso não garante, porém, que o negócio seja totalmente seguro nem para o franqueador nem para o franqueado. Casos de disputas judiciais envolvendo franquias estão pipocando pelo País. O londrinense Sérgio Yamani, ex-franqueado da indústria de filtros Hoken, diz ter perdido tudo no negócio os R$ 100 mil que investiu, os amigos, a saúde. Afundava e, quanto mais trabalhava, mais afundava, desabafa Yamani. Páginas 6 e 7 Seminário fortalece eventos em Londrina Páginas 12, 13 e 14 ET quer saber por que as empresas morrem Páginas 8 e 9 Investimento na Londrinatal deste ano é de R$ 500 mil Página 15 CARTÃO POSTAL VIOLENTO Símbolo de Londrina e um dos locais mais visitados da Cidade, o Lago Igapó enfrenta outro problema, além da conhecida poluição: são cada vez mais freqüentes os casos de violência naquela região da Cidade. Casos de assaltos e agressões assustam os freqüentadores. Página 3 Caderno especial Estação Fashion: a Cidade vira moda

2 JORNAL DA ACIL/Dezembro EDITORIAL Muito trabalho Dia 10 de dezembro, aniversário de Londrina, acordei cedo para trabalhar. Li os jornais diários e fui atenciosamente aos cadernos comemorativos aos 69 anos de Londrina. Deparei com a foto e um depoimento dos meus avós maternos, Leonel e Teresa Mortari, pioneiros, que chegaram aqui pelos idos de 1934. Lembrei-me de uma infinidade de histórias que me foram contadas ao longo da vida. Das picadas no mato, das primeiras mudas de café, das máquinas checas (como diz meu avô) e alemãs que os Mortari instalaram na serraria que levava o nome da família. Lembrei-me da minha infância, quando ia a alguma velha construção e, se o telhado era de barro, me colocava a olhar para cima para encontrar uma telha com a marca Cerâmica Mortari. Lembrei-me da minha avó Jamile, mulher do velho Dequêch, com quem também aprendi muito. Histórias de balcão, de fiado, de atender bem, fidelizar clientes e todos esses temas que até hoje vendem milhares de exemplares nas livrarias. Tudo numa linguagem simples e de testemunho. Aprendi com eles e com meus pais que isso tudo se resume em trabalho. Trabalhar é a solução para quase todos os problemas que nos atingem. Londrina foi construída com muito trabalho, e acordar no dia do seu aniversário e vê-la trabalhando me deu a certeza de que estamos continuando esta construção. Estamos trabalhando para crescer, gerar renda, diminuir a pobreza, criar oportunidades. Estamos trabalhando para levar a moda que produzimos a outros continentes, para fazer o time de basquete chegar ao título de campeão. Trabalhamos para levar o Londrinatal a todo o Estado do Paraná. Para manter este Jornal independente e respeitado. Trabalhamos muito para que a Cooperativa de Crédito se tornasse realidade. Para modernizar o SCPC, para ganhar agilidade. Trabalhamos para que o Convention & Visitors Bureau chegasse aos atuais 60 associados. Trabalhamos para que o Encomex acontecesse e tivesse mais de FUNDADA EM 5 DE JUNHO DE 1937 RUA MINAS GERAIS, 297, 1º ANDAR, ED. PALÁCIO DO COMÉRCIO. LONDRINA PR CEP 86010-905 TELEFONE (43) 3374-3000 FAX (43) 3374-3060 E-MAIL ACIL@ACIL.COM.BR. Presidente DAVID DEQUÊCH NETO Vice-Presidente CARLOS FERNANDO NONINO Diretor-Secretário MARCELO MASSAYUKI CASSA Segundo Diretor-Secretário BRASÍLIO ARMANDO FONSECA Diretor Tesoureiro RUBENS BENEDITO AUGUSTO Segundo Diretor Tesoureiro FRANCISCO HENRIQUE FRANCOVIG Diretor Comercial YUKIO AGITA 1.000 inscritos. Trabalhamos para que o Seminário Destino Londrina trouxesse para cá alguns dos maiores promotores e organizadores de eventos do Brasil. Trabalharemos para que o Dinho Pelegrini chegue à Academia Brasileira de Letras. Para que o Tubarão volte à primeira divisão e honre seus compromissos, para que o Calçadão melhore ainda mais. Trabalharemos para que a segurança seja reestabelecida, para que as pessoas votem conscientemente. Trabalharemos para que a ACIL continue exercendo seu papel de legítima representante das empresas. Trabalharemos juntos com a Sociedade Rural, com a Associação Médica, com o Prefeito, com o Ministério Público. Trabalharemos com o Sebrae, com o Ministério do Trabalho, com o Governo do Estado. Trabalharemos pela Avenida Inglaterra, pela Saul Elkind e por todas as regiões. Trabalharemos pela Região Metropolitana de Londrina. Trabalharemos aos sábados, aos domingos, de manhã e noite adentro. Trabalharemos o quanto for preciso. Ninguém freará Londrina para satisfazer interesses pessoais, vaidades ou projetos políticos. Continuaremos trabalhando como fizeram meus avós, como fez o seo Celso Garcia e dona Francisca, os Lopes, os Fuganti, o Dr. José Hosken, a Tiana e o José Pelegrinni, o Mané Filinto e o Zé do Cano, os Godoy, os notáveis e os anônimos. Desejo a todos um 2004 cheio de oportunidades, saúde e muito, mas muito trabalho! David Dequêch Neto Segundo Diretor Comercial FRANCISCO ONTIVERO Diretor Industrial JOSÉ AUGUSTO RAPCHAM Segundo Diretor Industrial NIVALDO BENVENHO Diretor de Serviços ROSANA ANDRADE Segundo Diretor de Serviços BRUNO VERONESI Conselho da Mulher Empresária MARCIA IVALE Conselho Deliberativo GEORGE HIRAIWA, NESTOR DIAS CORREIA, LEONARDO MAKOTO YOSHII, MAURÍCIO GONÇALVES GARCIA CID, CARLOS ALBERTO DE SOUZA FARIAS, RAFAEL DE GIOVANI NETTO, CRISTIANE YURI TOMA Conselho Fiscal Titulares - HELENIDA TAUFIK TAUIL DA COSTA BRANCO, LUIZ CARLOS ADATI, ADEMAR VEDOATO Suplentes - MARLENE REGINA MARCHIORI, ELIAS FERREIRA, MARCELO PAGANUCCI ONTIVERO Cartórios cortam convênio para retaliar reportagens A direção da ACIL está distribuindo aos filiados uma circular na qual informa que os cartórios de protestos do município suspenderam o convênio com a entidade para o protesto de documentos de pequeno valor. A justificativa para suspensão apresentada pelos cartorários foi a publicação, pelo Jornal da ACIL, de duas reportagens questionando a atuação dos cartórios de notas e de títulos, publicadas nas edições de agosto e outubro. Leia a íntegra a circular enviada pela ACIL aos associados da entidade e assinada pelo presidente da Associação, David Dequêch Neto: Londrina, 11 de dezembro de 2003. Ref: convênio com cartórios de protesto A ACIL informa o encerram ento do convênio com os Cartórios de Protestos de Londrina. O encerramento foi uma decisão unilateral dos cartórios, em retaliação da Entidade pelas reportagens publicadas pelo Jornal da ACIL que tinham como tema o sistema cartorial de notas e de títulos. A Associação ressalta que o Jornal da ACIL cumpriu, como vem fazendo desde a sua primeira edição, seu papel de informar os leitores de modo profissional, ético, responsável e baseado no interesse maior de seus associados. Isso significa que, em algumas situações, estará levantando problemas e publicando críticas a determinados setores ou atividades. Assim se faz jornalismo institucional sério. O Jornal da ACIL não se intimida diante de pressões como essa. Pelo contrário, tem tais situações como a comprovação de que está no caminho certo. Qualquer dúvida sobre o referido convênio ou qualquer outro serviço prestado pela ACIL pode ser esclarecida na sede da Associação ou pelo telefone 3374-3000. O Jornal da ACILé uma publicação da Associação Comercial e Industrial de Londrina. Distribuição gratuita. Correspondências para o Jornal da ACIL, incluindo reclamações e sugestões de reportagens, devem ser enviadas à sede da Associação Marta ou Ortega pelo e-mail Miriam Debértolis Silvana Leão roberto@acil.com.br. Coordenação e edição Roberto Francisco Edição Paulo Briguet Fotografia Josoé de Carvalho Colaboradores Aurélio Albano Carina Paccola Domingos Pellegrini José Antonio Pedriali Katia Baggio Revisão de textos Célia Polesel Diagramação e tratamento de imagens LPR - Publicidade, Promoção e Montagem S/C Ltda Impressão Jornal de Londrina

JORNAL DA ACIL/Dezembro 3 LAGO IGAPÓ Insegurança no cartão postal Um dos pontos de lazer mais festejados da cidade também coleciona histórias de violência Silvana Leão Especial para o Jornal da ACIL Estudante foi agredido e jogado na água em plena tarde de domingo O principal cartão postal da cidade já não causa apenas admiração. Para tristeza dos londrinenses, o Lago Igapó também tem despertado medo. Não sem razão. Basta uma rápida conversa com os freqüentadores das pistas de caminhada existentes nos lagos 1 e 2 para constatar que são comuns as histórias de abordagens suspeitas, assaltos, agressões verbais e físicas. Os delitos vão desde xingamentos até tentativas de estupro. Em muitos casos, os responsáveis pela infração são menores de idade. Numa tarde de domingo, no início de novembro, o estudante de psicologia e filosofia Josenir Lopes Dettoni resolveu caminhar com um amigo na pista que margeia o Igapó 1 e termina na barragem. Bem perto do grande movimento de pessoas que caracteriza o Zerão nos finais de semana, porém, o estudante foi vítima de uma desagradável experiência. Ainda no início da pista, ao lado de onde o Córrego Leme deságua no Ribeirão Cambé, Josenir foi atropelado por um garoto de bicicleta que, junto com outros cinco, vinha em disparada tirando finas e se divertindo com os sustos provocados nos pedestres. Com a pancada ambos foram ao chão, e o adolescente irritou-se ao ver que a roda da frente da bicicleta estava torta.. Ele começou a dizer que eu teria que pagar pelo estrago. Argumentei dizendo que o errado era ele, que ali não era local para andar de bicicleta, ainda mais daquele jeito. Mas não teve conversa, eles vieram em bando para cima de mim e do meu amigo, nos batendo, e nos jogaram na água, conta Josenir. Os dois estudantes conseguiram escapar correndo para o Iate Clube, que fica na outra margem do córrego. Ainda foram perseguidos pelo grupo de adolescentes, mas os seguranças do clube conseguiram fazer com que se afastassem. Josenir recorda que a pista de caminhada estava cheio de gente naquele momento, muitos viram tudo o que aconteceu, e apesar dos dois terem pedido socorro várias vezes, ninguém reagiu. As pessoas ficam com medo em situações como essa e preferem não se envolver. Logo depois do ocorrido, eles participaram de um ato pela paz, realizado no mesmo local da agressão. A violência na região está muito grande. Durante a passeata ficamos sabendo de vários outros casos semelhantes, afirma Josenir. Ele explica que sempre morou nas imediações do lago, e que agora está muito receoso de caminhar no local. A gente quer segurança, é um direito da população. O inconformismo do estudante está no fato de tratar-se de um local público, sempre apresentado como um atrativo da cidade, e que encontrase tão suscetível às diversas manifestações da violência. Como forma de amenizar os riscos, os freqüentadores das pistas de caminhada têm evitado os horários de menor movimento. Há uns dois meses eu ouvi dizer que tinha um homem que ficava escondido embaixo das árvores para atacar as mulheres que passavam. Para evitar problemas, eu procuro não vir caminhar sozinha, ou, se vejo alguém com atitude suspeita, paro e espero para me juntar a outras pessoas, explica a cabeleireira Eugênia Miranda Uemura. A estudante de fisioterapia Talita Cristina Romano faz o mesmo. Como venho sempre sozinha, respeito os horários de maior fluxo de pessoas. Na opinião do aposentado Alcídio Galhardi, também é preciso ser o mais discreto possível. Tem gente que vem usando jóias, com roupas que chamam a atenção. Não pode, aconselha. Para a dona-de-casa Irene da Silva Ribeiro, a grande preocupação tem sido com os filhos. Ela conta que há algumas semanas dois deles de 13 e 14 anos resolveram ir de bicicleta, com mais um amigo, até as Lago Igapó: abordagens suspeitas, assaltos, agressões verbais e físicas Josenir Lopes Dettoni, que sofreu agressão: A gente quer segurança, é um direito da população proximidades da barragem do Igapó. Como era no meio da tarde, achei que não tivesse problema. Passado um tempo, eles voltaram assustados, dizendo que um grupo de meninos, com pedaços de paus nas mãos, correu atrás deles e por pouco não roubou suas bicicletas. É um horror, será que agora a gente vai ter que trancar os filhos dentro de casa porque não tem segurança mais em lugar nenhum?, questiona a dona-de-casa. Os moradores de residências próximas ao Zerão têm a mesma sensação de impotência. Aqui em casa já entraram uma vez num quarto que fica no andar de baixo e roubaram roupas, carteira e um aparelho de som. Estávamos todos em casa e não percebemos. Da outra vez, tentaram arrombar uma porta, mas o alarme disparou, relatam os estudantes Renato Martineli e Tarcyus Cobra, que moram em uma república na Rua Julio Estrela Moreira. Eles dizem que nas últimas semanas a situação melhorou um pouco porque, com o horário de verão, a polícia passou a fazer rondas nos finais de tarde, afugentando os menores infratores que estavam morando nas escadarias do Anfiteatro. O coronel Manoel da Cruz Neto, comandante do 5º Batalhão da Polícia Militar (5º BPM), reconhece que o problema envolvendo os menores é difícil de resolver. Nós só podemos atuar se os pegamos em flagrante. Neste caso, encaminhamos para o CIAADI (Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Infrator). Quanto aos assaltos e agressões cometidos nas imediações do lago, o comandante informa que a estratégia tem sido a de policiamento preventivo, feito a cavalo nos finais de semana e com motocicletas nos dias úteis. Além disso, temos viaturas que ficam em locais específicos e fazem o que chamamos de PB (Ponto Básico), complementa. O coronel pede, porém, que a população ligue para a polícia sempre que presenciar uma infração, dando as características dos responsáveis pelo crime. Isto é importante para que possamos identificar os infratores, complementa. O número da PM para denúncias é 161, e da Polícia Civil é 147. Cruz Neto afirmou que pretende determinar uma ação de policiamento velado no local para coibir os atos de violência, com policiais à paisana auxiliando o trabalho das equipes fardadas.

4 JORNAL DA ACIL/Dezembro Tudo pelo Centro Associação reúne moradores, donos de imóveis e usuários da área central de Londrina. Eles querem melhorias urgentes na região Katia Baggio Especial para o jornal da ACIL As associações de moradores são organizações que geralmente estão ligadas aos bairros, mas pouca gente observa que o Centro da Cidade também é formado por pessoas que residem nele. Até os próprios moradores levaram um tempo para entender que poderiam formar uma entidade para defender seus direitos e exigir melhorias na região mais movimentada de Londrina. Criada oficialmente há dois anos, a Associação dos Moradores, Proprietários e Usuários do Centro da Cidade de Londrina permaneceu inativa até o início do segundo semestre desse ano, quando um grupo resolveu acionar a entidade na tentativa de resolver o problema do acúmulo de lixo no Calçadão, em frente ao Edifício Ribeiro Pena e vizinhança. A presidente da comissão criada pela Associação para tratar da questão do lixo, advogada Márcia Eiras, diz que os resíduos são depositados naquele local há muito tempo, numa espécie de acordo implícito, em razão da facilidade para a coleta pelo caminhão que faz o serviço. No entanto, a situação gera desconforto para os próprios moradores e comerciantes, com o mau cheiro que acaba tomando conta do Calçadão, inclusive subindo para os apartamentos. Outro problema é a concentração de recolhedores de material reciclável porque eles remexem o lixo e acabam fazendo uma pré-seleção do material ali mesmo, no Calçadão, em Márcia Eiras (destaque), advogada e integrante da Associação, enumera os principais problemas do centro: lixo, mau cheiro e acúmulo de recolhedores informais de material reciclável horário que ultrapassa o do serviço de varrição. Como resultado estamos sempre com aquele local sujo e mal cheiroso, acrescenta a advogada. A Associação, que tem por enquanto 42 filiados, procurou informações legais sobre a responsabilidade no assunto e descobriu que o Centro de Londrina é a única região que não faz parte do projeto de reciclagem de lixo implantado pela Prefeitura. Soubemos que existem 24 organizações não governamentais (ONG s) de reciclagem atuando em toda a Cidade, menos no Centro, o que gera outra situação preocupante, pois há uma só pessoa explorando o lixo, pelo menos naquele ponto e agindo como se fosse dono do local. Filmamos a movimentação deles durante cinco dias e foi fácil perceber que ele comanda todo o processo de recolhimento e separação do lixo ali. Ele até afugentou a força antigos catadores, denuncia Londrina tem 24 ONGs que atuam na coleta e reciclagem de lixo; nenhuma delas trabalha na região central

JORNAL DA ACIL/Dezembro 5 Márcia. A pessoa citada pela advogada é conhecida apenas como Ananias (leia mais sobre ele nesta página). Numa reunião realizada no dia 14 de novembro, com a participação de 25 pessoas entre moradores, comerciantes e comerciários, foram criadas duas comissões especiais, uma para a questão do lixo e outra para a limpeza. Segundo a advogada, o poder público foi convidado a participar do encontro, mas não mandou representante. Resolvemos, então, ir até eles e marcamos um encontro na Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU). Lá recebemos várias informações que nos levam a crer que falta preocupação com o Centro, pois nem mesmo para o mês de dezembro, com as lojas funcionando até 22 horas, eles montaram um esquema especial de recolhimento de lixo, avalia a advogada. Como primeiro resultado prático, a Associação conseguiu, junto à CMTU, alterar o horário de recolhimento do lixo para 22h30, assim como foi firmado um acordo entre os moradores e comerciantes para que ninguém deposite o lixo nas calçadas antes das 22 horas. Outro avanço foi a promessa da CMTU de buscar uma solução para a falta de uma ONG de reciclagem na região central de Londrina. A Associação também busca acesso ao contrato da Prefeitura com a empresa de coleta de lixo em Londrina para saber como encaminhar o assunto a partir de janeiro. Soubemos extra oficialmente que o contrato exigiria a disponibilização de um caminhão de porte menor para coletar o lixo em locais críticos várias vezes por dia, como o Calçadão em frente ao Edifício Ribeiro Pena e queremos saber se temos esse direito, observa Márcia. A entidade fez a solicitação através do vereador Félix Ribeiro. O pedido foi protocolado na Câmara Municipal no dia 20 de novembro e a Prefeitura teria 15 dias para apresentar a documentação. A Associação dos Lojistas e Amigos da Praça Rocha Pombo e Adjacências (Alarpa) foi criada oficialmente em novembro. A Alarpa atua no quadrilátero formado pelas ruas João Cândido, Sergipe, Benjamin Constant e avenida Rio de Janeiro e já contabiliza vitórias como a troca do calçamento da avenida São Paulo, entre as ruas Benjamin Constant e Sergipe, prevista para janeiro, e o aumento do policiamento no local. É fato que a associação precisou comprar o material para a calçada e a Prefeitura vai entrar apenas com a mãode-obra, mas o benefício vale o custo, acredita a presidente da entidade, Maria Aparecida Martinez. Nós precisamos transformar essa área, que está marginalizada, afirma a lojista. Em uma semana com mais viaturas passando pelas ruas e duplas de policiais circulando pelas calçadas, os Cosme e Praça Rocha Pombo tem seus defensores Damião, Maria Aparecida diz que a segurança melhorou 100%. A gente vê que as pessoas não têm mais medo de andar por aqui, o que também beneficia praticamente toda a Cidade porque somos rota de quem usa o Terminal Urbano de Transporte Coletivo, avalia. A implantação da Zona Azul na região, em meados de novembro, é comemorada pelos lojistas. Eles afirmam que aumentou a rotatividade de veículos, o que atrai um público que antes não freqüentava as ruas, carentes de vagas para estacionamento. Através da associação temos mais força para reivindicar e nossos pedidos têm mais peso, resume Maria Aparecida. Só a melhoria da iluminação pública ainda é polêmica. A Alarpa também adquiriu os postes e material necessário mas a Secretaria Municipal de Obras não realizou o serviço. Maria Aparecida: Temos mais força para reivindicar e nossos pedidos têm mais peso A secretaria alega que falta tempo, mas nós não aceitamos esse argumento porque entramos com o pedido na Prefeitura no dia 29 de setembro. Ananias, o dono do pedaço Vamos contratar pedreiros para quebrar as calçadas e aí só vai faltar a instalação dos postes, anuncia a presidente da entidade. Jovem, cerca de 30 anos, óculos espelhados, se diz vindo de Brasília, a capital federal e anuncia que tem umas mortes nas costas. Contam que o Ananias criou fama depois de bater em dois velhinhos que insistiam em ficar na área. Andar seguro, peito estufado, o Ananias faz a fiscalização do grupo que formou para trabalhar para ele. À luz do dia, separa e pré seleciona o material, antes de despachar cada funcionário. Dedicado, é o último a ir embora e não permite que ninguém invada o espaço que conquistou, afinal ali era terra de ninguém e ele veio para colocar ordem no lugar. Confiante, o Ananias se estabeleceu e explora uma atividade que é controlada de outra forma no resto da comunidade. Enquanto ninguém incomodar o Ananias, ele vai continuar ali, se apossando do lixo de todos em benefício próprio. Abrindo os sacos, espalhando e separando os resíduos e deixando para trás, jogado no calçamento, o que não lhe interessa. E que, obviamente, não interessa a ninguém que fique ali. Ananias é o dono do lixo e do cheiro do Centro de Londrina. E não aceita invasores. Ele é poderoso. (Kátia Baggio)

6 JORNAL DA ACIL/Dezembro REDE DE NEGÓCIOS Os riscos da franquia Sistema de franchising dobrou de tamanho no Brasil em apenas um ano. Franqueador e franqueado devem estar muito atentos José Antonio Pedriali Especial para o Jornal da ACIL As franquias são um dos segmentos da economia brasileira que crescem. Só no ano passado, o mercado de franchising mais que dobrou. Isso não garante, porém, que o negócio seja totalmente seguro nem para o franqueador nem para o franqueado. Casos de disputas judiciais estão envolvendo franquias estão pipocando pelo País. Quem, nestes tempos bicudos, dispensaria em sã consciência o cavalo encilhado treinado para conduzir rapidamente o ginete à mina de ouro? Dependendo do cavalo, ele pode proporcionar ao montador um grande tombo. Ou o montador, inábil, poderá cair por conta própria e às vezes jamais se recuperar da queda. Para muitos, o franchising pode se comportar como no primeiro caso. Para alguns, pode representar o cavalo rebelde, traiçoeiro; para outros, o terceiro caso motivado por uma série de fatores é o destino certo, às vezes trágico. O Brasil é o terceiro país do mundo em número de franquias, perdendo apenas para os Estados Unidos e o Japão. São aproximadamente 56 mil franquias de 650 marcas diferentes, segundo o levantamento mais recente (de maio deste ano) da Associação Brasileira de Franchising (ABF), com sede em São Paulo. Mais de 90% dos franqueadores são de origem nacional. O sistema de franchising cresceu 126% no ano passado, movimentando R$ 28 bilhões, indo assim na contramão da economia nacional, que registrou um dos mais medíocres índices de crescimento do Produto Interno Bruto. O franchising é responsável por aproximadamente 350 mil empregos. No período analisado, a ABF constatou uma nova tendência do sistema. O setor de alimentação o mais tradicional e o que contava com maior número de unidades foi ultrapassado pelo de esporte/beleza/saúde, que reunia no final do ano passado 9 mil unidades, com faturamento de cerca de R$ 4 bilhões. O setor de educação e treinamento deu também um grande salto, crescendo 14% no faturamento e 6% no número de redes. Um dos setores mais novos do sistema, o de acessórios pessoais, demonstrou grande potencial de expansão, crescendo 33% no faturamento, 44% em número de redes e 26% em número de unidades. O setor de alimentação continua na dianteira em quantidade de redes franqueadoras são 130, aproximadamente. O crescimento médio da receita do sistema em 2002 Brasil é o 3 o país do mundo em número de franquias. foi de 12% e o de unidades, 10%. Está havendo um movimento significativo de recuperação da receita, afirma Gerson Keila, presidente da ABF. Keila aponta três motivos para a expansão do sistema: a cultura empreendedora do brasileiro, facilmente adaptável à condição de dono do seu próprio negócio; a crise econômica persistente, que diminuiu drasticamente a oportunidade de emprego, levando muitos profissionais a investirem num negócio próprio; e a falta de crédito para o empresário, o que o induz a Hoje o País tem 56 mil franquias. aderir ao sistema de franchising, operado coletivamente e com estrutura sólida, já que por si só ele não teria fôlego financeiro para levar adiante seu empreendimento. O franchising vem se consolidando em todo o mundo por permitir ao franqueador aumentar sua base de atuação em ritmo muito mais veloz do que seria possível com seus recursos próprios e por tornar a rede mais eficiente porque a operação e a administração das unidades ficam sob a responsabilidade dos franqueados. Para o franqueado, o sistema oferece mais garantias de sucesso, pois ele fará parte de uma estrutura consolidada e testada e Sistema de franchising cresceu comercializará uma marca conhecida pelo consumidor. Além disso, ele terá toda a orientação do franqueador na hora de abrir a sua unidade e em todas as fases operacionais. Mas com sempre há um demônio para atazanar todo anjo da guarda, o sistema comporta também sérios riscos, tanto para o franqueador como para o franqueado. Para o franqueador, há sempre a possibilidade de ele perder o controle sobre os pontos de venda e há a necessidade de um período de tempo maior para o retorno financeiro. Além disso, podem e muitas vezes acontece ocorrer disputas judiciais com o franqueado. Existe ainda o risco de o franqueado desrespeitar as normas da rede e, assim, prejudicar e às vezes comprometer - sua imagem e a do produto. O franqueado será um eterno dependente do franqueador e, por isso, a escolha da rede à qual quer se vincular tem de ser feita de forma criteriosa, depois de muita análise, adverte a ABF. O franqueado terá sempre limitada sua liberdade de ação, até na eventualidade de revender a franquia, ficará dependente da performance do franqueador e da marca e terá de assumir até o final dos tempos o 126% no ano passado. Fonte: Associação Brasileira de Franchising. pagamento ao franqueador de taxas periódicas, como royalties, aluguéis (em alguns casos) e cota de propaganda. Até há pouco tempo, era senso comum que adquirir uma franquia da McDonalds equivalia a ganhar na loteria todos os dias. Pois bem, a todo-poderosa rede mundial de fast-food enfrenta no Brasil uma enxurrada de ações movidas por seus franqueados. Estes alegam não suportar as taxas impostas pela rede, entre elas a do aluguel dos pontos de venda, que consideram extorsivas. Recentemente, em Londrina, uma rede de pastéis com sede em Maringá enfrentou a rebelião de seus franqueados, que, em alguns casos, mantiveram seus postos de venda, mas com outra denominação. A Nipomed, franqueadora nacional de planos de saúde, registrou uma implosão no número de seus pontos de venda e de franqueados e responde a inúmeros processos. A maioria dos ex-franqueados da Nipomed era formada por dekasseguis, que aplicaram no negócio tudo ou quase tudo o que reuniram após anos de trabalho duro no Japão.

JORNAL DA ACIL/Dezembro 7 Uma tragédia pessoal Ex-franqueado de uma indústria de filtros de água diz ter perdido tudo amigos, reputação, saúde e os R$ 100 que investiu no negócio O londrinense Sérgio Yamani se diz vítima de outra franquia, a Hoken, fabricante de filtros de água. A Hoken, com sede em São José do Rio Preto (SP), está sendo acionada pela Justiça em vários estados. A maior pressão no momento contra e empresa está sendo feita no Mato Grosso. O Ministério Público denunciou a empresa e o titular da Delegacia Especializada de Estelionato, Defraudações e Falsificações de Cuiabá, delegado Mário Pieroni, ameaça prender o diretor-presidente da Hoken, Hélio Tatsuo. A empresa chegou a ter mais de 800 franqueados, distribuídos em três categorias: home (taxa média de adesão R$ 10 mil), basic (mais de R$ 20 mil) e master (R$ 90 mil). Yamani calcula ter perdido cerca de R$ 100 mil em pouco mais de dois anos como franqueado da Hoken. Pensei que era dono do meu próprio negócio, quando, na realidade, era um mero escravo do franqueador, afirma. O franqueado da Hoken, segundo Yamani, é obrigado a manter um estoque mínimo de filtros, pelos quais paga antecipadamente e os vende em três parcelas, e, para manter acesa a chama da esperança de sucesso, é submetido a uma série Yamani: Eles nos submetiam a uma verdadeira lavagem cerebral e invocavam até a religião para inspirar nossa esperança continuada de cursos e reuniões de motivação. Os cursos são pagos, e um deles custou a Yamani R$ 800. Eles nos submetiam a uma verdadeira lavagem cerebral e invocavam até a religião para inspirar nossa esperança, afirma Yamani, acusação que é feita também pelos queixosos do Mato Grosso. O custo financeiro da operação compra à vista, recebimento a prazo e mais as despesas do processo de venda geravam prejuízo contínuo, segundo Yamani, o que o levou a necessitar de todo tipo de crédito possível. Recorri e a amigos e até a meus pais, e até hoje não pude pagá-los, lamenta-se o empresário. Yamani recorda: Falava em Hoken 24 horas por dia, até quando dormia (minha esposa testemunhou meus delírios), e trabalhava como um camelo para tapar o buraco, que só crescia, crescia. E eles, da Hoken, ainda me chamavam de fracassado, atiravam a culpa em mim. Mas como eu é que era o fracassado se meus companheiros iam tombando um após o outro?. A Hoken, segundo ele, teve 18 franqueados em Londrina; hoje, somente dois perseveram no negócio. Perdi tudo, amigos, reputação, a saúde; só não perdi minha mulher e meus filhos, sintetiza Yamani, garantindo que ainda não se recuperou das seqüelas físicas e psicológicas do processo. Yamani afirma ter sofrido depressão profunda, problemas cardíacos, a pele chegou a trincar e ele foi acometido de um surto de febre durante cinco dias. Afundava, e quanto mais trabalhava, mais afundava, diz, acrescentando ter despertado para sua situação dramática no dia em que meus filhos disseram que estavam com fome e não havia nada, nada na geladeira. A reportagem do Jornal da ACIL procurou a direção da Hoken para que respondesse às acusações, mas não obteve retorno das ligações. (J. A. P.)

8 JORNAL DA ACIL/Dezembro CONVERSANDO COM O ET Por que empresas morrem tanto? Por Domingos Pellegrini O extraterrestre agora quer saber o que leva uma iniciativa empresarial ao fracasso O ET tem cada uma! Saiu a passear pelo comércio, volta com uma de suas perguntas: Por que as empresas humanas têm patrões e empregados? Pergunto por que ele pergunta, e ele pergunta por que temos mania de responder perguntas com perguntas. Peço um tempo para pensar e responder: ET, não sei como é no seu planeta, mas nós humanos nascemos diferentes. Temos o que se chama de personalidade ou temperamento. Uns são mais ativos que os outros, ou mais inteligentes, mais criativos. Alguns são muitos bons para pensar, outros têm dor de cabeça só de pensar em pensar. Não consigo imaginar alguém que não goste de pensar - diz o ET No nosso planeta, é a principal diversão! Mas continuo entre os humanos também temos os que sabem apenas pensar, como muitos doutores das universidades, que passam o tempo pensando e não sabem fritar um ovo. Há humanos que gostam de mandar, e humanos que só sabem obedecer, sempre sem tomar qualquer iniciativa. E como fazem diante de imprevistos? Digo que esse é um grande problema das empresas, gente que não sabe tomar qualquer decisão diante de imprevistos, seja para aproveitar uma grande oportunidade ou evitar um desastre. O ET me olha incrédulo. Explico que gente é assim, nascemos sob o signo da diversidade: Cada um é um. Organizar uma empresa humana é um quebra-cabeça, porque é preciso juntar e coordenar personalidades diferentes, dando a todos um objetivo comum, que é fazer a empresa ir bem para que todos possam também viver bem. Então os humanos que têm iniciativa e liderança criam as empresas, e os outros passam a trabalhar para eles. O ET diz que visitou também a ACIL, onde ficou sabendo que a percentagem de empresas que morrem todo ano é muito maior que a das pessoas.

JORNAL DA ACIL/Dezembro 9 Então: se as empresas existem para que as pessoas vivam, como é possível morrer mais empresas do que gente? Explico que os empresários, ao contrário das pessoas, conseguem renascer, criando novas empresas, de modo a compensar a mortandade empresarial. É impressionante a cara de espanto do ET: Quer dizer que empresas nascem e morrem aos milhares todo ano? Mas por quê?! Explico que é porque muitas começam sem os devidos cuidados, sem planejamento de mercado, às vezes num ramo já cheio de concorrência e sem apresentar qualquer diferença ou novidade em relação às já existentes. Ou também porque o empresário não tem liderança. Mas o ET é sempre muito lógico você não disse que as empresas são criadas por líderes? Digo que nem sempre, há os que herdam empresas, e mesmo os que criam empresas irresponsavelmente, porque têm dinheiro para isso. Daí passo algum tempo explicando ao ET o que é herança, até que consigo resumir: Herança ajuda quem tem criatividade e liderança, mas não é tudo, tanto que costuma-se dizer: a primeira geração constrói, a segunda divide e a terceira mói... E também o contrário é verdadeiro: há muita gente que nasce pobre, mas trabalha até se tornar líder de milhares. A sociedade humana é um terremoto social, com gente subindo e descendo na vida o tempo todo... O ET fica pensando, olhando um prédio em construção no horizonte. Quer dizer que um daqueles operários amanhã pode ser o empresário da empresa construtora? Digo que sim, e conto várias histórias de empresários que começaram peões, no tempo em que bastava ter iniciativa e garra para ser chefe de empresa. O ET, claro, já pergunta o que mais é preciso para isso hoje. Respondo que hoje é preciso liderar em vez de chefiar: O chefe manda, o líder entusiasma. O chefe pune, o líder ensina através do exemplo. O chefe tem empregados, o líder tem colaboradores, todos se sentindo parceiros do líder, com ele crescendo como pessoa e melhorando de vida. Senão, o lucro da empresa acaba na Justiça trabalhista... Aí preciso explicar ao ET que, do O chefe manda, o líder entusiasma. O chefe pune, o líder ensina. tempo dos chefes até o tempo dos líderes, a sociedade mudou, os trabalhadores passaram a ter muitos direitos reconhecidos, as empresas a ter muitas obrigações sociais e ecológicas. Mas isso não é bom? o ET se coça Um mundo onde todos pudessem fazer o que bem quisessem, seria um mundo de ninguém, não? Pelo que vi, é preciso que os líderes melhorem e os liderados também. Melhor ainda: é preciso que essa mentalidade de líderes e liderados se transforme em cooperação, não? Então os liderados também têm que tomar iniciativas, cada um ao menos no seu setor, não é? Não consigo imaginar alguém trabalhando numa empresa e só obedecendo ordens. No meu planeta, quem só obedece ordens são os robôs. Digo que também temos fábricas onde já trabalham robôs, fazendo carros, por exemplo, e ele diz que em seu país os robôs só fazem os trabalhos degradantes, como limpar latrinas. Digo que aqui os robôs são usados porque custam menos, não exigem direitos trabalhistas nem causam acidentes de trabalho. O ET então pergunta com sua extraterrena ingenuidade: Mas empregando robôs vocês não causam desemprego para os humanos? Tento explicar ao ET que o lucro e a produtividade ainda mandam mais que a solidariedade ou a paz social, e que empresa que quiser contrariar isso pode simplesmente quebrar. Quer dizer que as empresas humanas só conseguem sobreviver ignorando os valores humanos? Digo ao ET que infelizmente ainda é assim, e ele ri: Não será assim por muito tempo, ninguém pode ir contra a própria natureza por muito tempo. Empresas de humanos não devem ser desumanas, não tem lógica. Explico ao ET que o ser humano, embora seja o único a pensar no planeta, não é apenas lógico, também se move por sentimentos, inclusive a ambição e a ganância, e que, embora animais sociais por natureza, também nos dedicamos muito ao individualismo. Ele se coça, esforçando-se por entender. Digo que o futuro parece ser a parceria entre chefes e chefiados, líderes e liderados: Os monumentos humanos mais conhecidos são as Pirâmides do Egito, que se acreditava foram feitas com trabalhadores escravos, trazendo imensos blocos de pedra, de uma pedreira a 60 quilômetros de distância, rolados sobre toras de madeira na areia do deserto... Cada pirâmide era para enterrar um faraó, que, assim, alcançaria a imortalidade. Hoje, sabe-se que os escravos e outros trabalhadores trabalhavam acreditando que iriam junto com o faraó para a imortalidade, de modo que trabalhavam também para si mesmos, em parceria com a crença do faraó, o que explica como foi possível construir tais monumentos em condições tão difíceis. Hoje, as Herança só ajuda quem tem criatividade e liderança empresas duradouras e prósperas são as que mais distribuem lucros com o pessoal, têm programas de promoção, treinamento, melhoria profissional e pessoal, além de ações de responsabilidade social e ecológica, com seu pessoal fazendo parceria com as comunidades. O ET se coça: Quer dizer que para conseguir tocar empreendimentos ou empresas é preciso antes de tudo parceria entre todos? Digo que sim, e ele arremata: Então por que as empresas não fazem isso sempre em vez de morrer tanto? Domingos Pellegrini é escritor.

JORNAL DA ACIL/Dezembro 10 11 EM MÁS CONDIÇÕES Falta verba, falta tudo na Casa de Cultura Sem recursos federais, transformação do prédio da antiga Mayrink Góes no grande centro cultural de Londrina ficou na promessa Aurélio Albano Especial para o Jornal da ACIL Quando foi instalada no prédio onde antes era a revenda de carros Mayrink Góes, em dezembro de 2002, a nova Casa de Cultura tinha o objetivo de estruturar o espaço como o mais importante centro cultural de Londrina. A idéia era revitalizar aquele o prédio onde funcionou durante muitos anos a concessionária de veículos, na Avenida Celso Garcia Cid. O projeto previa que, em 60 dias, a construção em estilo modernista da década de 60 passaria a concentrar todas as atividades da Casa de Cultura, também abrigando manifestações artísticas. O local seria um centro cultural integrado, com salas de teatro, audioteca, livraria, loja de CDs especializada em circuito alternativo, galeria de artes, espaço para bandas de garagem e cinema. E também deveria suprir a falta de locais para apresentações do Festival de Teatro de Londrina, o FILO. Mais: a promessa era de que a revitalização do antigo prédio da Mayrink Góes ajudaria a melhorar aquela re- Compra, restauração, readequação do prédio e compra de equipamentos estão orçados em R$ 3,8 milhões gião central, a poucos metros da área mais movimentada da Cidade. Mas a situação hoje, um ano depois, não satisfaz as expectativas. Apesar de receber alguns eventos, o prédio da Mayrink Góes continua sem as reformas prometidas, e a região onde está pouco mudou. Afinal, o que está acontecendo com os espaços destinados a abrigar eventos culturais em Londrina? O problema não é só com a Casa de Cultura. O Cine Teatro Ouro Verde, maior referencial dos londrinenses para as mais variadas manifestações artísticas, também tem problemas (leia quadro). De acordo com o diretor da Casa de Cultura da Universidade Estadual de Londrina, Kennedy Piau, a questão se resume basicamente a falta de verbas. Ele lembra que, quando houve a transferência da Casa de Cultura para a antiga sede da Mayrink Góes, a intenção era estruturar um centro cultural naquele espaço, com todos os recursos já citados. Para viabilizar o projeto, foi pedida uma verba de R$ 200 mil para o Ministério da Cultura, no final de 2002. Mas, segundo Piau, na mudança de governo, com a posse do presidente Lula, houve uma nova interpretação sobre a destinação dos recursos pleiteados. Explicando melhor, segundo a versão da diretoria da Casa de Cultura: antes da posse do governo atual, o Ministério da Cultura admitia que a verba poderia ser usada para a reforma do prédio, mesmo ele sendo alugado. Mas o novo governo achou que isso não seria possível, porque se o espaço a ser reformado não é próprio, e nesse caso a lei não permite que a verba pública seja usada para reformas. Segundo Kennedy Piau, essa questão burocrática fez com que houvesse a necessidade de se alterar o projeto para a liberação das verbas. Ao invés de reforma, os recursos do governo federal serão Interior da nova Casa de Cultura, na Rua Mato Grosso: centro integrado está resumido, por enquanto, a poucas atividades realizadas em espaços adaptados então destinados à compra de equipamentos para modernização do espaço o que, em tese, a lei permite. Mas, com a alteração, um novo processo está tramitando no Ministério da Cultura, e não se sabe quando a verba será liberada. Sem recursos, admite Piau, poucas adequações foram feitas até agora, e elas se resumem à restauração do piso, que é feito de tacos de peroba rosa. Algumas intervenções no espaço também foram viabilizadas, o que permitiu que o prédio recebesse várias atividades culturais, como apresentações do Festival de Música de Londrina, peças do Festival Internacional de Teatro, além da utilização do prédio para as instalações administrativas da Casa de Cultura. Além disso, este mês foi inaugurada a chamada caixa preta da Casa de Cultura, um formato utilizado para transformar barracões em espaços cênicos. É uma estrutura, ainda que improvisada, que pode abrigar espetáculos. Boa parte do material utilizado é proveniente da desativação do Núcleo I, que fazia parte da estrutura física da antiga Casa de Cultura. Assim, segundo Kennedy Piau, o espaço está cumprindo de alguma forma a proposta inicial. Mas, segundo ele, o projeto para utilização do espaço é muito mais ousado, e para viabilizar isso há uma negociação em curso com empresas locais, que ofereceriam recursos em troca de marketing cultural. Piau cita que há empresas do setor da construção civil interessadas em financiar uma sala de cinema no prédio da Casa de Cultura. A idéia é transferir os projetores do O u r o Verde para o local e fazer cinema menor, com cerca de 100 lugares, mas que teria uma programação mais regular. E o mais importante: existem contatos com grandes empresas estatais (que o diretor da Casa de Cultura prefere não citar o nome agora) que poderiam financiar a compra do prédio da antiga Mayrink Góes, hoje alugado. Segundo Piau, já há um contato preliminar com os donos do imóvel, que estão estudando a proposta. O custo total para compra, restauração arquitetônica e readequação do prédio, com novos equipamentos para abrigar várias manifestações culturais, seria de R$ 3,8 milhões. Acho que a perspectiva é boa, porque temos o apoio de órgão públicos e privados. É um espaço histórico para a Cidade e há interesse tanto do poder público quanto de empresas em apoiar isso, diz Piau. Ele lembra que a UEL já fez um contato com o ministro da Cultura, Gilberto Gil, que se propôs a ajudar, inclusive no caso específico da Casa de Cultura. O ministro seria u m intermediário para ajudar na captação de verbas de grandes empresas estatais, como a Petrobras. O diretor da Casa de Cultura lembra que, hoje, a UEL paga R$ 1,6 mil de aluguel pelo prédio da Mayrink Góes. Antes, toda a estrutura da Casa de Cultura que incluía imóveis como a sede perto da Concha Acústica, o Núcleo I e salas no edifício Júlio Fuganti - custava cerca de R$ 11 mil de aluguel. Com a vantagem que toda a estrutura anterior somava cerca de 3 mil metros quadrados, e hoje o prédio na Avenida Celso Garcia tem quase 4 mil metros quadrados de área, em um espaço mais adequado. Ele admite que é a reforma que vai revitalizar de fato o prédio, mas diz que já há uma movimentação maior na Atualmente, aluguel da Casa de Cultura é de R$ 1,6 mil; antes custo total com locação chegava a R$ 11 mil Ouro Verde, que deixou de ser cine-teatro graças ao desastroso projeto do governo Lerner: espaço nobre transformado em sauna malcheirosa Reforma deixa Ouro Verde em estado precário O Teatro Ouro Verde, principal referência dos londrinenses para apresentações artísticas e culturais, está funcionando de maneira precária. O problema é que a reforma feita no governo Jaime Lerner deixou muito a desejar, e o local sofre com a falta de estrutura. As deficiências mais percebidas são a má refrigeração e o mau cheiro provocado pela madeira utilizada na reforma. Isso causou incômodo para artistas e platéia durante a recente apresentação do violonista Yamandú Costa com a Orquestra de Câmara Solistas de Londrina. Com a casa cheia, ficou flagrante o mau funcionamento do ar-condicionado, inclusive com reclamações do artista visitante. Transpirando muito, com o suor escorrendo pelo cabe- los, Yamandú satirizou o calor do Ouro Verde, classificando o espaço como uma sauna. O público, apesar de aprovar a qualidade do espetáculo, também sofreu. Muitos usavam o programa distribuído na entrada como abanador, porque o calor era quase insuportável. Esses problemas, e muitos outros, foram constatados por uma vistoria concluída em novembro por um grupo de trabalho da Universidade Estadual de Londrina. Essa vistoria foi feita a pedido da Casa de Cultura, responsável pela administração do Ouro Verde. Com tantas deficiências apontadas pelo relatório final, a UEL considera que ainda não recebeu oficialmente o teatro. (A. A.)

12 JORNAL DA ACIL/Dezembro SEMINÁRIO DESTINO LONDRINA No mapa dos eventos Seminário realizado pelo LC&VB Bureau revela que o Norte do Paraná tem tudo para se transformar num dos principais destinos do turismo de eventos do País Katia Baggio Especial para o Jornal da ACIL Londrina tem, desde a última semana de novembro, uma nova forma de ver o turismo de eventos uma visão mais abrangente, mais profissional e mais promissora. Essa pode ser considerada a grande vitória do Seminário Destino Londrina, realizado nos dias 26, 27 e 28 pelo Londrina Convention & Visitors Bureau, com a participação de 300 pessoas, entre empresários, profissionais e estudantes da área de turismo e de outros setores. Foi o primeiro evento organizado pelo Londrina Convention & Visitors Bureau para trazer informação especializada para a Cidade no tocante à organização de eventos e despertar a comunidade para o potencial do Turismo de Negócios local. A diretora executiva do LC&VB, Maitê Uhlmann, afirma que o encontro foi extremamente bem-sucedido em sua proposta de estimular os vários setores londrinenses a comprarem a idéia de que Londrina é um destino importante e altamente viável para a realização de todo tipo de evento. Apesar de todo o potencial de Londrina, pecamos muitas vezes na qualidade da prestação de serviços. Nesse sentido, o Seminário proporcionou aprimoramento aos profissionais do setor e ainda foram geradas novas oportunidades com a Rodada de Negócios, que foi altamente satisfatória. Um dos desafios do seminário foi despertar o interesse da comunidade pelas atividades do LC&VB. Ainda não tivemos a participação que seria a ideal nesse encontro, até porque foi a primeira edição, mas quem veio saiu bem impressionado, revela. Os convidados das palestras e da Rodada de Negócios são especialistas que atuam no País todo e têm também experiência internacional. Plácido José de Oliveira, da PJ Feiras e Congressos, de Curitiba, praticamente resumiu o ponto de vista dos colegas. Londrina tem potencial para se projetar Plácido Oliveira: Hoje não há mais espaço para amadorismo e picaretagem na organização e realização de qualquer tipo de evento Josemar Basso fala aos participantes do seminário: Conscientização deve começar com o motorista de táxi e os recepcionistas dos hotéis e se estender aos organizadores de eventos como referência científica, cultural e econômica no cenário nacional e internacional, mas precisa buscar a especialização máxima para transformar o cenário favorável em realização, através de encontros como esse. Um dos pontos principais que o profissional destacou foi a importância de um bom planejamento para o sucesso de um evento. Previsão de custos e contratação de pessoal qualificado são fundamentais. Hoje, não há mais espaço para amadorismo ou picaretagem na organização e realização de qualquer tipo de evento, como algumas feiras itinerantes, que trazem expositores de fora e levam dinheiro sem deixar qualquer benefício para a cidade, alertou. A criação de leis que favoreçam o turismo de negócios foi outro ponto abordado. Oliveira lembrou a importância do envolvimento e comprometimento do município. A prefeitura e seus órgãos precisam analisar a viabilidade para a realização de qualquer tipo de evento. E podem promover melhorias de extrema importância, além de garantir tributos, afirmou. Cautela com o apoio aos eventos também é fundamental, explica Oliveira. A chancela, a marca da prefeitura ou de qualquer outra entidade, é que dá credibilidade ao evento. A população acredita nesse endosso, por isso é preciso conhecer a seriedade e finalidade, tanto do evento como dos organizadores. Em outra palestra, o coordenador do Comitê Executivo da Federação Brasileira de Convention & Visitors Bureau, Rui Carvalho, de Campinas, afirmou que os Conventions não têm a responsabilidade de captar eventos para a cidade, mas sim servir como suporte para os realizadores. São as instituições ou empresas que precisam tomar a iniciativa de realizar um evento. O Convention vai vender a imagem da cidade para as agências, por exemplo. O setor de eventos tem um leque imenso de ramos a serem explorados, de acordo com a tendência de cada localidade. Mas, para que a cidade seja a escolhida, tem que oferecer a melhor es

JORNAL DA ACIL/Dezembro 13 Rui Carvalho: Comunidade tem que estar consciente de que cada um tem papel vital para o sucesso da cidade como atração trutura, opções de horários e destinos de vôos, hotéis qualificados e pessoal treinado. A comunidade precisa estar consciente de que cada um tem papel vital para o sucesso da cidade como atração, disse Carvalho. O diretor da JZ Feiras e Congressos, Juarez de Carvalho Filho, do Rio de Janeiro, é especialista na área de eventos científicos e comentou sobre o grande potencial de Londrina no setor. Carvalho lembrou a importância de se buscar o público mais eclético possível seja para qual evento for. É preciso pensar cada evento de forma que favoreça a vinda não só do participante, mas da família dele, por exemplo. Enquanto ele freqüenta o evento, a família está consumindo no comércio local ou nos pontos de lazer, e a cidade tem que estar preparada para atender a esse público. O especialista informou que vários segmentos, Juarez de Carvalho: Um congresso é um negócio como outro qualquer, apenas tem características particulares, mas precisa ser tratado como negócio como a área médica, já programam eventos para o ano todo e fazem a divulgação para o público alvo. Assim, a pessoa também faz um planejamento baseado em fatores como custo, opções para a família ou para ele, se for sozinho, e também nos atrativos que a cidade-destino do evento oferece. E acaba escolhendo dois ou três destes eventos para participar. Quais cidades vão ganhar esse participante?, provoca. Trabalhar com profissionais especializados na realização de eventos desse tipo foi outro conselho deixado por Carvalho. Uma estrutura de informática forte é também hoje um dos principais braços do evento a ser planejado, pois o fluxo de informações é imenso e, quanto mais ágil a estrutura de atendimento ao participante, maior a chance de sucesso. Departamentos comercial e de divulgação profissionais são outros Júlio Urban: Comunidade deve estar aberta a alguns puxões de orelha pontos determinantes. Um congresso científico ou de qualquer outro perfil é um negócio como outro qualquer, apenas tem características particulares, mas precisa ser tratado como negócio, reforça Carvalho. Para Josemar Basso, da Office Marketing, de Porto Alegre, se não houver conscientização de todas as áreas de serviço envolvidas com o Turismo de Negócios, não há chance de avanços. Para isso, alertou, é preciso que as entidades interessadas em atrair eventos para a cidade busquem um trabalho de conscientização e orientação com abrangência que comece no motorista de táxi, nos recepcionistas dos hotéis e se estenda aos organizadores de eventos. É preciso dizer claramente ao recepcionista que ele não deve enfatizar as deficiências do hotel, como falta de leitos ou de algum serviço, mas destacar ao hóspede os pontos fortes. Assim como o recepcionista e o motorista de táxi devem ser os primeiros a receber informações sobre os pontos turísticos e gastronômicos, inclusive o nível de cada ambiente. Geralmente, eles são os primeiros a manter contato como o visitante e a pior coisa para quem chega a um local novo é fazer uma pergunta e receber um não sei como resposta. Os pontos turísticos e gastronômicos também precisam funcionar em horários viáveis para o participante de eventos. Museus e parques que fecham nos finais de semana comprometem a imagem da cidade como opção de visita. Outra atitude importante dos hotéis e restaurantes é manter seus preços. Ainda existem empresas do setor que esquecem a ética e cobram tarifas cheias ou até aumentam os valores, conforme a demanda, o que deixa uma impressão negativa, orienta Basso. O diretor da Office Marketing alertou também para a opção de vôos, fator essencial na decisão de grandes realizadores de eventos nacionais e internacionais quanto ao destino. Não adianta a cidade estar preparada e o Convention vender toda essa estrutura se a oferta no setor de vôos é deficitária. Os especialistas procuraram mostrar como todos os detalhes devem ser pensados e melhorados. Júlio Urban, da Idealiza Eventos, de Curitiba, Intercâmbio com mercado externo é fundamental Um dos pontos-chave do Seminário Destino Londrina foi o curso Coordenação e Gerenciamento de Eventos, ministrado por Rogério Hamam, professor do curso de Turismo da Universidade Anhembi- Morumbi, de São Paulo. O curso funcionou como reciclagem para os profissionais da cidade e trouxe muita informação para estudantes de Turismo, através das experiências relatadas pelo especialista. Além de professor, Rogério Hamam é também especialista na realização de feiras, congressos e convenções nacionais e internacionais. Ele ratificou a posição dos outros profissionais convidados pelo Convention ao afirmar que o setor de eventos está cada vez mais carente de profissionalização porque cresce a cada dia, especialmente no Brasil. Um exemplo é o número de inscritos para o curso, que tinha uma previsão de 15 pessoas e chegou a 30. Segundo Hamam, o segmento de feiras e mercados é o mais profissional no País só perde para o da música. No entanto, para manter o nível profissional, é preciso estar ativo e atento às últimas novidades do setor. Buscar intercâmbio de informações com o mercado externo é fundamental, alerta. Segundo o especialista, para realizar eventos o profissional da área deve provocar as pessoas para pensar eventos, mostrar a elas como esse é um verdadeiro universo. O passo seguinte é planejar, ter um retrato da expectativa do evento muito bem definido. Ele observa que o participante é o alvo e as expectativas estimuladas nele devem ser satisfeitas. É preciso planejar também os riscos, mas nunca a ponto de providenciar todas as soluções e, assim, acabar inviabilizando o evento já nos custos. Hamam afirma que nunca deu nota dez para seus eventos, está sempre buscando melhorar e lembra um episódio que foi para ele mais uma lição. O único evento em que eu estava quase dando nota dez, no qual tudo saiu conforme o planejado desde o início, teve um imprevisto simples, a luz acabou! A princípio me culpei por não ter previsto o incidente e não ter providenciado um gerador. Depois, concluí que nunca será possível prever tudo e que resolver imprevistos da melhor maneira possível faz parte do perfil de um bom profissional. Hamam: É preciso planejar os riscos, mas nunca a ponto de inviabilizar o evento já na formação dos custos

14 que participou da Rodada de Negócios como empresa âncora, afirmou que Londrina precisa buscar melhoria na apresentação dos hotéis e dos locais de eventos. Tecnologia na ambiência, na apresentação física do espaço, como portas nos locais adequados, devem ser buscados com engenheiros e arquitetos especialistas em planejar espaços para eventos. Ele acrescenta que algumas adequações não representam grandes investimentos, como instalação de iluminação adequada nas salas e até definição do melhor local para fixação de banners ou outra peça publicitária que favoreça o melhor ângulo para o fotógrafo, por exemplo. Urban defende ainda a importância da comunidade local estar aberta para alguns puxões de orelha, que são, na verdade, conselhos sérios para colocar a cidade na lista de destinos do País. Londrina é a terceira cidade do Sul do Brasil em população, mas perde cinco posições como centro atrativo para a realização de eventos. Está atrás de Florianópolis, Foz do Iguaçu, Joinville, Blumenau e, acreditem, Ponta Grossa, que tem se projetado a cada dia nesse cenário, afirmou. O especialista sugeriu uma espécie de excursão pela Cidade como treinamento prático para taxistas, policiais, funcionários de hotéis e restaurantes e todos os envolvidos com o atendimento ao visitante. Poderia ser feita uma parceria entre as empresas interessadas em movimentar o comércio local e as instituições que têm potencial para trazer eventos, para a concretização dessa idéia, propõe. JORNAL DA ACIL/Dezembro Rodada revela potencial e abre mercado A Rodada de Negócios do Seminário reuniu empresas e instituições de Londrina e de fora que realizam eventos com freqüência, promotores de eventos do País e fornecedores de produtos e serviços filiados ao LC&VB. Foi uma oportunidade para a troca de informações que pode gerar negócios em curto, médio e longo prazo, na opinião dos participantes. Durante a Rodada de Negócios foram realizados mais de 135 encontros. A Rodada foi outro elemento fundamental para o diagnóstico que fizemos de Londrina, quem somos, onde nos classificamos e o que fazer a partir de agora, avalia diretora do LC& VB, Maitê Uhlmann. Esse tipo de network é excelente para nós, da Associação Médica de Londrina, que realizamos eventos com freqüência. Aqui pudemos constatar que há uma série de empresas pequenas ou novas que sentem dificuldade em se aproximar da Associação. Elas, agora, vão fazer parte da carta de fornecedores da entidade, informou o médico Omar Taha, membro da Comissão Científica da AML. Para Gilceana Galerani, gerente comercial e empresarial da Embrapa Soja, a iniciativa da ACIL e do LC&VB foi importante porque a Embrapa fica no distrito da Warta e algumas empresas locais sentem dificuldade em se deslocar para oferecer seus produtos e serviços. Nós não conhecíamos 90% dos fornecedores com os quais tivemos contato aqui e, portanto, não estávamos valorizando o mercado local no setor. Vimos, ainda, que temos inúmeras possibilidades para a realização de eventos e vamos estudálas com bastante atenção. Emerson Barros, do Ateliê Musical de Londrina, também avaliou a Rodada de forma positiva. Temos oferta de músicos, instrumentos e até coral infantil, mas há 10 anos no mercado de eventos a grande dificuldade era chegar aos organizadores. Aqui pudemos fazer esses contatos e espero que o ano de 2004 seja de boas oportunidades. Empresas e instituições realizadoras de eventos conhecem serviços dos fornecedores locais, associados do LC&VB: informação direta e perspectivas de negócios futuros Lançamento de showcase Um apresentação em alto estilo. Uma visão geral da Cidade. Um guia para informar e encantar potenciais investidores. Tudo isso é o Showcase Londrina & Região, publicação do Londrina Convention & Visitors Bureau. Com alta qualidade gráfica e editorial, o catálogo mostra em 56 páginas as qualidades da Terra Vermelha para todo o Brasil, tendo promotores de eventos como público-alvo. Entre as informações apresentadas, há dados sobre a infra-estrutura da região e empresas que integram o LC & VB. O lançamento do Showcase aconteceu no dia 26 de novembro, com presença de empresários, diretores da ACIL, imprensa e profissionais de turismo de eventos. Para mais informações sobre o Showcase, ligue para o fone 3374-3000.

FISCO ESTADUAL O secretário da Fazenda do Paraná, Heron Arzua, afirmou durante encontro com empresários de Londrina, no dia deste mês, na sede da ACIL, que o governo do Estado está trabalhando para mudar o conceito de política tributária adotada pela administração anterior, pela qual as multinacionais eram prioridade e os empresários locais eram desvalorizados. A reunião do secretário teve tom informal e serviu para que Arzua ouvisse dos empresários as principais reclamações sobre questões tributárias e fiscais no Estado. Sobrecarga tributária, excesso de burocracia e corrupção de fiscais foram alguns dos temas levantados. JORNAL DA ACIL/Dezembro 15 LONDRINATAL 2003 Um novo conceito de Natal ACIL e Prefeitura fazem parceria para vender a Cidade como ponto de compras e turismo A Londrinatal 2003 que está no ar é a mais abrangente já realizada pela ACIL. A campanha deste ano é resultado de uma parceria entre a ACIL e a Prefeitura de Londrina e segue uma nova proposta, a do Natal Conceitual. A idéia sobre a qual foram montadas as peças publicitárias é vender Londrina como uma excelente opção de compras e passeio com atrativos culturais e artísticos únicos no Estado. Londrina é um verdadeiro e estratégico centro comercial e de lazer com plenas condições de receber consumidores de todas regiões do Paraná. Tanto que a Londrinatal 2003 será veiculada no Estado todo. As peças publicitárias vão ressaltar, além do potencial comercial da Cidade, os horários especiais Campanha deste ano é a mais abrangente já realizada pela Associação do comércio em dezembro e também os atrativos turísticos e os eventos culturais realizados no município durante o mês. A mídia total da Londrinatal 2003 é estimada em mais de R$ 500 mil. Com um detalhe fundamental: não haverá qualquer custo para os associados da ACIL. Outro fator determinante para a escolha deste formato foram as dificuldades impostas pela legislação para a realização de campanhas de sorteio vinculado às compras. A Londrinatal 2003 é mais uma ação desenvolvida pela ACIL na defesa dos interesses da classe empresarial e de seus associados. Compre essa idéia e leve o clima da campanha para dentro de sua empresa. LUZES DA SERGIPE A Rua Sergipe tem um brilho muito próprio neste final de ano. A quadra entre as ruas São Paulo e Professor João Cândido recebeu iluminação de Natal idealizada e custeada pelos comerciantes em sistema de cotas. A iniciativa reuniu 22 donos de lojas, numa adesão de quase 100%, e o investimento chegou a R$ 18 mil. Além da iluminação, explica o empresário Edvaldo Gomes de Souza, os lojistas também contrataram seis seguranças, que ficam distribuídos em pontos estratégicos da rua. O maior gasto foi com a compra dos postes de metal, R$ 5 mil. Souza afirma que a idéia é aproveitar a estrutura básica em outras datas comemorativas e que a mobilização é um exemplo de parceria privada que pode ser experimentada por empresários da Cidade toda. É uma experiência nova, até mesmo para o poder público, que às vezes vê com ressalvas as idéias que surgem nestas situações. Tivemos que resolver questões técnicas e burocráticas que não imaginávamos, mas no fim tudo deu certo, explica Souza. Flores solidárias Os alunos da Guarda Mirim estão produzindo 1.500 vasos de amaryllis na estufa do engenheiro florestal Leandro D Ambrósio. O trabalho faz parte do projeto Ensine o saber que eu faço nascer, cujo objetivo é capacitar os jovens para o cultivo de plantas ornamentais. As flores resultantes desse primeiro treinamento serão comercializadas e a arrecadação servirá para somar recursos necessários à construção de uma estufa na instituição. Esse projeto tem o apoio da Editel, Cidade das Flores e da ACIL. Informações pelo telefone 3374-3042. ECOLOGICAMENTE CORRETO A construtora Estruturex lançou, durante a comemoração dos dez anos de fundação da empresa, um sistema de captação e armazenamento de águas da chuva em edifícios residenciais para uso em vasos sanitários e áreas comuns do condomínio. O Condomínio Residencial DeAngelo é o primeiro edifício a instalar o sistema em Londrina. O sistema utilizado no edifício foi concebido pela Estruturex e projetado pela Hidraluz. A água é captada no telhado, filtrada e armazenada em reservatórios elevados para o uso na área comum do prédio. Nosso papel na engenharia é encontrar meios de recompor o fluxo natural da água diante das intervenções que o homem produz na natureza, afirma o engenheiro César Ballarotti, que divide a sociedade da Estruturex com o também engenheiro Everaldo Pletz. O sistema de captação da água da chuva é resultado de pesquisas desenvolvidas pelos engenheiros, que são também pesquisadores acadêmicos.

16 JORNAL DA ACIL/Dezembro PAINEL ECONÔMICO José Pio Martins Especial para o Jornal da ACIL Os transgênicos e a angústia da dúvida José Pio Martins Especial para o Jornal da ACIL O homem não é infalível. Ele busca a verdade, isto é, a mais adequada compreensão da realidade que lhe é permitida pelas limitações de sua mente e de sua razão. Mas, nunca poderá ter absoluta certeza de não serem equivocadas as suas conclusões e de não ser um erro aquilo que considera uma verdade incontestável. O homem nunca poderá ser onisciente. Por isso, o mínimo que deve fazer é submeter todas as suas teorias e idéias ao mais rigoroso exame crítico. Estas afirmações, tomei-as do genial Ludwig von Mises. O governador Roberto Requião decidiu assumir um lado na questão dos transgênicos. Posicionou-se contra. Foi aplaudido por uns e bombardeado por outros. Criticar ou aplaudir o governador apenas por simpatia ou antipatia política é atitude simplista. A gravidade do tema requer mais razão do que paixão. Sobre os transgênicos, há fortes argumentos a favor como há fortes argumentos contra. Em um debate público fui cutucado com a afirmação de que certamente os liberais vão sair em defesa das multinacionais dos transgênicos, em nome da idéia da não-intervenção do governo na economia. Alto lá! Há uma confusão no ar. O liberalismo não é uma teoria dos empresários. Estes são como qualquer agrupamento humano desejoso de atrair benefícios para si. Adam Smith, o pai da economia, já alertava que era necessário impedir que os empresários se unissem para tramar contra o consumidor. A intervenção governamental é legítima se vier para garantir a concorrência, impedir os monopólios, preservar o meio ambiente e assegurar os direitos do consumidor, aí incluído o direito a produtos não-nocivos. A ciência está longe de garantir que os organismos geneticamente modificados (OGMs) não danificam o meio ambiente e não fazem mal à saúde humana. Jorge Riechamnn, professor da Universidade de Barcelona, publicou extensa lista de relatórios e documentos de cientistas e governos ráveis, o princípio da precaução recomenda ir devagar e continuar na busca da verdade. No meio de tantas dúvidas quanto às conseqüências desses produtos, firmar posição contra a decisão do governador é precipitação. Se mais adiante a ciência der provas irrefutáveis a favor Devemos aprender a duvidar tanto dos profetas da salvação quanto dos arautos de catástofres europeus, altamente preocupantes em relação aos transgênicos. Conquanto também existam publicações favodos produtos geneticamente modificados, certamente a sociedade irá adotá-los tranqüilamente, sem receios. E se isto ocorrer, os governos acabarão cedendo às evidências e não terão como proibir o seu cultivo e a conseqüente comercialização. No momento, as incertezas científicas dão razão aos governos que ficaram contra tais produtos. Em alguns anos, se a posição adotada pelo governador se revelar correta, o mal foi evitado. Se revelar-se exagerada, será revogada. Em janeiro de 2000, os delegados de 128 países aprovaram, em Atualmente, qualquer opinião conclusiva sobre os transgênicos é arrogância intelectual Montreal no Canadá, o Protocolo de Biossegurança, que prevê a adoção do princípio jurídico da precaução. Ou seja, sem a certeza científica de que os OGMs não fazem mal à saúde e ao meio ambiente, não se deve autorizá-los. O que se pode criticar é a forma atabalhoada com que o governo federal vem, há anos, tratando o problema. Muitos são os desencontros. No cipoal de confusão, os Estados adotaram medidas desencontradas e conflitantes entre si, fato que é ruim por três razões: a) o Brasil como um todo não tem posição única, o que gera custosas pendências judiciais; b) os sinais para os investidores são confusos, o que desestimula os investimentos; c) a lei não é clara nem durável, o que contribui para sabotar o espetáculo do crescimento. Tendo-me dedicado a estudar esse assunto e a falar dele publicamente, pessoas me param para dar suas opiniões. Assusta-me a firmeza da fé nãoraciocionada. Atualmente, qualquer opinião conclusiva sobre os transgênicos é arrogância intelectual. Ninguém tem certeza de nada. No mar de dúvidas, é necessário tolerância e respeito para com idéias diferentes. Mesmo nos Estados Unidos, onde a engenharia genética prosperou e gerou as soluções transgênicas, há um intenso debate e muita divergência. O Canadá é outro país que adotou os OGMs e está no meio de um furacão de discussões que estão longe de terminar. A Argentina produz alimentos geneticamente modificados, inclusive a soja, porém mais surfou na onda do que agiu por certeza científica. Se a tolerância nasce da dúvida, devemos aprender a duvidar tanto dos profetas da salvação quanto dos arautos de catástofres, e seguir pesquisando, estudando e discutindo. É o caminho para reduzir nossa taxa de ignorância e minimizar as possibilidades de erro. Embora saiba que a marcha da ciência é inexorável, entrei para o clube da angústia... longe de qualquer certeza.

JORNAL DA ACIL/Dezembro 17 PAINEL JURÍDICO Vicente de Paula Marques Filho Especial para o Jornal da ACIL Lentidão da Justiça Civil Todos os que já precisaram utilizar o serviço estatal da Justiça sabem o quanto ele é demorado. São muitos anos até se chegar a uma decisão definitiva e depois muitas vezes ainda é necessário um novo processo para que o direito possa ser efetivamente desfrutado. Esse tempo implica despesas que muitas vezes desestimulam empresas e pessoas a exigir em juízo aquilo que realmente lhes pertence. Numa situação caótica cada um se salva como pode. Grupos econômicos organizados conseguem obter do Congresso Nacional leis que lhes asseguram processos judiciais diferenciados, procedimentos excepcionais que lhes permitem receber seus créditos com maior rapidez, como na busca e apreensão da alienação fiduciária, no leilão extrajudicial de imóveis no SFH ou SFI, etc. Mas mesmo entre os privilegiados o problema persiste e é grave. Já se disse que para todo problema complexo há sempre uma solução simples que invariavelmente é incorreta; por isso devemos descartar de pronto o discurso fácil de que o processo demora porque o juiz trabalha pouco, porque há dois recessos no ano ou porque o advogado se utiliza ilegitimamente do direito de defesa para prolongá-lo quando seu cliente não tem razão, embora devamos reconhecer que isso aqui e ali também aconteça. O problema da demora do processo judicial é mundial. Nos Estados Unidos, freqüentemente lembrados como exemplo de um judiciário rápido e eficiente, os processos costumam demorar em média dois anos, e a mesma situação se repete nos países da Europa ocidental. No Brasil o problema toma dimensões maiores devido à falta de investimento do setor público no sistema jurídico, como na ampliação do número de juízes, na modernização dos sistemas de gerenciamento de processos, na criação de cargos de juízes auxiliares, o que certamente contribuiria para desafogar o gargalo da produção jurisdicional. Isso sem contar que o próprio Estado agrava o quadro quando insiste em teses superadas só para adiar o pagamento de obrigações perante credores: o Estado ganha com a ineficiência da Justiça. Ficamos então nos paliativos, reformando a legislação miúda do processo civil, malferindo garantias constitucionais, fazendo a alegria de acadêmicos e editoras de livros de Direito, como que querendo resolver juridicamente um problema que é político, ou ainda culpando uns aos outros como se o problema estivesse nas pessoas e não na concepção das instituições. Judiciário eficiente e racional é requisito essencial do desenvolvimento. Investimentos nacionais e internacionais também são definidos a partir da análise do sistema jurídico de um país, da previsibilidade das decisões judiciais, da rapidez da solução dos conflitos, da capacidade do Estado de fazer cumprir coercitivamente os contratos. Investimentos nacionais e internacionais também são definidos a partir da análise do sistema jurídico de um país O investimento no sistema jurídico, a valorização da carreira do magistrado, a modernização das estruturas burocráticas, o controle externo do judiciário também são providências indispensáveis para que o País possa crescer, gerando renda, qualidade de vida e progresso. Olhar o problema de frente parece ser o primeiro passo para uma melhora da situação atual. Vicente de Paula Marques Filho é advogado e consultor jurídico da ACIL. O Estado ganha com a ineficiência da Justiça, ao adiar o pagamento de obrigações perante credores

18 JORNAL DA ACIL/Dezembro ESPAÇO APP LONDRINA Bons princípios de Ano Novo Não há muito o que comemorar em 2003. Mas a expectativa do mercado é boa para os próximos meses O ano de 2003 já está indo e não deve deixar saudades. A perda do poder aquisitivo da população e a própria estagnação da economia fizeram do ano uma época bastante conturbada. Mas, segundo os economistas, as expectativas para o primeiro semestre de 2004 são de crescimento e de retomada dos investimentos externos. A aposta é que a economia brasileira deverá crescer para valer no ano que vem depois de dois anos de números magros. Os pilares são a queda dos juros, o recuo da inflação, a ascensão das ações e a manutenção do dólar. A análise dos profissionais da área é que o PIB exibirá um aumento de invejáveis 2,5% a 3,5%, estimulado pela melhora do humor de consumidores e empresários e turbinado também pela expansão do crédito. O cenário mundial, segundo os especialistas, também é favorável ao Brasil, já que economias importantes como os Estados Unidos e países europeus devem apresentar taxa de crescimento moderado, sem inflação, o que estimula os investidores internacionais a comprarem títulos brasileiros em busca de maiores rendimentos. O mercado publicitário, em particular, crê que existem sinais razoavelmente sólidos de que 2004 será melhor que os últimos três anos. O gerente de marketing do grupo RPC, Dirceu Simabucuru, afirma que as expectativas são positivas em função da própria política econômica. Em 2003, os investimentos em publicidade se concentraram muito no varejo dentro de uma política de busca de resultados rápidos na qual o apelo estratégico foi o preço. A nossa meta para 2004 é levar aos anunciantes a preocupação com o investimento no fortalecimento das marcas, já que a competitividade está baseada em marcas fortes e isso se faz através do investimento publicitário, agregandose diferenciais ao produto, salienta. Para o diretor comercial da Folha Setor publicitário vê sinais sólidos de que 2004 será melhor que os últimos três anos de Londrina, Carlos Macarini, a perspectiva para 2004 é de otimismo. Os indicadores macro-econômicos apontam para a retomada e o crescimento da economia brasileira com a queda de juros, aumento do dinheiro circulante, ampliação do crédito e do consumo. Depois de dois a três anos de retração absoluta, já é consenso no mercado publicitário que haverá uma ampliação dos investimentos em mídia. Não sabemos qual será o índice, mas a expectativa é de, pelo menos, manter os números de 2002, avalia. Soluções criativas Para o gerente de operações da Exclam Norte, Celso Batistella, em Londrina há dois anos, 2004 deverá ser um ano ainda melhor. 2003 foi muito bom para a Exclam, mas temos a certeza de que 2004 será ainda melhor, porque o Brasil já dá sinais de que a economia está em crescimento. O comércio está mais ativo, a agricultura bate recordes de produtividade e a indústria volta a se aquecer ofertando mais empregos. Esse cenário otimista deve contribuir para o aumento do poder aquisitivo da população. Para nós, publicitários, o desafio é encontrar soluções criativas e inovadoras, principalmente em tempos de crise. Soluções que não sejam apenas a propaganda ou a mídia tradicional, mas idéias criativas que auxiliem os nossos clientes a alcançar e superar resultados, ressalta. Valduir Pagani, da Engenho Propaganda, com 30 anos em Londrina, acredita que a retomada consistente e perceptível da economia vai acontecer mesmo em março e abril do próximo ano, apesar do mercado já apresentar sinais claros de que haverá maior investimento em publicidade com o crescimento da produção e lançamento de novos produtos. Temos perspectivas de investimentos na agência com novos equipamentos e mais contratações, principalmente nas áreas de criação e planejamento, apostando nas boas perspectivas que se desenha para 2004, afirma. A OZ Propaganda, com três anos de mercado em Londrina, vê 2004 com perspectivas de bons negócios. Trabalhamos com clientes que planejam investimentos em propaganda no ano todo. Percebemos que o mercado da comunicação vem crescendo e que existe uma postura mais ativa do empresário londrinense em relação ao investimento planejado em comunicação. As empresas já perceberam a importância de se buscar dados em pesquisas e de se criar peças publicitárias de qualidade, avalia Carla Rosafa, responsável pela área de atendimento e planejamento da agência. Para Rafael Sampaio, editor da revista About, veículo de referência nacional no segmento publicitário, quando esta crise acabar o mercado não será, definitivamente, como o ano 2000, considerado o último vivido num processo de crescimento que vinha desde a segunda metade da década passada. Quando um ciclo de crescimento se esgota, muitas das práticas que vinham funcionando entram em colapso maior ou menor, e uma nova geração de idéias, técnicas e empresas é nutrida pela necessidade de se descobrir uma maneira de superar os tempos ruins. O retorno aos bons tempos será acompanhado da potencialização do processo de segmentação e fragmentação do mercado brasileiro, na esteira de mais competidores, do maior grau de individualidade dos consumidores e da própria oferta de mídia. Espaço APP-Londrina é uma publicação da Associação dos Profissionais de Propaganda Capítulo Londrina em parceria com a Associação Comercial e Industrial de Londrina. Sede: Rua Minas Gerais, 297, 2 o andar Edifício Palácio do Comércio Tel.: (43) 3329-5999. Endereço eletrônico: applondrina@sercomtel.com.br Edição: Midiograf Texto: Claudia Romariz Editoração eletrônica: Jornal da ACIL APP-Londrina Presidente: Rafael Lamastra Jr. Vice-presidente: JB Faria Diretor financeiro: Nivaldo Benvenho Diretora secretária: Rosana Modelli Kuhnlein Diretores e membros do Conselho de Administração: Antonio Carlos Macarini, Carlos Roberto Cunha, Cláudia Romariz, Francisco Senra Neto, Maria Aparecida Miranda, Nilton Tanabe, Renato Bastos Junior, Rosana Andrade, Valduir Pagani e Wagner Rodrigues Conselho Fiscal: Alexandre Pankoski, Carlos Umberto Forti Galli, José Jarbas Gomes da Silva, Luiz Felipe Moreira de Souza, Milton Fabrício Pereira e Victor Gouveia

JORNAL DA ACIL/Dezembro 19 CRÔNICA Jota Oliveira Especial para o Jornal da ACIL O lago Miriam Debértolis Especial para o Jornal da ACIL Passo entre as árvores e chego à pista que foi coberta com uma camada de pedras minúsculas para que não sujemos nossos tênis de terra vermelha. São muitas árvores... Os ibiscos não ficam perto do lago e, de longe, parecem arvorezinhas artificiais com suas flores que salpicam de vermelho a folhagem verde escura e parecem feitas de papel crepom. Atravesso as passarelas de madeira e olho a água marrom que, vista à distância, finge ser verde. Algumas touceiras de folhagem que ficam à beira do lago tentam vencer os podadores de mato que insistem em não deixá-las crescer. Elas querem mostrar suas flores vermelhas. Eu me lembro delas no verão passado, pareciam bem reais. Ainda se podem ver ipês floridos. Algumas árvores se encheram com cachos de flores minúsculas e desbotadas rosa ou lilás? Alguém plantou um pé de girassol que agora está florido. Colocaram uma estaca de bambu para que ele agüente o próprio peso. Os bombeiros têm uma ótima vista. Depois de um amontoado de pedras vê-se que uma parte do lago foi circundada por gabiões que agora estão impregnados de terra e vegetação. Quando me aproximo da avenida e da ponte posso ver o outro lado do lago, mas lá não se pode caminhar por toda a volta. Tem-se que ir e vir pela mesma paisagem. Olhando para este lado vejo a cascata artificial e percebo que aqui meu caminhar é contínuo; não existe um voltar e a caminhada termina quando eu quiser. Eu conheço os dizeres de todas as placas que foram colocadas nesta volta. Alguns pedaços do caminho ficam sempre à sombra das árvores. Apesar de estar bem próxima da rua eu consigo ignorar totalmente o vai e vem dos automóveis. As aves não se importam com a poluição orgânica e química, mergulham e pescam. Os pescadores também não se importam. Mas eu também vejo lâmpadas quebradas e fico com a certeza de que quem fez aquilo não caminha aqui como eu. Dois homens em um bote garimpam a sujeira que as pessoas atiram no lago. Sacolas, copos, garrafas. Latas de cerveja e refrigerantes. Maços de cigarro. O que mais? Quando saio daquele Apesar de estar bem próxima da rua eu consigo ignorar totalmente o vai e vem dos automóveis caminhar circundante e vou voltando para o meu dia posso ver no caminho, na rua, ipês e bicos de papagaio que estão floridos, mas eles têm donos. No lago, na beira do lago que a despeito da poluição me deixa com uma sensação de paz, eu sei que posso encontrar a cada dia um detalhe com cara de novidade. O musgo no tronco de árvores bem velhas, as pitangueiras e amoreiras que resolveram nos dar seus frutos...ou mais uma lâmpada quebrada. Eu espero amanhã repetir a caminhada. Amanhã e depois e depois... depois. Miriam Debertolis é... Dois homens em um bote garimpam a sujeira que as pessoas atiram no lago

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