PLANO DE CONTIGÊNCIA PARA AS TEMPERATURAS EXTREMAS ADVERSAS SAUDE SAZONAL: VERÃO E SAUDE - 2016 1. INTRODUÇÃO A exposição ao calor intenso, em especial durante vários dias consecutivos, pode provocar graves riscos para a saúde humana, nomeadamente problemas do foro cardíaco e respiratório, situações de desequilíbrio hidro-eletrolítico e problemas cutâneos. Estas situações, podem obrigar a cuidados médicos urgentes e provocar um aumento da mortalidade. A nível ambiental, há a salientar o aumento da poluição atmosférica e da concentração de poeiras provenientes do Norte de África, doenças transmitidas através da água e dos alimentos, o aumento da população de vetores, como mosquitos e carraças e a ocorrência de incêndios. Existem vários fatores condicionantes de risco para a saúde, relacionados com esta problemática, nomeadamente: -Fatores pessoais: idosos com idade superior a 65 anos, crianças com idade inferior a 5 anos, portadores de doenças crónicas, obesos, consumidores de álcool e drogas, imunodepremidos, doentes submetidos a certas terapêuticas (anti-hipertensores, antiarrítmicos, diuréticos, antidepressivos, neurolépticos, entre outros), doentes acamados ou com mobilidade condicionada, doentes mentais. - Fatores sociais, laborais ou ambientais: pessoas que vivam sós, isolados, em habitações degradadas e com deficientes condições de climatização, sem abrigo, pessoas expostas ao calor por questões laborais, contaminação ambiental, zonas urbanas, exposição continuada durante vários dias a temperaturas mínimas e máximas elevadas. - Fatores locais: os efeitos das temperaturas elevadas e das ondas de calor dependem do nível de exposição (frequência, gravidade e duração), da população exposta e da sensibilidade desta. 1
Desta forma, não é surpreendente que a relação entre a temperatura e os seus efeitos na saúde mostre algumas diferenças entre os elementos da população, bem como da localização geográfica. Segundo um estudo da Agência Europeia do Ambiente (APA), a década de 2002-2011 foi a mais quente da Europa e a temperatura média da atmosfera à superfície foi 1,3ºC mais quente do que a média no período pré industrial, sendo que as ondas de calor aumentaram em frequência e duração (APA, 2012). Decorrente da sua localização geográfica, Portugal poderá ser um dos países europeus mais vulneráveis aos fenómenos climáticos extremos, com uma tendência para um aumento da temperatura média e um acréscimo do número de dias por ano com temperaturas elevadas (Santos e tal., 2006). Em Portugal, em 2006 o número de óbitos associados à ocorrência de Ondas de Calor foi de 1 259, a maioria com idade superior a 75 anos. Em 2010,estimou-se um excesso de mortalidade nos períodos de calor intenso de 2 167 óbitos (Relatório Final de Avaliação-PCOC 2010). Em 2013 foi determinado pelo INSA, um excesso de mortalidade de 1 684 óbitos (Relatório Final de Avaliação- PCTEA 2013). A DGS tem vindo a implementar desde 2004, o Plano de Contingência para Ondas de Calor, durante o período compreendido entre 15 de Maio a 30 de setembro podendo ser activado em função das condições meteorológicas verificadas, antes ou depois daquelas datas. Este Plano pretende ser um instrumento estratégico, reforçando a intervenção dos Serviços de Saúde, através das Autoridades de Saúde em estreita articulação com os Serviços de Proteção Civil, Segurança Social e demais parceiros, com competências e atribuições no âmbito da proteção da população. Em 2006,efetuou-se uma atualização dos procedimentos deste Plano, por Despacho do Diretor-Geral da Saúde, atribuindo a responsabilidade da avaliação e gestão do risco para a saúde das populações, a nível regional às ARS, local às ULS e aos ACES, dado o conhecimento que estas têm das especificidades locais, designadamente geodemográficas e ao nível da gestão de recursos. 2
Em 2011, pela evidência de que a exposição a temperaturas elevadas, constitui um risco para a saúde, mesmo sem se tratar de uma Onda de Calor (definição climatológica), adoptou-se a designação de Plano de Contingência para as Temperaturas Extremas Adversas Módulo Calor. Apartir deste ano os módulos de Verão e de Inverno serão incluídos no Projeto Saúde Sazonal e designados como Planos Inverno e Saúde e Verão e Saúde. Pretende-se assim, valorizar a intervenção e comunicação contínuas ao longo do ano, adaptando-as à sazonalidade e às suas especificidades. O Plano Verão e Saúde é activado entre 15 de Maio e 30 de Setembro. NÍVEIS, CRITÉRIOS DE ALERTA E MEDIDAS DE INTERVENÇÃO São definidos 4 níveis de risco, para avaliação a nível da Região, definidos pelo Meteo Alarm/Europa Nível 1 (VERDE): Situação de vigilância Temperatura máxima <ou igual 32º C; Temperatura mínima <23º C Não são previsíveis efeitos negativos na saúde. Medidas/Intervenções: - Manutenção da situação de vigilância; - Assegurar a manutenção das medidas gerais. Nível 2 (AMARELO): São previsíveis efeitos sobre a saúde, necessidade de cuidados na prática de actividades ao ar livre e que sejam exigidos esforços físicos Temperaturas elevadas que podem provocar efeitos negativos na saúde. É emitido, quando ocorre um dia com temperaturas máximas observadas iguais ou superiores a 32ºC e menores de 35ºC em que estão previstos mais dois dias com as mesmas temperaturas; Temperaturas mínimas maiores ou igual a 23ºC e <que 25ºC 3
Medidas/Intervenções: -Divulgação da informação e recomendações à população, às entidades competentes de saúde e a outros sectores institicionais, incluindo a comunicação social; -Reforço da capacidade de respostas das unidades prestadoras de cuidados de saúde e outras; - Assegurar, em articulação com a USP a vigilância dos grupos mais vulneráveis; - Reforçar a verificação do correto funcionamento dos sistemas de climatização em todos os Serviços. Nível 3 (Laranja): Prováveis efeitos sobre a saúde, necessário estar atento aos riscos de exposição. Seguir as orientações das Autoridades Este Alerta é emitido quando ocorre um dia com temperaturas observadas <ou iguais a 35ºC e menores que 38ºC e dois dias de temperaturas previstas iguais às anteriores e temperaturas mínimas> ou iguais a 25ºC e <ou igual a 26ºC. Medidas/Intervenções: - Reforçar as medidas aplicadas no nível 2; - Preparação para eventuais medidas de emergência. Nível 4 (VERMELHO): São esperadas consequências graves em termos de saúde e mortalidade É emitido, quando ocorrem três dias com temperaturas máximas observadas iguais ou superiores a 38ºC e em que estão previstos mais dois dias com temperaturas iguais ou superiores a 38ºC. Temperaturas mínimas três dias de temperatura observadas e dois dias de temperaturas previstas> a 26ºC. 4
Medidas/Intervenções: -Divulgação da informação e recomendações à população, às entidades competentes de saúde e a outros sectores institucionais, incluindo a comunicação social. -Articulação com as entidades da saúde e com as entidades incluídas nos Grupos Operativos Regionais; - Articulação com as entidades de emergência para promover o transporte para os locais de abrigo, se necessário; -Assegurar o acompanhamento de grupos mais vulneráveis-idosos institucionalizados, crianças e pessoas a viverem isoladas ou com mobilidade reduzida; -Assegurar a capacidade de resposta das unidades prestadoras de cuidados de saúde. O nível de alerta emitido a nível regional deve ser ajustado localmente considerando as especificidades geográficas, demográficas e culturais de cada Distrito/Concelho. Estes níveis de risco comunicados pela ARS/DSP têm como principal objectivo informar os profissionais dos Serviços da necessidade de accionar as medidas definidas para o respectivo nível. 2. OBJETIVO GERAL Promover a proteção da saúde da população em geral e dos grupos de risco em particular, abrangidos pela ULS da Guarda contra os efeitos negativos dos períodos de calor intenso através de uma eficaz avaliação do risco e do desenvolvimento de respostas apropriadas pelas entidades competentes da saúde, com base na disponibilização de toda a informação considerada pertinente e em colaboração com todas as entidades envolvidas. 5
3.OBJETIVOS ESPECÍFICOS 3.1- Identificar e definir os interlocutores do PCTEA para os Cuidados de Saúde Primários e Hospitais. Sendo os interlocutores: Diretor Clínico da ULS da Guarda Dr. Gil Barreiros Coordenadora da Unidade de Saúde Pública Dra Ana Isabel Viseu Responsável pelo PCTEA da ULS da Guarda - Dra Maria da Assunção Ferreira MEDIDAS DE SAÚDE PÚBLICA 3.2- Garantir a articulação interinstitucional dentro e fora do sector da saúde, nomeadamente com a Protecção Civil, Segurança Social, Autarquia, PSP e GNR. 3.3- Divulgar e aplicar as medidas de intervenção de acordo com o tipo de Alerta. 3.4- Divulgar o PCTEA aos profissionais da ULS, nas Reuniões de Serviço. 3.5- Divulgar informação para a população em geral e para os grupos mais vulneráveis em particular, sobre efeitos na saúde e medidas a adotar em situação de calor intenso. Promover a utilização da Saúde 24 (808 24 24 24), com o 1º contacto com o Sistema de Saúde. 3.6- Identificação e actualização do registo das Instituições existentes nos Concelhos de abrangência da ULSG e verificação das suas condições de climatização Estruturas residenciais para pessoas idosas e pessoas com deficiência Serviços de Saúde Públicos (com e sem internamento) Serviços de Saúde Privados com Internamento Creches e Infantários 6
3.7- Assegurar a articulação com as entidades locais para garantir que as medidas de prevenção de ondas de calor contemplem as pessoas em situação de dependência no domicílio, nomeadamente idosos acamados e a viver sozinhos. Identificação dos idosos que vivem sozinhos e/ou isolados e destes os que não têm apoio familiar ou de IPSS, com nome, residência e contacto telefónico, em articulação com a GNR e PSP; Identificação dos idosos acamados/ dependentes no domicílio; Identificação dos locais com condições de climatização protectoras dos efeitos do calor (Abrigos) que possam ser utilizadas pelas populações, se necessário. 3.8- Garantir que os utentes incluídos nos grupos vulneráveis são encaminhados para locais com temperatura adequada, em articulação com as entidades locais, em caso de necessidade. Para a prossecução deste objectivo a Unidades de Saúde Pública, através do Delegado de Saúde Coordenador e restantes Delegados de Saúde, procedem à sinalização em cada concelho dos grupos vulneráveis das pessoas alvo de atenção crítica, bem como à identificação e caraterização dos locais de abrigo e dos meios de transporte, em articulação com as estruturas de Proteção Civil e da Segurança Social, assim como outras entidades, nomeadamente IPSS, Paróquias, Juntas de Freguesia, Autarquias, Bombeiros, Cruz Vermelha, PSP, GNR, entre outras. A localização destes locais deve ser transmitida à ARS. 3.9- Preenchimento do formulário relativo à informação de retorno com as medidas tomadas em caso de Alerta Amarelo e Vermelho e casos associados aos efeitos do calor 7
PRESTAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE (Serviços do SNS de ambulatório e internamento) 3.10- Garantir os recursos humanos, materiais e condições das instalações dos serviços de saúde (CSP e Hospitais) para fazer face às ondas de calor e dar resposta às necessidades dos utentes Para a prossecução deste objetivo é necessário, de acordo com a tipologia do Serviço: - Implementar o Plano de Contingência; - Promover a utilização da Linha de Saúde 24 como o primeiro contacto com o sistema de saúde; - Garantir a articulação interinstitucional dentro e fora do sector da saúde; - Identificar previamente e gerir as necessidades em estruturas, equipamentos e recursos humanos, com especial atenção aos períodos de férias; - Garantir a existência de salas climatizadas e o seu funcionamento; - Garantir a adequação de cuidados, incluindo a hidratação (deve estar prevista a disponibilização de abastecimento de água nas salas de espera); - Informar os profissionais de saúde e a população, em especial os grupos de risco, sobre medidas relacionadas com: Prevenção dos efeitos do calor na saúde; Prevenção de outros acontecimentos cuja frequência aumenta no Verão (como afogamentos, acidentes, toxinfeções alimentares e presença de vectores); - Adequar a oferta de consultas e de recursos: Adequar os horários da consulta aberta ou de recurso; Adequar o número de consultas para pedidos no próprio dia; Adequar a capacidade de atendimento nos Serviços de Urgência Básica e Serviços de Urgência; - Cuidados de internamento: Garantir a disponibilidade de camas; Verificar os stocks de medicamentos; Prever a necessidade de expansão da área de internamento; Adequar a capacidade instalada de cuidados intensivo (quando aplicável e se necessário); 8
Promover a climatização dos espaços de internamento; Garantir medidas que minimizem os efeitos negativos do calor nos doentes internados, nomeadamente a correta hidratação a adequação da dieta. As medidas recomendadas são activadas quando necessário e de forma adequada, em função da avaliação do risco, por decisão da ARSC e dos respectivos ACES/ULS, Hospitais/Centros Hospitalares e Coordenação Regional da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) AVALIAÇÃO DO RISCO/INFORMAÇÃO/COMUNICAÇÃO De acordo com o definido no Plano Saúde Sazonal: Verão e Saúde PCTEA 2016, a avaliação de risco para efeitos de aviso e/ou para a população, na ARSC é efetuada pelo Departamento de Saúde Pública (DSP) em colaboração com as Unidades de Saúde Pública (USP) com base na escala de avisos meteorológicos. O Grupo Operativo Regional sediado no DSP enviará às USP, Diretores Executivos, C.Admin.dos Hospitais/Centros Hospitalares/ULS e à RNCCI, e-mail ou SMS (fim de semana), dando conhecimento do nível de risco sempre que o mesmo seja classificado de 2, 3 ou 4. 3.11- No PCTEA da ULS da Guarda é definido que os avisos dos níveis referidos anteriormente são comunicados pela USP/Responsável pelo Plano para os profissionais de Saúde dos Núcleos de Saúde Pública e Chefes de Urgência, por via informática, telefónica ou pessoal. É também de referir a importância da sua comunicação para todos os órgãos de comunicação social, através do Gabinete de Comunicação e Imagem da ULS. 3.12- Garantir o preenchimento dos formulários relativos à informação de retorno com as medidas tomadas em caso de afluência anormal aos serviços, associados aos efeitos do calor e relativos ao Plano de Contingência para temperaturas extremas adversas da ULS da Guarda. 9