CARACTERÍSTICAS E TENDÊNCIAS DA CONSTRUÇÃO DA PAISAGEM URBANA CONTEMPORÂNEA DE ARAGUARI (MG), BRASIL

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Transcrição:

CARACTERÍSTICAS E TENDÊNCIAS DA CONSTRUÇÃO DA PAISAGEM URBANA CONTEMPORÂNEA DE ARAGUARI (MG), BRASIL CHARACTERISTICS AND TENDENCIES OF THE CONTEMPORARY URBAN LANDSCAPE CONSTRUCTION OF ARAGUARI (MG), BRAZIL DE OLIVEIRA, Lucas Martins (1) (1) Mestrando em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo FAUUSP, Brasil RESUMO O trabalho dá continuidade à pesquisa O processo de configuração do sistema de espaços livres na forma urbana de Araguari (MG) e tem como objetivo o estudo da paisagem urbana da cidade por meio de seu sistema de espaços livres, utilizando o método de análise proposto pela rede de pesquisa QUAPA-SEL (QUEIROGA et al, 2011). Foram identificados, mapeados e definidos os tipos de espaços livres que conformam o sistema, apresentando sua categorização, aspectos relevantes dos espaços livres privados, dinâmica de produção, distribuição e inter-relações entre seus elementos. Apresenta-se, também, as tendências observadas na construção da paisagem contemporânea e as potencialidades de qualificação. ABSTRACT The paper presentes part of the research The configuration process of open spaces system on urban form of Araguari (MG) and aims the analysis of city s landscape through its open spaces system, using the research method proposed by QUAPÁ-SEL brazilian network group (QUEIROGA et al, 2011). Have been identified, mapped and defined the types of open spaces that make up the system, presenting their categorization, relevant aspects of private open spaces, dynamic of production, distribution and interrelationships among its elements. Furthermore, it presentes the tendencies observed in the construction of contemporary landscape and potential quailification. PALAVRAS-CHAVE: sistema de espaços livres; forma urbana; cidade média brasileira. KEY-WORDS: open spaces system; urban form; brazilian medium-sized city. INTRODUÇÃO O artigo tem como objeto de trabalho a paisagem urbana de Araguari (MG, Brasil), analisada por meio de seus espaços livres de edificação na escala intraurbana. Utiliza-se como base teórico-conceitual a definição de sistema de espaços livres, entendido, em síntese, como os elementos e as relações que organizam e estruturam o conjunto de todos os espaços livres de um determinado recorte urbano (QUEIROGA et al, 2011, p. 13). Aplica-se o método de análise proposto pelos mesmos autores, com destaque para a identificação dos tipos e suas características de porte, distribuição, inter-relações e dinâmica de produção existente e potencial. Dado aos limites do artigo, não foram estendidos todos os fatores indicados, entretanto, buscou-se não prejudicar a compreensão da análise do sistema. O município em estudo ocupa uma área de 2.774 km², localiza-se na porção norte da região do Triângulo Mineiro e insere-se geograficamente no encontro dos vales dos rios Paranaíba 177

e Araguari, na bacia do rio Paraná. Cerca de 52% de sua área é remanescente do Bioma Cerrado e 48% do Bioma Mata Atlântica. O clima do município é classificado como Tropical de Altitude e sua topografia é característica de planaltos, com uma altitude média de 921 m. A população atual é estimada em 114.970 habitantes, com cerca de 94% localizados em área urbana. A prestação de serviços e a atividade agroindustrial formam a base de sua economia (19º PIB entre os municípios do estado). O município apresenta um IDH relativamente alto para o país (0,773), entretanto o baixo Índice de Gini (0,42) indica uma grande disparidade de renda entre seus habitantes. (IBGE, 2014) Nos dias atuais observa-se um esforço de pesquisa sobre as relações existentes entre o sistema de espaços livres e a forma urbana das cidades da região, com pesquisas em andamento sobre estes aspectos aplicados às principais cidades médias (Uberlândia, Uberaba, Patos de Minas, Araguari e Ituiutaba), vinculadas às instituições de ensino superior FAUeD-UFU, UNIUBE e FAUUSP. Espera-se que tais pesquisas contribuam de modo efetivo para uma melhor compreensão da paisagem urbana da região. CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES O levantamento dos espaços livres de edificação foi feito com base na carta Planta Geral da Cidade Sistema de Referência Cadastral (2013), cujos dados foram verificados e atualizados a partir do mosaico de imagens de satélite Google (2013), do registro fotográfico aéreo realizado pelo Laboratório QUAPÁ - FAUUSP (2013), bem como dados conferidos in loco, quando necessário. Cabe destacar que a Diretoria de Planejamento Urbano, divisão da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Habitação da Prefeitura Municipal, a qual disponibilizou os documentos cartográficos, não conta com base georreferenciada, fato que dificulta a sistematização dos dados coletados, bem como expõe fragilidades da gestão pública sobre o espaço urbano de Araguari. Além das vias e passeios (ruas, avenidas, travessas e vielas), a cidade apresenta diferentes tipos de espaços livres públicos, como praças, parques, canteiros centrais, faixas de domínio, áreas de preservação ambiental, campos de várzea, entre outros. Entretanto são as praças (32 oficializadas) e os canteiros centrais que marcam a paisagem da cidade nesse aspecto. Destes, poucos apresentam projeto paisagístico relevante, com exceção de algumas praças centrais, de maior visibilidade e valor simbólico, demarcadas ainda no projeto de expansão urbana da cidade de 1895 (COCOZZA; OLIVEIRA, 2012). Na periferia nota-se a qualificação pontual de alguns espaços, mas os estoques de espaços livres de recreação não qualificados se sobressaem. Os canteiros centrais das principais avenidas possuem alguns segmentos qualificados mas ainda pouco contribuem para inter-relações do sistema. 178

A cidade apresenta dois parques urbanos nucleares de pequeno porte, sendo um associado a uma reserva de mata nativa e outro a eventos. Dado a característica de implantação urbana em planalto (chapada) e distante de cursos d água consideráveis, a cidade não conta com uma estrutura de espaços livres associada à Áreas de Preservação Permanente. Entretanto, a expansão urbana já toca áreas de nascentes e matas nativas antes rurais. Dentre os espaços livres associados à infraestrutura vale ressaltar a presença de áreas de captação de água subterrânea que abastecem a cidade. Estas áreas estão distribuídas por toda a cidade e configuram significativo estoque de áreas livres, entretanto possuem acesso restrito à Superintendência de Água e Esgoto. Acrescenta-se ao levantamento realizado os espaços livres associados a edifícios e entidades de serviços públicos, espaços livres privados de uso coletivo e particulares. Os dados coletados foram mapeados e apresentados a seguir. Figura1: Mapa de espaços livres públicos de Araguari. Elaboração: Autor, 2014. 179

Figura 2: Principais espaços livres públicos de valor simbólico e de apropriação em Araguari em sentido horário: Praça Nilo Tabuquini (da Matriz), praça Getúlio Vargas, canteiro central da avenida Cel. Teodolino e Bosque Municipal. Fotos: Acervo QUAPÁ (2013). Elaboração: Autor. Em relação aos espaços livres privados, considera-se que a apresentação de um panorama sobre este subsistema é importante para a compreensão do sistema de espaços livres e suas relações com a ocupação urbana. Na região central observa-se taxas de espaços livres intraquadra menores que 30%, característica também observada nos conjuntos de habitação social consolidados, devido a ampliação completa dos embriões residenciais nos lotes usualmente de menor dimensão. Na área pericentral as taxas de espaços livres intraquadra variam entre 30% e 50%. Nela observa-se ainda a presença de quintais, favorecidos por lotes profundos propiciados pelo parcelamento em quadras de maior porte. Na periferia, marcada ainda pela baixa ocupação, as taxas de espaços livres intraquadra são ainda maiores que 50%, consequência não de lotes com menor taxa de ocupação, mas de quadras com lotes ainda não ocupados. Tal característica encontra-se presente em 3/5 da área urbanizada. A implantação recente de conjuntos de habitação social marca a paisagem e as transformações intraquadras já são observadas, como fechamento por muros e ampliações, como garagens, varandas e edículas. Deve-se evidenciar a diferença entre a análise do espaço livre de edificação e análise do espaço permeável. Certamente, caso a abordagem fosse sobre o espaço permeável, as porcentagens apresentadas seriam menores. 180

Figura 3: Mapa de espaços livres intraquadra de Araguari. Elaboração: Autor, 2014. Referente aos espaços privados de uso coletivo, destaca-se na cidade a presença de clubes campestres, todos associados à APPs ou matas nativas. Nos dias atuais evidenciam-se na periferia os centros esportivos privados, geralmente ancorados por campos de futebol naturais ou sintéticos. Tais equipamentos possuem amplo campo de expansão na cidade, em detrimento da carência de centros esportivos públicos. 181

Figura 4: Principais espaços livres privados de uso coletivo de Araguari. Fotos: Acervo QUAPÁ (2013). Elaboração: Autor. DINÂMICA DE PRODUÇÃO DA PAISAGEM URBANA A análise da dinâmica de produção dos espaços livres mostra que os espaços livres com potencial de estruturação urbana a partir da região central foram apropriados para a estruturação viária. São estes: avenida Cel. Teodolino sobre margens do córrego Brejo Alegre (trecho de 2,5 quilômetros) e avenida Batalhão Mauá sobre faixa de domínio da ferrovia Mogiana (3,2 quilômetros). Tal falta de visão sistêmica, somada ao excesso de visão funcionalista do poder público, resultou na descaracterização destes espaços livres que, caso fossem mantidos e qualificados, hoje enriqueceriam o sistema. Obviamente, entende-se a importância fundamental do sistema viário como rede a partir da qual a cidade é entendida, bem como o momento histórico de tais intervenções (segunda metade do século XX marco da rodoviarização do Brasil). No entanto, a canalização de investimentos na qualificação deste sistema continua sendo prioridade. Nos novos loteamentos, a maximização da quantidade de lotes disponíveis e a falta de coerência com o desenho urbano é facilmente observada. A área verde perde sua representatividade enquanto praça e evidenciam-se espaços livres de recreação fragmentados e associados ao espaço livre viário como canteiros centrais e rotatórias. No empreendimento Jardim Botânico, pela primeira vez na cidade o loteamento é apresentado associado a uma APP. Em relação ao córrego Brejo Alegre, principal curso d água da cidade, apesar da potencialidade que representa para a estruturação do sistema de espaços livres, seu fundo 182

de vale restante em área urbana dificilmente abrigará um parque linear com caráter de conectividade, devido ao seu parcelamento ao longo do tempo, inclusive para atividades industriais já consolidadas. Visualiza-se, portanto, na melhor das hipóteses, trechos fragmentados (não lineares) de propriedade pública que poderão compor um sistema de recreação e lazer associado à APP. A conexão física não é determinante na avaliação qualitativa do sistema de espaços livres, pois o incremento do sistema não reside apenas na inserção de corredores verdes ao espaço urbano, mas também no arranjo espacial equilibrado de espaços livres pela mancha urbana. No entanto, a generosidade de espaços livres distribuídos na região central, herança da implantação de parte do projeto de expansão urbana, possibilita um aumento das interrelações a partir das principais estruturas potenciais de conexão que abrangem todas as regiões da cidade: avenidas Minas Gerais e Mato Grosso, Córrego Brejo Alegre e faixa de domínio da ferrovia desativada. Dado a baixa densidade de ocupação em grande parte da periferia, verifica-se ainda, não uma demanda por espaços livres, mas uma demanda pela qualificação dos espaços existentes. Os hibridismos de funções e usos, que se caracterizam por áreas de difícil categorização, mostram-se como interessantes elementos para análise, como rotatórias-praça, ferroviasparque ou avenidas-parque. As rotatórias, por exemplo, inserem-se na categoria espaços livres de circulação, mas usualmente tem em Araguari caráter de práticas sociais. Nos projetos dos parcelamentos recentes percebe-se uma pulverização desse tipo nos seus desenhos, sendo já contabilizadas como áreas de recreação. Em relação à faixa de domínio da ferrovia desativada tombada como patrimônio histórico municipal, esta insere-se no espaço livre associado a sistemas de circulação, mas as recomendações de tombamento sugerem a implantação de um parque público linear (FAEC, 2011, p.4). Já em relação aos canteiros centrais das avenidas de maior porte, ainda pouco explorados paisagisticamente, podem ser considerados importantes elementos na configuração do sistema com grande potencial de suporte a espaços de convívio e lazer. Identifica-se, ainda, como espaços potenciais para o enriquecimento do sistema as áreas de captação de água subterrânea da SAE (Superintendência de Água e Esgoto). São áreas com boa qualidade paisagística, convidativas à apropriação e bem distribuídas pela cidade. As calçadas do perímetro de algumas destas áreas já são valorizadas para a prática de caminhadas esportivas, assim como ocorre em maior destaque com os canteiros centrais de avenidas. 183

Figura 5: Nova periferia de Araguari loteamentos Jardim Botânico (esquerda) e Interlagos (direita) voltados para a classe média. Projetos: www.construtorastefani.com. Fotos: Acervo QUAPÁ (2013). Elaboração: Autor. Figura 6: Nova periferia de Araguari equipamentos logísticos-industriais e conjuntos de habitação de interesse social. Fotos: Acervo QUAPÁ (2013). Elaboração: Autor. CONSIDERAÇÕES FINAIS Buscou-se contribuir para a compreensão da dimensão social da paisagem urbana de Araguari, das relações que a conformam e a transformam, entendendo o sistema de espaços livres enquanto possibilidade de convívio social, não apenas de importância ambiental ou ecológica. O trabalho ainda contribui para uma reflexão sobre as articulações possíveis e desejadas entre os espaços livres e a sociedade. 184

As características apresentadas mostram que o sistema de espaços livres da cidade conforma-se, no momento, por elementos pontuais, de modo compacto e sem grandes estruturas de porte. Tal característica, a princípio, dificulta o entendimento da qualidade do sistema. Porém, ao ser analisado no porte e escala da cidade, observa-se uma boa distribuição na mancha urbana que possibilita a elaboração de diretrizes de qualificação da paisagem que viabilizem uma melhor apropriação pública. REFERÊNCIAS Campos, A. C. A. et al (Orgs.) (2012), Quadro dos Sistemas de Espaços Livres nas Cidades Brasileiras, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP. Cocozza, G. P. and de Oliveira, L. M. (2012), Forma urbana e sistema de espaços livres na cidade de Araguari (MG), proceedings of the VII Colóquio QUAPÁ-SEL, UFMS, Campo Grande, MS, pp. 1-12. De Oliveira, L. M. (2013), Considerações sobre os espaços livres viários no sistema de espaços livres públicos em Araguari (MG), proceedings of the VIII Colóquio QUAPÁ-SEL, UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, pp. 1-25. and Queiroga, E. F. (2014a), Caracterização do sistema de espaços livres de Araguari (MG), proceedings of the IX Colóquio QUAPÁ-SEL, UFES, Vitória, ES, pp. 1-17. (2014b), Sistema de espaços livres na forma urbana de Araguari (MG): Análise da legislação urbana, padrões de ocupação e agentes de produção, proceedings of the 12º ENEPEA, UFES, Vitória, ES, pp. 1-15. FAEC Fundação Araguarina de Educação e Cultura (2011). Inventário de proteção da linha férrea da antiga Estrada de Ferro Goiás no perímetro urbano de Araguari MG. Araguari, MG. IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2014), Cidades: Araguari, available at: cod.ibge.gov.br/2323u (accessed 5 Abr 2014) Macedo, S. S. et al (2013), Os espaços livres na constituição da forma urbana brasileira, proceedings of the Conferência Internacional PNUM, UC, Coimbra, Portugal, pp. 673-690. Magnoli, M. E. M. (2006), Espaço livre objeto de trabalho, Paisagem e Ambiente, n. 21, pp. 175-197 Queiroga, E. F. et al (2011), Notas gerais sobre os sistemas de espaços livres da cidade brasileira, in Campos, A. C. A. et al (Orgs.), Sistema de espaços livres: conceitos, conflitos e paisagens, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, pp. 11-20. 185