OS CRISTÃOS NA TERRA SANTA. GERALDO MORUJÃO* * Equiparado a Professor-Adjunto da ESEV. 1. Uma história acidentada ao longo dos séculos



Documentos relacionados
Diferença entre a Bíblia Católica e a Protestante

CONFLITO ENTRE ISRAEL E PALESTINA CLAUDIO F GALDINO GEOGRAFIA

Uma leitura apressada dos Atos dos Apóstolos poderia nos dar a impressão de que todos os seguidores de Jesus o acompanharam da Galileia a Jerusalém,

Aula 5.1 Conteúdo: As grandes Religiões de matriz ocidental Judaísmo Cristianismo Islamismo ENSINO RELIGIOSO CONTEÚDO E HABILIDADES

PROVA BIMESTRAL História

Conflitos no Oriente Médio. Prof a Maria Fernanda Scelza

A formação do Estado de Israel

MESOPOTÂMIA ORIENTE MÉDIO FENÍCIA ISRAEL EGITO PÉRSIA. ORIENTE MÉDIO origem das primeiras civilizações

ATIVIDADES ONLINE 9º ANO

CONFISSÕES RELIGIOSAS 1. Refugiados (internos)*: * Refugiados estrangeiros a viver neste país. ** Cidadãos deste país a viver no estrangeiro.

A Antiguidade Oriental Hebreus

São Paulo ganha dos companheiros. São atribuías a S.Paulo 14 cartas. Umas são dele mesmo: Romanos, 1 e 2 aos Corintios, a Filemom, aos Gálatas, aos

A Síria da Antiguidade ao Império Otomano

Ei-los que partem. Virão um dia ricos ou não contando histórias de lá de longe onde o suor se fez em pão virão um dia ou não

O povo da Bíblia HEBREUS

Gr.Bíblico. Evangelho de. Nossa Senhora Conceição. São Mateus Ano litúrgico A

Os encontros de Jesus. sede de Deus

Recursos para Estudo / Atividades

Todos Batizados em um Espírito

Nº 8 - Mar/15. PRESTA atenção RELIGIÃO BÍBLIA SAGRADA

Jefté era de Mizpá, em Gileade, terra de Jó e Elias. Seu nome (hebraico/aramaico - יפתח Yiftach / Yipthaχ). Foi um dos Juízes de

Por ocasião da Marcha para Jesus, o deputado Wasny de Roure. (PT-DF) pronuncia o seguinte discurso: No próximo dia 11 de

18. Convenção sobre o Reconhecimento dos Divórcios e das Separações de Pessoas

Lembrança da Primeira Comunhão

Exercícios sobre Israel e Palestina

Formação do Estado de Israel

Unidade III Cidadania e Movimento Aula 16.2 Conteúdo: Israel: uma política desenvolvida na região. A difícil criação de um Estado Palestino.

Professor Sebastião Abiceu Colégio Marista São José Montes Claros MG 6º ano

Assunto: Estudo das várias leis que estavam em operação no tempo de Cristo. 1) Lei Romana = Lei que os cidadãos obedeciam

Estes capítulos introduzem a última série de visões de Ezequiel, nas quais ele vê

" A história URCA MARCA DA NOSSA TERRA

A filha da mulher cananeia (Mateus 15:21-28). PREPARANDO MISSIONÁRIOS. O endemoniado gadareno (Marcos 5:1-20).

Easinfluências do Oriente.

TRADIÇÃO. Patriarcado de Lisboa JUAN AMBROSIO / PAULO PAIVA 2º SEMESTRE ANO LETIVO TRADIÇÃO E TRADIÇÕES 2.

Lição 07 A COMUNIDADE DO REI

Descolonização e Lutas de Independência no Século XX

Introdução à Bíblia e ao Novo Testamento

Apostila de Fundamentos. Arrependimento. Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados...

...E os discípulos puderam finalmente crer...

O CÂNON Sagrado compreende 46 Livros no ANTIGO TESTAMENTO e 27 Livros no NOVO TESTAMENTO.

É o que vamos fazer rapidamente sem nos atermos muito a datas e nomes de pessoas.

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO

Lição 4. Usando a Bíblia. A importância da Bíblia na sua vida: É muito importante que um novo cristão estabeleça o

Geografia. Questão 1. Questão 2. Avaliação: Aluno: Data: Ano: Turma: Professor:

O Movimento de Jesus

Nesta nova série Os Discursos de Jesus vamos aprofundar as Palavras de Jesus :- seus discursos, suas pregações e sermões. Ele falou aos seus

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA

IIIDomingo Tempo Pascal- ANO A «..Ficai connosco, Senhor, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite

Unidade III. Aula 16.1 Conteúdo Aspectos políticos. A criação dos Estados nas regiões; os conflitos árabe-israelenses. Cidadania e Movimento

O Calendário Judaico. Cronologia. Cronologia HARMONIZAÇÃO CRONOLÓGICA O ANO DO NASCIMENTO DE JESUS. Mt 2:1-23 Época do Nascimento:

O Mundo Islâmico ARÁBIA PRÉ-ISLÂMICA:

Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio

O Antigo Testamento tem como seus primeiros livros a TORÀ, ou Livro das leis. É um conjunto de 5 livros.

f r a n c i s c o d e Viver com atenção c a m i n h o Herança espiritual da Congregação das Irmãs Franciscanas de Oirschot

Servimo-nos da presente para apresentar os projetos e programas oferecidos pela Israel Operadora.

Unidade II Poder, Estudo e Instituições Aula 10

Capital- Montevidéu. Língua oficial: Espanhol. Governo: República presidencialista. Presidente: José Mujica. Vice-presidente: Danilo Astori

Daniel fazia parte de uma grupo seleto de homens de Deus. Ele é citado pelo profeta Ezequiel e por Jesus.

Poderá interromper e dialogar com o grupo; montar perguntas durante a exibição; montar grupos de reflexão após a exibição, e assim por diante.

RELACIONAMENTO JURÍDICO DO ESTADO BRASILEIRO COM INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS, NO QUE CONCERNE À EDUCAÇÃO

Para onde vou Senhor?

GRITO PELA EDUCAÇÃO PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO

Israel e o mundo Árabe

Poderá interromper e dialogar com o grupo; montar perguntas durante a exibição; montar grupos de reflexão após a exibição, e assim por diante.

Roteiro 5 Os apóstolos de Jesus. A missão dos doze apóstolos.

ISRAEL E A QUESTÃO PALESTINA

Economia e Sociedade Açucareira. Alan

PROVA DE HISTÓRIA 2 o TRIMESTRE 2012

JOÁS, O MENINO REI Lição Objetivos: Ensinar que devemos permanecer fiéis a Deus embora nossos amigos parem de segui-lo.

Introdução ao Evangelho

História. Programação 3. bimestre. Temas de estudo

O SR. ISAÍAS SILVESTRE (PSB-MG) pronuncia o. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,

O céu. Aquela semana tinha sido uma trabalheira!

RELATÓRIO DE VISITA MISSIONÁRIA

Futuro Profissional um incentivo à inserção de jovens no mercado de trabalho

REFORMA E CONTRARREFORMA. Professor Sebastião Abiceu 7º ano Colégio Marista de Montes Claros

Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre Brasil University of New South Wales Sydney Austrália Universidade do Povo Macau - China

ORIENTE MÉDIO CAPÍTULO 10 GRUPO 07

No princípio era aquele que é a Palavra... João 1.1 UMA IGREJA COM PROPÓSITOS. Pr. Cristiano Nickel Junior

- Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha sobre o Descobrimento do Brasil. - Fotografias da posse do presidente do Brasil

A LIÇÃO DAS GENEALOGIAS

Cerimónia de Assinatura Protocolo AICEP/CRUP

Repasse da 76a. Assembléia da CNBB Sul I Aparecida de 10 a 12/06/2013

Trabalho extraordinário em Portugal é já mais barato que trabalho realizado dentro do horário normal de trabalho

COMUNIDADE DE COMUNIDADES: UMA NOVA PARÓQUIA. Estudo 104 CNBB

Colméias de 3 mil anos são descobertas em Israel

A MULHER QUE ESTAVA PERTO DO

Outra grande civilização da Antiguidade oriental, em que o Estado possui grande poder e controle sobre tudo foi a Mesopotâmia.

Nasce uma nova Igreja

Recenseamento Geral da População e Habitação 2014

Discurso pronunciado pelo Deputado João Mendes de Jesus (PSL-RJ), em / /2005. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, Demais Presentes,

FORMAÇÃO, LOCALIZAÇÃO E DIVISÃO POLÍTICA DO BRASIL

GRUPOS NO JUDAISMO NA ÉPOCA DE JESUS

27. Convenção da Haia sobre a Lei Aplicável aos Contratos de Mediação e à Representação

A solução do BANCO i para aprovação de crédito

CONFLITO EM GAZA: ENTENDA A GUERRA ENTRE ISRAEL E OS PALESTINOS

A RECONCILIAÇÃO DE TODAS AS COISAS

Relatório de Atividades do Trabalho Social Residencial Recanto dos Pássaros Limeira/SP

Mas isso irá requerer uma abordagem pessoal, persistente, muita oração e uma ferramenta poderosa para nos ajudar a fazer isso!

Transcrição:

OS CRISTÃOS NA TERRA SANTA GERALDO MORUJÃO* * Equiparado a Professor-Adjunto da ESEV 1. Uma história acidentada ao longo dos séculos No século V a Palestina era praticamente toda cristã, tendo aderido à fé em Cristo a maioria da população local, como resultado natural da pregação do Evangelho, e sem qualquer tipo de pressão. A maior parte dos cristãos nativos que há na Palestina gloriam-se de serem descendentes dos primeiros cristãos da primeira hora, embora tenham deixado de falar a língua aramaica, que se falava no tempo de Jesus; com as invasões muçulmanas acabaram por ser arabizados, passando falar o árabe, inclusive nos ofícios litúrgicos. Causa uma viva emoção conversar e lidar com estes cristãos, pois se tem a sensação de se estar mais perto de Jesus Cristo e dos seus Apóstolos. Tinham ficado poucos judeus, após a destruição de Jerusalém e do seu templo no ano 70, e sobretudo após o esmagamento total de focos de resistência judaica, pelo imperador romano Adriano, no ano 135. Então Jerusalém foi de novo arrasada e os judeus proibidos de ali entrar sob pena de morte, proibição que não atingia os cristãos. O impedimento só veio a ser levantado pelo primeiro imperador cristão, Constantino, embora com algumas restrições. Foi ainda no século IV, por iniciativa de Santa Helena, mãe de Constantino, que começaram a ser construídos grandes santuários a assinalar os lugares mais importantes da vida de Cristo. No século VII tiveram início as devastações dos cristãos levadas a cabo pelos sucessivos invasores da Palestina: Em 614 os persas semeiam a destruição e a morte. Pouco depois vem a conquista pelos muçulmanos comandados pelo célebre califa Omar, em 636; inicialmente houve tolerância para com os cristãos até que chegou ao poder a dinastia egípcia dos Fatimidas, tendo Al-Hakim ordenado em 1009 a destruição do Santo Sepulcro e a perseguição dos cristãos, mas a situação ainda se agravou mais com a chegada dos turcos Seljúcidas em 1040; estes impedem os cristãos de entrarem em Jerusalém. Foi esta

situação de opressão intolerável que, nos fins do século XI, levou os cruzados a lançarem-se à conquista do Lugares Santos; em 15 de Julho de 1099 entram em Jerusalém, tendo criado o Reino Latino de Jerusalém (com Balduíno I). Em 1187 os Cruzados são derrotados por Saladino, tendo acabado por cair o seu último reduto em S. João de Acre no ano de 1291. Com tudo isto, a situação veio a agravar-se para os cristãos autóctones da Palestina. E as coisas pioraram com os mamelucos, vindos do Egipto (1260-1516). Seguiu-se-lhe, com Solimão, o Magnífico, o longo período turco otomano, de 400 anos, uma época de empobrecimento, até que, a partir de 1831 até 1917, a administração foi saneada e se favoreceu a liberdade religiosa e as relações com o Ocidente, tendo aumentado a comunidade judaica com a imigração. 2. Situação político-social após a 1ª Grande Guerra Os turcos foram vencidos na Grande Guerra de 1914-1918, por isso a Palestina foi ocupada pelas forças aliadas, tendo ficado sob o "mandato britânico", por decisão da Sociedade das Nações; a imigração judaica teve um grande incremento, provocando-se uma forte tensão entre árabes e judeus. Em 14 de Maio de 1948 os ingleses abandonam a Palestina e nesse mesmo dia estala a guerra israelo-árabe, até que, sob a égide das Nações Unidas, se divide o território da Palestina, ficando constituído o Estado de Israel em 18 de Julho de 1948, a quem foi atribuída a parte ocidental de Jerusalém e mais de dois terços do território da Palestina; o restante terreno, em grande parte improdutivo, foi integrado na Jordânia juntamente com Jerusalém oriental. A maior parte dos Lugares Santos ficaram em território árabe da Cisjordânia; também aqui estava a grande maioria da população cristã. Havia então, em toda a Palestina pouco mais de milhão e meio de habitantes, sendo a população judaica apenas cerca de 42%; entre a restante população árabe, havia apenas uns 145.000 cristãos, sendo cerca de metade destes pertencentes à Igreja Católica. A população hebraica tem vindo sempre a aumentar e a árabe a diminuir, não pela diminuição da taxa de natalidade, mas pela forte emigração, dadas as difíceis condições de vida para os árabes; e isto a tal ponto que no ano de 1992, num total de 5.155.000 habitantes, 81,9% eram judeus (4.220.000), 13,9% eram muçulmanos, 2,4% eram cristãos e 1,7% drusos.

Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel, invocando razões de segurança, apoderou-se do território palestino da Cisjordânia (a Ocidente do rio Jordão) e de Jerusalém Oriental, bem como da península do Sinai e da faixa de Gaza (pertencentes ao Egipto), do Golán (a Este e Norte do lago de Genezaré, pertencente à Síria). Esta situação de unificação da Palestina, se por um lado facilitou um pouco a vida aos peregrinos e turistas da Terra Santa, por outro veio a criar enormes dificuldades aos cristãos locais, de expressão árabe. É por isso que a emigração não cessa de aumentar, havendo cada vez menos cristãos na Terra Santa. A autonomia da Palestina, fruto dos acordos assinados na Casa Branca em 1993 entre Rabin e Arafat, visa um processo de integração progressiva dos territórios ocupados em 1967, para a formação dum novo Estado Palestino. Este processo de paz tem-se esbarrado com enormes dificuldades. No entanto, uma semana após o assassinato de Rabin, 74% dos israelitas eram a favor da continuação do processo de paz; as sondagens realizadas nos territórios árabes ocupados davam uma percentagem de cerca de 70% de apoio à política de paz de Arafat. Contra este processo de paz estão, por um lado, os partidos de direita israelitas e sobretudo os colonos israelitas de Gaza (uns 5.000) e uns 140.000 colonos da Cisjordânia; por outro lado, os grupos islâmicos extremistas, como o Hamas, também estão contra. E um dos grandes pomos de discórdia, talvez mesmo o mais difícil de resolver, continua a ser o estatuto de Jerusalém Oriental. 3. As comunidades cristãs na actualidade O Estado de Israel desenvolveu, a partir de 1967, uma política de domínio de toda a Palestina, dificultando enormemente a vida aos árabes no campo da instrução e da cultura, do desenvolvimento económico, da segurança social, etc.. Isto tem vindo a provocar, como já se disse, uma forte emigração para o exterior. Mas as maiores vítimas nesta complicada situação têm sido os cristãos; com efeito, para os judeus eles são simplesmente árabes, e para os muçulmanos são gente estranha e até suspeita. Assim, sucede que têm vindo a desaparecer povoados que eram inteiramente cristãos, e algumas cidades que eram de maioria cristã passaram a ter minoria: Belém, que em 1948 tinha 75% de cristãos, agora só tem cerca de 30%. No entanto, têm melhorado as relações diplomáticas do Estado de Israel com a Igreja Católica. O desencadear do processo de paz permitiu que fossem estabelecidas relações diplomáticas normais em

1993 e também que, em 10 de Novembro do passado ano de 1997, fosse assinado um importante acordo entre a Santa Sé e o Estado de Israel, em que este reconhece a personalidade jurídica às diversas instituições da Igreja Católica estabelecidas em Israel; embora não se conceda qualquer imunidade no que se refere a impostos, reconhece-se o direito de se criarem novas dioceses. Neste acordo não se faz qualquer referência ao problema de Jerusalém, invadida por Israel em 1967, pois se trata de uma questão multilateral. No entanto, poucos dias antes, João Paulo II tinha declarado: "É necessário que as comunidades que se encontram nos Lugares Santos das três religiões monoteístas possam viver ali em concórdia e desenvolvam as suas actividades religiosas, educativas e sociais com total liberdade, com espírito de autêntica fraternidade, fazendo assim dessa cidade única a verdadeira cidade da paz". Vejamos, finalmente, como está constituído o grupo minoritário de cristãos da Terra Santa: Como já se disse, cerca de metade dos 120.000 cristãos, hoje existentes em Israel, são católicos. Dos não católicos, a maioria são ortodoxos, distribuídos pelos seguintes ritos e tradições: os Gregos Ortodoxos Melquitas, os Arménios Ortodoxos, os Coptos Ortodoxos, os Etiópicos Ortodoxos e os Sírio-jacobitas; por outro lado, estão representadas algumas comunidades da Reforma, como a anglicana, a luterana e várias seitas protestantes. Os católicos estão distribuídos por diversos Patriarcados. Os Patriarcados são umas estruturas jurisdicionais que existem no Oriente cristão. Para se entender a organização eclesiástica dos católicos da Palestina é imprescindível abstrair das estruturas jurisdicionais eclesiásticas que temos entre nós, com um bispo à frente de uma determinada circunscrição territorial, sem ter fiéis fora do seu território. Na Terra Santa temos fiéis pertencentes a diferentes Patriarcados. Em Jerusalém há Vicariatos Patriarcais para a atenção pastoral dos fiéis correspondentes; de facto, os Patriarcas de rito oriental têm fora a sua sede patriarcal. Antes de mais, vamos referir os Patriarcados de ritos orientais que agrupam as diversas comunidades cristãs autóctones, cujos fiéis são sucessores dos primeiros cristãos e que actualmente falam árabe, tendo permanecido em união com Roma. Eles formam comunidades paralelas às comunidades ortodoxas (separadas de Roma) pois têm o mesmo rito para a celebração da Liturgia. Os mais numerosos são os fiéis do Patriarcado Greco-católico melquita, uns 50.000. Temos depois os fiéis dos restantes Patriarcados orientais, os Sírio-católicos e os Maronitas. Para todos estes o seu Patriarca tem a sede em Antioquia. Temos ainda os do Patriarcado Babilónico do Caldeus, os fiéis do Patriarcado Arménio-católico e alguns fiéis do Patriarcado de Alexandria, de rito copto.

Paralelamente, temos em Jerusalém a sede do Patriarcado Latino de Jerusalém, que foi criado por ocasião das cruzadas, a que pertencem fiéis de rito latino, uns de língua árabe e que também se consideram descendentes dos primeiros cristãos, e outros que pertencem a comunidades cristãs, em geral ordens e congregações religiosas e outros fiéis do Ocidente que se instalaram na Palestina. Este Patriarcado foi criado em 1099 e restaurado em 1874, tendo tido à sua frente sempre um Bispo (Patriarca) originário do Ocidente; o actual é o primeiro Patriarca Latino palestino-árabe, Mons. Michel Sabbah, nomeado por João Paulo II. A este Patriarcado pertence a chamada Custódia da Terra Santa regida pelos frades Franciscanos (334) que desde o século XIV atendeu os peregrinos e cuidou e recuperou para os católicos (por vezes à custa da vida) cerca de 40 santuários dos mais famosos da Terra Santa; também têm a seu cuidado (dados obtidos em 1984) 39 paróquias, 22 escolas e colégios, 5 residências de estudantes, 18 centros paroquiais, 14 dispensários 4 orfanatos, 7 colónias de férias, etc. Além disso, também está integrada neste Patriarcado Latino de Jerusalém um grupo de quase 300 fiéis judeus cristãos, que vivem a sua fé à custa de grandes dificuldades, pois, sendo judeus de raça, não podem tomar partido pelos árabes e, sendo cristãos, são fortemente rejeitados pelos judeus. Celebram a Liturgia na língua hebraica e pretendem ter na Igreja Católica um estatuto semelhante ao dos primeiros cristãos de Jerusalém, que também eram judeus, e assim eles observam todas as festas e ritos judaicos, inclusive o da circuncisão. Em 1995 inaugurou-se na cidade de maioria cristã, Beit Khallá, onde fica o Seminário do Patriarcado Latino, o 1º Sínodo da Igreja Católica de Jerusalém, com a participação de elementos de todos os ritos e destinado aos cristãos residentes nos territórios de Israel, da Palestina e da Jordânia, um total de 100.000 fiéis. Também participou a pequenina comunidade judaica cristã. Bibliografia: Florentino DÍEZ, Guía de Tierra Santa. Historia y Arqueología, Estella, Ed. Verbo Divino, 1993 J. GONZÁLEZ ECHEGaray e Outros, La Biblia y su entorno, Estella, Ed. Verbo Divino, 1993 Rina GEFTMAN, Guetteurs d espérance Revista "Palabra", Madrid, passim