Efeitos indirectos do IDE para as empresas portuguesas

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Transcrição:

Efeitos indirectos do IDE para as empresas portuguesas Efeitos directos: : criação de emprego, formação de capital, aumento das receitas fiscais, alteração da estrutura produtiva e exportadora, etc. Efeitos indirectos: : impacto de longo prazo sobre a eficiência das empresas domésticas (Technology/productivity spillovers) Spillovers Horizontais vs. Spillovers Verticais 1

As EMN são mais eficientes que as empresas domésticas? Sim! Evidência praticamente consensual Hanson (2001) sintetiza a literatura empírica verificando que, em média, as EMN: - Ostentam níveis n de produtividade superiores - Pagam salários superiores - São mais intensivas em capital - São mais intensivas em trabalho qualificado Em Portugal (1996-98, 98, ind transformadora): Rácios R entre EMN e empresas domésticas de 2,13, 2,86 e 1,73 no que respeita a produtividade do trabalho, intensidade capitalística e qualificação do trabalho (Proença, I. Fontoura., M. e Crespo, N., 2006) 2

Canais de Transmissão Processo de demonstração/imita ão/imitação Mobilidade do factor trabalho Exportações Concorrência Relações verticais: com fornecedores nacionais (backward linkages) com compradores nacionais (forward linkages) 3

Como captar empiricamente a existência de spillovers do IDE? No quadro de uma regressão em que: a variável vel dependente mede a eficiência das empresas nacionais. Este Este nível n de eficiência é explicado pela dimensão (relativa) da presença a externa e por um conjunto de variáveis veis de controlo (economias de escala, concentração sectorial, intensidade capitalística, qualificação do trabalho, etc.). 4

Existem externalidades do IDE para as empresas nacionais? I. Uma visão geral da literatura II. Um exemplo de aplicação português o caso 5

Referências Principais PARTE I Crespo, N. e M. Fontoura (2007a), Determinant Factors of FDI Spillovers What Do We Really Know?, World Development, 35(3), pp. 410-425 Crespo, N. e M. Fontoura (2007b), 30 Anos de Investigação sobre Externalidades do IDE para as Empresas Domésticas Que Conclusões?, Estudos Econômicos (Universidade de São Paulo), 37(4), pp. 849-874 PARTE II Proença, I., M. Fontoura e N. Crespo (2006), "Productivity Spillovers from Multinational Corporations: Vulnerability to Deficient Estimation", Applied Econometrics and International Development,, 6(1), pp. 98-98. 98. Flôres, R., M. Fontoura e R. Santos. (2007), Foreign Direct Investment Spillovers in Portugal: Additional Lessons sons from a Country Study The European Journal of Development Research,, vol. 19, n. 3, pp. 372-390 390 Crespo, N., M. Fontoura e I. Proença a (2008), FDI Spillovers at Regional Level: Evidence from Portugal, Papers in Regional Science,, forthcoming. 6

Vagas de análise empírica 1ª vaga anos 70, 80 e início dos anos 90 (predominantemente dados seccionais e sectoriais): evidência maioritariamente positiva 2ª vaga anos 90 e início desta década d (dados de painel e micro-dados): evidência ambígua 3ª vaga actualidade: análise dos factores determinantes da ocorrência de spillovers 7

Dados de painel sim, mas... Estudos com dados de painel clássicos não são fiáveis na presença a de (Proen( Proença, I, M. Fontoura e N. Crespo, 2006): -Factores não observados que explicam a heterogeneidade das empresas no que se refere à produtividade relacionados com as características das empresas -Variáveis explicativas predeterminadas ou endógenas 8

Factores determinantes Capacidade de absorção + gap tecnológico Necessidade de existência de um gap moderado entre EMN e empresas domésticas (ex: Kokko, 1994; Wang e Blomström, m, 1992; Kinoshita, 2001; etc.). Capacidade de absorção depende do nível n de desenvolvimento das regiões? ( ex: Reganati (1999), Sgard (2001), etc.) 9

Factores determinantes Proximidade geográfica entre EMN e empresas nacionais Os efeitos de spillover têm uma dimensão espacial limitada, decrescendo com a distância? (Audretsch, 1998, Girma, 2003; Torlak, 2004; Jordaan, 2005; Halpern e Muraközy, 2005) 10

Outros factores f determinantes Capacidade exportadora das empresas domésticas Dimensão Dimensão da empresa nacional País s de origem do IDE Modo Modo de entrada do IDE Existência Existência de direitos de propriedade intelectual Grau Grau de controlo externo da empresa Grau Grau de utilização de inputs intermédios 11

Outros factores determinantes Tipo de formação do trabalho Nível de concorrência Motivação do IDE (technology exploiting FDI vs. technology sourcing FDI) Tempo decorrido desde instalação da EMN Valor da tecnologia 12

II Aplicação ao caso português Indústria transformadora (2 dígitos d da CAE - revisão 2) Regiões (275) - concelhos + concelhos de fronteira Método de estimação: System GMM (Blundell e Bond, 2000) Variável dependente: : PROD (produtividade do trabalho da empresa doméstica) Variáveis de controle: - SL (qualificação do trabalho) - CI (intensidade capitalística) - H (concentração sectorial) com dados de produção - SE (economias de escala) - EA (efeito de aglomeração) - Variáveis dummy anuais para controlar a evolução da produtividade 13

Variáveis veis-chave para controlar efeitos de spillover FP1: : peso, em termos de emprego, das EMN no total do sector em que a empresa nacional i se insere - spillovers intra- sectoriais. FP2: : forward linkages (empresas nacionais adquirem bens às EMN)- spillovers inter-sectoriais FP3: : backward linkages (empresas nacionais fornecem bens às s EMN)- spillovers inter-sectoriais FP4, FP5, FP6: : as mesmas variáveis veis à escala regional 14

Bases de dados 1) Dun & Bradstreet (variável vel dependente e variáveis veis de controlo) - 1303 empresas domésticas/ano = 6515 obsv. - 266, 262, 300, 322 e 275 EMN para os anos em análise 2) Quadros de Pessoal (variável vel que mede a presença a estrangeira) Dados de 2000: cerca de 47 000 empresas e 835 000 pessoas ao serviço) 15

a) Importância do gap tecnológico O factor gap tecnológico é relevante no caso português? Evidência para Portugal (Flôres et al., 2007; Proença a et al., 2006) confirma a relevância deste factor. Qual o gap entre EMN e empresas domésticas que permite maximizar o efeito de spillover? Caso português: 0,5 a 0,8 16

b) A proximidade geográfica entre EMN e empresas domésticas N N N+R1 Nacional N+R1 Regional N+R2 Nacional N+R2 Regional Horizontais n.s. n.s. + - + - V-backward + n.s. + n.s. n.s. V-forward n.s. n.s. n.s. n.s. n.s. 17

c) Proximidade P geográfica + nível n de desenvolvimento das regiões Resultado: Continua a confirmar-se a ocorrência de spillovers verticais backward mas sós nas regiões mais desenvolvidas dupla importância da dimensão regional 18

Implicações para a definição de políticas de atracção do IDE Importância da dimensão regional envolvimento tanto das autoridades nacionais como das regionais Vantagem de as empresas estrangeiras apoiadas se localizarem próximo de empresas nacionais com capacidade para fornecerem inputs intermédios Possíveis efeitos intra-sectoriais negativos à escala regional O efeito esperado pode não ocorrer em regiões de nível n de desenvolvimento intermédio/baixo estratégias alternativas de desenvolvimento 19