PAPEL DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA NA ORIENTA- ÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA: PROCEDIMENTOS DE UNIFOR- MIZAÇÃO BREVES NOTAS 1. Estrutura judiciária - Tribunais Judiciais (1) Supremo Tribunal de Justiça (com secções cíveis, criminais e do trabalho) (5) Tribunais da Relação (2ª instância) (com secções cíveis, criminais e do trabalho) (18) Tribunais de comarca (1ª instância), subdivididos em tribunais de competência genérica ou de competência especializada (v.g. cível, comércio, família e menores, trabalho, execuções, criminais, execução de penas, etc.). É de notar a existência de uma outra ordem jurisdicional com estrutura paralela: a dos Tribunais Administrativos e Fiscais, integrando (1) Supremo Tribunal Administrativo, (2) Tribunais Centrais Administrativos e diversos Tribunais de 1ª instância (Tribunais Administrativos e Fiscais). 2. Critério geral para efeitos de recurso em matéria cível: em função do valor processual (art. 629º do Código de Processo Civil) 2.1. Quanto aos recursos para os Tribunais da Relação (alçada da 1ª instância 5.000,00): apenas admitem recurso decisões dos Tribunais de 1ª instância proferidas em acções com valor processual superior a 5.000,00. 1
Sub-critério: para que o recurso seja admissível é necessário ainda que a parte recorrente tenha sido afectada pela decisão num valor superior a 2.500,00 (metade da alçada da 1ª instância). 2.2. Quanto aos recursos para o Supremo Tribunal de Justiça (alçada da Relação 30.000,00): apenas admitem recurso para o Supremo Tribunal de Justiça acórdãos dos Tribunais da Relação (2ª instância) proferidos em acções cujo valor seja superior a 30.000,00. Sub-critério: para que o recurso seja admissível é necessário ainda que a parte recorrente tenha sido afectada num valor superior a 15.000,00 (metade da alçada dos Tribunais da Relação). Excepções: - Em alguns casos, apesar do valor processual da causa exceder 30.000,00, a lei não admite recurso para o Supremo Tribunal de Justiça. Mas nestes casos é admitido recurso para o Supremo quando o acórdão da Relação esteja em contradição com outro acórdão da Relação (para resolução de contradição jurisprudencial). - Em alguns casos a lei admite recurso para os Tribunais da Relação ou destes para o Supremo independentemente do valor da causa: Questões relacionados com a competência em razão da nacionalidade, da matéria ou da hierarquia; Decisões em que esteja em causa a violação do caso julgado; Decisões ou acórdãos que não tenham respeitado a jurisprudência uniformizadora do Supremo Tribunal de Justiça (art. 629º, nº 2, do CPC). - Em regra, não é admitido recurso para o Supremo quando, nos termos previstos no art. 671º, nº 3, do CPC, se verifique uma situação de dupla conformidade, ou seja, quando: 2
O acórdão do Tribunal da Relação tenha confirmado a decisão da 1ª instância; Não haja voto de vencido; e Tenha sido utilizada em ambas as decisões (do Tribunal da 1ª instância e do Tribunal da Relação) a mesma fundamentação essencial de direito. - Verificada uma situação de dupla conformidade, o recurso para o Supremo (recurso de revista excepcional) fica dependente da verificação de algum dos seguintes requisitos: Relevante interesse jurídico; Relevante interesse social; ou Contradição entre o acórdão da Relação que é objecto do recurso e outro acórdão da Relação ou do Supremo sobre a mesma questão essencial de direito (art. 672º do CPC). - A admissão ou rejeição do recurso de revista em casos de dupla conformidade é da responsabilidade de colectivo formado por três juízes periodicamente designados pelo Presidente do Supremo, com ponderação da sua antiguidade. 3. Competências do Supremo Tribunal de Justiça (recurso de revista) 3.1. No essencial apenas aprecia questões de direito (identificação, interpretação e aplicação de normas jurídicas). Logo, em regra, não aprecia questões de facto. Excepções: - Aprecia questões de facto quando os Tribunais inferiores tenham incumprido disposições legais expressas que exijam certo meio de prova (v.g. documento) ou fixem o valor probatório de certo meio de prova (v.g. confissão ou documento). 3
- Ordena a remessa do processo para o Tribunal da Relação quando entenda que deve ser ampliada a decisão da matéria de facto ou que devem ser corrigidas contradições na matéria de facto. 3.2. Atribuições em matéria de direito: - Nulidades do acórdão da Relação; - Violação ou errada aplicação de lei de processo; - Violação de lei substantiva. 3.3. Formas de julgamento: - Por decisão singular do relator (art. 656º), com possibilidade de posterior intervenção do colectivo (relator e dois juízos adjuntos) (art. 652º, nº 3). - Colegial, por 3 juízes: o relator e dois adjuntos (art. 659º) - Julgamento ampliado pelo Pleno das Secções Cíveis (arts. 686º e 687º) para efeitos de uniformização de jurisprudência, por decisão do Presidente do Supremo, por sua iniciativa, a requerimento de alguma das partes ou do Ministério Público ou por sugestão do relator ou do presidente da secção. 4. Jurisprudência uniformizada do Supremo Tribunal de Justiça: 4.1. Julgamento ampliado do recurso de revista, quando o Presidente do Supremo considere necessário ou conveniente (art. 686º). - É necessário quando, por via do julgamento normal do recurso de revista, haja o risco de ser contrariada anterior jurisprudência uniformizada. - É conveniente designadamente quando, no critério do Presidente do Supremo, haja interesse em resolver contradições jurisprudenciais, evitar que as mesmas ocorram ou clarificar determinada interpretação de preceitos legais. 4
É necessário um quórum mínimo de ¾ dos juízes das Secções Cíveis. O acórdão final é publicado no Diário da República para divulgação. 4.2. Recurso extraordinário para uniformização de jurisprudência: Requisitos legais: - Trânsito em julgado do acórdão do Supremo; - Verificação de contradição entre o acórdão do Supremo e outro acórdão do Supremo Tribunal relativamente à mesma questão essencial de direito; - Os acórdãos em confronto devem ter sido proferidos no domínio da mesma legislação; - O recurso não é admissível se o acórdão recorrido estiver de acordo com um anterior acórdão de uniformização de jurisprudência; - O recurso deve ser apresentado no prazo de 30 dias após o trânsito em julgado. Julgamento: pelo Pleno das Secções Cíveis. O recurso extraordinário é requerido pela parte vencida e é submetido à decisão do relator que verifica os requisitos legais. Também pode ser requerido pelo Ministério Público, no interesse exclusivo da lei, isto é, sem efeitos no próprio processo. Admitido o recurso pelo relator, o processo é distribuído aleatoriamente para elaboração do projecto de acórdão. É necessário um quórum mínimo de ¾ dos juízes das Secções Cíveis. A decisão é por maioria O acórdão final é publicado no Diário da República para divulgação. 5. Valor da jurisprudência uniformizada do Supremo Tribunal de Justiça: 5
- A jurisprudência não é fonte formal de direito; - A jurisprudência uniformizada também não têm força vinculativa, nem externa nem interna; - Tem um valor meramente persuasivo que decorre da forma de julgamento: julgamento pelo Pleno das Secções Cíveis do Supremo. - Exerce uma força persuasiva forte, uma vez que se os Tribunais inferiores não seguirem a jurisprudência uniformizada, as decisões proferidas admitem sempre recurso até ao Supremo independentemente do valor que estiver em causa (art. 629º, nº 2, al. c)). - O acórdão final é publicado no Diário da República para divulgação; Estes factores têm revelado que, em regra, os tribunais de 1ª instância e os Tribunais da Relação respeitam a jurisprudência uniformizada. 6