ATIVAÇÃO MUSCULAR DURANTE A PEDALADA COM OS JOELHOS TANGENCIANDO O QUADRO DA BICICLETA

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Transcrição:

ATIVAÇÃO MUSCULAR DURANTE A PEDALADA COM OS JOELHOS TANGENCIANDO O QUADRO DA BICICLETA Rodrigo Rico Bini 1, Fernando Diefenthaler 1, Felipe Pivetta Carpes 1, Carlos Bolli Mota 1,2 GEPEC Grupo de Estudo e Pesquisa em Ciclismo 1 Laboratório de Pesquisa do Exercício Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS Porto Alegre RS. 2 Laboratório de Biomecânica Universidade Federal de Santa Maria UFSM Santa Maria RS. Resumo: O objetivo deste estudo foi comparar a ativação dos músculos Tibialis Anterior (TA), Gastrocnemius Medialis (GA), Bíceps Femoris (BF), Rectus Femoris (RF), Vastus Lateralis (VL), Adductor Longus (AL) e Gluteus Maximus (GM) nas seguintes situações: 1- posição de referência (posição preferida); 2- posição de adução (joelhos tangenciando o quadro da bicicleta); 3- posição de abdução (joelhos afastados do quadro da bicicleta). Seis atletas foram avaliados por meio da eletromiografia de superfície (SEMG). Todos pedalaram em suas próprias bicicletas montadas em um ciclosimulador, com carga de trabalho referente ao limiar ventilatório. A ativação muscular foi quantificada pela média do envelope RMS, sendo comparada por meio da ANOVA para medidas repetidas e post-hoc de Tukey. Não foram observadas diferenças significativas na ativação dos sete músculos avaliados entre as três posições avaliadas, com exceção do AL quando comparadas às posições de adução e abdução. Estes resultados sugerem uma adaptação muscular nas posições avaliadas. Palavras Chave: ciclismo, eletromiografia, aerodinâmica. Abstract: The aim of the present study was to compare the activation of Tibialis Anterior (TA), Gastrocnemius Medialis (GA), Bíceps Femoris (BF), Rectus Femoris (RF), Vastus Lateralis (VL), Adductor Longus (AL) e Gluteus Maximus (GM) muscles in three situations: 1- reference position (preferred position); 2- adduction position (knees almost touching the bicycle frame); 3- abduction position (knees aways from the bicycle frame). Six athletes were evaluated through surface electromyography (SEMG). They cycled in their own bicycles mounted in a wind-trainer, with the workload relative to the ventilatory threshold. The muscle activation was quantified by the mean value of RMS envelope, with statistical comparison by an ANOVA for repeated measures and Tukey post-hoc. There were no differences in the seven muscles activation for all the three evaluated positions, except adduction and abduction position in which AL muscle differed. These results suggest a muscle adaptation to the evaluated positions. Keywords: cycling, electromyography, aerodynamics. INTRODUÇÃO A otimização dos aspectos aerodinâmicos relacionados à postura do ciclista na bicicleta é uma importante estratégia adotada para a melhora da performance [1]. Uma estratégia, em relação à aerodinâmica, comumente empregada pelos ciclistas em competições é a tentativa de pedalar com os joelhos tangenciando o quadro da bicicleta com o objetivo de reduzir a área frontal do conjunto ciclista-bicicleta [2]. Dados não publicados do nosso laboratório indicam que ciclistas e triatletas são capazes de aumentar, em média, 8% a força resultante aplicada no pedal e em 4% a força efetiva quando pedalaram com os joelhos tangenciando o quadro da bicicleta (posição de adução) comparado com a posição dos joelhos preferida pelo atleta em relação ao quadro da bicicleta (posição de referência). Uma das possíveis razões para explicar essas observações seria a adaptação funcional dos músculos adutores do quadril em produzir mais força nos menores comprimentos musculares, o que aconteceria devido à tentativa, por parte do ciclista, de manter os joelhos próximos ao quadro da bicicleta durante o ciclo da pedalada. A medição da ativação muscular nestas situações poderia ser realizada com o intuito de quantificar o

recrutamento dos músculos adutores do quadril nestas situações (referência e adução). Savelberg et al. [3] avaliaram a ativação muscular do membro inferior durante a pedalada em diferentes posições do tronco. Os autores observaram que a mudança no ângulo de flexão do tronco provoca alterações na ativação de todos os músculos do membro inferior avaliados. Uma das possíveis razões para estas mudanças na ativação muscular do membro inferior quando é alterado o ângulo do tronco está relacionada com a diferença na função entre os músculos mono-articulares e biarticulares [4,5]. O padrão de ativação dos músculos do membro inferior no ciclismo é descrito na literatura [6], no entanto, os músculos adutores permanecem ausentes nestas análises. Houtz & Fisher [7] descreveram qualitativamente a ativação do músculo Gracilis no ciclismo com o uso da eletromiografia de superfície (SEMG). Estes observaram ativação deste músculo na região próxima aos 180 graus do ciclo da pedalada, provavelmente atuando como flexor do joelho. Os demais músculos adutores do quadril não foram analisados no ciclismo até o presente momento. Outro aspecto que a literatura parece não apresentar evidências é o efeito da pedalada com os joelhos tangenciando o quadro da bicicleta sobre a atividade dos músculos do membro inferior. Com isto, o objetivo do presente estudo foi comparar a ativação de músculos do membro inferior durante a pedalada, quando os ciclistas tangenciavam com os joelhos o quadro da bicicleta, com a ativação destes músculos quando a posição preferida dos joelhos em relação ao quadro da bicicleta era adotada. A ativação destes músculos do membro inferior nas situações citadas anteriormente também foi comparada com aquela na qual os ciclistas assumiram uma postura de abdução dos quadris, na qual os joelhos se mantiveram afastados do quadro da bicicleta. A hipótese inicial deste estudo foi de que seria observado um aumento na ativação dos músculos adutores do quadril na pedalada com os joelhos tangenciando o quadro da bicicleta. A alteração na ativação se estenderia aos demais músculos do membro inferior nas posições diferentes daquela preferida pelo atleta. MATERIAIS E MÉTODOS Seis atletas com experiência competitiva no ciclismo (três ciclistas e três triatletas) participaram voluntariamente. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os atletas foram avaliados em suas próprias bicicletas montadas em um ciclosimulador Cateye CS1000 (Cateye CO, Osaka, Japão). A fim de auxiliar os ciclistas na manutenção das posturas que seriam avaliadas foram utilizadas hastes metálicas que foram posicionadas ao lado do ciclista (direita e esquerda), no sentido longitudinal e paralelo a bicicleta, auxiliando na manutenção do afastamento dos joelhos do quadro da bicicleta, resultante da abdução dos quadris. Três posições dos joelhos foram avaliadas: 1. Posição de referência: aquela em que o atleta pedalava com os joelhos na distância preferida do quadro da bicicleta; 2. Posição de adução: aquela que o atleta pedalava com os joelhos tangenciando o quadro da bicicleta;

3. Posição de abdução: aquela em que o atleta pedalava com os joelhos afastados do quadro da bicicleta, quase tocando as hastes metálicas descritas anteriormente. Esta posição era mantida por meio de uma abdução dos quadris. Foram coletados o consumo de oxigênio (VO 2 ), a produção de dióxido de carbono (VCO 2 ) e a taxa de troca respiratória (RER) por meio de um sistema de espirometria de circuito aberto CPX/D (Medical Graphics Corp., St Louis, USA) com coleta dos dados a cada respiração. A carga de trabalho foi normalizada, nas três posições avaliadas, por meio da manutenção do VO 2 no qual o RER se mantivesse com valores entre 0,8 e 1, indicando que os atletas estavam em uma intensidade de esforço próxima àquela correspondente ao limiar ventilatório [8,9]. Estas condições foram mantidas por meio da regulagem da inclinação do ciclosimulador em 3%, relação de marchas e cadência fixa nas três posições avaliadas, sendo estas selecionadas durante o período de aquecimento. Nas condições previamente descritas, os atletas pedalaram por três minutos com o VO 2 e o RER estabilizados. Os dados foram coletados nos últimos 30 segundos, sendo neste período adquiridos os dados de eletromiografia (EMG), eletrogoniometria e as variáveis respiratórias (VO 2, VCO 2 e RER). O cálculo da cadência média de pedalada em cada uma das posições foi realizada por meio da análise do sinal advindo de um reed switch acoplado ao quadro da bicicleta. Este, consistindo o sistema de eletrogoniometria, emitia um pulso elétrico quando o pé-de-vela passasse por ele a cada ciclo de pedalada [10]. A atividade elétrica dos músculos Tibialis Anterior (TA), Gastrocnemius Medialis (GA), cabeça longa do Bíceps Femoris (BF), Rectus Femoris (RF), Vastus Lateralis (VL), Adductor Longus (AL) e Gluteus Maximus (GM) do membro inferior direito foi mensurada por meio da eletromiografia de superfície. Eletrodos Ag/AgCl na configuração bipolar (2,5 cm de distância entre eletrodos) foram posicionados sobre a pele, na região do ventre muscular. A colocação destes foi antecedida pela tricotomia dos pelos e limpeza da pele com abrasão a base de álcool, respeitando as recomendações para colocação dos eletrodos [11]. O eletrodo de referência foi posicionado sobre a superfície anterior da tíbia. Os cabos do sistema de eletromiografia foram fixados a pele utilizando uma meia-calça, permitindo a movimentação natural do segmento inferior do atleta, minimizando o movimento dos fios durante a coleta dos dados. Os sinais de EMG foram adquiridos pelo software Windaq (WINDAQ, DataQ Instruments Inc., USA) com uma taxa de amostragem de 2000 Hz, e amplificação de 1K, utilizando-se um eletromiógrafo de oito canais (Bortec Eletronics Inc., Calgary, Canada). Os sinais coletados forma filtrados utilizando-se um filtro digital Butterworth do tipo passa-banda, com freqüência de corte de 10-500 Hz [11]. Assim como os sinais de EMG, os sinais de eletrogoniometria foram analisados em rotinas implementadas em ambiente MATLAB (Mat Works Inc., USA). Nestas rotinas foi calculado o envelope RMS do sinal de EMG, com janela de 0,04 segundos [12], para subseqüente análise da média dos dez primeiros ciclos alternados de pedalada. O envelope RMS foi normalizado pelo maior valor obtido na posição de referência [6].

Para a análise estatística dos dados foi utilizada a ANOVA One-Way para análise das variâncias do valor médio do envelope RMS ao longo de cada um dos dez ciclos de pedalada entre as posições de referência, adução e abdução. Este foi seguido pelo teste post-hoc HSD de Tukey quando diferenças significativas fossem observadas, a fim de determinar entre quais posições as diferenças ocorreram. Para todos os procedimentos estatísticos utilizou-se o pacote estatístico SigmaStat 2.03 (SPSS Inc., USA) com nível de significância de 0,05. Na figura 1 são apresentados os resultados da média e desvio-padrão (DP) do envelope RMS dos seis atletas avaliados. Os resultados são apresentados para os sete músculos analisados, nas três posições avaliadas. RESULTADOS Na tabela 1 são apresentados os resultados referentes às características da amostra, incluindo idade, tempo de treinamento e volume semanal de treinamento de ciclismo. Tabela 1: Características dos atletas avaliados, incluindo idade e tempo de treinamento em anos, e distância semanal de treinamento de ciclismo em quilômetros (DP, desvio-padrão). Atleta Tempo de Treino Idade treino semanal (anos) (anos) (km) Ciclista A 30 18 450 Ciclista B 24 4 600 Ciclista C 26 7 450 Triatleta A 43 3 200 Triatleta B 21 3,5 230 Triatleta C 23 1 200 Média 28 6,60 355 DP 8,04 6,67 168,37 Figura 1. Média e DP do RMS dos músculos Tibialis Anterior, Gastrocnêmius Medialis, Bíceps Femoris, Rectus Femoris, Vastus Lateralis, Adductor Longus e Gluteus Maximus nas posições de referência (REF), adução (ADU) e abdução (ABDU). * Representa diferença significativa em relação à posição de adução (p < 0,05). Os resultados indicam redução diferença significativa na média dos dez ciclos de pedalada do envelope RMS na posição de abdução quando comparada a posição de adução para o músculo AL. Ambas as posições não diferiram da posição de referência para este músculo. Os demais músculos não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre as posições avaliadas. DISCUSSÃO Este trabalho se propunha a comparar a ativação dos músculos do membro inferior durante a pedalada tangenciando os joelhos ao quadro da

bicicleta em relação à posição preferida do atleta. Estas posições foram comparadas com a aquela em que o atleta afastasse os joelhos do quadro da bicicleta. A hipótese inicial era de que ao tangenciar com os joelhos o quadro da bicicleta ocorreria um aumento na ativação dos músculos adutores do quadril. Esperava-se também que ocorreria mudança na ativação dos demais músculos do membro inferior. Pôde-se perceber a partir dos resultados obtidos que a hipótese se confirmou parcialmente, visto que apenas o músculo Adductor Longus (AL) apresentou alterações no RMS quando foi alterada a posição dos joelhos em relação ao quadro da bicicleta. Savelberg et al. [3] observaram que a mudança no ângulo do tronco exige compensações do ponto de vista da ativação muscular para a manutenção da carga de trabalho. Estas compensações dizem respeito a mudanças na magnitude de ativação dos músculos para que seja mantida a força produzida, sendo esperadas também com a mudança do ângulo do quadril (adução e abdução) devido a alterações no comprimento de alguns músculos. Apesar disso, os resultados não mostram mudanças significativas na ativação em resposta a mudanças no ângulo do quadril. Hug et al. [10] observaram que o aumento da carga de trabalho é compensado pelo aumento da ativação muscular. No entanto, a análise do VO 2 e da potência produzida indica que a demanda fisiológica e a carga de trabalho parecem não ser alterados na posição de adução em relação à posição de referência [13]. Este resultado corrobora com a ausência de diferença significativa do RMS dos demais músculos do membro inferior com a mesma carga de trabalho. A similaridade do RMS nas posições de referência e adução sugere uma adaptação muscular destes atletas nestas posições. Sabe-se que o treinamento gera uma adaptação muscular específica ao comprimento no qual o músculo é exigido [14,15]. Sabendo-se que a estratégia de tangenciar com os joelhos o quadro da bicicleta é utilizada pelos atletas em treinamentos e competições [2], é possível inferir que pela utilização destes músculos nestas posições (referência e adução) ocorreria uma adaptação da musculatura a estas posições. Resultados não publicados do nosso laboratório indicam que, em média, na posição de adução os atletas são capazes de aplicar mais força no pedal em relação às posições de referência e abdução. No entanto, o RMS dos principais músculos envolvidos no movimento parece não apresentar diferença, o que se contrapõe a este resultado. O ciclismo como um movimento realizado em cadeia cinética fechada, acaba por ativar um número importante de músculos, exigindo inúmeras estratégias de ativação destes músculos [4,5]. Esta análise poderia sugerir que não apenas os sete músculos avaliados no presente estudo poderiam ser utilizados de forma aumentada para a maior aplicação de força no pedal, como a sugerida quando realizada a adução dos quadris durante a pedalada [13]. Esta diversidade de estratégias motoras justificaria a similaridade do RMS dos músculos analisados nas três posições avaliadas. CONCLUSÃO Não foram observadas diferenças na ativação de sete músculos do membro inferior (média do envelope RMS) quando alterada a

posição dos joelhos em relação ao quadro da bicicleta. Apenas o músculo Adductor Longus teve sua ativação aumentada na posição de adução comparada à posição de abdução. AGRADECIMENTOS Gostaríamos de dedicar este trabalho ao professor Antônio Carlos Stringhini Guimarães que o idealizou e participou ativamente do mesmo até o seu falecimento. REFERÊNCIAS [1] McCole, S.D, Claney, K, Conte, J.C, Anderson, R, Hagberg, J.M. (1990) Energy expenditure during bicycling. Journal of Applied Pysiology, 68, 748-753. [2] Burke, E.R. & Pruitt, A.L. (2003) Body positioning for cycling. IN: Burke, E.R (Ed). High Tech Cycling (pp 69-92), Human Kinetics. [3] Savelberg H.H.C.M, Van de Port I.G.L, Willems P.J.B. (2003) Body configuration in cycling affects muscle recruitment and movement pattern. J.Appl. Biomech. 19: 310-324. [4] Hof, A.L. (2001) The force resulting from the action of mono- and biarticular muscles in a limb. Journal of Biomechanics, 34, 1085-1089. [5] Zajac F.E. (2002) Undertanding muscle coordination of the human leg with dynamical simulations. J.Biomech. 35: 1011-1018. [6] Baum e LI (2003) Lower extremity muscle activities during cycling are influenced by load and frequency. J.Electrom.Kinesiol. 13: 181-190. [7] Houtz S.J & Fisher F.J. (1959) An analysis of muscle action and joint excursion during exercise on a stationary bicycle. J.Bone.J.Surg (Amer.). 41: 123-131. [8] Solberg, G, Robstad, B, Skjonsberg, O.H, Borchsenius, F. (2005) Respiratory Exchange Ratio indices for estimating the anaerobic threshold. Journal of Sports Science and Medicine, 4, 29-36. [9] Amann, M., Subuhi, A., Foster, C. (2004) Influence of testing protocol and ventilatory threshold and cycling performance. Medicine and Science in Sports and Exercise, 36, 613-622. [10] Hug, F, Decherchi, P, Marqueste, T, Jammes, Y. (2003) EMG versus oxygen uptake cycling exercise in trained and untrained subjects. Journal of Electromyography and Kinesiology, 14, 187-195. [11] Merletti R. (1997) Standards for reporting EMG data. J.Electromyograp.Kinesiol. 7, 1-2. [12] Neptune R.R, Kautz S.A, Hull M.L. (1997). The effect of pedaling rate on coordination in cycling. J.Biomech. 30, 1051-1058. [13] Bini RR, Diefenthaeler F, Carpes FP, Nabinger E, Mota CB, Guimarães ACS. (2006). Economia de movimento e pico de força no pedal durante o ciclismo em posição aerodinâmica. Rev.Bras.Ciênc.Mov. 14(Suppl), 288. [14] Herzog, W, Guimarães, A.C.S, Anton, M.G, Carter-Erdman, K.A. (1991) Moment-length relations of rectus femoris muscles of speed skaters/cyclists and runners. Medicine and Science in Sports and Exercise. 23, 1289-1296. [15] Savelberg, H.H.C.M, Meijer, K. (2003) Contribution of mono- and biarticular muscles to extending knee joint moments in runners and cyclists. Journal of Applied Physiology, 94, 2241-2248. e-mail: bini.rodrigo@gmail.com