OS MEIOS ELETRÔNICOS QUE CONTRIBUEM COM O APRIMORAMENTO DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL



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Transcrição:

OS MEIOS ELETRÔNICOS QUE CONTRIBUEM COM O APRIMORAMENTO DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL LAÍS GOMES BERGSTEIN Mestre em Direito Econômico e Socioambiental pela PUC/PR; Bolsista da CAPES por todo o período do Mestrado; Professora do curso de Direito das Faculdades da Indústria (Sistema FIEP); Membro do Instituto dos Advogados do Paraná; Advogada integrante do Escritório Professor René Dotti, em Curitiba/PR. INTRODUÇÃO A revolução tecnológica abriu horizontes em quase todas as atividades produtivas e não poupou os operadores do Direito que, em muitos aspectos, se beneficiam com as facilidades proporcionadas pelas novas ferramentas. Atualmente diversos meios eletrônicos contribuem com o aprimoramento da prestação jurisdicional, ao passo que oferecem aos Magistrados e operadores do Direito instrumentos eficazes que atuam em prol da tutela dos direitos. A concepção de um sistema para tramitação de processos judiciais eletrônicos, implementado há muitos anos em países como a França e os Estados Unidos da América, com a edição da Lei nº 11.419/2006, passou a integrar também o quotidiano de advogados, magistrados e servidores do Poder Judiciário em todo o Brasil. Há, no entanto, outros relevantes meios eletrônicos que contribuem com o aprimoramento da prestação jurisdicional. O presente trabalho introduz alguns dos principais instrumentos eletrônicos que facilitam as comunicações entre membros do Poder Judiciário e outros entes públicos, além de apresentar uma resenha sobre o conceito da tramitação de processos virtualmente. 1 O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO À JUSTIÇA E O PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO WWW.IAPPR.COM.BR

2 A partir do final dos anos 70 a concepção de pós-modernidade passou a integrar o palco intelectual com o objetivo de qualificar o novo estado cultural das sociedades desenvolvidas, marcadas pela dinâmica de individualização e de pluralização das sociedades, assim como pela primazia do aqui-agora. 1 Gilles Lipovetsky afirma que estamos vivendo uma segunda modernidade, desregulamentada e globalizada, que se alicerça em três premissas: o mercado, a eficiência técnica e o indivíduo. Os homens testemunham na sociedade hodierna a aceleração do ritmo das operações econômicas e uma explosão dos volumes de capital que circulam no planeta, além das transformações vertiginosas da tecnologia. 2 As mudanças de comportamento e relacionamento entre as pessoas, a globalização e a efemeridade das novas relações sociais podem ser aferidas em inúmeros setores das sociedades, em praticamente todo o mundo. Para o economista e filósofo Adam Schaff, as transformações revolucionárias da ciência e da técnica, com as consequentes modificações na produção e na prestação de serviços inevitavelmente produzem mudanças nas relações sociais. 3 E as consequências desta nova realidade também influem sobre o trabalho dos construtores do Direito e membros do Poder Judiciário. A já mencionada efemeridade das relações sociais contribui com o aumento do volume de demandas ajuizadas diariamente. A capacidade de resolução de lides judicialmente, contudo, é limitada. Isto resulta no agravamento de um dos maiores problemas no âmbito de funcionamento do Poder Judiciário brasileiro: o elevado tempo de tramitação dos processos. A preocupação redobra quando se verifica que esta realidade implica na violação de uma série de direitos dos cidadãos. O direito fundamental de acesso à justiça, ou princípio do direito de ação, previsto no art. 5º, inciso XXXV, da Constituição da República, além de significar que toda pessoa pode postular a tutela jurisdicional relativa a um direito, está inexoravelmente ligado à compreensão de que todos têm direito a obter uma tutela jurisdicional adequada. Nelson Nery Junior, neste sentido, afirma que Não é 1 LIPOVETSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. Tradução: Mário Vilela. São Paulo: Barcarolla, 2004. p. 49, 54, 55, passim. 2 Ibid. 3 SCHAFF, Adam. A sociedade informática: as consequências sociais da segunda revolução industrial. Tradução: Carlos Eduardo Jordão Machado e Luiz Arturo Obojes. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1992. p. 21-23.

3 suficiente o direito à tutela jurisdicional. É preciso que essa tutela seja a adequada, sem o que estaria vazio de sentido o princípio.. 4 Neste sentido, Gilmar Ferreira Mendes, Ministro do Supremo Tribunal Federal, ao avaliar a norma que assegura a duração razoável do processo, afirmou que: Positiva-se, assim, no direito constitucional, orientação há muito perfilhada nas convenções internacionais sobre direitos humanos e que alguns autores já consideravam implícita na ideia de proteção judicial efetiva, no princípio do Estado de Direito e no próprio postulado da dignidade da pessoa humana. [...] A duração indefinida ou ilimitada do processo judicial afeta não apenas e de forma direta a ideia de proteção judicial efetiva, como compromete de modo decisivo a proteção da dignidade da pessoa humana, na medida em que permite a transformação do ser humano em objeto dos processos estatais. 5 Entende-se que a prestação jurisdicional não é adequada quando deixa de oferecer uma resposta ao jurisdicionado em um prazo razoável de tempo. Esta constatação acarretou a inclusão, pela Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004, do disposto no inciso LXXVIII, do art. 5º, da Constituição da República, in verbis: [...] a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. Eduardo Cambi, por sua vez, pondera que na civilização tecnológica os valores da eficiência dos resultados e da probabilidade de sua consecução imperam, induzindo o Poder Judiciário a fazer avaliações prospectivas, com o objetivo de viabilizar o direito para o futuro. No Estado Social, sucessor do Estado Liberal, exigese do poder público a adoção de ações voltadas à efetivação dos direitos, verdadeiras obrigações de fazer que visem a promoção da justiça constitucional. 6 O direito constitucional à tutela jurisdicional efetiva, de acordo com o processualista Luiz Guilherme Marinoni, corresponde ao direito a uma tutela capaz de impedir a violação do direito, sempre que se tratar de direitos não patrimoniais. A 4 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal: processo civil, penal e administrativo. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 171-172. Grifos do autor. 5 MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos Fundamentais de Caráter Judicial e Garantias Constitucionais do Processo. In: MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 444. 6 CAMBI, Eduardo. Neoconstitucionalismo e Neoprocessualismo: direitos fundamentais, políticas públicas e protagonismo judiciário. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 195.

4 tutela jurisdicional que adequada e efetivamente garante a inviolabilidade dos direitos é uma imposição constitucional expressa nos valores da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), da proteção aos direitos da personalidade (art. 5º, X) e do direito de acesso à justiça (art. 5º, XXXV). 7 No mesmo sentido, Cambi sustenta que a perspectiva constitucional dos direitos fundamentais institui o direito a um processo estruturado formalmente, mas que, além disso, constitua uma garantia mínima de meios e resultados. Trata-se do aspecto jurídico-processual dos direitos fundamentais ou o chamado due process iusfundamental, que demanda a existência de meios (organizações e procedimentos) aptos a produzir os resultados de acordo com os direitos fundamentais. 8 Portanto, mais do que a mera declaração de direitos no texto legal, é necessário que sejam desenvolvidos, cada vez mais, instrumentos eficazes a garantir o resultado esperado pelo cidadão que procura a tutela do Poder Judiciário. 2 OS MEIOS ELETRÔNICOS QUE CONTRIBUEM COM O APRIMORAMENTO DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL As transformações vertiginosas da tecnologia possibilitaram mudanças também na forma de resolução de conflitos. Aliada ao avanço das telecomunicações, a informática possibilitou a criação de diversos meios eletrônicos insertos em um sistema de redes que permite o acesso remoto de informações, assim como o envio e recebimento instantâneos de ordens judiciais. Paulo Cezar Alves Sodré lembra os primeiros atos de governança eletrônica no país: o primeiro foi a instituição do voto eletrônico nas eleições de 1996. [...] o segundo, foi a utilização da rede mundial de computadores para a transmissão da declaração de Imposto de Renda, perante a Secretaria da Receita Federal. 9. Desde 7 MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica Processual e Tutela dos Direitos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 82. 8 CAMBI, Eduardo. Op. cit., p. 218. Grifos do autor. 9 SODRÉ, Paulo Cezar Alves. O processo judicial eletrônico: reflexos e consequências da sociedade da informação na administração do Poder Judiciário. In: MEIRELLES, Jussara Maria Leal de; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira (coord.). Direito e Desenvolvimento: biomedicina, tecnologia e sociedade globalizada. Belo Horizonte: Fórum, 2011. p. 335.

5 então, o uso de instrumentos eletrônicos se populariza e propaga pelo país intensamente. O Poder Judiciário não ficou alheio a estes avanços. Em 1999, a Lei nº 9.800 provocou uma verdadeira revolução na prática dos atos processuais, ao permitir o envio de petições escritas por meio de sistema de transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou outro mecanismo similar. A condição imposta para o recebimento da peça era apenas a entrega dos documentos originais no prazo de cinco dias (vide art. 2º, Lei nº 9.800/90), o que contribuiu sobremaneira com o exercício do direito de ação. Com o propósito de aprimorar a prestação jurisdicional, foram estabelecidos diversos convênios entre Tribunais de Justiça e entes da administração pública para agilizar e facilitar a comunicação com o Poder Judiciário, principalmente no âmbito dos processos executivos e na esfera criminal. Alguns deles merecem especial destaque no presente trabalho. 2.1 SISTEMA BACEN JUD: PODER JUDICIÁRIO E BANCO CENTRAL DO BRASIL Um dos primeiros instrumentos de comunicação eletrônica implementados no país foi o chamado Bacen Jud, sistema igualmente identificado pela expressão penhora online e é intermediado e gerido pelo Banco Central do Brasil. 10 As estatísticas divulgadas pelo Banco Central 11 demonstram a ampla utilização do Bacen Jud pelos diversos Juízos e Tribunais brasileiros. Durante o ano de 2001 foram registradas, ao todo, 524 solicitações do Poder Judiciário por intermédio deste sistema. Nenhuma ordem eletrônica foi originada no Paraná. Em 2011, por outro lado, foram efetuadas 4.538.648 solicitações via Bacen Jud. Destas, 189.689 solicitações eletrônicas foram computadas apenas no âmbito da justiça estadual do Paraná, contra 6.327ofícios expedidos fisicamente na mesma região. Em apenas cinco anos, entre 2005 e 2010 o crescimento do número de solicitações realizadas pelo sistema disponibilizado pelo Banco Central foi exponencial: partiu-se de 61.946 utilizações em 2005 para 4.538.648 no ano de 2010, 10 BRASIL. Sistema Financeiro Nacional. Sistema Bacen Jud. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?bcjudintro > Acesso em: 27 jan. 2012. 11 BRASIL. Sistema Financeiro Nacional. Sistema Bacen Jud. Estatísticas do Bacen Jud. Disponível em: < http://www.bcb.gov.br/?bcjudestatisticas> Acesso em: 27 jan. 2012.

6 em todo o país. A segurança que envolve o trânsito das informações no Bacen Jud, que já é operado na versão 2.0 e dispõe de mecanismos de criptografia de dados, favorece a ampliação dos recursos disponibilizados. Atualmente, além das solicitações de bloqueios e desbloqueios de ativos financeiros, é possível, por meio deste mecanismo, formular requisições de informações de dados cadastrais de quaisquer usuários do sistema financeiro nacional, além de determinar a imediata transferência de recursos bloqueados para contas judiciais. 12 Ou seja, a prática judiciária de expedição de ofícios ao Banco Central ou a cada uma das instituições financeiras em operação no país, tanto para bloqueio de recursos quanto para o fornecimento de dados (como o número de inscrição no CPF ou o atual endereço de determinada pessoa), está sendo gradativamente superada. Com o aprimoramento e ampliação do uso deste sistema, o Tribunal de Justiça do Paraná, inclusive promoveu a alteração do Código de Normas da Corregedoria- Geral de Justiça para dispensar a lavratura do termo de penhora, contribuindo ainda mais com a celeridade processual. Trata-se do procedimento previsto no item 17.2.9.8.1, in verbis: Recebida resposta positiva, com bloqueio realizado (integral ou parcial), o juiz imprimirá também o respectivo extrato, o qual substituirá o termo de penhora. A economia decorrente do uso deste sistema extrapola os gastos com papel e tinta, pois é expressa também no melhor aproveitamento do tempo dos servidores públicos, na redução das despesas com o envio de correspondências e na redução do trabalho de intermediação entre o Poder Judiciário e as instituições financeiras que era desempenhado, fisicamente, pelo Banco Central. A partir desta experiência muito bem sucedida, outros sistemas foram desenvolvidos e paulatinamente implementados no país. 2.2 INFOJUD: PODER JUDICIÁRIO E RECEITA FEDERAL A Receita Federal do Brasil detém um dos melhores e mais completo banco de dados do país, reunindo informações atualizadas sobre milhões de contribuintes. 12 BRASIL. Sistema Financeiro Nacional. Sistema Bacen Jud. Manual do Bacen Jud. Disponível em: < http://www.bcb.gov.br/fis/pedjud/ftp/manualbasico.pdf > Acesso em: 27 jan. 2012.

7 Diante da grande quantidade de ofícios oriundos do Poder Judiciário requisitando informações, foi desenvolvido o sistema Infojud, a partir de uma parceria instituída entre Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a Receita Federal. Trata-se de conexão com a Receita Federal que facilita a solicitação de fornecimento das seguintes documentações: declarações anuais do imposto de renda, declarações do imposto sobre a propriedade territorial rural, declarações sobre operações imobiliárias e declarações da extinta contribuição provisória sobre movimentações financeiras (CPMF), tudo isso tanto de pessoas físicas quanto de pessoas jurídicas. O mecanismo permite aos Juízos, ainda, a solicitação de fornecimento dos dados cadastrais atualizados dos contribuintes. É necessário, para utilização do sistema, que o Magistrado seja previamente cadastrado em uma base específica da Receita Federal (diligência que é realizada pelo próprio Tribunal ao qual é vinculado) e detenha um certificado digital emitido pela Autoridade Certificadora integrante da ICP-Brasil. 13 2.3 REDE INFOSEG A Rede de Integração Nacional de Informações de Segurança Pública, Justiça e Fiscalização, chamada rede Infoseg, é mantida pela Secretaria Nacional de Segurança Pública e reúne informações das Polícias Civil e Militar, do Departamento Nacional de Trânsito, do Exército Brasileiro, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais de Justiça Estaduais e da Justiça Federal, além dos Departamentos de Polícia Federal, da Secretaria da Receita Federal e do Projeto Fronteiras. 14 A rede viabiliza o acesso, por meio de um canal privado na internet, de dados básicos de pessoas de pessoas com inquéritos, processos, mandados de prisão e envolvimento com narcotráfico, além de reunir outros bancos de dados, como os de armas, veículos, condutores e de cadastros de pessoas físicas e jurídicas (CPF e 13 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Sistemas. Infojud. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/programasde-a-a-z/sistemas/pg-infojud> Acesso em: 27 jan. 2012. 14 BRASIL. Manual do Infoseg. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/images/programas/infoseg/infoseg.pdf> Acesso em: 25 jan. 2012.

8 CNPJ). 15 O Infoseg apresenta-se atualmente como o maior sistema de informações de segurança pública do país, segundo informações divulgadas pelo CNJ. 16 2.4 E-MANDADO: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ E SECRETARIAS DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E DA JUSTIÇA E CIDADANIA No Estado do Paraná, a Corregedoria Geral de Justiça regulamentou, por meio do Provimento nº 202, o uso do emandado; sistema eletrônico de envio de mandados de prisão gerados e expedidos pelo Poder Judiciário do Estado do Paraná para as Secretarias de Estado da Segurança Pública e da Justiça e Cidadania. Os mandados são assinados digitalmente pelos Magistrados e enviados pelo sistema para os órgãos de segurança pública, podendo, assim, ser imediatamente visualizados pela Polícia Civil e pelo Departamento Penitenciário para cumprimento imediato. O sistema, além de guardar as informações sobre o cumprimento da ordem judicial e as diligências realizadas, ainda permite a emissão de certidões sobre o cumprimento do mandado para juntada aos autos. 17 A despeito do inegável avanço que envolve as redes integradas de informações, é fundamental que quaisquer entes que formem bancos de dados respeitem a legislação vigente, especialmente no que tange os prazos de manutenção e a atualização das informações cadastradas. O recolhimento dos mandados de prisão inválidos, por exemplo, é fundamental para garantir a eficácia do sistema e a segurança dos jurisdicionados. 2.5 RENAJUD: PODER JUDICIÁRIO E DETRAN Com o mesmo objetivo de optimização das solicitações judiciais, o Conselho Nacional de Justiça promoveu junto ao Departamento Nacional de Trânsito (DETRAN) o desenvolvimento do Renajud. 15 Ibid. 16 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Sistemas. Infoseg. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/programasde-a-a-z/sistemas/infoseg> Acesso em: 25 jan. 2012. 17 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. EMandado. Disponível em: < http://portal.tjpr.jus.br/web/di/emandado> Acesso em: 28 jan. 2012.

9 Trata-se de sistema que possibilita consultas e o envio, em tempo real, de ordens judiciais eletrônicas de restrição e de levantamento de restrições de transferências, licenciamento e circulação de veículos automotores inscritos no banco do Registro Nacional de Veículos Automotores (RENAVAM). 18 No Estado do Paraná, para que o Magistrado possa utilizar o sistema, basta que solicite o seu cadastramento ao Departamento de Informática do Tribunal de Justiça, por meio do Sistema Mensageiro. Note-se que o instrumento de comunicação entre Juízos e Tribunal de Justiça paranaense é, também, eletrônico. 2.6 MALOTES DIGITAIS Além de estreitar laços com outros entes públicos, o uso de instrumentos facilitadores das comunicações entre os próprios membros do Poder Judiciário contribuem com a agilidade e a segurança dos atos judiciais. O CNJ, diante da [...] necessidade de modernizar a administração da Justiça com a utilização dos recursos disponíveis da tecnologia da informação 19, publicou, em novembro de 2009, a Resolução nº 100, que instituiu o sistema Malote Digital para as comunicações com o Conselho da Justiça Federal (CJF), o Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT) e os demais órgãos do Poder Judiciário, exceto o STF. A recomendação é que o sistema seja utilizado não apenas como meio de comunicação com o CNJ, mas também entre os Tribunais. Há, na Resolução, até mesmo uma menção expressa relativa à transmissão de Cartas Precatórias: O Sistema Hermes - Malote Digital deve ser utilizado, entre outros, para expedição e devolução de Cartas Precatórias entre juízos de tribunais diversos, salvo se deprecante e deprecado utilizarem ferramenta eletrônica específica para esse fim. (art. 1º, 3º, Resolução nº 100/2009 do CNJ). 18 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Regulamento do Renajud: restrições judiciais de veículos automotores. Disponível em: <https://denatran2.serpro.gov.br/renajud/> Acesso em: 27 jan. 2012. 19 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 100, de 24 de novembro de 2009. Dispõe sobre a comunicação oficial, por meio eletrônico, no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/atos-da-presidencia/323-resolucoes/12215-resolucao-no-100- de-24-de-novembro-de-2009> Acesso em: 30 jan. 2012.

10 Segundo Gilberto Dupas, as tecnologias da informação encolhem o espaço. As diversas teles anulam distâncias, desmaterializando os encontros. 20. No que tange o uso dos meios eletrônicos facilitadores da prestação jurisdicional, as tecnologias da informação contribuem com a efetivação de direitos fundamentais, pois é inegável a economia e a celeridade resultantes do uso de sistemas eletrônicos de comunicação na esfera de prestação da tutela jurisdicional. 3 O PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO E A BUSCA DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL ADEQUADA Outro instrumento que está sendo implementado em todo o país, visando ao atendimento à garantia constitucional da razoável duração do processo, é o processo judicial eletrônico. No Brasil, a Lei nº 11.419, de 19 de dezembro de 2006, ao dispor sobre a informatização do processo judicial, instituiu, formalmente, o uso do meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, na comunicação de atos e na transmissão de peças processuais em qualquer grau de jurisdição (art. 1º). Este novo meio de tramitação processual permite, dentre outras facilidades, a consulta aos autos do processo simultaneamente por advogados, magistrado e partes; dispensa uma série de atos administrativos judiciais, a exemplo da autuação, da juntada de documentos, da formação de volumes e do translado dos autos; extingue as infindáveis buscas por autos perdidos; assim como reduz os custos com material, possibilitando que a maior parte dos investimentos seja convertida em equipamentos de informática e na formação de serventuários da Justiça. A economia decorrente da transformação dos atos processuais em virtuais poderá ser comprovada estatisticamente. Apenas o Supremo Tribunal Federal, em julho de 2010, ao anunciar a inclusão de oito novas classes de processos no seu sistema eletrônico, noticiou que seriam deixados de ser feitos aproximadamente 707 (setecentos e sete) deslocamentos de processos físicos por dia e 943 (novecentas e quarenta e três) juntadas de documentos e costuras judiciais. 20 DUPAS, Gilberto. Ética e Poder na Sociedade da Informação: de como a autonomia das novas tecnologias obriga a rever o mito do progresso. São Paulo: UNESP, 2000. p. 56.

11 Segundo nota divulgada à população também pelo STF, a medida proporciona agilidade na análise das ações, além de diminuir custos e reduzir o impacto ambiental, devido à eliminação de grande parte do uso de papel, tinta de impressora, combustível de trânsito das partes e advogados, entre outras pequenas ações que afetam direta e indiretamente o meio ambiente.. 21 Diversos exemplos positivos da implementação de meios eletrônicos para tramitação de processos judiciais podem ser aferidos em diversos países. Em Seattle, nos Estados Unidos da América, a máxima Justice delayed is Justice denied (em tradução literal: Justiça atrasada é Justiça negada ), conduziu à criação ainda na década de 1990 de um sistema para tramitação de processos eletronicamente, o chamado Electronic Court Records (ECR), iniciativa que resultou na obtenção de prêmios e comendas especiais, como a premiação outorgada pelo Ash Center da Universidade de Harvard. 22 A Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Paraná, promoveu, ao longo de 2011, uma ampla e importante pesquisa com os advogados paranaenses sobre o processo judicial eletrônico. Os resultados, divulgados no Jornal da Ordem nº 150, de junho de 2011, revelam que metade dos entrevistados ainda encontrava dificuldades no trabalho com o processo eletrônico, no entanto, ainda consideravam que [...] o sistema virtual de peticionamento e acompanhamento das ações judiciais representa o melhor caminho para a modernização, celeridade e eficiência da Justiça brasileira. 23. Ao todo, foram entrevistados 690 advogados, dos quais 345 atuam na Capital e o restante nas demais subseções no Estado. A pesquisa também demonstrou que a maioria dos entrevistados 90,14% (noventa vírgula catorze por cento) defende a unificação, em âmbito nacional, do sistema de peticionamento eletrônico. Atualmente o advogado depara-se com uma grande variedade de sistemas de peticionamento eletrônico (Projudi, e-saj, e-pet, e- 21 BRASIL. STF torna obrigatório envio eletrônico de mais oito tipos de processos. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/vernoticiadetalhe.asp?idconteudo=156081> Acesso em: 10 out. 2011. 22 EUA.Electronic Court Record Program. Disponível em: <http://www.kingcounty.gov/courts/ecrlibrary.aspx> Acesso em: 20 out. 2011. 23 BRASIL. Pesquisa mostra opinião dos advogados do Paraná sobre processo eletrônico. Jornal da Ordem, Curitiba, n. 150, jun. 2011, p. 15-18.

12 DOC, e-proc, PEJ, e-jur, dentre outros), que são operacionalizados de maneiras distintas, o que dificulta sobremaneira o exercício da advocacia. Sabe-se, outrossim, que o sistema, ainda que seguro, não é indene de falhas. Atualmente existem legítimos pleitos dos advogados e magistrados visando ao aperfeiçoamento dos mecanismos disponíveis. Todavia, acredita-se que com o desenvolvimento progressivo desses novos instrumentos de peticionamento se perceba que o processo eletrônico constitui, de fato, um grande aliado dos direitos constitucionais de acesso à justiça e da razoável duração do processo. Nas palavras de René Ariel Dotti: Da escrita com a pena de ganso para a máquina elétrica de escrever houve notável progresso que atingiu o seu estágio culminante com o computador e a internet. Surge, agora, o processo eletrônico para substituir o processo físico, representado pelo papel. Acredito que a mudança revelará o profundo contraste entre o cinema mudo e o cinema falado. 24 Nas instituições que compõem as sociedades modernas, conforme ensina Anthony Giddens, deve prevalecer o sentimento de confiança: em condições de modernidade, atitudes de confiança para com sistemas abstratos são via de regra rotineiramente incorporadas à continuidade das atividades cotidianas e são em grande parte reforçadas pelas circunstâncias intrínsecas do dia a dia.. Para o autor, A confiança, assim, é muito menos um salto para o compromisso do que uma aceitação tácita de circunstâncias nas quais outras alternativas estão amplamente descartadas. 25. Já o sociólogo espanhol Manuel Castells defende que os fenômenos da globalização e da informacionalização, ao mesmo tempo em que transformam a capacidade produtiva e as comunicações, privam as sociedades de direitos políticos e privilégios. Isto porque a repentina aceleração do tempo histórico, somada à abstração do poder, estaria desagregando os atuais mecanismos de controle social e de representação política. 26 24 DOTTI, René Ariel. O processo eletrônico judicial. Curitiba, Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti, a. 7, n. 12, Abr., maio e jun. 2011. p. 1. 25 GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. Tradução: Raul Fiker. São Paulo: UNESP, 1991. p. 87 e 93. 26 CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. Tradução: Alexandra Lemos e Rita Espanha. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. p. 83-84.

13 O autor conclui, enfim, que à excepção de uma elite reduzida de globopolitanos (meio seres humanos, meio fluxos), as pessoas em todo o mundo ressentem-se da perda do controlo sobre as suas próprias vidas, o seu meio, os seus empregos, as suas economias, os seus governos, os seus países e, em última análise, sobre o destino do planeta.. 27 Não obstante as fundadas razões que ensejaram a crítica de Castells, principalmente considerando-se a grande quantidade de pessoas que, por diferentes razões, não são tecnologicamente incluídas, os novos instrumentos eletrônicos constituem avanços importantes em diversos setores, inclusive, no âmbito da prestação jurisdicional. É certo, também, que devem ser respeitados certos limites na seara da informatização dos atos processuais. Assim como as súmulas vinculantes não são aptas a solucionar todo o problema do abarrotamento do Poder Judiciário, deve-se preservar a prática presencial de alguns atos judiciais, a exemplo do interrogatório nas ações penais, zelando, assim, para que a prestação jurisdicional seja mais ágil sem que direitos sejam violados. CONSIDERAÇÕES FINAIS A revolução tecnológica abriu horizontes em quase todas as atividades produtivas e não poupou os operadores do Direito que, em muitos aspectos, se beneficiam com as facilidades proporcionadas pelas novas tecnologias. O casamento da prestação jurisdicional com a informática descortina um universo de novas possibilidades para o futuro da advocacia, agregando tanto entusiastas quanto céticos. A máxima de que Justice delayed is justice denied, em tradução livre, Justiça tardia é justiça negada, cada dia se torna mais verdadeira também perante a sociedade brasileira. Embora a concepção de um sistema para tramitação de processos judiciais exclusivamente em meio eletrônico divida opiniões no Brasil, a partir da edição da Lei 27 Ibid. Grifos do autor.

14 nº 11.419/2006 esta realidade passa a integrar, inevitavelmente, o quotidiano de advogados, magistrados e servidores do Poder Judiciário. Neste contexto, por mais que a adoção de meios eletrônicos para facilitar o trâmite processual e o acesso do jurisdicionado aos autos do processo demande certa dose de confiança dos operadores do Direito, é inegável que a prestação jurisdicional adequada demanda tanto a observância do devido processo legal, quanto a rápida resolução da lide. Com a massificação das relações sociais e o aumento exponencial de lides submetidas diariamente à apreciação do Poder Judiciário, o uso de mecanismos que optimizem os atos processuais tornou-se primordial, sob pena de se atingir um colapso de todo o sistema. O que se denota, enfim, é que o conhecimento e o domínio dos novos instrumentos relacionados à tramitação dos processos são fundamentais para garantir a adequada prestação jurisdicional. É verdade também que o primeiro e maior beneficiário da adoção de novas tecnologias e instrumentos que agreguem segurança e celeridade à execução dos atos processuais será, sempre, o jurisdicionado. REFERÊNCIAS BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Regulamento do Renajud: restrições judiciais de veículos automotores. Disponível em: <https://denatran2.serpro.gov.br/renajud/> Acesso em: 27 jan. 2012. BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 100, de 24 de novembro de 2009. Dispõe sobre a comunicação oficial, por meio eletrönico, no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/atos- administrativos/atos-da-presidencia/323-resolucoes/12215-resolucao-no-100-de-24- de-novembro-de-2009> Acesso em: 30 jan. 2012. BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Sistemas. Infojud. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/sistemas/pg-infojud > Acesso em: 27 jan. 2012. BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Sistemas. Infoseg. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/sistemas/infoseg> Acesso em: 25 jan. 2012.

15 BRASIL. Sistema Financeiro Nacional. Sistema Bacen Jud. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?bcjudintro > Acesso em: 27 jan. 2012. BRASIL. Pesquisa mostra opinião dos advogados do Paraná sobre processo eletrônico. Jornal da Ordem, Curitiba, n. 150, jun. 2011, p. 15-18. BRASIL. STF torna obrigatório envio eletrônico de mais oito tipos de processos. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/vernoticiadetalhe.asp?idconteudo=156081> Acesso em: 10 out. 2011. BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. EMandado. Disponível em: <http://portal.tjpr.jus.br/web/di/emandado> Acesso em: 28 jan. 2012. CAMBI, Eduardo. Neoconstitucionalismo e Neoprocessualismo: direitos fundamentais, políticas públicas e protagonismo judiciário. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. Tradução: Alexandra Lemos e Rita Espanha. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2009. DOTTI, René Ariel. O processo eletrônico judicial. Curitiba, Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti, a. 7, n. 12, Abr., maio e jun. 2011. DUPAS, Gilberto. Ética e Poder na Sociedade da Informação: de como a autonomia das novas tecnologias obriga a rever o mito do progresso. São Paulo: UNESP, 2000. EUA. Electronic Court Record Program. Disponível em: <http://www.kingcounty.gov/courts/ecrlibrary.aspx> Acesso em: 20 out. 2011. EUA. Public Access to Court Electronic Records (PACER) Disponível em: <http://www.pacer.gov/> Acesso em: 26 out. 2011.

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