1 Quanto ao Relatório de Auditoria Ordinária Tradicional Acompanhamento de Gestão nº 1 (final), permanecem os apontes constantes nos subitens: 1.1 A Lei Municipal nº 1.688, de 10/11/1993, não especificou as atribuições dos cargos em comissão. Servidor nomeado para o cargo em comissão de Chefe de Departamento foi designado para a função de almoxarife, ato sem amparo legal (fls. 2799 a 2800). 1.2 A prestação de serviços extraordinários pelos servidores municipais não é precedida de solicitação fundamentada do chefe da repartição, tampouco há autorizações prévias e expressas da autoridade competente, em inobservância ao contido no art. 56 da Lei Municipal nº 1.687/1993 (RJU). Constatados casos de servidores que prestaram serviços extraordinários além do limite definido no art. 56, 2º, da referida lei. Matéria apontada em exercícios anteriores (fl. 2800). 2.1 As contratações de obras de 2008 não foram informadas no Sistema para Controle de Obras Públicas SISCOP (fl. 2801). 3.1 A Auditada não providenciou a implantação da coleta seletiva de resíduos sólidos urbanos na origem em inobservância ao disposto no art. 219 da Lei Estadual nº 11.520/00 Código Estadual do Meio Ambiente, no art. 1º da Lei Estadual nº 9.921/93, no art. 23, VI e no art. 225, ambos da Constituição Federal (fls. 2801 a 2802). 3.2 A Auditada não possui a Licença de Operação (LO) da pedreira do Município, tampouco o registro junto ao DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral. Infração ao disposto no art. 2º, caput e 1º, da Resolução CONAMA nº 237/97 e no Decreto Federal nº 3.358/00, que regulamentou a Lei Federal nº 9.827/99 (fl. 2802). 3.3 Aumento no preço do serviço de coleta, transporte e destinação final dos resíduos sólidos urbanos sem os pressupostos necessários
2 para sustentá-lo. Irregularidade apontada no processo de contas de 2007, com pagamentos ocorridos no exercício em exame. O valor nominal de R$ 22.656,55, pago em 2008, é passível de devolução ao Erário (fls. 2803 a 2804). 4.1 Aplicações de recursos financeiros em bancos nãooficiais, em infração ao disposto no art. 164, 3º, da Constituição Federal, e no art. 43, caput, da Lei de Responsabilidade Fiscal (fl. 2804). 5.1, 5.1.2, 5.1.3, 5.1.4, 5.1.5 e 5.1.6, quanto às irregularidades na forma de prestação de serviços de saúde por meio de contrato de gestão entre o Município e a AGUPROSA Associação Guaporé Pró-Saúde, qualificada no âmbito municipal de Organização Social (fls. 2804 a 2813). Detectaram-se irregularidades também quanto à Entrega de Documentos constantes nos subitens: 2.1.1 Relatório do Conselho de Saúde de que trata o art. 77, 3º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, não foi enviado a este Tribunal para a prestação de contas, em infringência ao disposto no art. 113 do Regimento Interno desta Corte (fl. 222). 2.1.2 Relatório e Parecer da Central de Sistema de Controle Interno (CSCI), sobre as contas do Poder Executivo, consignou que a correção de alguns procedimentos não foi ainda plenamente atingida, tal como a realização de processo administrativo para apurar a responsabilidade pelo descumprimento do convênio com o Ministério da Saúde (fls. 184 e 223). Quanto à Gestão Fiscal, na apreciação do Processo TCE nº 02806-02.00/08-1, sessão realizada em 30/04/2009, decidiu a Segunda Câmara, na alínea a, por emitir o parecer nº 8.458, pelo atendimento à Lei de Responsabilidade Fiscal no exercício em análise.
3 Regimentalmente instado, o Ministério Público Especial, através do Parecer n.º 4548/2011, da lavra do Adjunto de Procurador, Senhor Ângelo Borghetti, concluiu pela imposição de multa e fixação de débito, (referente ao item 3.3 Pagamento Irregular de Contrato) ao Senhor Antônio Carlos Spiller. Nesse sentido também, pela emissão de Parecer Desfavorável à aprovação das contas do Senhor Antônio Carlos Spiller quanto à administração efetivada no Executivo Municipal de Guaporé no exercício de 2008, com fundamento no artigo 3º da Resolução nº 414/1992, com ciência ao Procurador-Geral de Justiça e ao Procurador Regional Eleitoral bem como a recomendação ao atual Administrador para que corrija e evite a reincidência dos apontes criticados nos autos. É o relatório. Nos termos propostos pela Área Técnica e do Ministério Público junto a essa Corte, identificam-se irregularidades passíveis da imposição de multa ao Administrador pois revelam fragilidade do Sistema de Gestão da Auditada, além de configurarem violação às normas de administração financeira, orçamentária e contábil, sujeitando o Administrador à penalidade de multa, com fundamento no artigo 67 da Lei Orgânica do Tribunal de Contas, sem prejuízo da cientificação à Origem para adoção de medidas corretivas das falhas apontadas, caminho que se sugere aos atuais Gestores. Nesse sentido, concluindo pela permanência dos apontes constantes no Relatório de Auditoria, em contraponto aos esclarecimentos juntados, destacam-se os subitens: 1.1 (lei de criação de cargos em comissão sem atribuição de cargo), 1.2 (prestação de serviços extraordinários sem solicitação e autorizações prévias além do limite definido - matéria já apontada em exercícios anteriores), 2.1 (contratações de obras de 2008 não foram informadas no
4 Sistema para Controle de Obras Públicas), 3.1 (auditada não providenciou a implantação da coleta seletiva de resíduos sólidos urbanos na origem), 3.2 (auditada não possui a Licença de Operação (LO) da pedreira do Município nem registro junto ao Departamento Nacional de Produção Mineral) e 4.1 (quanto às aplicações de recursos financeiros em bancos não-oficiais). As irregularidades, relatadas nos subitens a seguir (5.1, 5.1.2, 5.1.3, 5.1.4, 5.1.5 e 5.1.6), se referem à singular parceria entre o Município e a Associação Guaporé Pró-Saúde (AGUPROSA), qualificada no âmbito municipal de Organização Social, revelando o uso da Associação para evitar as normas de direito público no que concerne à admissão de pessoal e à contratação de prestadores de serviços na área de saúde. Ressalta-se, mediante a leitura dos relatórios e a análise dos esclarecimenos, que o procedimento de contratação da Associação Guaporé Pró-Saúde está eivado de irregularidades, a saber: não-realização do devido processo licitatório, o contrato de gestão é silente em relação aos indicadores de eficiência, de eficácia e de efetividade, as receitas da Associação provêm, quase que exclusivamente, dos repasses efetuados pela Prefeitura, ausência de prestação de contas e, vinculação direta dos sócios fundadores da AGUPROSA com a Administração Municipal. Com efeito, o quadro social da entidade é integrado por Secretários Municipais, pelo Prefeito, Vice-Prefeito, Vereador e funcionários públicos, confundindo-se, inequivocamente, com a própria Administração Municipal, em clara transgressão ao princípio da impessoalidade, porquanto injustificável a contratação pelo Executivo Municipal, para a prestação de serviços públicos, de uma entidade regida por normas de direito privado, transferindo a essa vultosas quantias, sendo gerida por agentes políticos e por servidores do próprio município.
5 2804 a 2805). O valor de repasse no exercício foi de R$ 1.740.000,00 (fls. O Justificante apresenta comentários gerais acerca do SUS e da possibilidade de complementar os serviços de saúde por intermédio dos contratos de gestão. Observe-se que essas impropriedades também restaram relatadas nos processos de prestações de contas de 2006 e 2007, constando das decisões camerais que impuseram multa e advertência para regularizar. Das contas de 2007 (processo TCE n.º 4449-0200/07-0), onde foi Relator o Conselheiro Victor José Faccioni, houve a Emissão de Parecer Desfavorável, multa e a fixação de débito ao Gestor. Mediante a apreciação final do Recurso de Embargos nº 05868-02.00/09-8, os mesmos argumentos aqui apresentados foram analisados pelo Relator, Conselheiro Algir Lorenzon que, após a Devolução de Vista do Conselheiro Hélio Saul Mileski, assim destacou: (...) o contrato é celebrado entre o Poder Público e um ente privado, sendo que, nesse tipo de situação, obrigatoriamente, há de serem observados os princípios constitucionais dirigidos à ação administrativa, especialmente os da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, dever de prestação de contas e submissão ao sistema de controle público. Neste aspecto, no caso sob análise, restou desatendido o princípio da impessoalidade, considerando que ficou comprovado, pela equipe de auditoria, que o quadro de associados da AGUPROSA é composto por inúmeros servidores da Administração Municipal, dentre eles, o
6 Prefeito, o Vice-Prefeito, Vereadores e Secretários municipais, além de outros servidores do município. As autoridades públicas não podem assumir a dupla condição de fiscal e fiscalizado, como ocorre na presente circunstância, pois, do fato, surge à impossibilidade de ser conciliado o conflito de funções, operando desatendimento ao princípio da moralidade, além de deixar obstaculizado o exercício do controle. Diante do exposto, considero que, para a caracterização de uma aplicação adequada das normas atinentes aos referidos contratos, é necessário que sejam, sobretudo, atendidos os princípios constitucionais dirigidos à Administração Pública, os quais devem nortear os atos dos Administradores Públicos em geral. Por tais razões, indubitavelmente, deflui a conclusão de que os dirigentes das entidades do Terceiro Setor, ora contratadas pelo Poder Público de Guaporé, não podem nem devem ter qualquer tipo de vínculo institucional, profissional ou comercial com as pessoas que exerçam poderes de decisão nos Órgãos Públicos contratantes. Primeiramente, o contrato não contempla indicadores de desempenho de gestão, impossibilitando averiguar a economicidade e a eficiência do ajuste firmado (fls. 2806 a 2808). Afrontando o princípio da Impessoalidade, a associação tem no seu quadro de sócios fundadores diversos servidores municipais, secretários, o Prefeito e o Vice-Prefeito, confundindo-se com a Administração Municipal (fls. 2808 a 2809).
7 A quase totalidade das atividades da Associação é mantida com repasses financeiros do Poder Público, tornando-a equivalente a órgão de Administração Indireta sujeita ao controle público. Suscita-se que a situação em tela requer a instauração de Tomada de Contas Especial, com fundamento no art. 104 do Regimento Interno deste TCE (fls. 2809 a 2811). A ausência de processo de prestação de contas dos recursos repassados afronta claramente ao disposto no art. 70, único, da Constituição Federal, dificultando a atuação deste controle externo (fls. 2811 a 2812). A AGUPROSA atua de fato intermediando mão-de-obra e prestação de serviços de saúde para o Município, sendo essas terceirizações características de burla ao concurso público e ao cômputo das despesas com pessoal (fls. 2812 a 2813). Sujeitam o Administrador, ainda, à devolução de valores ao Erário, as irregularidades constantes nos subitens a seguir destacados, após a análise dos esclarecimentos do Gestor. Quanto ao item 3.3 (fls. 2803 a 2804), relativo ao aumento no preço do serviço de coleta, transporte e destinação final dos resíduos sólidos urbanos sem os pressupostos necessários para sustentá-lo, salienta-se irregularidade já apontada no processo de contas de 2007, com pagamentos ocorridos no exercício em exame. O valor de R$ 22.656,55, pago em 2008, é passível de devolução ao Erário. O Justificante admite a irregularidade, informando que houve o ressarcimento de R$ 21.458,16 ao Erário, acolhendo o parecer do Controle Interno. De forma contraditória, justifica a diferença de preço praticada com base no art. 65 da Lei nº 8.666/93 (fls. 236, 321 a 325, 443, 444 e 535 a 572).
8 Não foram acolhidas as justificativas apresentadas para esse aponte na prestação de contas de 2007 (processo nº 04449-02.00/07-0, julgado em 24/03/2009). Também no respectivo Recurso de Embargos (processo nº 05868-02.00/09-8) houve a permanência do aponte. O Gestor reconhece a impropriedade e demonstra o ressarcimento de R$ 21.458,16 ao Erário (fl. 539). Entretanto, não informa sobre a composição desse valor. A Equipe de Auditoria aponta que o valor mensal indevido é de R$ 7.152,72, desde 01/10/2007 a 20/01/2008. Assim, referente aos três meses de 2007, o valor total indevido é de R$ 21.458,16 (R$ 7.152,72 vezes 3), registrado pelo empenho nº 8.588 (fl. 88). Todavia, parte desse empenho foi estornado (R$ 3.570,09, fl. 89), ocorrendo a liquidação e pagamento, em 23/01/2008, do valor de R$ 17.888,07 (fl. 90), a ser ressarcido ao Erário. E relativo à janeiro de 2008, o valor indevido é de R$ 4.768,48 (valor proporcional aos 20 dias), valor este passível de devolução. Portanto, o valor total a ser devolvido é de R$ 22.656,55 (R$ 17.888,07 mais R$ 4.768,48). Dessarte, acolhendo-se a comprovação de recolhimento de R$ 21.458,16 apresentada pelo Justificante (fl. 539), tem-se que falta ressarcir R$ 1.198,39, considerando a quantificação do prejuízo anotada pela Equipe de Auditoria (total de R$ 22.656,55), cabendo a imposição de débito. Acerca da Gestão Fiscal, o Órgão Técnico refere a decisão prolatada no Processo nº 02806-02.00/08-1, no sentido do atendimento aos preceitos da Lei Complementar Federal nº 101/2000. Quanto à emissão de Parecer, reiterando o exposto na fundamentação supra, constato a ocorrência de atos administrativos e de gestão
9 contrários às normas de administração financeira e orçamentária, contidas, em especial, nas Leis Federais nºs 8.666/93 e 4.320/64, que enquadram o presente feito no artigo 3º da Resolução n.º 414/92. Nesse sentido, anuindo às análises Técnica e Jurídica dessa Corte, entendo que as falhas identificadas acima, precipuamente as reincidentes em mais de um exercício, ensejam a emissão de Parecer Desfavorável ao Administrador responsável. Isso posto, VOTO: a) pela advertência à Origem quanto às irregularidades retroapontadas, determinando a adoção de providências para seu saneamento, o que deverá ser objeto de verificação em futura auditoria, sobretudo, quanto aos itens 3.3 (aumento no preço do serviço de coleta, transporte e destinação final dos resíduos sólidos urbanos) e 5.1 (irregularidades na parceria entre o Município e a Associação Guaporé Pró-Saúde AGUPROSA), sob pena de, na reincidência, repercutirem negativamente no exame de futuras contas; b) pela imposição de multa no valor de R$ 1.500,00 ao Senhor Antônio Carlos Spiller, Administrador do Executivo Municipal de Guaporé no exercício de 2008, com fundamento nos artigos 132 do Regimento Interno dessa Corte e 67 da Lei Estadual n 11.424/2000; c) pela fixação de débito, no valor nominal de R$ 1.198,39, referente ao item 3.3, de responsabilidade do Senhor Antônio Carlos Spiller, Administrador do Executivo Municipal de Guaporé no exercício de 2008; d) pela remessa dos autos à Supervisão de Instrução de Contas Municipais para elaboração do demonstrativo de multa e atualização do débito fixado; e) pela intimação do responsável para que, no prazo de 30 (trinta) dias, promova o recolhimento da multa e glosa fixadas na presente
10 decisão, apresentando as devidas comprovações perante este Tribunal de Contas; f) não cumprida a decisão e esgotado o prazo para recolhimento da multa e glosa impostas, sejam emitidas Certidões de Decisão Títulos Executivos, consoante a Instrução Normativa n 02/2011; g) pela emissão de Parecer Desfavorável à aprovação das Contas do Senhor Antônio Carlos Spiller, Administrador do Executivo Municipal de Guaporé no exercício de 2008, com o fundamento do artigo 3º da Resolução 414/1992; h) ciência à Procuradoria-Geral de Justiça e ao Ministério Público Eleitoral, nos termos do artigo 87 da Resolução 544/2000 RITCE; i) pelo encaminhamento do expediente ao Legislativo Municipal de Guaporé, com o devido Parecer de que trata a letra g, da presente decisão, para os fins constitucionais. Conselheiro Iradir Pietroski, Relator.