Emissão de certidão. Novo assento de nascimento ou assento informatizado que integre a adoção plena. Legitimidade para requerer

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DIVULGAÇÃO DE PARECER DO CONSELHO CONSULTIVO N.º 76/ CC /2015 N/Referência: P.º C.C. 38/2013 STJ-CC Data de homologação: 18-12-2015 Consulente: Conservatória do Registo Civil de.. Assunto: Palavras-chave: Emissão de certidão. Novo assento de nascimento ou assento informatizado que integre a adoção plena. Legitimidade para requerer Adoção plena novo registo registo informatizado emissão de certidões - Legitimidade O senhor conservador do registo civil de.., confrontado com a orientação que vem sendo seguida por estes serviços face ao disposto nos artigos 1985.º do Código Civil e 123.º, 213.º e 214.º do Código do Registo Civil bem como no processo CC 47/2010 SJC no que concerne à legitimidade para requerer certidão de assento de nascimento novo ou informatizado em que já esteja integrado no texto averbamento de adoção plena, interpreta o despacho n.º 21/2013 no sentido da admissibilidade da emissão de tais certidões a pedido de qualquer pessoa, ainda que os pais biológicos do registado, por já estar integrada a identificação dos adotantes, e conclui por, em tais casos, não haver lugar à restrição apontada nos citados normativos legais. Remetida a consulta aos serviços jurídicos do IRN, I.P., foi elaborado parecer em que, embora não se pronunciando abertamente contra a proposta formulada no sentido da emissão a quem se apresente a requerer certidão de novo assento de nascimento ou de assento informatizado respeitante a adotado plenamente em que o averbamento de adoção plena tenha sido integrado no texto, alerta para o facto de tais assentos não inviabilizarem completamente a possibilidade de certidões deles extraídas virem a permitir estabelecer a conexão com o registo primitivo e consequentemente a identificar o adotado e os pais adotivos. Para completa compreensão do dito parecer, passamos a transcrevê-lo em itálico, exceto as palavras nele utilizadas nessa grafia: A O artigo 1985.º do CC estabelece regras quanto ao segredo de identidade quer dos adotantes quer dos pais naturais. 1/7

No seu n.º 1 estabelece uma regra geral de segredo de identidade em relação aos pais adotivos. Ou seja, a identidade dos pais adotivos não pode ser revelada aos pais naturais, exceto se aqueles expressamente o consentirem. E no n.º 2 determina que em relação aos pais naturais do adotado o segredo de identidade só existe se expressamente manifestarem essa vontade. Desta forma, se aqueles nada declararem, a sua identidade pode ser revelada aos adotantes, mas se expressamente se opuserem, ela não poderá ser revelada, não resultando assim o segredo de identidade automaticamente da lei. B Com vista a preservar aquele segredo o nosso Código do Registo Civil (CRC) estabelece regras sobre a emissão de certidões a extrair dos registos de nascimento dos adotados e sobre a legitimidade para as requerer, nos seus artigos 213.º e 214.º. O n.º 1 do artigo 214.º do CRC estabelece uma regra geral quanto à legitimidade para requerer a emissão de certidões de registo. Assim e como regra qualquer pessoa tem legitimidade para as solicitar. Todavia esta regra tem exceções a que há que atender, como no caso dos registos de nascimento dos quais conste um averbamento de adoção plena. Com efeito, o n.º 2 deste artigo 214.º determina que: 2 - Dos assentos de filhos adotivos só podem ser passadas certidões de cópia integral ou fotocópias a pedido das pessoas a quem o registo respeita, descendentes ou herdeiros e ascendentes, sem prejuízo, quanto a estes, do disposto no artigo 1985.º do Código Civil. Desta forma, só podem ser emitidas certidões de cópia integral ou por fotocópia de registo de nascimento donde conste averbamento de adoção plena, a pedido do registado, dos seus descendentes ou herdeiros e ascendentes, mormente os adotantes (sendo que a ascendência se afere em relação à família adoptiva, já que os laços familiares com a família natural cessam com a adoção plena). Sem prejuízo quanto aos ascendentes da regra contida no artigo 1989.º do CC. Quer isto dizer que se existir segredo de identidade quanto aos pais naturais, só poderá ser emitida certidão a pedido dos adotantes desde que não conste o nome dos pais biológicos, ou seja, poderá ser emitida uma certidão de narrativa, não podendo a certidão ser de cópia integral ou emitida por fotocópia. C No que respeita às certidões de narrativa a extrair de assentos de nascimento com averbamento de adoção plena as mesmas só deverão conter a filiação adotiva, como determina o n.º 2 do artigo 213.º do CRC. Sendo sempre emitidas com respeito pela regra da legitimidade contida no artigo 214.º, n.º 2, do CRC. 2/7

Devendo, ainda assim, a filiação natural do adotado ser mencionada nas certidões destinadas a instruir processos de casamento e nos casos em que o requisitante expressamente o solicite (artigo 213.º, n.º 3, do CRC) Neste último caso, terá que se ter em conta a regra contida no n.º 2 do artigo1985.º, do CC, sendo necessário apurar se resulta do assento a existência ou não de declaração expressa dos pais naturais em como se opõem a que a sua identidade seja conhecida pelo adotante. D Nesta linha, foi publicado o Despacho 21/2013 do Sr. Presidente do Conselho Diretivo do IRN, o qual refere ainda que têm legitimidade para solicitar a emissão de certidões de cópia integral ou por fotocópia de qualquer registo o IRN, as autoridades policiais e as autoridades judiciais, excecionando-se os casos referidos no n.º 3 do artigo 214.º do CRC, conforme determina o n.º 6 do mesmo artigo. Finaliza exortando os serviços a terem especial atenção ao conteúdo dos registos dos quais está a ser requerida certidão e caso verifiquem que estão perante a exceção a que se reporta o n.º 2 do artigo 214.º do CRC, devem aferir da legitimidade do requerente. E No P.º CC 47/2010 SJC, que o consulente refere, foram proferidas conclusões sendo que na conclusão n.º 2 se lê: 2- A referenciação efectuada no novo assento de nascimento, que integrou a adoção plena, ao assento primitivo é imprescindível para que no decurso de um processo de casamento seja detectada essa circunstância e possa ser averiguada a filiação natural e a inexistência de impedimentos matrimoniais decorrentes da filiação natural bem como, para aferir da legitimidade do requerente de certidão daquele assento em salvaguarda do segredo de identidade dos adoptantes. Ora, a parte final daquela conclusão parece indiciar que as regras sobre a legitimidade para requerer a emissão de certidão, no caso de adoção plena, se aplicam também no caso de novo assento de nascimento. Sobre aquela informação recaiu despacho de concordância do Sr. Vice-Presidente, por delegação, em 25-05- 2010. F Com interesse, refira-se o Parecer do Conselho Consultivo proferido no P.º CC 38/2013 STJ-CC, homologado por despacho do Sr. Vice-Presidente do IRN, em substituição, em 25-07-2014. Naquele Parecer foi defendido, num caso de adoção plena e em que a Autoridade Tributária requeria à conservatória que 3/7

confirmasse se dois nomes correspondiam à mesma pessoa (um deles o nome com que foi registada inicialmente e o outro o que resultou da adoção plena), que tal informação não podia ser facultada à AT por se entender que, se está vedada à Autoridade Tributária aceder, a seu pedido ao conteúdo integral de assento respeitante a adotado plenamente mediante a obtenção de certidão, não lhe poderá ser prestada pela Conservatória informação sobre a correspondência entre os nomes anterior e atual de registada adotada plenamente. G Refere o consulente que, quer no novo assento quer na informatização de assento primitivo, a adoção plena que se encontre em averbamento é integrada no texto do assento. Com efeito, resulta do artigo 123.º do CRC que no caso de novo assento de nascimento a adoção plena é integrada no texto do assento. Já os vários despachos sobre a informatização de registos de nascimento determinam que se devem observar o disposto no artigo 123.º do CRC (novo assento), mesmo no caso de registo com averbamento de adoção plena. Argumento que usa para afastar o risco de violação do segredo de identidade e defender a legitimidade de qualquer cidadão para requerer a emissão de certidão de nascimento (de um registo informatizado ou de um novo assento). É certo que, a informatização de um registo com averbamento de adoção plena ou o lavrar-se de um novo assento, originam outro assento de nascimento, com um número diferente e, por vezes, até lavrado noutra conservatória. Registo que respeita a registado com um nome distinto do nome que constava do registo primitivo e com outra filiação. De facto, pela adoção plena o registado perde os apelidos da família natural e adquire os apelidos dos adoptantes e por vezes até o seu nome próprio é alterado. Mas certo é também que nestes casos ao assento é lançada cota que identifica o assento primitivo pelo seu número, ano e conservatória, podendo questionar-se se através dessa menção um interessado (por exemplo, um dos progenitores naturais) poderá identificar o registado. Como certo é que numa sociedade como a atual, em que a informação é global e globalizada, se impõem regras mais apertadas quanto ao controlo e restrições na legitimidade para requerer certidões. Assim, pela pertinência da questão e pelo melindre do tema coloca-se à consideração superior o envio do presente processo para Conselho Consultivo. E, na sequência do atendimento dessa sugestão, os presentes autos foram submetidos a este Conselho Consultivo. Cumpre, pois, emitir pronúncia. 4/7

Com efeito, no Processo CC 47/2010-SJC foi mantido o entendimento doutrinário e dos serviços segundo o qual no novo assento de nascimento deverá ser efetuada cota de referência ao assento primitivo mediante indicação do respetivo número e ano e imposto que, sendo efetuada a informatização de um novo assento de nascimento em suporte de papel que havia sido lavrado para integração de adoção plena, no assento informatizado deverá ser adicionada à cota de informatização a indicação do assento primitivo ao qual estará averbada a adoção, servindo esta menção de alerta para a existência da mesma, conforme conclusões 1ª e 2ª do parecer nele exarado. Ora, contendo sempre o novo assento e o assento informatizado cota de referência ao registo primitivo e mantendo-se a data do nascimento e a naturalidade do registado, estes elementos poderão permitir que os pais biológicos, aos quais foi disponibilizada no ato do registo a respetiva certidão, venham a estabelecer facilmente a correspondência entre os dois assentos, frustrando assim o segredo de identidade que o artigo 1985.º do Código Civil impõe no seu n.º 1. É óbvio assim que a menção de tal cota, que consta nas certidões extraídas dos assentos novo e informatizado em causa, poderá permitir aos pais naturais obter com esses elementos a informação sobre os pais adotivos que a lei expressamente manda reiteradamente silenciar. E que, segundo a lição do civilista de direito da família Menéres Barbosa, em anotação ao artigo 1985.º in Código Civil Anotado de Abílio Neto, não obstante o manifesto desinteresse que os pais biológicos revelam pelos seus filhos, pelo seu bem-estar e pelo seu futuro, virem procurar mais tarde saber de novo deles, se se pode explicar por um remorso tardio, também pode assentar em razões menos nobres. Daí que se justifique que nos casos indicados se impeçam os pais naturais de, novamente, entrarem em contacto com os filhos, já que, decerto, estes últimos nenhum benefício daí iriam retirar e a sua inoportuna intervenção iria necessariamente provocar instabilidade psicológica na família adotiva. Assim, e enquanto o citado artigo impuser o segredo de identidade relativamente aos adotantes e não for derrogado, a impossibilidade de obtenção das mencionadas certidões a requerimento de qualquer pessoa é relevante e tem de ser respeitada. Esta é, como é sabido, a orientação desde sempre seguida nos serviços do registo civil e cuja obrigatoriedade foi acentuada nas recentes Leis n.ºs 91/2015, de 12 de agosto, que alterou a Lei n.º Lei n.º 7/2007, de 5 de fevereiro, que cria o cartão de cidadão e rege a sua emissão e utilização, e n.º 143/2015, de 8 de setembro, que aprovou o Regime Jurídico do Processo de Adoção. E as considerações subjacentes a tal orientação continuam a estar presentes enquanto se mantiverem, como se mantêm, as limitações constantes dos preceitos legais apontados. 5/7

Pelo exposto, e salvo o devido respeito, o dito despacho n.º 21/2013 não pode ser interpretado partindo do princípio de que, estando inseridos os nomes dos adotantes no texto do assento (novo ou informatizado) e consequentemente eliminado o averbamento da adoção plena decretada, não se verificará o perigo de, através de certidão extraída de tal assento, poder vir a ser apurada a filiação biológica do registado. Foi essa a mesma justificação que norteou os serviços no parecer elaborado no P.º C.C. 72/2013 STJ-CC, em que se sustentou a atribuição de um novo número de identificação civil nomeadamente nos casos de adoção plena com fundamento em que a partir de 23 de outubro de 2007 lhes é [aos registados] automaticamente atribuído o número de identificação civil (NIC) aquando da feitura do registo de nascimento e entregue documento com indicação do NIC aos declarantes (cfr. artº 215º nº 5 do Código do Registo Civil), o que confere aos pais biológicos um instrumento privilegiado para eventuais buscas da posterior identificação do filho e seus adotantes [ ]. Solução que veio a ter consagração legal na citada Lei n.º 91/2015, ao alterar o n. 2 do artigo 16.º da Lei n.º 7/2007, de 5 de fevereiro, no sentido de que A adoção implica a atribuição ao adotado de novos números de identificação civil [ ] de modo a garantir o segredo de identidade previsto no artigo 1985.º do Código Civil. Tanto mais que a Lei n.º 143/2015, de 8 de setembro, que aprovou o Regime Jurídico do Processo de Adoção, veio reforçar a garantia dada pelo n.º 1 do artigo 1985.º do Código Civil de não permitir a revelação da identidade dos adotantes exceto se estes expressamente não se opuserem a tal revelação, nomeadamente na norma inovadora contida no artigo 56.º, n.º 3, da referida Lei 143/2015, que impõe a notificação da extinção do vínculo da filiação aos pais naturais com salvaguarda do segredo de identidade previsto no artigo 1985.º do Código Civil. Aliás, relativamente à situação de mudança de sexo e consequente alteração de nome próprio, em que a lei (n.º 3 do citado artigo 214.º) apenas exceciona da regra geral da ampla legitimidade para requerer certidão o caso de assentos (primitivos) a que se mostre efetuado tal averbamento, pelo que, sempre que se trate de assentos (novos ou informatizados) em que a mudança de sexo não é referida nem nada a denuncia, qualquer pessoa pode obter a respetiva certidão, o Conselho Consultivo, nas conclusões 4 e 5 do parecer proferido no Pº C.C. 19/2013 STJ-CC, sufragou o entendimento segundo o qual a legitimidade para requerer certidões de cópia integral ou fotocópias dos assentos novos resultantes da mudança de sexo e da alteração de nome próprio que, em face das circunstâncias do caso concreto, não salvaguardem em absoluto a privacidade do registado, restringe-se ao próprio, aos seus herdeiros ou às autoridades judiciais ou policiais para efeitos de investigação ou instrução criminal. Na verdade, a interpretação da lei adjetiva tem de se conformar à lei substantiva. Por conseguinte, não poderia o despacho em questão ser interpretado no sentido de modificar o âmbito do n.º 2 do artigo 214.º do Código do Registo Civil quanto à exceção nele estabelecida à ampla legitimidade para requisitar certidões contemplada no n.º 1 do mesmo artigo para todos os assentos de filhos adotivos, restringindo-o tão só aos assentos que 6/7

contenham averbamento de adoção plena, por essa interpretação violar a norma imperativa do referido artigo 1985.º, n.º 1. Em suma, o despacho n.º 21/2013 não consente a interpretação invocada pelo consulente, pois limitou-se a acautelar a legitimidade dos requerentes de certidões de assentos de nascimento aos quais se encontrem lançados averbamentos de adoção plena, sem atentar na redação mais adequada constante do mencionado artigo 214.º, n.º 2, que refere assentos de filhos adotivos e não apenas assentos com averbamento de adoção plena, tendo esta terminologia sido recolhida da orientação fornecida exclusivamente para efeitos de informatização de assentos no SIRIC quanto à mesma matéria, v.g. no despacho n.º 68/2007, item 8. E delibera formular as seguintes conclusões: Daí que, em conclusão, este Conselho Consultivo delibere que: 1. De todos os assentos (primitivos, em que conste averbamento de adoção plena, e novos ou informatizados, em que esta já esteja integrada no texto) referentes a filhos adotivos só podem ser passadas certidões de cópia integral ou fotocópia a pedido das pessoas a quem o registo respeita, descendentes e herdeiros ou ascendentes, sem prejuízo, quanto a estes, do disposto no artigo 1985.º do Código Civil (cfr. artigo 214.º, n.º 2 do Código do Registo Civil). 2. O despacho n.º 21/2013 não altera o entendimento que desde sempre vem sendo seguido pelos serviços de proibição de entrega de certidões a qualquer pessoa que pretenda obter certidão de registo de nascimento respeitante a adotado plenamente, quer a adoção plena conste de averbamento ou esteja integrada no texto do assento. Parecer aprovado em sessão do Conselho Consultivo de 17 de dezembro de 2015. Laura Maria Martins Vaz Ramires Vieira da Silva, relatora, Maria de Lurdes Barata Pires de Mendes Serrano, Paula Marina Oliveira Calado Almeida Lopes. Este parecer foi homologado pelo Senhor Presidente do Conselho Diretivo, em 18.12.2015. 7/7