QUANDO A CIÊNCIA É NOTÍCIA 2000: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS JORNAIS FOLHA DE SÃO PAULO E CORREIO BRAZILIENSE

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Transcrição:

QUANDO A CIÊNCIA É NOTÍCIA 2000: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS JORNAIS FOLHA DE SÃO PAULO E CORREIO BRAZILIENSE Jeverson José Benedito BARBIERI (UNICAMP/LABJOR) É propósito da pesquisa Quando a ciência é notícia 2000 mensurar o volume de notícias científicas publicadas nos jornais Folha de São Paulo, um jornal de prestígio nacional, e Correio Braziliense, jornal de indiscutível importância regional. O período escolhido compreende 24 a 30 de setembro de 2000, o qual permite avaliar tanto o impacto das notícias sobre as Olimpíadas como sobre as eleições municipais em todo o Brasil. Ao se quantificar a divulgação de ciência, identificam-se as suas formas de veiculação e é possível saber como a ciência se configura na mídia com a influência dos fatos atípicos, privilegiando-se, então, as duas situações citadas. Os resultados preliminares indicam níveis positivos da divulgação científica. Palavras-chave: Jornais Brasileiros Divulgação Científica, Divulgação Científica - Jornais Brasileiros INTRODUÇÃO As recentes descobertas científicas realizadas nos últimos anos, que propiciaram à sociedade a experimentação prática dos resultados, têm levado a população brasileira a se interessar de forma crescente pela produção científica nacional. Segundo Caldas; Macedo (1999), surgem quatro questões fundamentais: a quem cabe decidir sobre as áreas prioritárias para investimentos governamentais e empresariais? De que maneira a sociedade civil está sendo informada sobre produção científica e tecnológica do País? Como subsidiar a opinião pública com informações para que possa participar ativamente do processo? A quem cabe a formação de uma cultura científica no País? Apesar do crescente aumento de notícias de caráter científico e tecnológico nos jornais de grande circulação no Brasil, é importante ressaltar que o jornalismo científico é um campo muito pouco desenvolvido no País. Marques de Melo aponta, em 1986, que nos últimos 30 anos o desenvolvimento de pesquisas científicas brasileiras tem sido inversamente proporcional ao trabalho de divulgação dessas pesquisas.

A pesquisa Quando a ciência é notícia 2000, coordenada pelo professor José Marques de Melo, faz uma análise completa dos jornais Folha de S. Paulo (SP), Estado de São Paulo (SP), Jornal do Brasil (RJ), O Globo (RJ), títulos considerados de prestígio nacional; e Jornal do Commercio (PE), Correio Braziliense (DF), O Liberal (PA), Estado de Minas (MG) e Zero Hora (RS), jornais de grande circulação em metrópoles regionais.esta diversidade de fontes revela que é muito variável o espaço que cada veículo concede a matérias sobre produção científica e tecnológica brasileira. A escolha pela abordagem do noticiário científico aplicado nos jornais diários é bastante clara, uma vez que essa comunicação se dá diariamente e os jornais podem ser considerados veículos privilegiados na relação entre a comunidade e os acontecimentos em escala local, regional, nacional e mundial. É possível, portanto, mensurar o noticiário científico e conhecer o aprofundamento dado pelos veículos de comunicação a essas notícias. Enquanto jornalista e pesquisador atuante na área de divulgação científica, é possível afirmar que se trata de um trabalho rico e valioso, não só do ponto de vista pessoal como aprimoramento da função, mas como indicador de níveis para a comunidade científica. Cientistas e jornalistas podem utilizar este instrumento para avaliar e analisar o quanto ainda pode ser feito no sentido de ampliar esse espaço fundamental, que é a mídia impressa. É importante ressaltar que, comparativamente ao estudo realizado na década de 80 pelo professor Marques de Melo, as conclusões, ainda preliminares, indicam um aumento do espaço editorial dedicado à ciência. O presente trabalho compara os jornais Folha de S. Paulo e Correio Braziliense, veículos de grande importância no cenário brasileiro. Através dos dados aqui relatados, é possível construir um cenário do que ocorre na imprensa diária com a divulgação científica. METODOLOGIA A base metodológica utilizada foi a pesquisa Quando a ciência e notícia, produzida pelo Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), no período de 1984 a 1986, sob a coordenação do professor José Marques de Melo, como antes mencionado. O procedimento adotado nas análises das notícias foi bastante abrangente, com a preocupação maior de identificar, nas páginas dos veículos de comunicação, notícias jornalísticas que, de alguma forma, possuíam vínculo com o universo científico, sem importar a finalidade.

Utilizamos a técnica de mensuração da área impressa através da centimetragem, que significa medir a altura da coluna e multiplicar pelo número de colunas. Através deste procedimento, conseguimos estabelecer, quantitativamente, o espaço científico dos jornais. Após a mensuração, foi realizada a interpretação de cada notícia e uma análise mais detalhada para atender as necessidades da pesquisa. As tabelas ficaram assim distribuídas: Tabela I Morfologia: dados de controle (número de colunas por página, largura e altura da coluna em cm, superfície da página e da edição toda em cm/col e ainda a data de lançamento de cada jornal) Tabela II Perfil dos jornais pesquisados (tiragem cotidiana e dominical, número de páginas das edições, cadernos jornalísticos e publicitários, suplementos semanais e eventuais e o formato do jornal) Tabela IIa Cadernos jornalísticos Tabela IIb Suplementos (por assunto) dos jornais Tabela III Distribuição de C&T pelo espaço editorial Tabela IIIa C&T presente nas eleições e Olimpíadas Tabela IVa Gênero e formato jornalístico gênero informativo Tabela IVb Gênero e formato jornalístico gênero opinativo Tabela IVc Gênero e formato jornalístico interpretativo, diversional e utilitário Tabela V Angulagem (sensacionalista, sobriedade acadêmica, denúncia acadêmica e descrição jornalística convencional) Tabela VI Origem internacional/nacional Tabela VII Autoria (jornalística, científica, mista, outras) Tabela VIII Fonte Tabela IX Protagonistas Tabela X Natureza da informação (disseminação, divulgação, difusão) Tabela XI Conteúdo por área do conhecimento Com essa metodologia, é possível identificar onde e como a divulgação científica é posta ao alcance do público leigo pela mídia impressa brasileira e observar as características próprias de cada veículo de comunicação.

O corpus da pesquisa está constituído pelas edições dos jornais na semana de 24 a 30 de setembro de 2000, considerada atípica, face à presença das notícias referentes às eleições municipais e também aos Jogos Olímpicos de Sydney (Austrália). ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS JORNAIS FOLHA DE S. PAULO E CORREIO BRAZILIENSE A seleção dos jornais Folha de S. Paulo e Correio Braziliense fundamenta-se na representatividade de cada um. São veículos de grande expressão e respeitabilidade, sendo o primeiro considerado de prestígio nacional e o segundo, representativo de uma importante região geográfica brasileira. É, dessa forma, possível verificar as diferenciações que ambos realizam na abordagem científica, quando inseridos num projeto maior. A seguir, apresentaremos os jornais, um pouco de sua história e os dados obtidos na investigação. Folha de S. Paulo O jornal Folha de S. Paulo é composto por seis cadernos: Caderno 1 (Principal), que traz notícias internacionais, políticas e do cotidiano de São Paulo; Folha Ilustrada, que abrange a área da cultura; a Folha Campinas, que discute os acontecimentos em Campinas e na região; Folha Dinheiro; o Caderno de Esportes e o Caderno de Classificados. Apresenta, ainda, 15 suplementos semanais, divididos na forma de standard e tablóide. Por tratarem de temas específicos e terem circulação menor, procuram tratar os temas de forma mais sistemática e, em alguns casos, os apresentam com abordagem mais científica, como é o caso dos suplementos Agrofolha (segunda-feira) e o Folha Mais (domingo). Resultados obtidos Os resultados indicam que o jornalismo científico ocupa espaço ainda pequeno, se comparado à superfície total do jornal, durante a semana pesquisada, que é 205.920 cm, enquanto que o espaço ocupado pelo jornalismo científico é de 10.903 cm, ou seja, apenas 5,3% da superfície impressa. A cobertura científica realizada pela Folha de S. Paulo não tem caráter autônomo no sentido de ocupar um lugar próprio e definido na superfície impressa. Quando há reportagens

científicas, estas estão espalhadas, aleatoriamente, nos Cadernos. Tal observação pode ser confirmada, se observarmos a TABELA III Distribuição de C&T pelo espaço editorial a qual mostra que C&T está mais presente em outras editorias (72%) que as de política (13%), economia (1%) e esportes (0,02%), ou seja, não estão agrupadas num caderno específico, mas espalhadas pelo conjunto da superfície do jornal. A editoria de política se manteve constante na cobertura científica, fator influenciado pelas eleições municipais, haja vista que se o jornal divulgou, diariamente, pesquisas de opinião dos institutos de pesquisa. Em contrapartida, a editoria de esportes não apresentou cobertura científica, mesmo influenciada pelos Jogos Olímpicos. Segundo os dados coletados, no que se refere ao gênero informativo do jornal, a reportagem (82%) é a que melhor expressa a categoria. Nos gêneros opinativos é o editorial (37%) que melhor representa esse gênero jornalístico. No que se refere às fontes da informação científica, é expressivo o papel da universidade (25,5%), seguida por instituições governamentais (21,5%), juntamente com a empresa privada (21%), que se destacou, sobretudo, devido às eleições municipais e as respectivas pesquisas de opinião. Ademais, a Folha de S.Paulo enfatiza as personalidades como protagonistas dos acontecimentos científicos, notadamente os cidadãos (31%). Os políticos vêm em seguida (12%), resultado que pode ter influência das eleições municipais. Numa outra perspectiva, observa-se que os protagonistas institucionais que mais se destacam são as entidades beneficiárias de pesquisas (26,5%) e os centros de pesquisa (12,5%), enquanto inexiste a presença de órgãos governamentais de fomento/financiamento de pesquisas. Em relação às áreas de conhecimento que mais apresentam informação científica, as humanidades (41%) predominam, enquanto que a participação das engenharias (0,3%) é reduzida. No que tange à origem da informação científica, predominam as de origem nacional (92%) e, particularmente, o que se nota é uma informação localista, ou seja, a maior proporção do espaço é ocupada por informações que se originam na própria área geográfica de São Paulo (72,5%), onde se edita a Folha de S. Paulo. A Folha veicula maior informação procedente da Europa (3,3%) e da América do Norte (2,8%), enquanto que a presença da América Central é inexistente. Conclusões

A pesquisa com o jornal a Folha de S.Paulo mostrou que o jornalismo científico ainda não tem lugar privilegiado no conjunto da superfície impressa, sendo a cobertura científica veiculada, aleatoriamente, nas editorias do jornal. O suplemento eventual sobre tecnologia, que circulou no domingo, influenciou na semana estudada, os resultados da cobertura científica, pois foi um caderno somente com matérias científicas, o que também justifica o papel expressivo da área de computação (29%) na mencionada semana. As eleições municipais interferiram diretamente em alguns resultados, como a participação da empresa privada (21%) enquanto fonte de informação científica e a presença significativa dos políticos (12%) como personalidades protagonistas e até a presença dos cidadãos (30,5%), que tiveram posição privilegiada devido graças às pesquisas de opiniã o. Ao contrário das eleições, as Olimpíadas foram inexpressivas no que tange à informação científica, limitando-se a descrever as competições. Correio Braziliense O Correio Braziliense é composto por seis cadernos: Caderno 1 (Principal); Coisas da Vida; Olimpíadas; Guia; Este é meu; e Classificados. Tal como o anterior, apresenta suplementos semanais, sob a forma de standard e tablóide. De forma similar, como tratam temas específicos e têm circulação restrita, abordam a temática de forma mais sistemática e/ou mais científica, como é o caso do suplemento Pensar, aos domingos. Resultados Obtidos Os resultados constatam que o jornalismo científico ocupa espaço ainda pequeno em confronto com a superfície total do jornal durante a semana pesquisada, que chega a 202.048 cm, enquanto o espaço destinado ao jornalismo científico é de 3.100 cm, o que representa tãosomente 1,53% da superfície impressa. A cobertura científica realizada pelo Correio Braziliense não tem caráter autônomo, no sentido de ocupar lugar próprio e definido na superfície impressa. No caso de reportagens científicas, essas se diluem, de forma aleatória, nos Cadernos. Tal observação é comprovada na TABELA III Distribuição de C&T pelo espaço editorial que evidencia a presença da C&T mais em outras editorias (54%) que as de política (29,5%), economia (0,04%) e

esportes (0%), ou seja, não estão agrupadas num caderno específico, mas espalhadas pela superfície do jornal. A editoria de política manteve uma constância na cobertura científica; fator influenciado pelas eleições municipais, quando se divulgou, a cada dia, pesquisas de opinião dos institutos de pesquisa. Em contrapartida, a editoria de esportes não trouxe cobertura científica, mesmo com os Jogos Olímpicos. Segundo os dados, no que se refere ao gênero informativo do jornal, a reportagem (65%) é a que melhor expressa a categoria. No que se refere ao gênero opinativo, é inexpressivo no jornal. No que se refere às fontes da informação científica, é significativo o papel das instituições governamentais (43%) juntamente com a empresa privada (46%), que mereceu destaque diante das eleições municipais, com as pesquisas de opinião. Já a universidade é pouco expressiva (9,5%), quando comparada com os demais jornais pesquisados. Os dados coletados também mostram que o Correio Braziliense enfatiza as personalidades como protagonistas dos acontecimentos científicos, notadamente, os cidadãos (62,5%). Os políticos vêm em seguida, com 30%, cabendo ressaltar que tais números podem ter sido influenciados pelas eleições municipais. Numa outra perspectiva, observa-se que os protagonistas institucionais são inexistentes no jornal. Em relação às áreas de conhecimento que mais apresentam informação científica, as humanidades (484%) predominam, enquanto que a participação das engenharias, biológicas e computação é inexistente. No que tange à origem da informação científica, só prevalecem as de origem nacional e, particularmente, o que se nota é uma informação localista, ou seja, a maior proporção do espaço é ocupada por informações que se originam na própria área geográfica de Brasília (80%), onde se edita o Correio Braziliense. Conclusões A pesquisa com o jornal Correio Braziliense mostrou que o jornalismo científico ainda não tem lugar privilegiado no conjunto da superfície impressa, sendo a cobertura científica espalhada aleatoriamente nas editorias do jornal. As eleições municipais interferiram diretamente em alguns resultados, como a participação da empresa privada (46%) enquanto fonte da informação científica e a presença significativa dos políticos (30%) como personalidades centrais e até a presença dos cidadãos (62,5%), que tiveram posição privilegiada, devido às pesquisas de opinião. Ao contrário das

eleições, as Olimpíadas foram inexpressivas no que tange à informação científica, limitandose à descrição das competições. O Correio Braziliense tem relação próxima com as instituições governamentais (43%), o que não é comum nos demais jornais estudados. Tal fator resulta, ao que parece, da própria localidade do jornal Brasília -, onde está a maior parte da burocracia estatal brasileira. CONSIDERAÇÕES FINAIS A importância da mensuração do noticiário científico nos grandes jornais brasileiros é fundamental para avaliar o quadro atual e servir de guia para estudos futuros e a compreensão de que a mídia impressa brasileira é um canal valioso para a divulgação científica. A pesquisa mostrou que as notícias de cunho científico não ocupam espaço privilegiado dentro da superfície impressa das edições. Ao contrário, estão espalhadas ao longo do jornal, nas mais diversas editorias. Outro ponto importante no noticiário científico é a continuidade dos assuntos. Muitas vezes, importantes descobertas científicas são divulgadas, porém, a notícia acaba naquela edição. Não há continuidade que garanta ao leitor uma visão completa do fato. Os suplementos semanais, principalmente no caso da Folha de S. Paulo, são pilares importantes de divulgação científica. Na maioria das vezes, estão voltados para um público específico, tratando de temas afins àquele público, praticando, de fato, uma abordagem científica mais especializada. O Correio Braziliense, até por sua localização em Brasília (DF), possui uma proximidade muito grande com os agentes governamentais e os utiliza como fonte, com freqüência, ao contrário do que acontece com a Folha de S.Paulo. Em ambos os jornais, constatou-se forte interferência das eleições municipais. A participação dos institutos de pesquisa como empresa privada, enquanto fonte de informação científica e a presença significativa dos políticos como protagonistas das notícias foram destaque nos resultados obtidos. Inversamente proporcional ao resultado obtido pelas eleições municipais, as notícias referentes às Olimpíadas se limitaram a comentar a atuação e os resultados das competições e, no que se refere à divulgação científica, podem ser consideradas inexpressivas. Comparativamente ao estudo realizado pela equipe da ECA/USP na década de 80, afirmamos que os resultados são amplamente positivos, mesmo se considerados ainda frágeis. Houve aumento significativo no espaço editorial das notícias relativas à C&T, o que é um

incentivo para que, cada vez mais, esse espaço possa ser ampliado, levando em conta uma divulgação científica responsável, instrutora e educadora. REFERÊNCIAS ANJ. Jornais brasileiros. Brasília, 1995-1996. BAGDIKIAN, B. O monopólio da mídia. São Paulo: Scritta, 1993. BURKETT, W. Jornalismo científico. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1990. CALDAS, G.; MACEDO, M. A formação de jornalistas científicos no Brasil. FAPESP Pesquisa, São Paulo, n. 47, out. 1999. CAPARELLI, S. Comunicação de massa sem massa. 3. ed. São Paulo: Summus, 1986. CASASUS, J. M.; NUNEZ LADAVEZE, L. Estilo y géneros periodísticos. Barcelona: Ariel, 1991. MELO, J. Marques de. Comunicação comparada: Brasil/Espanha. São Paulo: Loyola, 1990.. Estudos de jornalismo comparado. São Paulo: Pioneira, 1972.. Gêneros jornalísticos na Folha de S. Paulo. São Paulo: FTD, 1992.. Jornalismo científico, jornalismo brasileiro. São Paulo: Cortez & Moraes, 1982.. A opinião no jornalismo brasileiro. 2. ed. Petrópolis: Vozes,1994.. Para entender o jornalismo científico. Campinas: LABJOR, 1998. (Monografia).. Para uma leitura crítica da comunicação. São Paulo: Paulinas, 1985.. Quando a ciência é notícia. São Paulo: ECA/USP, 1986. MELO, J. Marques de; QUEIROZ, A. Identidade da imprensa brasileira no final do século. São Bernardo do Campo: UMESP, 1998. NELKIN, D. La ciencia en el escaparate. Madrid: FUNDESCO, 1990. ORTIZ, R. A moderna tradição brasileira. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. ORTIZ RAMOS, J. M. Televisão, publicidade e cultura de massa. Petrópolis: Vozes, 1995. PIGNATARI, D. Signagem da televisão. São Paulo: Brasiliense, 1994.