TERRENOS Ibape - sp DE MARINHA HISTÓRICO, LEGISLAÇÃO, DEMARCAÇÃO Engº Agrº José Octavio de Azevedo Aragon M. Eng. Especialista em Avaliações e Perícias de Engenharia 1
1 - Definição Legal O Decreto-Lei nº 9.760, de 15 de setembro de 1946, que dispõe sobre os Bens Imóveis da União e dá outras Providências define pelo seu artigo 2º que: Art. 2º - São terrenos de marinha, em uma profundidade de 33 (trinta e três) metros, medidos horizontalmente, para a parte da terra, da posição da linha da preamar média de 1831: a) os situados no continente, na costa marítima e nas margens dos rios e lagoas, até onde se faça sentir a influência das marés; 2
Obéde Pereira Lima (2002) 3
Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo a influência das marés é caracterizada pela oscilação periódica de 5 (cinco) centímetros pela menos do nível das águas, que ocorra em qualquer época do ano. Art. 3º São terrenos acrescidos de marinha os que se tiverem formado, natural ou artificialmente, para o lado do mar ou dos rios e lagoas, em seguimento aos terrenos de marinha. 4
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São bens públicos, de domínio da União, (Inciso VII, art. 20 CF de 1988), cujo controle patrimonial é exercido pela Secretaria do Patrimônio da União, Órgão do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão. São caracterizados como de marinha por sua proximidade com as águas salgadas, e não "da Marinha", no sentido de pertencerem à Marinha do Brasil. 6
São considerados bens públicos desde o período colonial, conforme a Ordem Régia de 04/12/1678. Utilidade: Serviços públicos em geral, portos, trapiches, serviços de embarque e desembarque de coisas públicas ou particulares, defesa das cidades, assentamento de fortes, obtenção de renda, pesca e extração de sal. 7
Utilidade hoje segundo a SPU: - Defesa costeira e do Território Nacional; - Proteção ambiental. Ineficaz para o fim descrito; - Geração de rendas; - Visão patrimonialista que se contrapõe à proteção ambiental. 8
2 - Histórico São considerados bens públicos desde o período colonial, conforme a Ordem Régia de 04/12/1678; Ordem Régia de 21/10/1710 - as sesmarias nunca deveriam compreender a marinha que sempre deve estar desimpedida para qualquer incidente do meu serviço, e de defensa da terra; 9
Decreto de 21/01/1809 - manda aforar os terrenos das praias de Gamboa e Saco dos Alferes, no Rio de Janeiro, pois são próprios para armazéns e trapiches, sendo o primeiro ato de governo que trata sobre o aforamento; 10
Aviso de 18 de Novembro de 1818, o qual declara que 15 braças de linha d água do mar, e pela sua borda são reservadas para servidão pública; e que tudo que toca a água do mar e acresce sobre ela é da nação ; 11
Lei orçamentária de 15/11/1831, colocou à disposição das Câmaras Municipais os terrenos de marinha para aforar e estipular o foro sobre os mesmos; 12
Demarcação - Instrução de 14 de novembro de 1832, art. 4º : hão de considerar-se terrenos de marinha todos os que, banhados pela águas do mar, ou rios navegáveis, vão até a distância de 15 braças craveiras da parte da terra, contadas estas desde os pontos a que chega o preamar médio de 1831. 1 braça craveira = 10 palmos 1 palmo = 22 centímetros 1 braça craveira = 10 palmos x 22 cm = 2,20 metros 15 braças craveiras x 2,20 m = 33 metros 13
33 metros - extensão suficiente para que um contingente militar com o efetivo de uma companhia, disposta com a testada de nove (9) soldados, pudesse deslocar-se livremente na faixa litorânea estabelecida. (Lima 2002) 14
Decreto-lei nº 4.120 de 1942 alterou a linha de demarcação inicial para a linha da preamar máxima; Decreto-lei nº 9.760 de 1946, ainda vigente, retomou a medição de preamar média. 15
3 Formas de pagamentos pela uso Aforamento Foro ou Enfiteuse - 0,6% do valor do terreno/ano Ocupação - Taxa de ocupação - 2% do valor do terreno/ano (Lei nº13.240 de 30/12/2015) Aforamento e Ocupação Laudêmio 5% do valor do terreno na venda (exclui benfeitorias) 16
20% das receitas patrimoniais arrecadadas no exercício anterior devem ser repassadas ao Distrito Federal e aos municípios onde se localizam os imóveis que deram origem à cobrança. Remissão do aforamento pagamento de 17 % do valor do terreno para ter direito pleno do imóvel. portaria publicada pela SPU poderá autorizar venda de imóveis sobre regime de ocupação pagamento do valor total do terreno com 25% de desconto no prazo de 1 ano.
O foro, o laudêmio e a taxa de ocupação não são tributos, receitas derivadas sujeitas ao Código Tributário Nacional, mas sim receitas originárias, às quais a União tem direito em razão do uso por terceiros de seus bens imóveis. Portanto os imóveis em terrenos de marinha pagam IPTU e não há bitributação. 18
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SPU - TOTAL DE ARRECADAÇÃO DE RECEITAS PATRIMONIAIS ANO FORO OCUPAÇÃO LAUDÊMIO TOTAL 2014 113.666.192,13 213.392.388,39 403.162.184,64 730.220.765,16 2015 129.502.823,53 248.358.857,83 338.443.196,51 716.304.877,87 2016 143.990.170,04 206.379.136,46 85.437.392,86 435.806.699,36 20
4 Demarcação dos terrenos de marinha - Maré é a variação periódica do nível do mar sob a influência de forças gravitacionais astronômicas (maior da Lua e menor do Sol) - Em um período de 24 horas, 50 minutos e 28 segundos (duração do dia lunar) ocorrem, de um modo geral, duas subidas de maré e duas descidas de maré. 21
Preamar = maré cheia Preamar média - é a média das cotas altimétricas de todas as preamares diárias no período considerado, aproximadamente 730 em um ano; Linha de Preamar Média do ano de 1831 é a linha determinada pela interseção do plano horizontal correspondente à cota altimétrica da média de todas as preamares do ano de 1831, em determinado local, com o respectivo relevo terrestre. 22
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Demarcação: 1) Obter a cota da preamar média, de 1831 do local considerado; ou Somar as alturas de todas as preamares diárias de 1831 e dividir pelo nº preamares consideradas (em um ano 730), obtendo assim a cota da preamar média do local; 24
2) Obter o perfil transversal da face da praia entre a máxima e mínima excursão das ondas do ano de 1831; 3) Demarcar a curva de nível correspondente a cota da preamar média calculada; 25
4) 33 metros distante para o lado da terra, paralelamente a LPM/1831, demarcar a linha limite das terras de marinha (LLM); 5) Terras situadas a partir da LPM até a LLM, para o lado da terra, são consideradas terras de marinha; 6) Terras acrescidas por ação natural ou antrópica após a linha da preamar média, no sentido das águas são chamadas de acrescidos de marinha e tornam mais larga a área de terrenos de marinha a que se somam. 26
LPM situa-se no estirâncio. - Estirâncio (zona de espraiamento) - é a região entre a máxima e a mínima excursão da onda sobre a face da praia. 27
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5 - Demarcação feita pela SPU Lei vigente DL 9.760 de 05/09/1946 SPU emitiu normas e instruções para regulamentar a o Decreto Lei Tratando-se de normas de hierarquia diversa, prevalecerá a superior, isto é, a de mais alta hierarquia, porque a outra, exatamente por contraditá-la, faltará validade. 29
Ordem de Serviço nº2 de 24/04/1975 - Praticamente repetia o DL 9760 Instrução Normativa nº 01, de 30/03/1981 - É também bastante detalhada e explicativa, mas não pretendeu estabelecer conceitos novos sobre o que deve ser entendido como preamar média. 30
- ON-GEADE - 002/01 de 12/03/01 4.6.1.1 Terrenos de marinha são terrenos enxutos. 4.8.2 - A cota da preamar média é a média aritmética das máximas marés mensais, ocorrida no ano de 1831 ou no ano que mais se aproxime de 1831. 31
4.8.9 Em locais onde, por ação da dinâmica das ondas, as águas atingirem nível superior ao da cota básica, adotar-se-á esse nível como quantificador da cota básica efetiva. 32
- A Orientação Normativa nº 2 de 12/03/2001 ao considerar a dinâmica das ondas e a máxima maré mensal para obter a preamar média, modifica o conceito científico de preamar média e pretende legislar, pois infringe a determinação legal. - Pretende resgatar o Decreto-lei nº 4.120 de 1942 que havia alterado a linha de demarcação inicial para a linha da preamar máxima; 33
Relatório da Gerência do Patrimônio da União de Santa Catarina, de janeiro de 2000, do Processo nº11452.001088/96-73, referente à determinação e revisão da LPM/1831 no trecho compreendido entre o Balneário Arroio do Silva e a margem direita do Rio Saí-Guaçu no município de Itapoá: - Média dos preamares máximos observados; - Dinâmica das ondas - Foi somada a altura média das ondas, na faixa de 0,50m a 1,50m; 34
- Na maior parte do trecho, o critério de demarcação, seguiu a linha delimitadora do areal das praias, na intersecção da areia da praia com a vegetação de caráter permanente. (Linha de Jundu) São Francisco do Sul PM de 2,00 m Tese de Obéde Pereira Lima (2002) Praia da Enseada em São Francisco do Sul PM de 0,558m 35
PM = 55,8 cm Aumento relativo do nível médio do mar = 38 cm/séc. Aumento de 1831 até 2002 = 64,8 cm PM 1831 = - 9,2 cm 100m a mais para o lado da terra entre LPM/1831 presumida pela SPU e LPM real, atingindo toda a avenida beira-mar e mais a metade de todas as quadras de imóveis fronteiros com esta avenida. 36
- Segundo o Relatório da SPU: Florianópolis PM 0,89m Arredondada p/ 1,00m (áreas abrigadas), p/ 2,00m (mar aberto), p/5,00m costões - Segundo LIMA com base em dados do Centro de Hidrografia da Marinha: Florianópolis (1831) PM 0,31m Considerando aumento do nível médio do mar PM 0,37m 37
Praia Grande Torres - RS 38
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CONCLUSÕES O instituto de terrenos de marinha é anacrônico, injusto, causa insegurança jurídica, e não tem praticamente mais nenhuma utilidade a não ser a arrecadação. Até o momento existe legalmente, e a cobrança de taxas de particulares pelo uso dos terrenos de marinha e acrescidos são devidas, de acordo com a legislação em vigor. 40
Art.9º DL 9760 - É da competência do Serviço do Patrimônio da União (SPU) a determinação da posição das linhas do preamar médio do ano de 1831 e da média das enchentes ordinárias. 41
LPM/1831 deve ser comprovada cientificamente técnica correta, dados e cálculos corretos; ON-GEADE 002/2001 - Excede os limites das hipóteses previstas na lei com evidente abuso de seu poder regulamentador. Como se não bastasse o uso da ON, outros erros têm sido constatados nas demarcações realizadas pela SPU. 42
FIM MUITO OBRIGADO PELA OPORTUNIDADE 43