Aula 08 HOMICÍDIO CULPOSO. CP, Art. 121, 3º Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos.

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Transcrição:

Turma e Ano: Direito Penal 2015 Matéria / Aula: Crimes contra à vida (art. 121, 122, 123 do CP) Professor: Marcelo Uzeda Monitor: Flávia Garcia HOMICÍDIO CULPOSO Aula 08 CP, Art. 121, 3º Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos. Aumento de pena 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. 6º- A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima Homicídio culposo pune a violação ao dever de cuidado. O comportamento do agente por ser negligente, imprudente ou imperito dá causa ao resultado socialmente intolerável. Causas de aumento de pena 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em

flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício Não é imperícia. Embora o sujeito tenha conhecimentos técnicos necessários para o exercício de sua profissão, arte ou ofício, ele, deliberadamente, desatende as regras técnicas. Aumenta-se a pena em função da inconsideração com que o acusado age, desprezando as regras de seu ofício e, por esse desinteresse, provoca o fato punível. Exemplo de caso no STJ: desatendimento de regra da técnica médica. Um médico ao realizar determinada cirurgia coloca o paciente em uma posição errada, contrária ao que impõe a técnica médica. Em virtude desse erro ocorre a compressão de uma artéria, o paciente teve hemorragia e veio a falecer. Atenção para não cometer bis in idem A falha técnica é imperícia, ao passo que a inobservância da regra técnica é causa de aumento de homicídio culposo. O juiz não pode estabelecer o homicídio culposo por inobservância da regra técnica, como se isso fosse a imperícia, e ao mesmo tempo aplicar o aumento de pena com base na imperícia. se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, Para a incidência da causa de aumento exige-se a conduta culposa e a inexistência de socorro prestado pelo agente. Ocorre aqui a mesma polêmica presente nos crimes de trânsito em relação à morte instantânea. Sendo evidente a morte, poderia o agente deixar de prestar socorro. Morte evidente é entendida como aquela que pode ser percebida por qualquer pessoa, tal como disposto no art. 162, Parágrafo Único do CPP. In verbis: Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante. não procura diminuir as consequências do seu ato, O agente não busca diminuir as consequências do delito, atenuando os desdobramentos da conduta culposa (redundância com a omissão de socorro). O artigo tem uma previsão ampla que impõe ao agente o dever de solidarizar e tentar minimizar as consequências do seu ato. ou foge para evitar prisão em flagrante

Causa de aumento justifica-se pela magnitude do injusto e razões de política criminal (favorecimento da eficiência da administração da justiça). Pergunta-se: cabe prisão em flagrante de crime culposo? A prisão em flagrante por crime culposo pode ser convertida em preventiva? Primeiramente, é possível a prisão em flagrante nos crimes culposos, desde que esteja dentro dos casos do art. 302 do CPP 1. Por outro lado, essa prisão em flagrante, EM REGRA, não poderá ser convertida em preventiva à luz do art. 313, CPP 2, que autoriza a conversão em preventiva para crimes dolosos com pena máxima superior a quatro anos. Contudo, há pelo menos duas situações que justificam a prisão preventiva em crime culposo. 1. Para fins de identificação criminal nos termos da Lei 12.037, devendo o acusado ser posto em liberdade tão logo seja feita a identificação criminal. 2. Nos casos do art. 366 do CPP, quando o réu citado por edital não comparece ao processo gerando suspensão do processo e do prazo prescricional. Fuga para evitar linchamento Nesse caso não incide a causa de aumento de pena. Exemplo: agente que acidentalmente decapita uma criança ao soltar pipa com cerol e foge para evitar linchamento. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. Trata-se de majorante objetiva, sendo necessário o conhecimento pelo réu da condição da vítima. Atenção porque só se aplica ao homicídio doloso e também está prevista como agravante genérica no art. 61, II, CP. Perdão Judicial já foi estudado nas causas de extinção da punibilidade. 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. 1 CPP, Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: I - está cometendo a infração penal; II - acaba de cometê-a; III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração; IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. 2 Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;

Crimes praticados por milícias 6º- A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. Atenção, se aplica a figura dolosa. Milícia está definido pelo art. 288-A do CP, nos seguintes termos: Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código. Causas de aumento do feminicídio 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima Problema de aplicabilidade do inciso I em relação a grávidas. Se o agente mata uma mulher grávida ele deve responder pelo crime de aborto (CP, art. 125) em concurso formal impróprio com o crime de homicídio. Nota-se que o agente possui dolo direto de 1º grau de matar a mulher e dolo direto de 2º grau de matar o feto, pois trata-se de efeito colateral necessário e inevitável da conduta de matar uma mulher grávida. Caso a criança sobreviva será caso de tentativa de aborto. Portanto, nesse caso não seria possível aplicar essa causa de aumento de pena, sob pena de incorrer em bis in idem. Já para a hipótese descrita como 3 meses posteriores ao parto não há problema de aplicabilidade. Lembrar que o agente deve saber da condição de gestante da mulher INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. Parágrafo único - A pena é duplicada: Aumento de pena I - se o crime é praticado por motivo egoístico; II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. Os núcleos são: induzir, instigar, prestar-lhe auxílio. Trata-se de participação em suicídio alheio. Modernamente, o suicídio é entendido como a deliberada destruição da própria vida. Embora atípico, o suicídio não é autorizado, de modo que não constitui constrangimento ilegal a coação exercida para impedi-lo (art. 146, 3º, II, CP). Quem impede o suicídio, tradicionalmente, age em estado de necessidade. Modernamente, quem age para impedir suicídio incide em conduta atípica,

pois não pode ser típica a ação de alguém que age para evitar outro dano maior (teoria da imputação objetiva). Induzir significa inspirar, incutir, sugerir, persuadir. Fazer brotar no espírito de outrem a ideia suicida. Enseja a germinação, na vítima, do propósito de supressão da própria vida. Desequilibra definitivamente a situação e origina a resolução e o ato executivo do suicídio. Instigar é estimular incitar acoroçoar (animar) alguém ao suicídio. A ideia suicida preexiste, mas o instigador impulsiona de modo decisivo sua concretização. A decisão final o suicídio é motivada pela conduta daquele que, de forma consciente e voluntária, reforça o propósito suicida. Prestar auxílio para suicídio alheio é o agente que colabora fornecendo os meios necessários para que a vítima alcance o propósito de matar-se. É indispensável a eficiência causal do auxílio. Exemplo: empréstimo da arma, de veneno ou de qualquer outro instrumento hábil à efetivação da intenção suicida; ou ainda conselhos ou instruções. Atenção: o auxílio prestado pelo agente deve circunscrever-se a esfera dos atos preparatórios; a ajuda deve ser meramente acessória, secundária. Os atos que configuram execução devem necessariamente ser praticados pela própria vítima. Caso o agente realize atos de execução sua conduta configurará o delito de homicídio. Exemplo de prova: determinado agente fornece veneno para um amigo cometer suicídio. Contudo, na hora de injetar o veneno a vítima não consegue consumar o ato. Diante disso, o agente assume a aplicação do veneno e injeta o veneno na vítima, matando-a. Percebe-se no exemplo típico caso de progressão criminosa em sentido estrito. Inicialmente o agente tinha dolo de cometer o crime do art. 122 (instigação e auxílio ao suicídio). Posteriormente, seu dolo progrediu para o crime do art. 121 (homicídio). O bem jurídico tutelado nos dois crimes é o mesmo vida, mas o sujeito evolui para um crime mais grave com alteração do elemento subjetivo. Consequência dessa progressão é aplicação do princípio da consunção, prevalecendo a conduta mais grave, qual seja, o crime de homicídio. Nesse caso não incidirá a qualificadora por veneno porque o veneno não foi insidioso. Atenção para a diferença para o crime progressivo: o agente para matar alguém precisa dar várias facadas consumando várias lesões corporais. O dolo é de homicídio desde o início, mas para atingir o homicídio é necessário passar pelas lesões corporais. Na progressão criminosa há evolução da conduta menos grave para a mais grave com alteração do elemento subjetivo, dolo.

Quem comete o suicídio e sobrevive comete autolesão. A gestante que comete suicídio e sobrevive tenta aborto (ou tentativa de aborto) e não por suicídio. O bem jurídico protegido é a vida humana. Sujeito ativo é qualquer pessoa (delito comum), com algumas situações que podem configurar agravante (cônjuge, ascendente). O sujeito ativo não é partícipe do suicídio alheio, mas autor de delito autônomo, perfeitamente configurado com a prática de qualquer uma das condutas descritas no tipo penal. Sujeito passivo. Crime comum. Não há qualquer restrição do sujeito passivo quanto ao da figura delitiva em apreço. Não há qualidade especial do sujeito passivo. Atenção o sujeito passivo deve ser pessoa determinada, não perfazendo o delito o induzimento genérico. Exemplo: um blog na internet enuncia 1000 maneiras de cometer suicídio. Muitas pessoas se matam utilizando das instruções do site. Contudo, isso não é crime porque o auxílio é genérico. Por outro lado, se um determinado agente cria uma seita e induz aquelas pessoas determinadas filiadas à seita a cometerem suicídio, aí sim teríamos o crime. É necessária a capacidade de discernimento por parte do sujeito passivo, este deve compreender a natureza do ato praticado. Caracterizado estará o delito de homicídio (art. 121, CP) caso a vítima não realiza, de forma voluntária e consciente, a supressão da própria vida. Se presente coação física ou moral, debilidade mental do suicida ou erro provocado por terceiro, punível será o agente como autor mediato do crime de homicídio. Exemplo: induzir uma criança ao suicídio será homicídio por autoria mediata. Pacto de morte ou suicídio a dois Duas ou mais pessoas combinam de se matar. O importante aqui é verificar quem praticou os atos executórios. Hipóteses:

Cada agente pratica ato de execução referente ao seu suicídio Ex: cada agente toma seu próprio veneno Ambos colaboram para o evento morte do outro; praticam atos executórios relativos ao outro Ex: um aplica veneno no outro Se os dois sobrevivem Se há lesão grave, ambos respondem por induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio. Homicídio tentado Se apenas um sobrevive O agente que sobrevive responde por induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio. Homicídio consumado Casos de roleta russa, duelo americano quem dispara é a própria vítima, se houver morte a instigação será induzimento ao suicídio Elemento Subjetivo Não há nenhum especial fim de agir. Exige-se que o agente tenha consciência e vontade de induzir instigar ou auxiliar o suicídio de outrem, podendo fazê-lo de forma espontânea ou atendendo a pedido da própria vítima. Dolo direto ou eventual. Coação moral que dá origem a ideia suicida pode configurar o crime. O sujeito ativo de modo consciente e voluntário imprime à vítima maus tratos sucessivos capazes de motivar-lhe a decisão suicida. É possível, em tese, que a coação moral exercida pelo agente altere a livre determinação de vontade da vítima, conduzindo-a ao ato suicida. Não há modalidade culposa

Controvérsia quanto à consumação 1ª Corrente (Minoritária) (Damásio) 2ª Corrente (Majoritária) (Hungria) Morte e lesão grave são elementos do tipo Morte e lesão grave são condições objetiva de punibilidade Crime material (de conduta e resultado). Crime formal / Mera conduta A doutrina evita se posicionar claramente, mas o professor afirma que seria formal. Na ausência de lesão grave ou morte o fato é atípico. Na ausência de lesão grave ou morte o fato o crime foi consumado, mas não é punível. A morte ou lesão corporal de natureza grave são resultados exigidos pelo tipo penal, sem Aperfeiçoa-se a conduta típica com o induzimento, a instigação ou o auxílio, os resultados o fato é atípico. Ainda que o funcionando aqueles acontecimentos resultado esteja no preceito secundário ele faz parte do tipo penal. (resultado morte ou lesão corporal grave) como condicionantes da aplicação concreta da pena. NÃO CABE TENTANTIVA NÃO CABE TENTATIVA Normalmente, em provas pergunta-se o ponto unânime entre as correntes, ou seja, não cabe tentativa no crime de induzimento ao suicídio. Exemplo: se a vítima fica internada por 29 dias, não haverá lesão grave. Deve-se arquivar o inquérito porque não há condição objetiva de punibilidade. Já para Damásio é atípico o fato. A pena é duplicada Art. 122. Parágrafo único - A pena é duplicada: Aumento de pena I - se o crime é praticado por motivo egoístico; II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. Motivo egoístico Maior reprovabilidade pessoal da conduta típica e ilícita em virtude do móvel que a impulsionou. Fim de obter vantagem pessoal ou a satisfação de interesse próprio (material ou moral) Exemplo: instiga o suicídio alheio para receber seguro, ou herança, ou eliminar adversário, ou concorrente, ou satisfazer sentimento de inveja ódio ou vingança, etc. Vítima vulnerável: menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência Em relação ao menor a interpretação para o Inciso II é restritiva. Admite apenas o menor entre 14 e 18 anos, pois se o menor contar com menos de 14 anos será o caso de homicídio por autoria mediata, por ser a vítima absolutamente vulnerável.

Em relação à capacidade de resistência diminuída, lembra-se que diminuída não é suprimida. Se o doente mental (art. 26, CP) ou dependente de drogas (art. 45 Lei de Drogas) é incapaz de entender ou determinar-se em relação ao induzimento isso será homicídio. Em resumo, é crime do art. 122 do CP com causa de aumento apenas quando a incapacidade da vítima é relativa - a pessoa é vulnerável, mas ela não é totalmente vulnerável. Exemplo: bêbado dependendo do estado de embriaguez. Pena e Ação penal Se o suicídio se consuma (morte) a pena é de reclusão de 2 a 6 anos Se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal grave, a pena é reclusão de 1 a 3 anos. Se da tentativa resultam lesões corporais leves é impunível (morte ou lesão corporal de natureza grave = condições objetivas de punibilidade.) Exemplo de prova: Ivete terminou relacionamento e estava triste e depressiva. Jorge começou a induzir Ivete ao suicídio, emprestando-lhe uma corda para que se enforcasse. Decidida, Ivete pega a corda e amarra em uma viga de madeira na varanda. Ao pular para a morte, a viga frágil quebra, pois Ivete estava acima do peso. Ivete ficou com lesões leves. Nesse caso, não há tentativa de induzimento ao suicídio de Jorge. O crime ficou consumado, mas faltou condição objetiva de punibilidade. Admite-se suspensão condicional do processo art. 89 da lei 9.099. A competência para processo é julgamento desse crime é do Tribunal do Júri, por ser crime doloso contra a vida. É crime de ação penal pública incondicionada. Se o induzimento é praticado por compaixão ou mediante solicitação da vítima não terá sua pena atenuada, ao contrário do que ocorre com o homicídio (art. 121, 1º, CP) apesar da inequívoca redução da magnitude da culpabilidade. Pergunta-se: um marido induz esposa ao suicídio e ao final não há lesão grave, mas apenas lesões leves. A lesão em ambiente doméstico que tem sua pena aumentada (art. 129, 9º) pode ser entendida aqui como lesão grave para atender à condição objetiva de punibilidade do crime de induzimento ao suicídio? Não. A lesão grave que atende a condição objetiva de punibilidade do crime do art. 122 do CP é a lesão descrita no art. 129, 1º e 2º. O fato de sido a lesão causada no ambiente doméstico não altera a análise da lesão corporal quanto ao resultado. Critica-se que o legislador poderia ter contemplado essa questão.

INFANTICÍDIO Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos. É um homicídio privilegiado. O privilegio é conferido em razão de uma perturbação de ordem fisiopsiquica, capaz de atenuar a magnitude da culpabilidade. Não confundir com o crime do art. 134. Infantício art. 123 Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos. Mulher age em razão de uma perturbação de ordem fisiopsiquica Exposição ou abandono de recém-nascido art. 134 Art. 134 - Expor ou abandonar recémnascido, para ocultar desonra própria: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - detenção, de um a três anos. 2º - Se resulta a morte: Pena - detenção, de dois a seis anos. Crimes honoris causa. Mulher busca ocultar desonra Ex: mulher mata o filho para esconder do marido traído o filho do adultério. Crítica ao crime do art. 134, CP A doutrina afirma que mãe solteira ou mulher com prole numerosa não tem honra. Isso não faz mais sentido na atual sociedade. Esse tipo penal já poderia ter sido revogado. Diferenciação para o crime de aborto Aborto é sempre antes do parto, o qual se inicia com as contrações/incisão abdominal. Após esse momento, se agir movida por estado puerperal, será infanticídio. Bem Jurídico Protegido e Sujeitos do Delito O bem jurídico protegido é a vida humana. Sujeito ativo em regra é a mãe, que mata o próprio filho durante o parto, ou logo após, sob a influência do estado puerperal. Trata-se de delito especial próprio. O sujeito passivo é o ser humano nascente (durante o parto- transição da vida uterina para a extrauterina) ou recém-nascido (ou logo após).