DECISÃO. 1. Cuida-se de queixa-crime apresentada em desfavor de JORGE BORGES

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Transcrição:

FL: 12a VF PODERJUDICIARIO DA UNIÃO SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL 12a VARA PROCESSO N : CLASSE 15605: QUERELANTE: QUERELADO: 65089-96.201 4.4.01.3400 REPRESENTAÇÃO CRIMINAL LEANDRO DAIELLO COIMBRA JORGE BORGES LEAL DECISÃO 1. Cuida-se de queixa-crime apresentada em desfavor de JORGE BORGES LEAL na qual o querelante LEANDRO DAIELLO COIMBRA imputa-lhe a prática das condutas tipificadas nos artigos l 39 e 140 c/c o artigo 141, incisos II e III, todos do Código Penal. 2. Para tanto, narrou que em 20 de março de 2014, foi publicada pela Federação Nacional dos Policiais Federais - FENAPEF a matéria intitulada de "Com criatividade agentes federais provam que protesto não precisa e greve", no sítio eletrônico da FENAPEF. 3. Aduz que na publicação referida, vê-se a reprodução de fotografia na qual policiais federais em suposto protesto seguram faixa na qual consta reprodução do rosto do Diretor-Geral da Polícia Federal, ora querelante, ao lado da frase "A FALÊNCIA DA SEGURANÇA PÚBLICA TEM ROSTO". 4. Sustenta que o teor da publicação macula a honra do querelante, atribuindo-lhe a responsabilidade por suposta "falência da segurança pública", o que deprecia sua imagem profissional e ofende sua reputação e sua dignidade de servidor público de carreira. 5. Alega que o querelado, na condição de Presidente da Federal Nacional dos Policiais Federais - FENAPEF, é a pessoa legitimada para figurar no pólo passivo da ação penal, respondendo pelos atos públicos do Sindicato.

SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL 12a VF 6. A audiência reconciliatória restou infrutífera (fl. 30). 7. O Ministério Público Federal opinou pela rejeição da queixa-crime ofertada por ausência de justa causa em face da atipicidade da conduta. 8. É o relato necessário. FUNDAMENTO E DECIDO. 9. A queixa-crime ressente-se de amparo legal porquanto não há materialidade delitiva na conduta perpetrada pelo requerido. 10. É que da análise do teor do documento que contém a fotografia do querelante e a faixa com a frase "A FALÊNCIA DA SEGURANÇA PÚBLICA TEM ROSTO" não é possível extrair-se a prática de crimes contra a honra. l 1. Com efeito, conforme mencionado pelo Ministério Público Federal, para a configuração dos crimes contra a honra se faz necessário a conjugação de elementos subjetivos, consistentes na vontade dirigida a ofender a honra alheia, com dolo específico de caluniar, injuriar e difamar outrem e elementos objetivos, explicitados nos artigos l 38, l 39 e 140 do Código Penal. 12. Na hipótese vertente, não se extrai o dolo específico necessário para a perfectibilização de tipo contra a honra porquanto se trata de manifestação de diversos Policiais Federais na qual explicitam inconformismo e indignação com a atuação do querelante na qualidade de Diretor-Ceral da Polícia Federal. l 3. Ausente, portanto, a materialidade dos crimes contra a honra tipificados nos artigos l 39 e 140 do Código Penal. l 4. Por oportuno, destaco: "AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. CORTE ESPECIAL. DELITO DE INJÚRIA. AUSÊNCIA E DOLO ESPECÍFICO NA CONDUTA DO REPRESENTADO. EXPRESSÕES UTILIZADAS COMO FUNDAMENTOS DE DECISUM. ANIMUS NARRANDI. AÇÃO PENAL REJEITADA.

SEÇÃO JUDICIARIA DO DISTRITO FEDERAL Fl.: 12" VF 1. Denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal em face de desembargador do TRF da 1a Região, pela suposta prática de injúria e difamação, consubstanciada na prolacão de decisum judicial. 2. Os delitos contra a honra reclamam, para a configuração penal, o elemento subjetivo consistente no dolo de ofender na modalidade de "dolo específico", cognominado "animus injuriandi", consoante cediço em sede doutrinária e na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e deste Superior Tribunal de Justiça. 3. A doutrina pátria leciona que: O dolo na injúria, ou seja, a vontade de praticar a conduta, deve vir informado no elemento subjetivo do tipo, ou seja, do animus infamandi ou injuriandi, conhecido pelos clássicos como dolo específico. Inexiste ela nos demais animii (jocandi, criticandi, narrandi etc.) (itens 138.3 e 139.3). Tem-se decidido pela inexistência do elemento subjetivo nas expressões proferidas no calor de uma discussão, no depoimento como testemunha etc. (MIRABETE, Júlio Fabrini, Código Penal Interpretado, 6a Ed, São Paulo: Editora Atlas, 2007, p. 1.123) (Grifamos). No mesmo sentido, FRAGOSO, Heleno Cláudio: 'o propósito de ofender integra o conteúdo de fato dos crimes contra a honra. Trata-se do chamado 'dolo específico', que é elemento subjetivo do tipo inerente à ação de ofender. Em consequência, não se configura o crime se a expressão ofensiva for realizada sem o propósito de ofender. É o caso, por exemplo, da manifestação eventualmente ofensiva feita com o propósito de informar ou narrar um acontecimento (animus narrandi), ou com o propósito de debater ou criticar (animus criticandi), particularmente amplo em matéria política." (Lições de Direito Penal - Parte Especial; 10a ed., Rio de Janeiro: Forense, 1988, p. 221-222, v.l). NELSON HUNGRIA por seu turno, assim definia o dolo específico nos crimes contra a honra: Pode-se, então, definir o dolo específico do crime contra a 3

SEÇAO JUDICIARIA DO DISTRITO FEDERAL FL: 12'VF honra como sendo a consciência e a vontade de ofender a honra alheia (reputação, dignidade ou decoro), mediante a linguagem falada, mímica ou escrita. Ê indispensável a vontade de injuriar ou difamar, a vontade referida ao eventus sceleris, que é no caso, a ofensa à honra. (Comentários ao Código Penal, 5a ed.: Rio de Janeiro, Forense, 1982, p. 53, volume VI, ). 4. (...) 7. A jurisprudência da Suprema Corte e da egrégia Corte Especial perfilha o entendimento supra delineado, consoante se infere dos seguintes precedentes: HC 72.062/SP, Rei. Min. CELSO DE MELLO, Primeira Turma, DJU 21.11.97; Apn 516/DF, Rei. Min. ELIANA CALMON, Corte Especial, DJU 06.10.08; Apn 490/RS, desta relatoria, DJU 25.09.08; ExVerd 42/ES, Rei. Min. HAMILTON CARVALHIDO, Corte Especial, DJU 03.09.07; Apn 488/SP, Rei. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Corte Especial, DJU l 9.11.07; e Apn 360/MC, Rei. Min. ANTÓNIO DE PÁUDA RIBEIRO, Corte Especial, DJU 25.04.05. (...) 10. A atipicidade do fato descrito na denúncia decorre, ainda, de subprincípio encartado na LOMAN, art. 41 segundo o qual o magistrado não pode ser punido ou prejudicado pelas opiniões que manifestar ou pelo teor das decisões que proferir, salvo em casos específicos ora não observados, bem como da excludente do art. 142, III do Código Penal, verbis: "Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível: (...) Ill - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício."

SEÇAO JUDICIARIA DO DISTRITO FEDERAL Fl 12"VF 11. Improcedência da acusação (artigo 6, caput da Lei 8.038/90)." (AP n 555/DF, Relator Ministro Luiz Fux, DJe de 14/05/2009). 15. Em face do exposto, ausente ajusta causa para a ação penal, com fulcro no artigo 395, inciso III, do Código de Processo Penal, REJEITO A QUEIXA-CRIME formulada em desfavor de JONAS BORGES LEAL. comunicações cabíveis. 16. Registrar. Publicar. Intimar. l 7. Cientificar o Ministério Público Federal. 18. Sem recurso, arquivar os autos com baixa na distribuição após as Brasília, 24 de abril de 201 5. í o ±> y^o^^o POLLYANNA KELLY MACIEL MADEIROS (MARTINS ALVES Juíza Federal Substituta