BuscaLegis.ccj.ufsc.Br Sentença criminal - Simulacro de arma de fogo Murilo Távora SENTENÇA CRIME DE ROUBO ART. 157, 2º, inciso I - PROVA - SIMULACRO DE ARMA DE FOGO PRISÃO EM FLAGRANTE, POSSE DA RES FURTIVA - CONFISSÃO - DELITO CONSUMADO - PROCEDÊNCIA DA DENÚNCIA - CONDENAÇÃO DECRETADA. Vistos e relatados os presentes autos de Ação Penal Pública nº, promovida pela Justiça Pública em face de. O Ministério Público, por sua representante, embasada no Inquérito Policial, ofereceu denúncia com base no artigo 157 2º, I do Código Penal Brasileiro, pela prática delituosa: No dia 31 de outubro de 2000, por volta das 00:20 horas, no interior da Central da empresa, localizada na rua, nº, no Bairro, Capital, o denunciado fazendo uso de simulacro de arma de fogo intimidou as funcionárias e. Como as vítimas desconheciam tratar-se de arma de brinquedo e, diante, da grave ameaça, não puderam oferecer qualquer tipo de oposição. Nesse momento, o denunciado subtraiu do local uma televisão de 5 polegadas, preto e branco, marca International, avaliada em R$ 50,00. Após o roubo, o denunciado evadiu-se do local, com a posse da coisa, sendo capturado nas imediações aproximadamente de 30 minutos após o fato consumado. A denúncia foi oferecida e recebida conforme despacho de fls ; preso em flagrante, conforme auto de prisão de fls 6, tendo sido o réu devidamente citado e interrogado às fls, auto de apreensão e exibição do bem objeto do crime, bem como da arma de brinquedo utilizada, fls, Relatório de Autoridade Policial fls, Auto de Avaliação e de entrega às fls, qualificação e interrogatório fls. Apresentada Defesa Prévia, por defensor constituído, fls, na instrução foram inquiridas quatro testemunhas fls, sendo que não foram arroladas testemunhas pela defesa. Não foram requeridas diligências relativas ao art. 499 do CPP. Nas Alegações Finais, o representante do Ministério Público, tendo em vista a confissão, e presentes os requisitos de autoria e materialidade do crime, requereu a procedência da denúncia e a conseqüente condenação do indiciado. A defesa sustentou que arma de brinquedo não é possui caráter ou poder intimidatório, não sendo, portanto, o uso
da mesma, qualificadora do crime, pugnando a desclassificação do mesmo para o crime de roubo conforme caput do artigo 157 do Código Penal. É o relatório. Passo a decidir. FUNDAMENTAÇÃO: Ao denunciado é imputado o crime de roubo, art. 157 2º inci, I do Código Penal. Quanto à materialidade, restou comprovada pelo que se apreende do auto de exibição, apreensão (fl ), auto de avaliação (fl ), e auto de entrega (fl ). Quanto à autoria, sem dúvida, recai na pessoa do acusado, já que na fase inquisitorial o mesmo confessa a prática do delito que lhe é imputado. Também em juízo novamente confessou a autoria do crime (fl. ). Segundo entendimento jurisprudencial: "A confissão prestada no I.P.M.. Desta feita, concorrem também contra o réu os depoimentos das vítimas, bem como prova testemunhal nos autos, conforme a denúncia. Cabe asseverar que o uso de simulacro de arma de fogo, basta para tipificar o delito pelo qual foi denunciado, sendo uníssono o entendimento jurisprudencial. 16055631 JCP.157 JCP.157.2.I JCP.157.2 PENAL ROUBO EMPREGO DE ARMA DE BRINQUEDO OU INEFICAZ PARA EFETIVAR A AMEAÇA INCIDÊNCIA DA QUALIFICADORA DO CP, ART. 157, 2º, I 1. Ainda que a arma empregada no crime de roubo para exercer a grave ameaça seja ineficaz, deve incidir a qualificadora prevista no art. 157, 2º, do Código Penal, já que a vítima que desconhecia essa circunstância teve, de qualquer forma, diminuída ou suprimida a sua capacidade de resistência. 2. Recurso conhecido e provido. (STJ REsp 205427 SP 5ª T. Rel. Min. Edson Vidigal DJU 01.08.2000 p. 00296) SÚMULA 174 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - No crime de roubo, a intimidação feita com arma de brinquedo autoriza o aumento de pena. Deve ser sobrelevado, que o crime foi consumado, com o iter criminis em todas as suas fases, pois, utilizando-se de grave ameaça, subtraiu o bem, retirando-o da esfera de vigilância da vítima, com posse mansa. Assim sendo, não se pode acolher a tese de tentativa. CONCLUSÃO - Pelo relatado, resta comprovada a culpabilidade do agente e sua incursão nas sanções previstas no artigo 157 2º, inciso I do Código Penal. DISPOSITIVO
Decido procedente a denúncia para condenar o réu nas penas cominadas pelo artigo 157 2º, inciso I do Código Penal. DOSIMETRIA DA PENA Tomando o artigo 59 do Código Penal cominado com o artigo 68, fixo as penas da seguinte maneira: Pena Base Culpabilidade: conduta do réu reprovável, com consciência e ânimo de constranger com o fim de obter vantagem patrimonial indevida; Comportamento da vítima: as vítimas em nada contribuíram para a prática do delito; estavam em seu local de trabalho e em nada facilitaram a conduta do agente; Antecedentes : o mesmo não apresenta antecedentes conforme as certidões apresentadas (fls ); Personalidade: Prejudicado em virtude de ausência de exames por profissional capacitado; Motivos do Crime: Animus Furtandi, com inequívoco intento de locupletar-se indevidamente; Circunstâncias: não bastando invadir o local de trabalho das vítimas, valeu-se do período noturno para a prática delituosa; Conseqüências do Crime: danos materiais de pouco valor; Conduta Social: prejudicada em virtude da ausência de elementos aferíveis nos autos. O crime praticado pelo denunciado não causou graves conseqüências patrimoniais, mas não resta dúvida que o emprego de arma, ainda que de brinquedo, foi substancial para consecução do delito. Se o denunciado empregou a arma de brinquedo não foi por considerá-la de pouco ou nenhum poder ofensivo, apenas por que não possuía arma de verdade. Assim sendo, aplico ao réu, pena base de 6 anos de reclusão e 60 dias-multa, sendo cada dia-multa equivalente a 1/30 do salário mínimo vigente na data dos fatos, considerando a pena prevista no CP. Circunstâncias Atenuantes. Ao tempo dos fatos o agente era maior de 18 anos e menor de 21 anos de idade e o confessou a prática do delito, por isso atenuo a pena em 12 meses.
Circunstâncias Agravantes. Inexistem. Causas Especiais de Diminuição de Pena. Não há. Causas Especiais de Aumento de Pena: Emprego de arma de fogo, a conforme o parágrafo 2º (segundo) inciso I do Código Penal, razão que justifico o aumento a pena definitiva em 1/3. Fixo a pena definitiva em 6 anos, 4 meses e 18 dias. Do Regime: Conforme artigo 33 do Código Penal, o juiz deve ao fixar o regime inicial de cumprimento da pena, considerar: i) a quantidade da pena (art. 33, 2º, alíneas a, b e c, ii) as condições pessoais do condenado, de acordo com o art. 33, 3º, que remete às circunstâncias elencadas no artigo 59 do mesmo diploma legal. Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. 2º. As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a oito (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto; c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto. 3º. A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos critérios previstos no artigo 59 deste Código. A jurisprudência também ensina desta maneira, senão vejamos: 32030498 DIREITO PENAL PENAL ROUBO CIRCUNSTANCIADO (ARTIGO 157, 2º, INCISOS I E II, DO CP). MENORIDADE ATENUANTE OBRIGATÓRIA REGIME PRISIONAL FIXAÇÃO. CRITÉRIOS OBJETIVOS E SUBJETIVOS A idade inferior a 21 anos é circunstância atenuante obrigatória e, uma vez não considerada na decisão monocrática, a falha há de ser corrigida. O juiz, ao fixar o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade, terá necessariamente que atender à quantidade de pena imposta e à qualificação subjetiva do condenado, como reza o artigo 33, 3º, do Código Penal. Assim, o regime prisional fechado é o único compatível com o início do cumprimento de pena imposta a condenado por roubo, evidenciado dolo intenso e acentuado grau de culpabilidade, além de denotar personalidade perigosa. Negado provimento à apelação do primeiro e provida parcialmente a do segundo para reduzir-lhe a pena. Unânime. (TJDF ACr 1851098 (Reg. 50) 2ª T.Crim. Rel. Des. Vaz de Mello DJU 03.06.1998) Antes de tudo, a pena tem caráter protetivo, punitivo e preventivo para a sociedade, além do de socialização do condenado. Tais premissas autorizam e balizam as decisões judiciais, conforme o entendimento do magistrado julgador. O condenado deve ser julgado, sempre a oferta de todos os princípios e garantias legais, como ampla defesa, isonomia
processual, etc. O juiz deve refletir sobre os fatos, o momento histórico e a realidade social vigente, amparado na lei, nos princípios gerais de direito, nos costumes, mirando sempre a mais equilibrada justiça. Contudo, não pode o magistrado deixar-se influenciar pela precariedade do sistema penal, especialmente o prisional, utilizando destes argumentos para atenuar o rigor da lei. Pelo contrário, deve o magistrado lutar pela melhoria do sistema penal de outras maneiras, pleiteando sempre pela justiça, segurança e dignidade da sociedade. Com equilíbrio e sensatez ao magistrado cumpre zelar pela paz social, não devendo, quem quer que seja, duvidar do caráter essencial da pena àqueles que transgridem a lei. Desta forma, aplicando o disposto no artigo 59 de Código Penal e a individualização da pena constitucionalmente prevista, assim como as circunstâncias do delito, o uso de simulacro de arma de fogo para constranger as vítimas, e considerando ser extremamente subjetivo o potencial delitivo da personalidade do réu, e ainda levando em conta que o réu não possui sentença condenatória com trânsito em julgado por outro crime até a presente data, e também a sua confissão, e que o objeto do delito foi recuperado, embora extraviado, determino a aplicação do regime semi-aberto ao réu, ora condenado, devendo a pena ser cumprida em Colônia Penal, nos termos do art. 33, parágrafo 1o, alínea B, do CPB e artigos 91 e 92 da Lei de Execução Penal. Em relação à substituição das penas é incabível; aplicação do art. 44 e art. 77 do CP. Substituição das penas: impossível, conforme art. 44, I e art. 77 do Código Penal. Penas acessórias: Condeno o réu ao pagamento das custas processuais. Caso sejam precárias suas condições financeiras, isento o condenado das mesmas. Encerrando-se desta feita, que seja lançado o nome do condenado no Rol dos Culpados, conforme preceitua o art. 393, II, do CP. Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/981/sentenca-criminal- Simulacro-de-arma-de-fogo Acesso em: 24/04/09.