A disfonia é um processo multifatorial sendo definida como qualquer. dificuldade ou alteração na emissão natural da voz. Aspectos biológicos,

Documentos relacionados
Autopercepção das condições de trabalho por professores de ensino fundamental

1. Distúrbios da voz 2. Fatores de risco 3. Condições do trabalho

Nathália Pôrto Martins da Costa IMPACTO DO SUPORTE SOCIAL NO PERFIL DE PARTICIPAÇÃO E ATIVIDADES VOCAIS DE PROFESSORAS

AÇÕES DE SAÚDE VOCAL O QUE O PROFESSOR UTILIZA NA ROTINA PROFISSIONAL EM LONGO PRAZO?

Cássia Rafaela de Oliveira Ribeiro

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

DESCRIÇÃO DO PERFILVOCAL DE PROFESSORES ASSISTIDOS POR UM PROGRAMA DE ASSESSORIA EM VOZ

Questionário Condição de Produção Vocal Professor (CPV-P): comparação. Autores: SUSANA PIMENTEL PINTO GIANNINI, MARIA DO ROSÁRIO DIAS

AUTOPERCEPÇÃO DE ALTERAÇÕES VOCAIS E DE ABSENTEÍSMO EM PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO

Análise dos instrumentos de avaliação autoperceptiva da voz, fonoaudiológica da qualidade vocal e otorrinolaringológica de laringe em professores.

Análise dos aspectos de qualidade de vida em voz. após alta fonoaudiológica: estudo longitudinal

TRABALHO E SAÚDE DE POLICIAIS MILITARES DO RECIFE-PE, BRASIL

VOZ E CONDIÇÕES DE TRABALHO EM PROFESSORES

TRAÇANDO O PERFIL VOCAL DE DOCENTES COM DISTÚRBIO DE VOZ: UM OLHAR PARA A EDUCAÇÃO VOCAL.

AUTOPERCEPÇÃO DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA GLOBAL DE USUÁRIOS DE UM AMBULATÓRIO DE FONOAUDIOLOGIA

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES DISFÔNICOS ACOMPANHADOS PELO PROVOX

Distúrbio de voz, estresse no trabalho e perda de capacidade de trabalho realizado com professores de São Paulo

A DISFONIA EM PROFESSORAS E A PRÁTICA DA FONOAUDIOLOGIA

Thalita Evaristo Couto Dias

RESUMO SIMPLES. AUTOPERCEPÇÃO DA VOZ E INTERFERÊNCIAS DE PROBLEMAS VOCAIS: um estudo com professores da Rede Pública de Arari MA

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Pró-Reitoria de Graduação Pró-Reitoria de Recursos Humanos. Projeto de Atualização Pedagógica - PAP

Palavras-chaves: Qualidade da voz; Qualidade de vida, docente. (4). Um importante aspecto a ser avaliado em processos

SAÚDE E DISFONIA VOCAL, FATORES ASSOCIADOS EM PROFESSORES DE UMA ESCOLA ESTADUAL DO INTERIOR DO RS

Palestrantes: Amábile Beatriz Leal (2º ano) Jéssica Emídio (4º ano) Orientação: Fga. Ms. Angélica E. S. Antonetti

Sintomas Vocais, Perfil de Participação e Atividades Vocais (PPAV) e Desempenho Profissional dos Operadores de Teleatendimento

LEVANTAMENTO E ANÁLISE DE DADOS REFERENTES A HÁBITOS PREJUDICIAIS À SAÚDE VOCAL DOS PROFESSORES DE ESCOLAS PÚBLICAS DE CAXIAS - MA.

CONTRIBUIÇÕES DE UM PROGRAMA DE ASSESSORIA EM VOZ PARA PROFESSORES

Análise da comunicação oral, condições de trabalho e sintomas vocais de professores de curso pré-vestibular.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE MEDICINA

AVALIAÇÃO DOS FATORES DE RISCO PARA DISTÚRBIOS DE VOZ EM PROFESSORES E ANÁLISE ACÚSTICA VOCAL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA

ÍNDICE DE DESVANTAGEM VOCAL NOS LARINGECTOMIZADOS TOTAIS

Distúrbio de voz relacionado ao trabalho docente: um estudo caso-controle.

TÍTULO: DESVANTAGEM VOCAL EM CANTORES POPULARES PROFISSIONAIS E AMADORES COM E SEM TREINAMENTO

Procura pela assistência vocal por professores municipais do ensino fundamental de Belo Horizonte

1. Introdução. 2. Objetivo

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Faculdade de Medicina

Subprojeto de Iniciação Científica

Fisioterapia e Terapia Ocupacional SENSIBILIZAR PROFESSORES QUANTO ÀS QUESTÕES DE CORPO E VOZ NA PERSPECTIVA DA FISIOTERAPIA

INVESTIGAÇÃO DE FATORES ASSOCIADOS À ALTERAÇÕES VOCAIS EM DOCENTES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO

adolescentes A agradabilidade de vozes disfónicas em Ana Catarina Bastos; Aldora Quintal; Paula Correia; Ana Paula Martins

Escore Máximo. Masculino 50,63 17, , Feminino 52,21 18, ,27 29, Total 51,86 18, ,18 27,

FOZ DO IGUAÇÚ PR. 30/NOV á 02/12/2011

SINTOMAS VOCAIS RELACIONADOS À HIDRATAÇÃO MONITORADA

ATIVIDADE FÍSICA E DISFONIA EM PROFESSORAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE MEDICINA

Daniela Morais de Carvalho

THAMIRES DE PAULA FELIPE PREVALÊNCIA DE ALTERAÇÕES FONOAUDIOLÓGICAS RELACIONADAS À FUNCIONALIDADE E FATORES ASSOCIADOS

ÍNDICE DE CAPACIDADE PARA O TRABALHO E DESEQUILÍBRIO ESFORÇO-RECOMPENSA RELACIONADO AO DISTÚRBIO DE VOZ EM PROFESSORAS DA REDE ESTADUAL DE ALAGOAS

Boletim COMVOZ n o. 1

Sinais e sintomas da disfunção autônoma em indivíduos disfônicos

EDUCVOX - EDUCAÇÃO EM SAÚDE VOCAL: QUEIXAS E IMPRESSÕES VOCAIS DE PACIENTES PRÉ E PÓS INTERVENÇÃO EM GRUPO

SATISFAÇÃO COM ASPECTOS PSICOSSOCIAIS NO TRABALHO E SAÚDE DOS PROFISSIONAIS DAS EQUIPES DO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA EM RECIFE, PERNAMBUCO

PRODUTO TÉCNICO DO MESTRADO PROFISSIONAL INTRODUÇÃO

RELAÇÃO ENTRE RUÍDO AUTORREFERIDO EM SALA DE AULA E SUAS CONSEQUÊNCIAS SOBRE A VOZ

Acácio Lustosa Dantas Graduanda em Educação Física pelo PARFOR da Universidade Federal do Piauí

Milany de Souza Barroso. Recordação da informação pelo paciente com disfonia na terapia da voz BELO HORIZONTE

ADOECIMENTO VOCAL EM PROFESSORES

AVALIAÇÃO VOCAL NA PERSPECTIVA DE PROFESSORES E FONOAUDIÓLOGOS: SIMILITUDES RELACIONADAS À QUALIDADE VOCAL

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE CEILÂNDIA GRADUAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA PEDRO IVO MOLINA PELLICANO

Título: Perfil de Extensão vocal em cantores com e sem queixas de voz

Disfonia: relação entre o trabalho do professor e o prejuízo da voz

15 Congresso de Iniciação Científica GRUPOS DE VIVÊNCIA DE VOZ COM PROFESSORES DA REDE PARTICULAR DE ENSINO

Bogotá, Colombia. 50 años de la Fonoaudiología en Colombia

Plano de Formação 2018/2021

Plano de Ensino da Disciplina

CONDIÇÕES DE TRABALHO DOCENTE E SAÚDE NA BAHIA: ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS

Avaliação nutricional e percepção corporal em adolescentes de uma escola pública do município de Barbacena, Minas Gerais

CONDIÇÃO DE PRODUÇÃO VOCAL PROFESSOR

FATORES ASSOCIADOS A PROBLEMAS VOCAIS NA ÓPTICA DOS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA EM CAXIAS - MA

Correlações entre idade, auto-avaliação, protocolos de qualidade de vida e diagnóstico otorrinolaringológico, em população com queixa vocal

Avaliação perceptivo-auditiva e fatores associados à alteração vocal em professores

ESGOTAMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA DA CIDADE DE MONTES CLAROS

INVESTIGAÇÃO DE SINTOMAS VOCAIS EM DOCENTES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO

Associação entre problemas vocais e tempo de trabalho em servidores públicos de uma Universidade Federal do sul do Brasil

Perfil de Participação e Atividades Vocais em Avaliação Vocal em Professores Universitários

Qualidade de vida em voz e enfrentamento da disfonia por professores

pressão interna que favorece a percepção do diafragma, da parede abdominal e da própria laringe 3. Uma das variações dos ETVSO consiste no uso dos

Avaliação da Imagem Corporal de adolescentes estudantes do IF Sudeste MG - Câmpus Juiz de Fora

Queixas vocais e grau de disfonia em professoras do ensino fundamental. Vocal complaints and degree of dysphonia in elementary school teachers

Qualidade de Vida Relacionada à voz em Professoras do Ensino Fundamental da Rede Pública

ASSOCIAÇÃO ENTRE SENSAÇÕES LARINGOFARINGEAS E CAUSAS AUTORREFERIDAS POR PROFESSORES.

Revista CEFAC ISSN: Instituto Cefac Brasil

Prevalência de alterações fonoaudiológicas em crianças de 5 a 9 anos de idade de escolas particulares

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE MEDICINA. Renata Mattar de Brito

Título: O impacto da exposição à sílica na função pulmonar de lapidários de pedras preciosas e semi-preciosas de Corinto, Minas Gerais.

ESTADO DE ALAGOAS SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEDUC SUPERINTENDÊNCIA DE VALORIZAÇÃO DE PESSOAS - SUVPE MANUAL DE SAÚDE VOCAL VOZ QUE ENSINA

INFLUÊNCIA DO ABSENTEÍSMO NAS RELAÇÕES TRABALHISTAS. Introdução

Desfecho dos professores afastados da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal por distúrbios vocais entre

Sintomas vocais e causas autorreferidas em professores

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE MEDICINA. Nance Caroline de Paula Tomaz

VOZ E PROCESSAMENTO AUDITIVO: TEM RELAÇÃO??

Voz e disfunção temporomandibular em professores

VARIABILIDADE DA FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE VOZES ADAPTADAS E DISFÔNICAS

INTRODUÇÃO. (83)

SINTOMAS OSTEOMUSCULARES EM TRABALHADORES DE UMA INDÚSTRIA DO POLO MOVELEIRO DE ARAPONGAS PR

5º Simposio de Ensino de Graduação

1 Introdução. Subprojeto de Iniciação Científica. Edital:

TÍTULO: QUALIDADE DE VIDA EM PROFISSINAIS DE ENFERMAGEM CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS SUBÁREA: PSICOLOGIA

RUÍDO EM SALAS DE AULA: UM ESTUDO SOBRE OS PROBLEMAS DE INTELIGIBILIDADE 1 NOISE IN CLASSROOMS: A STUDY OF PROBLEMS OF INTELLIGIBILITY

Sintomas vocais relatados por professoras com disfonia e fatores associados

Transcrição:

Condições de trabalho em professores e relação com os sintomas vocais Autores: NAYARA RIBEIRO GOMES, ADRIANE MESQUITA DE MEDEIROS, LETÍCIA CALDAS TEIXEIRA, Descritores: Voz; Docente; Condições de Trabalho INTRODUÇÃO A disfonia é um processo multifatorial sendo definida como qualquer dificuldade ou alteração na emissão natural da voz. Aspectos biológicos, anatômicos, emocionais, condições ambientais insalubres, demanda vocal intensa e ou abusos vocais são fatores que combinados ou isolados incidem na manifestação deste distúrbio e contribuem para o adoecimento da voz 1-6. Os professores são os profissionais da voz mais acometidos pela disfonia, com repercussão no trabalho, na saúde e na qualidade de vida 1-3 e estudos mostram a associação entre as condições de trabalho e o desenvolvimento de alterações vocais recentes 5-7. O ambiente de trabalho e as condições organizacionais podem influenciar de forma negativa o exercício da docência. O ambiente se torna insalubre devido a aspectos como: salas com número elevado de alunos, ruído interno e externo, condições inadequadas de temperatura e umidade que podem levar o indivíduo a falar em intensidade elevada 5.

Os problemas vocais em professores muitas vezes estão relacionados às queixas de fadiga e desgaste vocal como tempo de trabalho, a carga horária semanal, monotonia e ritmo de trabalho excessivo. O tempo de trabalho como professor, a carga horária semanal, monotonia e ritmo de trabalho excessivo, exigências de produtividade, relações de trabalho autoritárias, entre outros aspectos, refletem a frequência com que o docente utiliza a voz 8. Aspectos psicossociais do trabalho podem repercutir sobre a saúde 9 e autores mostram a relação deste elemento como um risco à saúde do trabalhador devido a presença de quadros de estresse ocupacional 10,11. Desta forma, o ambiente de trabalho e os aspectos psicossociais são aspectos importantes dentro do quadro multifatorial que provocam alterações vocais em professores. Elucidar e analisar a influência destes aspectos na perspectiva dos problemas de voz em professores amplia o espectro para compreender a relação entre saúde vocal e o trabalho docente. OBJETIVO Investigar a autopercepção dos aspectos ambientais e psicossociais do trabalho de professores de escolas públicas de ensino fundamental e relacionar aos sintomas de desconforto vocal. MÉTODOS Estudo transversal com amostra probabilística de professores de escolas municipais. Participaram do estudo 90 professores do ensino fundamental, sendo 18 homens e 72 mulheres, com média de idade de 42,4 anos. Todos os participantes da pesquisa receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 2

A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o parecer nᵒ 692.867/14. Os critérios de inclusão foram ter idade entre 20 e 65 anos; lecionar no ensino fundamental e não ser professor de educação física. O instrumento de investigação desta pesquisa foi um questionário de 40 questões, elaborado pelas pesquisadoras composto por 5 blocos de perguntas. O primeiro bloco abordava as características sociodemográficas com perguntas referentes à idade, turno de trabalho e tempo de docência. O segundo bloco era sobre as características do ambiente de trabalho. O terceiro bloco continha perguntas quanto aos aspectos psicossociais do trabalho. Este bloco do questionário foi baseado no Job Content Questionnaire, (JCQ) 12 validado no Brasil 13. O quarto bloco do instrumento continha informações relacionadas à voz com a utilização da Escala de desconforto no trato vocal EDTV 14 e adaptada para o português para avaliar a frequência e a intensidade de oito sintomas de desconforto vocal, sendo eles: queimação, aperto, secura, garganta dolorida, coceira, garganta sensível, garganta irritada e bola na garganta. Também foram incluídas questões sobre a presença de diagnóstico de problema de voz (últimos 6 meses), a realização de tratamento fonoaudiológico e a realização de outra atividade com o uso intensivo da voz. Para o tratamento estatístico foi utilizado o pacote SPSS (StatisticalPackage For Social Sciences). Foram realizadas análises descritivas das variáveis do estudo por meio de distribuição de frequência absoluta e relativa das variáveis categóricas, analise de síntese numérica das variáveis contínuas e uma analise de regressão linear uni e multivariada para verificar as associações entre o número de sintomas vocais e as características do trabalho ambiente escolar. 3

RESULTADO A tabela 1 apresenta a amostra dos 90 professores de escolas municipais de ensino fundamental, com média de idade de 42,4 anos e média de 15,3 anos em relação ao tempo de docência. A média dos sintomas de desconforto relatados foi de 5,6 sintomas. Tabela 1 - Síntese numérica das variáveis relacionadas ao número de sintomas vocais, idade e tempo de docência (n=90) Idade (anos) Tempo de docência (anos) Sintomas vocais* Mediana 42 14 6 Média 42,4 15,3 5,6 Desvio padrão 9,1 10,1 2,4 Mínimo 24 2 0 Máximo 65 48 8 *Queimação, aperto, secura, garganta dolorida, coceira, garganta sensível, garganta irritada e bolo na garganta A figura 1 mostra que 34,4% (n=31) dos professores relataram presença de 8 sintomas de desconforto vocal. Figura 1- Frequência absoluta e porcentagem dos sintomas vocais relatados pelos professores (n=90) 4

31 14 14 9 8 5 5 3 2 4 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Número de sintomas relatados pelos professores Tabela 2 - Características do ambiente de trabalho relatadas pelos professores (n=90) Características N % Uso de Microfone Não 78 86,7 Sim 12 13,3 Ruído na Sala de Aula Desprezível/razoável 51 56,7 Elevado/insuportável 39 43,3 Ruído dentro da Escola Desprezível/razoável 53 58,9 Elevado/insuportável 37 41,1 Ruído fora da Escola Desprezível/razoável 73 81,1 Elevado/insuportável 17 18,9 A tabela 3 mostra a análise de regressão linear uni e multivariável. A única variável que apresentou associação com número de sintomas foi o ruído dentro da sala de aula. A medida que o professor percebe um ruído elevado ou insuportável, o número de sintomas também se eleva (p=0,038). 5

Tabela 3 Resultados da análise de regressão linear uni e multivariável entre o número de sintomas e características do ambiente escolar Modelo Univariado Modelo Multivariado Características* Coeficiente (Erro Padrão) Valor-p* Coeficiente (Erro Padrão) Valor-p* Sexo 0,444 (0,638) 0,488 0,445 (0,632) 0,474 Idade 0,007(0,028) 0,794 0,042(0,041) 0,317 Tempo docência 0,013(0,025) 0,601 0,051(0,038) 0,184 Ruído sala de aula 1,045(0,502) 0,041 1,079 (0,510) 0,038 Ruído da escola 0,862(0,516) 0,099 - - Ruído fora da escola 0,280(0,668) 0,676 - - Uso de microfone -0,744(0,749) 0,323 - - Constante 5,621 (1,612) 0,001 * Categorias de referência: sexo feminino; ruído desprezível/razoável; sem uso de microfone DISCUSSÃO Em relação aos sintomas vocais, observou-se que a média de sintomas de desconforto relatados foi de 5,6 sintomas. Os sintomas de desconforto mais citados foram a garganta dolorida e secura. Dentre os 90 professores participantes, apenas (13,3%, n=12) apresentavam diagnóstico médico ou fonoaudiológico de problemas vocais e pouquíssimos realizavam (3,3%, n=3) terapia fonoaudiológica, apesar de apresentarem um contingente expressivo de sintomas vocais. Outros estudos mostram que a maioria dos profissionais docentes não valorizam ou desconhecem os sintomas relacionados a disfonia, o que pode agravar sua dificuldade a emissão vocal 8,15. Com relação as características do ambiente de trabalho, a presença do ruído em sala de aula foi o fator de maior relevância para o aumento de sintomas vocais. Ao se investigar se os participantes faziam uso do microfone os 6

resultados foram negativos, ou seja, a maioria dos professores (86,7%) não faz uso do mesmo. Estudos incentivam que o uso do microfone seja incorporado como uma medida profilática, um equipamento de proteção individual para o professor16. Estatisticamente, não houve associação significante entre o número de sintomas vocais e os aspectos psicossociais do trabalho. Ressalta-se que, alguns estudos relatam que a demanda psicológica pode assumir diferentes significados para grupos diferentes da população trabalhadora em seus contextos cultural, social e ocupacional 8. O suporte social é considerado um dos principais moderadores sobre a saúde do sujeito e a satisfação com o trabalho 8,10. Entretanto, os resultados sobre os aspectos psicossociais do trabalho nesta pesquisa não são conclusivos. CONCLUSÃO Professores de ensino fundamental apresentam elevado número de sintomas de desconforto vocal, contudo, não buscam orientação fonoaudiológica ou médica. O número de sintomas de desconforto vocal se associa significativamente com a presença do ruído em sala de aula. A medida que o professor percebe um ruído elevado ou insuportável, o número de sintomas também se eleva. REFERENCIAS 1. Penteado RZ, Pereira IMTB. Qualidade de vida e saúde vocal de professores. Rev Saúde Publ. 2007;41(2):236-43. 2. Dragone MLS, Ferreira LP, Giannini SP, Simões-Zenari M, Vieira VP, Behlau M. Voz do professor: uma revisão de 15 anos de contribuição fonoaudiológica. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2010;15(2):289-96. 7

3. Behlau M, Zambon F, Guerrieri AC, Roy, N. Epidemiology of Voice Disorders in Teachers and Nonteachers in Brazil: Prevalence and Adverse Effects. J Voice. 2012;26(5):665. 4. Behlau M, Pontes P. Higiene vocal. Rio de Janeiro: Revinter; 2001. 5. Pizolato RA Mialhe FL, Cortellazzi KL, Ambrosano GMB, Rehder MIBC, Pereira AC. Avaliação dos fatores de risco para distúrbios de voz em professores e análise acústica vocal como instrumento de avaliação epidemiológica. Rev. CEFAC. 2013;15(4):957-66. 6. Provenzano LCFA, Sampaio TMM. Prevalência de disfonia em professores do ensino público estadual afastados de sala de aula. Rev. CEFAC. 2010;12(1):97-108. 7. Behlau M, Dragone MLS, Nagano L. A voz que ensina: o professor e a comunicação oral em sala de aula. Rio de Janeiro: Revinter, 2005. 8. Araújo TM, Reis EJFB, Carvalho FM, Porto LA, Reis IC, Andrade JM. Fatores associados a alterações vocais em professoras. Cad. Saúde Pública. 2008;24(6):1229-38. 9. Karasek RA, Brisson C, Kawakami N, Houtman I, Bongers P, Amick B. The Job Content Questionnaire (JCQ): an instrument for internationally comparative assessment of psychosocial job caracteristics. J. Occup. Health Psychol. 1998;3(4):322-55. 10. Ribeiro, RBN. Satisfação dos médicos no Sistema Único de Saúde de Belo Horizonte, Brasil. [dissertação]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais; 2011. 11. Souza CL. Fatores associados a patologias de pregas vocais em professores. Rev. Saúde Publ. 2011;45 (5):914-21. 8

12. Karasek, R. A Job Content Questionnaire and user s guide. Universit of Massachusetts. Columbia, 1985. 13. Araújo TM, Karasek R. Validity and reliability of the job content questionnaire informal and informal jobs in Brazil. Scand. J. Work Environ. Health. 2008;6(Supl):52-9. 14. Mathielson L, Hirani SP, Epstein R, Baken RJ, Wood G, Rubin JS. Laryngeal Manual Therapy: A Preliminary Study to Examine its Treatment Effects in the Management of Muscle Tension Dysphonia. J. Voice 2009;23:353-66. 15. Caporossi C, Ferreira LP. Sintomas vocais e fatores relativos ao estilo de vida em professores. Rev. CEFAC. 2011;13(1):132-9. 16. Teixeira LC, Behlau M. Efetividade dos Exercícios de função Vocal e o uso do Amplificador de Voz. Anais do XXII Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia. Joinville. SC; 2013 9