Características do Comércio de Pescado no Brasil

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Transcrição:

Características do Comércio de Pescado no Brasil Gelson Dias Florentino 1 Resumo: Este artigo apresenta as principais características do comércio de pescado atualmente desenvolvidas no Brasil, com base em pesquisa bibliográfica e nos programas governamentais voltados para o setor pesqueiro. O embasamento metodológico para a elaboração do trabalho teve como fundamento os levantamentos qualitativos e quantitativos sobre o comércio de pescado praticado no Brasil, assim como os dados relativos aos pescadores artesanais e de subsistência que atuam em todo o território nacional, a partir das informações disponibilizadas pelo Ministério de Aquicultura e Pesca. Como resultado do trabalho espera-se identificar as principais particularidades que envolvem o comércio de pescado no Brasil, bem como contribuir para o fortalecimento dos atores sociais inseridos nestas atividades pesqueiras. Palavras-Chaves: comércio, pescado, pescadores. 1 Engenheiro de Produção pelo Instituto de Tecnologia da Amazônia e Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Amazonas. Especialista em Planejamento Governamental e MBA em Gerenciamento de Projetos. Mestrando em Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Amazonas - UFAM. Assessor de Planejamento e Projetos da Secretaria de Estado de Articulação de Políticas Públicas do Amazonas. E-mail: gelson@searp.am.gov.br 1

Introdução Desde a criação da Organização Mundial do Comércio - OMC, em 1995, o comércio de pescado vem aumentando gradativamente em vários países do mundo. O impulso para a inclusão das pescas na agenda internacional decorre da necessidade de tratar a pesca não somente como uma questão de equilíbrio e equidade comercial, mas, também, como uma questão de prevenção frente à diminuição dos recursos naturais. A criação do Comitê sobre Comércio e Meio Ambiente dentro da OMC evidencia o esforço da Instituição em ser mais sensível às implicações do comércio de pescado, bem como aplicar medidas que possa garantir a manutenção dos recursos pesqueiros, já que o aumento no consumo de peixes vem se caracterizando como uma tendência global. Atualmente, quase metade do pescado comercializado no mundo provém de países em desenvolvimento e a sua comercialização é destinada, em sua grande parte (85% do total) aos países desenvolvidos. A Food and Agriculture Organization estima que atualmente o consumo de peixes no mundo seja responsável por mais de 15% de toda a proteína consumida pela população e com o comércio em ascensão este percentual tende a aumentar cada vez mais. Dados do SEBRAE Nacional apontam que em 2005, a China era a maior produtora e consumidora mundial de pescado (cerca de 60%), seguida de outros países como Índia, Indonésia e Estados Unidos. Estes dados preliminares demonstram muito claramente que o aumento do comércio e consumo de peixes no mundo está intimamente relacionado com o tamanho da população mundial. Na América do Sul, os dois principais produtores e exportadores de pescados são o Chile e Peru. Para o SEBRAE Nacional, este expressivo comércio nos dois países sul americanos está relacionado ao fato de o Chile ser um dos principais produtores mundiais de salmão, e o Peru ser favorecido pelas correntes marinhas de águas frias e nutritivas em sua costa. Este fenômeno natural na costa peruana, conhecido como ressurgência propicia o desenvolvimento de vários cardumes de peixes pequenos, principalmente a anchoita (peixe pelágico semelhante à sardinha). De acordo com a EMBRAPA (2009), o mercado de pescado no mundo movimenta US$ 92 bilhões e responde por 16% da oferta mundial de proteína animal. Isto representa um mercado altamente promissor, já que a FAO projeta para 2030 um salto no consumo mundial de 16 para 22,5 kg/hab/ano. Desta forma, o comércio de pescado no mundo se caracteriza atualmente como uma oportuna e contínua tendência de expansão, principalmente nos países em desenvolvimento 2

como o Brasil, que possui além de um imenso litoral costeiro, um elevado potencial de pescado em suas bacias hidrográficas, em especial a Amazônia. 1. O Comércio de Pescado no Brasil Nas últimas décadas, a comercialização de pescado do Brasil vem passando por profundas transformações. Estas mudanças ocorreram mais intensamente a partir da década de 80, quando diversas empresas acreditaram numa possível mudança nos hábitos alimentares da população e passaram a investir mais efetivamente no setor. RUFFINO (2005, p. 15 e 16), afirma que as atividades pesqueiras no Brasil tiveram um crescimento substancial entre 1960 e 1988, principalmente a partir da criação da Superintendência do Desenvolvimento da Pesca - SUDEPE. Esta instituição, criada em 1962 ficou encarregada de formular, executar e coordenar a política e as ações de pesquisa e ordenamento da exploração pesqueira na plataforma submarina, nas águas do mar territorial e nas águas continentais do Brasil. Sua atuação permitiu consolidar as bases do até então incipiente segmento industrial da pesca e deu condições para que o setor se desenvolvesse de forma mais consistente e expansiva. Os investimentos posteriormente empreendidos na área de aquicultura e pesca foram essenciais para a formulação e o desenvolvimento de políticas mais eficazes para o setor. Atualmente, as ações de incentivo a produção, comercialização e consumo de pescado no Brasil está sob responsabilidade do Ministério de Pesca e Aquicultura MPA, instituído pela Lei nº 11.598/2009, em substituição à Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca - SEAP/PR, criada em 2003, pelo então Governo Lula. Dados recentes do MPA demonstram que a partir da criação da antiga SEAP/PR, em 2003, a quantidade de pescado produzido no Brasil vem aumentando ano a ano, conforme evidencia o período de 2005 a 2009, na tabela 1: 3

Produção Nacional de Pescados 2005 2009 2005 2006 2007 2008 2009 Pesca Marinha 507.858,5 527.871,5 539.966,5 556.167,3 585.671,5 Pesca Continental 234.434,5 251.241,0 243.210,0 261.282,8 239.492,6 Total Pesca 742.293,0 779.112,5 783.176,5 817.450,1 825.164,1 Piscicultura 179.746,0 191.183,5 210.644,5 282.008,4 337.353 Carcinicultura 63.134,0 65.000,5 65.000,0 70.251,2 65.189,00 Aquicultura Outros 15.530,0 16.161,0 13.405,0 13.107,4 13.107,4 Total Aquicultura 257.780,0 271.695,5 289.049,5 365.367,0 415.649,0 Total Geral 1.009.073,0 1.050.808,0 1.072.226,0 1.182.817,1 1.240.813.1 Fonte: MPA (2010) Tabela 1: Série Temporal da produção de pescado nacional, proveniente da pesca marinha e continental, da piscicultura, carcinicultura e outras formas de cultivo aquícola no período de 2005 a 2009. Para FIRETTI & SALES (2004, p. 306), as ações implementadas pela SEAP a partir de 2004, foram suficientes para iniciar um processo de crescimento no consumo e ampliar as exportações brasileiras de pescado. O fato de Brasil possuir inúmeras espécies de peixes contribui ainda mais para que haja um aumento no consumo, tanto no mercado interno como no externo. Esta expectativa de crescimento no mercado de pescado está calcada, principalmente, na promulgação da Lei nº 11.959/2009 (Lei da Pesca), que estabelece condições essenciais para a continuidade da implantação de políticas setoriais. Para o Ministério da Pesca e Aquicultura a projeção de crescimento no consumo mundial de pescado dentro das estimativas da FAO (22,5 kg/habitantes/ano em 2030), representará um aumento de consumo de mais de 100 milhões de toneladas/ano. Dentro desta perspectiva de crescimento, em 2008, o Governo Federal, por meio da então SEAP/PR lançou o programa Mais Pesca e Aquicultura, com objetivo de gerar mais renda aos pescadores e abastecer a população com alimentos mais saudáveis. O plano, que em sua essência estabeleceu diversas metas a serem cumpridas até o final de 2011, representa a estratégia do poder público em gerar mais empregos para o setor e atender a crescente demanda de comércio e consumo de peixes no Brasil e exterior. Para o Governo Federal, o Plano mais Pesca e Aquicultura pretende dentre 4

diversas ações estruturais, elevar a produção e o consumo de pescado em cerca de 40%, passando dos seus atuais 1 milhão de toneladas/ano para 1,4 milhão de toneladas/ano. Esta probabilidade de aumento no consumo de peixes fez com que o Governo projetasse um crescimento na produção nacional do pescado até 2011, conforme demonstra o gráfico a 1, a seguir: Fonte: MPA (2010) Gráfico 1 Estimativa de produção de pescado no Brasil Apesar de o MPA enfatizar o crescimento na produção de pescado apenas nos últimos anos, para PIZAIA e. al. (2008, p. 4), este crescimento já vem aumentando desde o ano 2000, quando o Brasil produziu 843 mil toneladas de pescados. No mesmo período, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) estimava uma produção mundial de 130,4 milhões de toneladas, o que nos leva a presumir que o comércio de peixes encontra-se em plena ascensão. Em 2002, o Brasil bateu recorde na produção pesqueira, fechando o ano com 1 milhão e 6 mil toneladas de pescado, aumentando em 7,1% em comparação com 2001. Em que pese as condições geográficas extremamente favoráveis do Brasil, há grandes possibilidades do comércio de pescado vir a se expandir, principalmente no mercado de exportações. Para FIRETTI & SALES (2004, p. 307), é possível que no longo prazo cheguemos a dominar 20% desse mercado internacional, o que representa um incremento substancial na economia do país. O mercado internacional de exportações de pescados movimenta mais de US$ 55 bilhões por ano, e o Brasil vem aumentando substancialmente sua participação, além de deter um dos maiores potenciais de crescimento do mundo. 5

2. Políticas de Ordenamento e Comercialização de Pescado A gestão das políticas relacionadas às atividades pesqueiras no Brasil está sob responsabilidade do Ministério da Pesca e Aquicultura, que no seu contexto político e operacional, planeja, orienta e implanta normatizações que assegurem o desenvolvimento e a sustentabilidade do setor. As políticas de comercialização do pescado, muito embora seja estabelecida pelo próprio mercado, também fazem parte das etapas que compreendem a cadeia produtiva, de modo que, sendo este um elo fundamental para o perfeito funcionamento da cadeia, o Governo Federal vem alocando uma boa parte de seus recursos financeiros nesta atividade. Dados do MPA dão conta de que em 2009, 12% de todos os recursos do Órgão foram aplicados exclusivamente no componente comercialização de pescado. Entretanto, mesmo sendo o MPA responsável pelo desenvolvimento das ações de coordenação dos recursos pesqueiros no Brasil, estas atividades são compartilhadas com diversas outras instituições, principalmente o Ministério do Meio Ambiente MMA, por meio do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA, Secretarias de Governo Estaduais e/ou demais órgãos vinculados. Quanto às questões de organização social, envolvendo cadastro e expedições de carteiras profissionais ou pagamento de benefícios como seguro-defeso, o Governo vem sendo auxiliado por instituições de classe, tais como associações e colônias de pescadores. Esta interlocução entre os pescadores e o Estado é fundamental para viabilizar a participação dos usuários dos recursos pesqueiros no processo de gestão das políticas de ordenamento. 3. Características da Mão-De-Obra do Pescado No Brasil, a exploração dos recursos pesqueiros ocorre tanto em água doce como em água salgada, sob diversas modalidades ou categorias. Do ponto de vista socioeconômico, a pesca de subsistência e a pesca comercial são as mais relevantes, principalmente pela quantidade de mão-de-obra que ocupa. Dados de 2006 da Food and Agriculture Organization apontam que no ano de 2003 a pesca e aquicultura já representavam 2,6% dos 1.300 milhões de pessoas economicamente ativas neste ramo de trabalho. Relatórios de 2004 do IBAMA demonstram que na segunda metade do século XX ocorreram diversas mudanças tecnológicas e comerciais que permitiram ampliar e 6

consolidar a mão-de-obra de pescado no Brasil. Dados da FAO de 2006 apontam que no ano de 2003 a pesca e aquicultura já representavam 2,6% dos 1.300 milhões de pessoas economicamente ativas neste ramo de trabalho. O MPA acredita que 60% da pesca nacional é fruto do trabalho dos pescadores profissionais artesanais, resultando em uma produção de mais 500 mil toneladas por ano, o que significa dizer que tanto a pesca de subsistência como a pesca comercial é altamente relevante para a economia nacional. Nesta ótica do Governo Federal, as atividades pesqueiras são responsáveis pela criação e manutenção de centenas de empregos nas comunidades do litoral e também naquelas localizadas à beira de rios e lagos da Amazônia. PORTER (2001, p. 7), afirma que a pesca é responsável por cerca de 200 milhões de emprego em todo o mundo, razão pela qual na Quarta Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio OMC, realizada em 2001, em Doha, a pesca já foi incluída com subsídios na nova rodada de negociações. Desta forma, tanto a pesca de subsistência como a pesca comercial é altamente relevante para a economia nacional. De acordo com o Governo Federal, ela é responsável pela criação e manutenção de centenas de empregos nas comunidades do litoral e também naquelas localizadas à beira de rios e lagos da Amazônia. Neste particular, os pescadores profissionais desenvolvem um papel fundamental no desenvolvimento sustentável do país, uma vez que é do mar, dos rios e lagos que eles tiram o seu alimento e uma boa parte de sua renda. O quadro 1, demonstra a situação atual e a situação pretendida pelo Governo Federal até o final de 2011, em relação a mão-de-obra de pescado no Brasil. Microindicador Situação Atual Situação Pretendida (2011) Posto de trabalho 3,5 milhões 5 milhões Consumo 7 Kg/hab/ano 9 kg/hab/ano Produção da pesca 770.000 ton 860.000 ton Produção da aqüicultura 280.000 ton 570.000 ton Produção total de pescado (anual) 1.050.000 ton 1.430.000 ton Fonte: MPA (2010) Quadro 1 Situação da mão-de-obra dos pescadores no Brasil 7

Para o Ministério da Pesca e Aquicultura mais de 600 mil pescadores sustentam suas famílias e geram renda para o país simplesmente trabalhando na captura dos peixes e frutos do mar, no beneficiamento e na comercialização do pescado. O gráfico 2, a seguir, mostra os números de pescadores distribuídos no Brasil, entre os anos de 2006 e 2008: Fonte: MPA (2010) Gráfico 2 Distribuição da mão-de-obra de pescadores no Brasil 4. Planejamento e Produção Regional de Pescados no Brasil Com o crescimento do consumo dos alimentos e do aumento dos preços no mundo, o MPA acredita que o Brasil tem a condição de desenvolver a pesca e a aqüicultura para produzir um alimento nobre e saudável, o pescado. Assim, também é uma grande oportunidade de aumentar o emprego e a renda para pescadoras e pescadores brasileiros. 8

Neste sentido, o Governo Federal vem investindo em planos regionais com intuito de fortalecer o setor produtivo de pescado e aumentar a demanda de consumo. 4.1. Características do Extrativismo Pesqueiro Regional Neste imenso e complexo espaço geográfico do Brasil, a pesca é uma das atividades mais importantes, constituindo-se em fonte de alimento, comércio e renda para grande parte de sua população, sobretudo a que reside nas margens dos rios da Amazônia. Por ser uma área muito extensa e diversificada, a Região Amazônica sempre é vista como um desafio para integração ao restante do país. Apesar das recentes pesquisas e estudos que vem sendo desenvolvidas por instituições públicas e privadas na região, ainda são poucas as informações concretas sobre suas potencialidades econômicas. De acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura, a região possui 6.000 espécies de peixes de água doce, das quais 2,5 mil já foram catalogadas, o que representa 30% dos peixes dessa natureza existentes em todo o mundo e 75% dos peixes de todo o Brasil. Neste sentido, a FAO afirma que do ponto de vista socioeconômico, social e ambiental, a pesca e a aquicultura estão entre as atividades mais importantes da Região Amazônica. 4.2. Políticas de desenvolvimento e infraestrutura do setor Para o Ministério da Pesca, a política de desenvolvimento da pesca, formulada em 2008 pelo Governo Federal é uma das diretrizes do Plano de Desenvolvimento da Aquicultura e Pesca 2008-2011, que tem como objetivo a superação da pobreza e das desigualdades sociais junto às comunidades aquícolas e pesqueiras, aprimorando as capacidades de autogestão e fortalecendo as cadeias produtivas do setor. Neste contexto, o governo federal, por meio do MPA, implantou recentemente o projeto Amazônia Aquicultura e Pesca Plano de Desenvolvimento Sustentável, com intuito de ordenar a pesca e equilibrar a captura das espécies nativas na região. Este projeto também segue dentro do escopo do Plano Mais Pesca e Aquicultura, lançado em 2008 e em fase de execução pelo atual Governo. Apesar destes avanços e panorama bastante positivo traçado pelo Governo Federal, o que se caracteriza como extremamente relevante para a região, a Amazônia ainda padece de graves problemas socioeconômicos, especialmente pela falta de infraestrutura logística e pelo enorme distanciamento entre os municípios, comunidades e centro consumidor. A falta 9

de equipamentos, em quantidades e locais apropriados tem ocasionado grandes perdas ao comércio de pescado regional. No Amazonas, por exemplo, levantamentos da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, realizado em 2005 apontam que 30% do pescado do Estado é desperdiçado pela precariedade da infraestrutura de estocagem e beneficiamento, agravado pelo comércio clandestino de determinadas espécies de peixes. Infelizmente, este quadro de descaso e perdas econômicas em relação ao setor pesqueiro é recorrente em praticamente toda a Região Norte. Nesta perspectiva, o Governo precisa compreender que as políticas de desenvolvimento que tenham como público-alvo extrativistas e/ou comunitários, necessariamente, devem caminhar pela via do processo participativo, a fim de que o desencadeamento das ações se coadune com a realidade regional. 4.3 Tecnologias na indústria de pescado regional Os primeiros empreendimentos tecnológicos relacionados com a indústria de pescado na Amazônia ocorreram entre os anos de 1950 e 1970, com a introdução dos motores a diesel e das fibras de náilon no processo de fabricação de utensílios de pesca, além da instalação de frigoríficos e a expansão da pesca comercial, incentivados pelos planos governamentais. Esses planos ficaram evidentes, principalmente nos arredores da cidade de Belém, onde surgiram as primeiras empresas de pesca industrial. O amparo legal que resultou nestas importantes mudanças socioeconômicas foram a promulgação da Lei nº 5.174, de 27 de outubro de 1966, que concedeu incentivo fiscal a empreendimentos na Amazônia, e o Decreto-Lei nº 221, de 28 de fevereiro de 1967, que estimulou a migração de vários empresários estrangeiros e de outras regiões do país a se instalarem na Amazônia. Esses incentivos deram condições para que na década de 70 a frota de barcos pesqueiros na região aumentasse consideravelmente. A produção e comercialização do pescado em escala industrial só diminuíram no final da década de 80, quando os estoques de espécies como pirarucu e tambaqui foram drasticamente reduzidos. Dados do CEPNOR/IBAMA demonstram que os volumes de pirarucu caíram de 1.140 toneladas em 1979, para 364 toneladas em 1986 e o do tambaqui que representava 45% do pescado desembarcado no porto de Manaus em 1976, perdeu importância, passando para menos de 10% do total em peso em 1982. Apesar desta perceptível diminuição no estoque de algumas espécies de peixes regionais, a Amazônia ainda era nesta época a mais produtiva do País, participando, na 10

década de 1991 a 2000, com 65,5% do pescado continental desembarcado no Brasil (OLIVEIRA, 2005 apud CEPNOR/IBAMA, 2006). Atualmente, o intenso processo de capitalização e a adoção de tecnologias introduzidas na agroindústria de pescado, notadamente nos últimos anos, têm ampliado bastante as condições de mercado. Desta forma, pode-se inferir que o aprimoramento e a introdução de novas tecnologias no processo de pesca, armazenagem e distribuição de pescado, alinhado a uma política prudente e eficiente para o setor poderá alavancar bastante este nicho de mercado. Algumas Conclusões Os gargalos que ocorrem em muitos elos da cadeia extrativista e comercial do pescado no Brasil podem ser amenizados com o fortalecimento do cooperativismo e associativismo, além de uma governança mais proativa e empreendedora, capaz de estabelecer melhores diretrizes para o aperfeiçoamento e organização dessa importante atividade estratégica. O grande desafio para o comércio de pescado no Brasil e, principalmente na Amazônia, ainda é a questão da sustentabilidade ambiental e econômica do setor. Neste sentido, há necessidades de pesquisas e estudos mais aprofundados em todo continente, de modo a contribuir para geração de emprego e renda, sem, contudo, comprometer o equilíbrio dos recursos naturais. Além da superação deste obstáculo, há necessidade de ampliar as pesquisas e informações sobre o extrativismo e o comércio de pescado no Brasil, em especial na região Amazônica. Outro desafio elencado na Conferência consiste em identificar focos de poluição gerada pelos resíduos da indústria de pescado e a informalidade do mercado (contrabando), principalmente na região do Alto Solimões, além da pesca predatória de algumas espécies, agravado pelos conflitos decorrentes da entrada de barcos do Pará em rios do Amazonas. Portanto, dentre os principais desafios que o poder público em suas diferentes esferas, juntamente com a iniciativa privada têm de enfrentar, a fim de colocar o setor em um patamar de modernização e eficiência, que assegure o seu desenvolvimento sustentado, está o de melhorar a infraestrutura de estocagem e beneficiamento e conciliar conflitos entre comunidades que dependem exclusivamente deste ramo de atividade para sobreviver. 11

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