PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERAPIA NA ATENÇÃO BÁSICA

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Transcrição:

PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERAPIA NA ATENÇÃO BÁSICA A Medicina Tradicional (MT), a Medicina Complementar e Alternativa (MCA) e seus produtos, principalmente plantas medicinais, cada vez mais têm se tornado objeto de políticas públicas nacionais e internacionais, incentivadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a partir da criação do seu Programa de Medicina Tradicional nos anos 70. Por meio deste programa, a OMS se propõe a respaldar seus Estados-membros no desenvolvimento e implementação de políticas e programas públicos de MT/MCA, de forma a integrar aos sistemas oficiais de saúde as práticas reconhecidamente eficazes e seguras, ampliando seu acesso e uso racional tanto pelos profissionais de saúde, detentores de conhecimento tradicional, quanto os usuários. No Brasil, as plantas medicinais e seus derivados vêm, há muito, sendo utilizados pela população nos seus cuidados com a saúde, seja pelo conhecimento tradicional na Medicina Tradicional Indígena, Quilombola, entre outros povos e comunidades tradicionais; seja pelo uso na fitoterapia popular, de transmissão oral entre gerações; ou nos sistemas públicos de saúde, como prática complementar de cunho científico, orientada pelos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). A necessidade de harmonizar e normatizar as ações/serviços ofertados na rede pública de saúde de estados e municípios (exemplos: Rio de Janeiro, Ceará, Distrito Federal, Fortaleza, Vitória, Campinas, dentre outros), as orientações da OMS e a demanda da população promoveram o desenvolvimento de políticas, programas, regulamentos e recomendações em diferentes fóruns nas três instâncias de governo. Nas últimas décadas, merecem destaque: o Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais (PPPM) da Central de Medicamentos (CEME), do Ministério da Saúde, vigente entre 1982 e 1997, que realizou pesquisas com 55 espécies de plantas medicinais com o objetivo, entre outros, de desenvolver uma terapêutica alternativa e complementar, com embasamento científico, por meio do estabelecimento de medicamentos fitoterápicos originados a partir da determinação do real valor farmacológico de preparações de uso popular, à base de plantas medicinais ; a Resolução da Comissão Interministerial de Planejamento e Coordenação CIPLAN Nº 08, de 08/03/1988, a qual regulamentou a prática de Fitoterapia nos serviços de saúde, assim como criou procedimentos e rotinas relativas à prática da Fitoterapia nas Unidades Assistenciais Médicas; as recomendações das diversas Conferências Nacionais de Saúde, de Ciência e Tecnologia, de Assistência Farmacêutica (dentre outras) e de Seminários Nacionais sobre Plantas Medicinais e Remédios Fitoterápicos; as Políticas Nacionais de Práticas Integrativas e Complementares e de Plantas Medicinais e Fitoterápicos; as regulamentações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e; a Portaria MS nº 886, de 20/04/2010, que instituiu a Farmácia Viva no SUS. Políticas Nacionais A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, Portaria MS nº 971, de 03/05/2006, contempla diretrizes, ações e responsabilidades do governo federal, estadual e municipal para oferta de serviços e produtos da homeopatia, plantas medicinais e fitoterapia, medicina tradicional chinesa/acupuntura, assim como para observatórios de saúde do termalismo social e da medicina antroposófica, promovendo a institucionalização destas práticas no SUS. 1

A política busca incorporar e implementar essas práticas no SUS na perspectiva da prevenção de agravos e da promoção e recuperação da saúde, com ênfase na Atenção Básica, voltada para o cuidado continuado, humanizado e integral em saúde. Essa política também tem o objetivo de ampliar o acesso a opções de tratamento com produtos seguros, eficazes e de qualidade, de forma integrativa e complementar e não em substituição ao modelo convencional. A PNPIC preconiza o modelo da fitoterapia ocidental, definida como terapêutica caracterizada pela utilização de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal, adotado pelos programas públicos municipais e estaduais. Estes programas deverão dispor de profissionais devidamente capacitados, dentro dos limites de sua competência profissional, em observância aos princípios e diretrizes do SUS e seus produtos atenderem a critérios de segurança, qualidade e eficácia terapêutica. Outra importante política sob coordenação do Ministério da Saúde é a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, aprovada pelo Decreto Presidencial nº 5.813, de 22/06/2006, elaborada por Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), formado por representantes dos ministérios da Saúde; Integração Nacional; Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Desenvolvimento Agrário; Ciência e Tecnologia; Meio Ambiente; Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Desenvolvimento Social e Combate a Fome; além da Agência Nacional de Vigilância Sanitária; Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Casa Civil. Essa política contempla diretrizes que vão além das esferas do setor Saúde e engloba toda a cadeia produtiva de plantas medicinais e produtos fitoterápicos. Por meio das ações advindas desta política o governo em parceria com a sociedade busca garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional. Posteriormente à aprovação desta política e com vistas à implementação das suas diretrizes, instituiu-se um GTI para elaborar o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, cuja proposta foi submetida à consulta pública e aprovado em 09/12/2008, por meio da Portaria Interministerial nº 2.960, que também cria o Comitê Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, com representantes de órgãos governamentais e não governamentais, estes com representantes de todos os biomas brasileiros, com a missão de monitoramento e avaliação da implantação da Política Nacional. Organização da Fitoterapia na rede de serviços Atualmente, 340 municípios e cinco estados oferecem assistência/ações em Plantas Medicinais e Fitoterapia e estas ações/serviços além das demais práticas integrativas e complementares são ofertadas em sua maioria (72%) na Atenção Básica, por meio da Estratégia Saúde da Família. A Saúde da Família está presente em 5.269 municípios, totalizando 31.095 equipes e a ampliação de sua cobertura nas diversas regiões e biomas denota potencial para desenvolvimento de ações com plantas medicinais e fitoterapia nos serviços de saúde. Oportunidade também para ampliação dessas ações, que demandam equipe multidisciplinar, foi incrementada com a criação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) instituídos pela Portaria MS nº 154, de 24/01/2008, republicada em 04/03/2008. O NASF se propõe a ampliar a abrangência e o escopo das ações da Atenção Básica, bem como sua resolubilidade, apoiando a inserção da Estratégia de Saúde da Família na rede de serviços e o 2

processo de territorialização e regionalização a partir da Atenção Básica. Nessa perspectiva, e considerando as práticas integrativas e complementares preconizadas na PNPIC, a equipe do NASF poderá dispor de médico acupunturista, farmacêutico, médico homeopata, fisioterapeuta, nutricionista, entre outros. Sobre o acesso a plantas medicinais e produtos fitoterápicos no SUS, os programas podem tornar disponíveis plantas medicinais e/ou fitoterápicos nas Unidades de Saúde, de forma complementar, seja na Estratégia Saúde da Família, seja no modelo tradicional ou nas unidades de média e alta complexidade, utilizando um ou mais dos seguintes produtos: planta medicinal in natura, planta seca (droga vegetal), produto fitoterápico manipulado e fitoterápico industrializado. A PNPIC preconiza a elaboração de Relações Nacionais de Plantas Medicinais e de Produtos Fitoterápicos, que se propõem a orientar gestores e profissionais de saúde em relação aos produtos a serem disponibilizados pelo SUS, com segurança e eficácia. Nesse sentido, foi constituída a Comissão Técnica e Multidisciplinar de elaboração e atualização da Relação Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (COMAFITO), por meio da Portaria GM/MS n o 1.102, de 12/05/2010, coordenada pelo Departamento de Assistência Farmacêutica/SCTIE/MS, com representações de outras áreas do Ministério da Saúde, Fiocruz, Anvisa, Sociedade Científica e Universidades. Cabe destacar que, segundo a ANVISA, medicamento fitoterápico é o medicamento obtido empregando-se exclusivamente matérias-primas ativas vegetais, cuja eficácia e segurança são validadas por levantamentos etnofarmacológicos, de utilização, documentações tecnicocientíficas ou evidências clínicas. É caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. Não se considera medicamento fitoterápico aquele que inclui na sua composição substâncias ativas isoladas, sintéticas ou naturais, nem as associações dessas com extratos vegetais (RDC 14/2010) Sobre a oferta desses medicamentos, o Ministério da Saúde após pactuação com os estados e municípios, incluiu no Elenco de Referência da Assistência Farmacêutica na Atenção Básica, 08 medicamentos fitoterápicos passíveis de financiamento com recursos tripartite para dispensação no SUS. São eles: a Alcachofra (Cynara scolymus); Aroeira (Schinus terebinthifolius); Cáscara-sagrada (Rhamnus purshiana); Espinheira-santa (Maytenus ilicifolia); Garra-do-diabo (Harpagophytum procumbens); Guaco (Mikania glomerata); Isoflavona de Soja (Glycine max); Unha-de-gato (Uncaria tomentosa). A oferta desses medicamentos fitoterápicos e homeopáticos não interfere na política de distribuição de medicamentos sintéticos. Os medicamentos fitoterápicos ofertados no SUS têm registro na Anvisa, podendo ser prescritos por profissionais legalmente habilitados. Para tanto, as informações técnicas acerca da posologia, possíveis interações medicamentosas e reações adversas são disponibilizadas em suas bulas e na literatura científica utilizada para avaliação técnica de requerimento do registro. Outra importante ação do Ministério da Saúde foi a Portaria MS nº 886/GM/MS, de 20/04/2010 que instituiu no âmbito do SUS, a Farmácia Viva, a qual deverá realizar todas as etapas, desde o cultivo, a coleta, o processamento, o armazenamento de plantas medicinais, a manipulação e a dispensação de preparações magistrais e oficinais de plantas medicinais e produtos fitoterápicos. As Farmácias Vivas, projeto idealizado pelo Prof. Dr. Francisco José de Abreu Matos, da Universidade Federal do Ceará, serviu de referência para diversas experiências (em desenvolvimento) em todo o Brasil. Os estudos científicos sobre plantas medicinais desenvolvidos por mais de cinqüenta anos por esse renomado cientista, deram 3

origem a uma vasta e reconhecida literatura científica sobre plantas medicinais e seu uso. Em agosto de 2010, a Anvisa colocou em consulta pública o Regulamento Técnico para Boas Práticas de Processamento e Manipulação de Plantas Medicinais e Fitoterápicos em Farmácias Vivas, que deverá ser acompanhado por normas referentes ao cultivo, de competência de outros órgãos reguladores. Formação e Educação Permanente A PNPIC preconiza para todas as práticas a definição local das necessidades de capacitação, sendo que para Plantas medicinais e Fitoterapia, recomenda: - curso básico interdisciplinar comum a toda a equipe, com vistas à sensibilização dos profissionais a respeito dos princípios e diretrizes do SUS, das políticas de saúde, das Práticas Integrativas no SUS, das normas e regulamentação e dos cuidados gerais com as plantas medicinais e a fitoterápicos; - específico para profissionais de saúde de nível universitário, detalhando os aspectos relacionados à manipulação, uso e prescrição de plantas medicinais e produtos fitoterápicos, de acordo com as categorias profissionais e; - específico para profissionais da área agronômica detalhando os aspectos relacionados à cadeia produtiva de plantas medicinais. O Ministério da Saúde, responsável pela Política de Educação na Saúde, conta com as seguintes estratégias para formação/educação dos profissionais de saúde: o Sistema Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS); o Programa Nacional de Telessaúde; o Programa de Educação Permanente pelo Trabalho para a Saúde PET Saúde; Cursos de Especialização e Mestrado Profissionalizante; entre outros. Aliado a isto, deve-se considerar as estratégias de capacitação promovidas pelos estados e municípios em conformidade com a Política Nacional. Com relação a plantas medicinais e fitoterapia, existem várias iniciativas locais de capacitação de profissionais de saúde, como: Brasília-DF, Vitória-ES, São Paulo-SP, Rio de Janeiro-RJ, Foz do Iguaçu-PR dentre outros. O Ministério da Saúde tem incentivado, por meio destas políticas públicas, a inclusão de disciplinas de interesse do SUS nos currículos dos cursos de graduação na área da saúde. Atualmente, nos cursos de especialização financiados pelo Ministério da Saúde tem-se inserido módulos sobre fitoterapia e outras práticas integrativas e complementares e está se organizando o curso multidisciplinar de capacitação para profissionais da Saúde da Família e NASF, por meio da estratégia adotada pelo NASF. Estas estratégias de capacitação/formação de profissionais de saúde buscam principalmente a promoção do uso racional de plantas medicinais e dos fitoterápicos no SUS. Pesquisa Com relação à pesquisa e desenvolvimento de plantas medicinais e fitoterápicos, o Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Ciência e Tecnologia, em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e Organização das Nações Unidades para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) apoiam projetos de pesquisas, de acordo com a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde, assim como dissemina o fomento descentralizado à pesquisa nos Estados, por meio do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS). Entre 2003 e 2008, foram apoiados com essa parceria, 79 projetos de pesquisa priorizando produtos da biodiversidade brasileira, incluindo plantas medicinais e produtos fitoterápicos, num total de R$ 10,56 milhões. Neste tema, ressalta-se a importância da Relação Nacional de Plantas 4

Medicinais de Interesse para o SUS RENISUS, publicada pelo Departamento de Assistência Farmacêutica, do Ministério da Saúde como estratégia para priorizar recursos e pesquisas em uma lista positiva de espécies vegetais medicinais, com vistas ao desenvolvimento de produtos/medicamentos fitoterápicos. A mais recente iniciativa do Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Atenção Básica, da Secretaria de Atenção à Saúde, foi a criação da Rede de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde, instituída com o objetivo de proporcionar canal de comunicação e articulação entre pesquisadores, profissionais, usuários e gestores da Atenção Primária à Saúde (APS) no Brasil, por meio da divulgação de estudos e pesquisas realizadas na área e promover a melhoria da utilização dos resultados visando a qualificação da gestão da APS. As Práticas Integrativas e Complementares, onde se insere a Fitoterapia, estão entre as áreas a serem apoiadas pela Rede de Pesquisas. Estudos de custo/efetividade dos serviços de fitoterapia na rede pública, assim como a discussão de problemas/lacunas e definição de prioridades de pesquisas pelos gestores em parceria com os pesquisadores, irão proporcionar ampliação do acesso e melhoria da qualidade dos serviços. Controle social O Ministério da Saúde integra a Comissão Intersetorial de Práticas Integrativas do Controle Social no SUS CIPICSUS, instituída pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), em 2007, com representação de órgãos governamentais e não governamentais das áreas do conhecimento envolvidas com as Práticas Integrativas e Complementares e, como as demais comissões, assessora o Plenário do CNS e articula políticas, programas e atores na implementação das diretrizes da Política Nacional. Em síntese... As Políticas Nacionais de Práticas Integrativas e Complementares e de Plantas Medicinais e Fitoterápicos são orientadas pelos princípios e diretrizes do SUS e os serviços e produtos ofertados são disponibilizados de forma complementar e integrativa. Os serviços devem dispor de profissionais capacitados, dentro dos limites de sua competência profissional, e os produtos devem atender a critérios de segurança, qualidade e eficácia terapêutica. As ações decorrentes destas Políticas têm contribuído para melhoria da saúde no país, pela normatização e institucionalização das experiências com plantas medicinais e fitoterapia na rede pública, e como indutor de políticas, programas e legislação nas três instâncias de governo. Saiba mais... 1) Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/pnpic_publicacao.pdf 2) Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_fitoterapicos.pdf 3) A Fitoterapia no SUS e o Programa de Plantas Medicinais da Central de Medicamentos http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/fitoterapia_no_sus.pdf 4) Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos 5

http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/matriz_versao_publicada.pdf 5) Relatório do 1 Seminário Internacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde http://dtr2004.saude.gov.br/dab/docs/geral/relatorio_1o_sem_pnpic.pdf Sites: http://www.rededepesquisaaps.org.br/ www.saude.gov.br/dab www.saude.gov.br/sctie 6