FENOLOGIA E PRODUÇÃO DA CULTIVAR TETRAPLÓIDE DE UVA DE MESA NIABELL SOBRE DIFERENTES PORTA-ENXERTOS (1)

Documentos relacionados
Caracterização Fenológica de Cinco Variedades de Uvas Sem. Sementes no Vale do São Francisco [1] Introdução

Comportamento produtivo de cultivares de uva para suco em diferentes porta-enxertos

II. GENÉTICA E MELHORAMENTO DE PLANTAS

Produção e Características Físico-Químicas de Uvas sem Sementes Durante o Terceiro Ciclo de Produção

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DE CACHOS, BAGAS E ENGAÇO DE DOIS HÍBRIDOS DE VIDEIRA EM JUNDIAÍ, SP.

Condições climáticas. Marco Antônio Fonseca Conceição Jorge Tonietto Francisco Mandelll João Oimas Garcia Maia

Desempenho Agronômico de oito Cultivares de Videira (Vitis labrusca l.) após poda em fevereiro de 2012

INFLUÊNCIA DO SISTEMA DE CONDUÇÃO NO MICROCLIMA, NA PRODUTIVIDADE E NA QUALIDADE DE CACHOS DA VIDEIRA NIAGARA ROSADA, EM JUNDIAÍ-SP.

FENOLOGIA E ACÚMULO DE GRAUS-DIA DA VIDEIRA NIAGARA ROSADA CULTIVADA AO NOROESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO 1

8º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica CIIC a 14 de agosto de 2014 Campinas, São Paulo

FENOLOGIA E PRODUÇÃO DE CULTIVARES AMERICANAS E HÍBRIDAS DE UVAS PARA VINHO, EM JUNDIAI-SP 1

FENOLOGIA E PRODUÇÃO DE CULTIVARES AMERICANAS E HÍBRIDAS DE UVAS PARA VINHO, EM JUNDIAI-SP 1

Danilo Alves Pereira 1 ; Dayane Silva de Moraes 2 ; Edimara Ribeiro de Souza 2 ; Michele Mirian Calixto de Lira 3 ; Patrícia Coelho de Souza Leão 4

AVALIAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE DOENÇAS E VARIAÇÃO DA TEMPERATURA NA VIDEIRA CULTIVAR NIÁGARA ROSADA NO SISTEMA LATADA COM E SEM COBERTURA PLÁSTICA RESUMO

FENOLOGIA DE SELEÇÕES DE UVAS DE MESA SEM SEMENTES

LPV 0642 FRUTICULTURA TEMPERADA

Caracterização fenológica e exigência térmica da videira cv. Syrah no Semiárido

PRODUTIVIDADE DE CULTIVARES DE UVAS PARA SUCO SOBRE DIFERENTES PORTA-ENXERTOS IAC EM MOCOCA-SP 1

Produção e vigor da videira Niágara Rosada relacionados com o porta-enxerto (1)

AVALIAÇÃO DO PERÍODO DE COLHEITA DA SAFRA DE INVERNO CULTIVARES DE UVA Vitis labrusca EM MUZAMBINHO MG

EFEITO DA GIBERELINA NAS CARACTERÍSTICAS DOS CACHOS DA UVA BRASIL NO VALE DO SÃO FRANCISCO

RESUMO. Palavras-chave: ABSTRACT. Keywords:

Desempenho do pepino holandês Dina, em diferentes densidades de plantio e sistemas de condução, em ambiente protegido.

FENOLOGIA E PRODUÇÃO DA VIDEIRA NIAGARA ROSADA CONDUZIDA EM MANJEDOURA NA FORMA DE Y SOB TELADO PLÁSTICO DURANTE AS SAFRAS DE INVERNO E DE VERÃO 1

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 1573

Densidade de brotos e de cachos em cultivares de uvas sem sementes no Submédio do Vale do São Francisco

Fenologia e demanda términa das videiras Isabel e Rubea sobre diferentes porta-enxertos na Região Norte do Paraná. Resumo.

Influência dos sistemas de condução e porta-enxertos na produtividade e vigor da videira Chenin Blanc durante dois ciclos de produção

Bolsista, Embrapa Semiárido, Petrolina-PE, 2

Ciência Rural ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

Efeito do porta-enxerto no desempenho ecofisiológico e agronômico da videira Cabernet Sauvignon durante o ciclo de outono-inverno

OCORRÊNCIA DE MÍLDIO EM VIDEIRA NIAGARA ROSADA EM FUNÇÃO DAS CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS E FENOLÓGICAS NA REGIÃO DE JUNDIAÍ, SP RESUMO

EVALUATION OF VERTICAL AND Y TRAINING SYSTEMS AND OVERHEAD PLASTIC COVER ON NIAGARA ROSADA GRAPE YIELD, DURING SUMMER AND WINTER GROWING SEASONS

VARIEDADES PARA A PRODUÇÃO DE UVAS SEM SEMENTES NO NORDESTE BRASILEIRO. Patrícia Coelho de Souza Leão¹; Emanuel Élder Gomes da Silva²

PARCELAMENTO DA COBERTURA COM NITROGÊNIO PARA cv. DELTAOPAL E IAC 24 NA REGIÃO DE SELVÍRIA-MS

Influência do sistema de condução e porta enxerto nos componentes de produção da videira Syrah no 12º ciclo de produção

EVOLUÇÃO DA MATURAÇÃO DE 15 VARIEDADES DE VIDEIRAS PARA SUCO NO SUDOESTE DO PARANÁ MARIANI, J. A. 1, NAVA, G. A. 2

Avaliação de variedades sintéticas de milho em três ambientes do Rio Grande do Sul. Introdução

AVALIAÇÃO DE CULTIVARES DE LARANJA SANGUÍNEA

DESENVOLVIMENTO E EXIGÊNCIA TÉRMICA DA VIDEIRA NIÁGARA ROSADA, CULTIVADA NO NOROESTE DO ESPÍRITO SANTO

Avaliação de vinhos da cultivar Cabernet Sauvignon clone 15 em função de dois porta-enxertos no Nordeste do Brasil

DETERMINAÇÃO DA TEMPERATURA-BASE, GRAUS-DIA E ÍNDICE BIOMETEOROLÓGICO PARA A VIDEIRA 'NIAGARA ROSADA'

Opções de Cultivares de Uva para Processamento desenvolvidas pela Embrapa

EXIGÊNCIA TÉRMICA E CARACTERIZAÇÃO FENOLÓGICA DA VIDEIRA CABERNET SAUVIGNON NO VALE SÃO FRANCISCO, BRASIL

ESTIMATIVAS DAS ÉPOCAS DE COLHEITA DA VIDEIRA NIAGARA ROSADA NA REGIÃO DO PÓLO TURÍSTICO DO CIRCUITO DAS FRUTAS, SÃO PAULO

PRODUTIVIDADE E TEORES DE NUTRIENTES DA VIDEIRA NIAGARA ROSADA EM VINHEDOS NOS MUNICÍPIOS DE LOUVEIRA E JUNDIAÍ

Desempenho agronômico das videiras 'Crimson Seedless' e 'Superior Seedless' no norte de Minas Gerais

ADUBAÇÃO NITROGENADA EM COBERTURA PARA cv. DELTAOPAL E IAC 24 NA REGIÃO DE MERIDIANO - SP

CARACTERÍSTICAS BIOMÉTRICAS DE VARIEDADES DE MILHO PARA SILAGEM EM SISTEMA DE PRODUÇÃO ORGÂNICA NO SUL DE MG

Fenologia e Produção de Seleções e Cultivares de Amoreira-Preta em Pelotas-RS

COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

ÉPOCAS DE PLANTIO DO ALGODOEIRO HERBÁCEO DE CICLO PRECOCE NO MUNICÍPIO DE UBERABA, MG *

NÍVEIS E TEMPO DE ESTRESSE HIDRICO PARA A MANGUEIRA UBÁ NA CHAPADA DIAMANTINA, BA

MICROCLIMA EM DIFERENTES SISTEMAS DE CONDUÇÃO DE VIDEIRA NIAGARA ROSADA (Vitis labrusca L.) EM PODA DE INVERNO E DE VERÃO EM JUNDIAÍ- SP 1

Ripening evolution and physico-chemical characteristics of Isabel grape on differents rootstocks in North of Paraná.

DOSES DE FERTILIZANTES PARA O ABACAXIZEIRO PÉROLA NA MESORREGIÃO DO SUL BAIANO

COMPORTAMENTO DE LINHAGENS DE MAMONA (Ricinus communis L.), EM BAIXA ALTITUDE NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE 1

ÉPOCAS DE SEMEADURA DO ALGODOEIRO HERBÁCEO DE CICLO PRECOCE NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA *

PRODUÇÃO DE MUDAS DE VIDEIRA

AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS AGRONÔMICOS E INDUSTRIAIS DA PRIMEIRA CANA SOCA NA REGIÃO DE GURUPI-TO

MANEJO DE IRRIGAÇÃO E FERTIRRIGAÇÃO EM UVA FINA DE MESA EM AMBIENTE PROTEGIDO

de zinco. Para tanto, foram preparadas soluções-estoques de sulfato de zinco, em água desmineralizada: uma com concentração de 25 g por litro, e

MELO, Christiane de Oliveira 1 ; NAVES, Ronaldo Veloso 2. Palavras-chave: maracujá amarelo, irrigação.

COMPORTAMENTO DE DIFERENTES GENÓTIPOS DE MAMONEIRA IRRIGADOS POR GOTEJAMENTO EM PETROLINA-PE

PREVISÃO AGROMETEOROLOGICA DA DATA DE COLHEITA PARA A VIDEIRA 'NIAGARA ROSADA' ( 1 )

V. FITOTECNIA PRODUTIVIDADE DE CULTIVARES IAC DE UVAS PARA VINHO COMO PRODUTORES DIRETOS E SOBRE DIFERENTES PORTA-ENXERTOS( 1 )

PP = 788,5 mm. Aplicação em R3 Aplicação em R5.1. Aplicação em Vn

MICROCLIMATE AND YIELD OF NIAGARA ROSADA GRAPEVINE GROWN IN VERTICAL UPRIGHT TRELLIS AND Y SHAPED UNDER PERMEABLE PLASTIC COVER OVERHEAD.

Bruna Thais Gonçalves Nunes 1 ; José Henrique Bernardino Nascimento 1 ; Maria Auxiliadora Coêlho de Lima 2 ; Patrícia Coelho de Souza Leão 3

Potencial agronômico de linhagens de trigo em duas regiões do Estado de São Paulo

ADENSAMENTO DE MAMONEIRA EM CONDIÇÕES DE SEQUEIRO EM MISSÃO VELHA, CE

Instituto de Ensino Tecnológico, Centec.

Avaliação da produtividade de genótipos de melão nas condições do Submédio do Vale do São Francisco

DESENVOLVIMENTO E OCORRÊNCIA DE PÉROLA-DA- -TERRA EM VIDEIRAS RÚSTICAS E FINAS ENXERTADAS SOBRE OS PORTA-ENXERTOS VR E PAULSEN

GRAUS-DIA ACUMULADOS PARA A VIDEIR CULTIVADA EM PETROLINA-PE DAY DEGREES ACCUMULATED FOR 'ITALIA' VINE CULTIVATED IN PETROLINA-PE

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 1213

PRODUÇÃO DE CULTIVARES DE MARMELEIRO NA REGIÃO LESTE PAULISTA

PRINCIPAIS VARIEDADES DE UVAS DE MESA E PORTA-ENXERTOS

COMPORTAMENTO DE HÍBRIDOS DE MANDIOCA NO ESTADO DE SERGIPE

CARACTERÍSTICAS FENOLÓGICAS, ACAMAMENTO E PRODUTIVIDADE DA CULTURA DO ARROZ-DE-SEQUEIRO (Oryza sativa L.), CONDUZIDA SOB DIFERENTES REGIMES HÍDRICOS.

DESEMPENHO DE CLONES DE MANDIOCA NO ESTADO DE SERGIPE. Introdução

CARACTERIZAÇÃO FENOLÓGICA E EXIGÊNCIA TÉRMICA DE VIDEIRAS Vitis vinifera, CULTIVADAS NO MUNICÍPIO DE URUGUAIANA, NA REGIÃO DA FRONTEIRA OESTE RS

Comunicado Nº 54 Técnico

Seleção de cultivares Bourbon visando à produção de cafés especiais

DIFERENTES TIPOS DE PODA NA PRODUÇÃO DA VIDEIRA CV. NIÁGARA BRANCA

Porta enxertos e Cultivares CVs da videira: INTRODUÇÃO PORTA-ENXERTOS CVs PARA PROCESSAMENTO CVs PARA MESA CVs PARA VINHOS

PERÍODO CRÍTICO DE COMPETIÇÃO DAS PLANTAS DANINHAS NA BRS ENERGIA EM DUAS DENSIDADES DE PLANTIO

INFLUÊNCIA DA COBERTURA MORTA NA PRODUÇÃO DA ALFACE VERÔNICA RESUMO

Resposta das bananeiras BRS Platina e PA 9401 à irrigação no segundo ciclo nas condições do Norte de Minas

PRINCIPAIS VARIEDADES DE UVAS DE MESA E PORTA-ENXERTOS

COMPETIÇÃO DE GENÓTIPOS DE MAMONEIRA NO PERÍODO OUTONO-INVERNO EM ITAOCARA, RJ*

EVALUATION OF PROGENIES RESULTING PROGÊNIES OF CROSSINGS OF CATUAI WITH HYBRID OF TIMOR, IN THE SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO, SOUTH OF MINAS GERAIS

Ciclo de Produção da Tangerineira Page no Submédio Vale do São Francisco

Comportamento fenológico de videira 399 FITOTECNIA

VARIEDADES DE CANA-DE-AÇÚCAR SOB IRRIGAÇÃO NO NORTE DE MINAS GERAIS

CRESCIMENTO DE VARIEDADES DE CANA-DE-AÇÚCAR EM DOIS VIZINHOS/PR

Produção e qualidade de frutos de clones de videira Concord sobre diferentes porta-enxertos 1

Ciclo de Produção da Laranjeira Pera D9 no Submédio do Vale do São Francisco, Município de Petrolina, PE

Transcrição:

Fenologia e produção de uva de mesa Niabell 109 FENOLOGIA E PRODUÇÃO DA CULTIVAR TETRAPLÓIDE DE UVA DE MESA NIABELL SOBRE DIFERENTES PORTA-ENXERTOS (1) MÁRIO JOSÉ PEDRO JÚNIOR (2,3) ; JOSÉ LUIZ HERNANDES (2) ; PEDRO LUÍS GUARDIA ABRAMIDES (2) ; CELSO VALDEVINO POMMER (2) ; JOSÉ RICARDO MACEDO PEZZOPANE (2) RESUMO Em experimento realizado em Jundiaí, SP, município produtor de uvas de mesa, foram estudadas, em 1999, 2000 e 2001, as combinações da cultivar-copa Niabell sobre três porta-enxertos: IAC 572 Jales, IAC 766 Campinas e Ripária do Traviú. Foram avaliadas: fenologia das plantas; produção das videiras e massa dos cachos, em experimento com delineamento de blocos ao acaso com 8 repetições, instalado em vinhedo conduzido no sistema de espaldeira, no espaçamento de 2 x 1 m. A duração do período podacolheita variou entre 138 e 144 dias. Em média, a produção da Niabell não foi influenciada pelos porta-enxertos IAC 766 (2.213 g/planta), Ripária do Traviú (2.171 g/planta) e IAC 572 (2.021 g/planta). A massa dos cachos foi superior quando Niabell foi enxertada sobre IAC 766 (235,9g). Palavras-chave: Vitis spp., uva de mesa, variedade, massa do cacho, duração do ciclo. PHENOLOGY AND YIELD OF NIABELL TABLE GRAPE GRAFTED ON THREE ROOTSTOCKS ABSTRACT Combinations of the table grape cultivar Niabell grafted on three rootstocks (IAC 572 Jales, IAC 766 Campinas and Riparia do Traviú ) were evaluated in a trial conducted at Jundiaí (São Paulo State, Brazil). Data on grape plant phenology, yield and cluster weight were obtained using a randomized block design (3 treatments, 8 blocks and 3 plants/plot) during the years of 1999, 2000 and 2001. The experiment was installed in a trellis system, trained vineyard with wires and plants in a row spacing of 2 x 1 m. The duration of the phenological phase pruning-harvest lasted from 138 to 144 days. The average values of grape yield obtained for Niabell grafted on IAC 766, Ripária do Traviú and IAC 572 were, respectively, 2213, 2171 and 2013 g/plant. Cluster weight was higher for Niabell grafted on IAC 766 (235,9 g). Key words: table grape, cultivar, rootstocks, Vitis spp, phenology. ( 1 ) Recebido para publicação em 13 de maio de 2005 e aceito em 1. o de fevereiro de 2006. ( 2 ) Instituto Agronômico (IAC/APTA/SAA), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP). E-mail: mpedro@iac.sp.gov.br, jlhernandes@iac.sp.gov.br, pedro@iac.sp.gov.br, rpezzo@iac.sp.gov.br. ( 3 ) Bolsista do CNPq.

110 M. J. Pedro Júnior et al. 1. INTRODUÇÃO No Estado de São Paulo, a grande maioria das uvas produzidas (99,2%), tem como objetivo o mercado de frutas frescas. O cultivo para mesa próximo à capital, tem como cultivar predominante a Niagara Rosada, estando os produtores concentrados nos municípios de Jundiaí, Louveira, Vinhedo, Itupeva, Indaiatuba e Porto Feliz (CORRÊA e BOLIANI, 2001). Atualmente, tem aumentado a demanda por cultivares de uva que possam servir como nova alternativa para o mercado consumidor que busca constantemente diferentes opções de uva de mesa. A videira Niabell, em avaliação realizada por Ferri (1994), visando à caracterização agronômica e fenológica de cultivares mantidas no banco de germoplasma do Instituto Agronômico, em Campinas, mostrou-se promissora como uva de mesa, em virtude das boas características e precocidade em relação à Niagara Rosada. A utilização de porta-enxertos, prática obrigatória aos viticultores devido à praga de solo conhecida como filoxera, tem sido muito estudada visando à determinação da combinação ideal entre porta-enxertos e variedades copa. Dentre os porta-enxertos, os mais utilizados na região de Jundiaí têm sido: Ripária do Traviú ; IAC 572 Jales e IAC 766 Campinas. A avaliação de cultivares copa utilizando diferentes porta-enxertos foi feita para a Niagara Rosada em diferentes regiões do Estado de São Paulo (TERRA et al., 1987; PAULETTO et al., 2001a) e no sul de Minas Gerais (ALVARENGA et al., 2002); para uvas de vinho (GONÇALVES et al., 1999; PIRES et al., 1989; TERRA et al., 1990); para suco (TERRA et al., 1994) e para outras cultivares de uva de mesa (SANTOS NETO et al., 1976; MARTINS et al., 1981). Porém, em relação à cultivar Niabell existe pouca informação quanto a combinação copa/portaenxertos, motivo pelo qual foi desenvolvido o estudo visando comparar a duração das fases fenológicas, produção e massa do cacho dessa variedade, cultivada em espaldeira, sobre os porta-enxertos: Ripária do Traviú ; IAC 572 Jales e IAC 766 Campinas, na região produtora de uva de mesa de Jundiaí. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento com a cultivar Niabell, conduzida em espaldeira e cordão esporonado simples, no espaçamento de 2 x 1 m, foi instalado em Jundiaí (Latitude: 23 06 Sul; Longitude: 46 55 W e altitude: 715 m), em área experimental do Instituto Agronômico (IAC/APTA/SAA), Campinas. Os resultados foram obtidos com as videiras em produção plena nas safras de 1999, 2000 e 2001. O delineamento experimental adotado foi o de blocos ao acaso, com três tratamentos (porta-enxertos: Ripária do Traviú, IAC 766 e IAC 572), em oito repetições, com parcelas de seis plantas tendo sido observadas as três plantas centrais. A cultivar Niabell é uma tetraplóide obtida na Califórnia, do cruzamento entre Campbell Early tetraplóide e Niagara tetraplóide. Pelas suas características, foi lançada como variedade para plantios comerciais limitados e para chácaras e quintais, e introduzida pelo IAC, na Coleção de Cultivares em 1988, destacando-se pela precocidade, com ciclo, em média dez dias, mais curto que Niagara Rosada. A planta é de grande vigor e sua tolerância às doenças é semelhante à da Niagara. Os cachos são de tamanho médio, compactos, cônicos e alados; as bagas são rosado-escuras, ovais e grandes, e o sabor foxado é muito agradável, possui duas a três sementes grandes. Apesar dessas qualidades, tem o defeito do fácil desbagoamento, sendo seu comércio restrito à região de produção (FERRI, 1994; POMMER et al., 2003). Os porta-enxertos utilizados no ensaio foram: IAC 572 Jales : vigoroso, de folhas resistentes às principais moléstias, ramos que lignificam tardiamente e dificilmente perdem as folhas, ótimo enraizamento e pegamento (PEREIRA E LEITÃO FILHO, 1973); IAC 766 Campinas : vigoroso, com perfeita adaptação às condições ambientais paulistas, folhas bastante resistentes às doenças (PEREIRA e LEITÃO FILHO, 1973) e `Ripária do Traviú : introduzido como V. riparia em Jundiaí, de bom desenvolvimento, porém sem muito vigor, suscetível à antracnose, necessitando de tratos fitossanitários durante o desenvolvimento vegetativo (POMMER et al., 2003). Semanalmente, foram efetuadas avaliações do estádio fenológico em cada repetição utilizando escala de notas que variava de 0 (gema dormente) a 17 (colheita) segundo PEDRO JÚNIOR et al.(1989). A produção (g/planta) e a massa dos cachos (g) de Niabell sobre os diferentes porta-enxertos foram avaliadas colhendo-se parceladamente as uvas quando completaram sua maturação, com teor de sólidos solúveis ao redor de 15 ºBrix. Posteriormente, foram feitas análises de variância de cada característica estudada e as médias comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Fenologia e produção de uva de mesa Niabell 111 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores obtidos da duração dos subperíodos fenológicos e do ciclo total da videira Niabell são mostrados na tabela 1. Ressalte-se que durante as avaliações, por meio da escala de notas de estádio fenológico, não foram observadas diferenças em função dos diferentes porta-enxertos utilizados. Portanto, os resultados correspondem aos valores médios para a Niabell. As diferenças observadas na duração dos subperíodos fenológicos, comparando-se os diferentes anos agrícolas foram decorrentes, principalmente, da ocorrência de temperaturas médias (Figura 1) com valores inferiores em 1,2 C, em 1999 em relação a 2000 e de 0,9 C em relação a 2001, no período compreendido entre a poda e a colheita. Em 2000, a ocorrência de temperaturas, em média, superiores a 1999 e a 2001, induziu as videiras a um encurtamento do ciclo em 6 a 8 dias. A duração do subperíodo poda-brotação foi, em média, de 15 dias para as podas efetuadas durante agosto. Da brotação até o florescimento foram necessários 35 a 38 dias, enquanto do florescimento ao estádio de grão de ervilha a duração foi de 16 dias. Foi observado que, em média, o subperíodo grão de ervilha a grão verde durou 19 dias. Após o estádio de grão verde, as bagas não cresceram mais e iniciaram o processo de acúmulo de sólidos solúveis com duração de 29 a 34 dias até o início da maturação. Esse período, iniciando-se com o amolecimento das bagas e troca de cor até a colheita durou cerca de 20 a 23 dias. A duração do ciclo total da Niabell foi de 144, 138 e 140 dias, respectivamente, para 1999, 2000 e 2001. Esses valores são similares aos obtidos por FERRI (1994), para essa cultivar, cuja duração do período poda-colheita foi de 146 e 152 dias durante os anos agrícolas de 1991/92 e 1993/94, na região de Jundiaí. Os resultados de produção obtidos para a cultivar Niabell sobre os porta-enxertos: IAC 572, IAC 766 e Ripária do Traviú, para as diferentes safras, são mostrados na tabela 2. O coeficiente de variação dos valores de produção foi de 23% e não foi encontrada diferença significativa na comparação das médias de produção entre os diferentes porta-enxertos. A produção média por planta variou entre 2.021 a 2.213 g/planta. Tem-se observado nos porta-enxertos Ripária do Traviú e IAC 766 certa superioridade em termos de produção, que é relatada por diversos autores para diferentes cultivares de uva de mesa. O comportamento de Patrícia, sobre cinco portaenxertos, foi estudado em experimento plantado em Jundiaí, com observações ao longo de seis anos (Martins et al., 1981). Os autores destacaram que as maiores produções de uva foram obtidas sobre os porta-enxertos IAC 766 e Ripária do Traviú. P AULETTO et al.(2001a) verificaram em Niágara Rosada, avaliada no período de 1990 a 1998, no Vale do Paraíba, em Taubaté (SP), produções maiores quando enxertada sobre o porta-enxertos IAC 766 (2,59 kg/planta), em comparação ao Ripária do Traviú (1,99 kg/ planta) e outros porta-enxertos. No sul de Minas Gerais, ALVARENGA et al.(2002), avaliando a produção da Niagara Rosada sobre diferentes porta-enxertos, verificaram em IAC 766 e IAC 572 as maiores produções, cerca de 2,61 kg/planta, enquanto a Ripária do Traviú foi de 1,87 kg/planta. Tabela 1. Duração, em dias, dos subperíodos fenológicos para a uva de mesa cultivar Niabell, em Jundiaí (SP), para diferentes anos agrícolas Subperíodo fenológico 1999 2000 2001 (dias) Poda brotação 15 15 14 Brotação florescimento 39 39 36 Florescimento grão de ervilha 18 15 15 Grão de ervilha grão verde 17 20 18 Grão verde início da maturação 32 29 34 Início da maturação colheita 23 20 23 Poda colheita 144 138 140

112 M. J. Pedro Júnior et al. 1999 Ano 2000 2001 Poda-Brotação Brotação-Florescimento Floresc.-grão de ervilha Grão de ervilha-verde Verde-Início da maturação Início da mat.-colheita Temperatura, ºC 28 26 24 22 20 18 16 14 1999 2000 2001 Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Figura 1. Subperíodos fenológicos da videira Niabell e valores decendiais de temperatura média do ar em Jundiaí (SP). Tabela 2. Produção (g/planta) da videira Niabell enxertada sobre diferentes porta-enxertos, em Jundiaí (SP), para diferentes anos agrícolas Ano IAC 766 Ripária do Traviú IAC 572 1999 2087 1975 1725 2000 2075 2162 1875 2001 2475 2375 2462 Média 2213 a 2171 a 2021 a Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5%. CV= 23%. DMS= 463. Em relação à massa dos cachos foi observado efeito significativo, quando da comparação dos diferentes porta-enxertos avaliados (P=0,0095). Pelo teste de Tukey verificou-se que o porta-enxertos IAC 766, com valor médio de 235,9 g, destacou-se de Ripária do Traviú e IAC 572, com valores médios, respectivamente, de 194,0 e 196,7g (Tabela 3). A influência do porta-enxerto sobre a massa dos cachos foi analisada para diferentes cultivares de uva. TERRA et al. (1987) avaliaram a relação de vários porta-enxertos sobre a massa dos cachos de Niagara Rosada, durante o período de 1975 a 1983, em Jundiaí. Verificaram que a massa média dos cachos foi: Ripária do Traviú -175g; IAC 766-171g e IAC 572-168g. PAULETTO et al. (2001b), avaliando a massa dos cachos de Niagara Rosada enxertada em cinco portaenxertos, verificaram que, dentre os materiais utilizados, destacaram-se o IAC 766 e Ripária do Traviú, respectivamente, com valores médios de 195 e 168g. Por outro lado, ALVARENGA et al. (2002), no sul de Minas Gerais, observaram que a Niagara Rosada enxertada em IAC 572 foi a que proporcionou maiores cachos (193g) em comparação à IAC 766 com 142 g e Ripária do Traviú com 122 g.

Fenologia e produção de uva de mesa Niabell 113 Tabela 3. Massa dos cachos (g) da videira Niabell enxertada sobre diferente porta-enxertos, em Jundiaí (SP), para diferentes anos agrícolas Ano IAC 766 Ripária do Traviú IAC 572 1999 233,8 208,2 194,3 2000 236,5 203,3 197,7 2001 237,3 170,6 198,1 Média 235,9 a 194,0 b 196,7 b Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5%. CV=15,7%. DMS = 34,2 Apesar de ter sido notada tendência ao desbagoamento da Niabell, diante dos resultados de produção obtidos, aliados às características do produto, essa cultivar pode ser utilizada na região, como alternativa de uva de mesa, utilizando-se os porta-enxertos IAC 766 e Ripária do Traviú. 4. CONCLUSÕES 1) A duração do ciclo total, desde a poda até a colheita para a cultivar Niabell, em Jundiaí, foi pouco influenciada pelo ano e variou de 138 a 144 dias; 2) O porta-enxerto não influenciou a produção, porém sobre IAC 766 foram produzidos cachos de massa maior do que sobre Ripária do Traviú e IAC 572. REFERÊNCIAS ALVARENGA, A.A.; REGINA, M.A.; FRAGUAS, J.C.; SILVA, A.L.; SOUZA, C.M.; CANÇADO, G.M.A.; FREITAS, G.F. Indicação de porta-enxertos de videiras para o sul de Minas Gerais. In: VITICULTURA E ENOLOGIA: ATUALIZANDO CONCEITOS. Caldas, 2002. p.243-256. CORRÊA, L.S.; BOLIANI, A.C. O cultivo de uvas de mesa no Brasil e no mundo e sua importância econômica. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE UVAS DE MESA. BOLIANI, A.C. ; CORRÊA, L.S. (Ed.). Anais...Ilha Solteira, 2001. p.1-20. FERRI, C.P. Caracterização agronômica e fenologia de cultivares e clones de videira (Vitis spp) mantidos no Instituto Agronômico, Campinas, SP. 1994, 89 f. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia), ESALQ-USP, Piracicaba. GONÇALVES, C.A.A.: REGINA, M. A.; CHAULFUN, N.N.J.; ALVARENGA, A.A.; ABRAHÃO, E.; BERZOTI, E. Comportamento da cultivar Folha de Figo (Vitis labrusca L.) sobre diferentes porta-enxerto de videira. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 21, n. 1, p.7-11, 1999. MARTINS, F. P.; SCARANARI, H. J.; TERRA, M. M.; IGUE, T. ; PEREIRA, F. M. Valor comparativo de cinco porta-enxertos para a cultivar de uva de mesa Patrícia (IAC 871-41). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 6., 1981, Recife, Anais...Recife: Sociedade Brasileira de Fruticultura, 1981. v. 4, p. 1300-1310. PAULETTO, D.; MOURÃO FILHO, F.A.A.; KLUGE, R.A.; SCARPARE FILHO, J. A. Produção e vigor da videira Niagara Rosada relacionados com o porta-enxerto. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.36, n.1, p.115-121, 2001a. PAULETTO, D.; MOURÃO FILHO, F.A.A.; KLUGE, R.A.; SCARPARE FILHO, J. A. Efeito do porta-enxerto na qualidade do cacho da videira Niagara Rosada. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.36, n.7, p.935-939, 2001b. PEDRO JÚNIOR, M.J.; RIBEIRO, I.J.A.; POMMER, C.V.; MARTINS, F.P. Caracterização de estádios fenológicos da videira Niagara Rosada. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 10., 1989, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de Fruticultura, 1989. v.2, p. 453-456. PEREIRA, F. M.; LEITÃO FILHO, H. F. Caracterização botânica de porta-enxertos de videira. Campinas: Instituto Agronômico, 1973. 19p. (Boletim técnico, 7) PIRES, E.J.P.; MARTINS, F. P.; TERRA, M. M.; SILVA, A. C. P.; POMMER, C. V.; PASSOS, I. R. S.; COELHO, S. M. B. M.; RIBEIRO, I. J. A. Comportamento dos cultivares do IAC 116-31 e IAC 960-12 de uva branca para vinho sobre diferentes porta-enxertos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 10., 1989, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de Fruticultura, 1989. v.2, p. 457-461. POMMER,C.V.; TERRA,M.M.; PIRES, E.J.P. Cultivares de videira. In: Pommer, C.V. (Ed.) Uva: tecnologia de produção, pós-colheita, mercado. Porto Alegre: Cinco Continentes, 2003. p.109-152. SANTOS NETO, J. R. A. Patrícia e Piratininga, variedades de uvas finas de mesa para climas tropicais. Bragantia, Campinas, v.35,p. CIXIX-CXXIII, 1976. (Nota, 24)

114 M. J. Pedro Júnior et al. TERRA, M.M.; PIRES, E.J.P.; POMMER, C.V.; PASSOS, I.R.S.; MARTINS, F.P.; RIBEIRO, I.J.A. Comportamento de portaenxertos para cultivar de uva de mesa Niagara Rosada em Jundiaí, SP. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 9., 1987, Campinas. Anais...Campinas: Sociedade Brasileira de Fruticultura, 1988. v. 2, p.721-725. TERRA, M. M.; PIRES, E. J. P; PETTINELLI JÚNIOR, A.; POMMER, C. V.; SABINO, J. C.; PASSOS, J. R. S.; COELHO, S. M. B. M.; SILVA, A. C. P.; RIBEIRO, I. J. A. Produtividade de alguns cultivares IAC de uvas para vinho como produtores diretos e sobre diferentes porta- enxertos. Bragantia, Campinas, v.49, n.2, p.363-369, 1990. TERRA, M.M.; POMMER, C.V.; PIRES, E.J.P; RIBEIRO, I.J.A.; GALLO, P.B.; PASSOS, J. R. S. Produtividade de cultivares de uvas para suco sobre diferentes porta- enxertos IAC em Mococa, SP. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 8., 1994, Salvador. Resumos...Cruz das Almas: Sociedade Brasileira de Fruticultura, 1994. v. 3, p. 956-957.