As relações internacionais parlamentares Nos termos da Constituição da República, o Parlamento Nacional tem competência para legislar sobre as questões básicas da politica interna e externa do país, tem competência para fiscalizar a actividade governativa, nomeadamente no que à política externa diz respeito e, tem, ainda, competência para aprovar e denunciar acordos e ratificar tratados e convenções internacionais. No entanto, a actividade internacional do Parlamento Nacional não se restringe ao papel constitucionalmente definido, uma vez que, nos termos do seu Regimento, dispõe de uma voz própria na cena internacional, participando activamente nas mais diversas iniciativas, principalmente naquelas que estão directamente ligadas às Relações Interparlamentares. 1 As relações institucionais do Parlamento com instituições parlamentares de outros países ou outras instituições estrangeiras têm lugar através do Presidente do Parlamento. É o Presidente quem representa internacionalmente o Parlamento Nacional e quem chefia as delegações e deputações de que faça parte. Este conjunto de actividades internacionais levadas a cabo pelo Parlamento, através do seu Presidente, dos seus Deputados e dos seus serviços, de forma autónoma em relação ao poder executivo sem, no entanto, ultrapassar as suas competências próprias nem pôr em causa a política externa do país, tem-se consensualizado chamar Diplomacia Parlamentar. No quadro do Parlamento Nacional, a Diplomacia Parlamentar dispõe de vários meios de actuação: a) através do seu Presidente, sobretudo considerando a sua actuação externa em visitas oficiais ao estrangeiro ou a participação em reuniões ou conferências organizadas por estruturas internacionais; integrando delegações parlamentares que se desloquem a sessões e/ou conferências das Assembleias Parlamentares Internacionais 2, das quais o Parlamento timorense é membro; e, a nível interno, recebendo outros Presidentes de Parlamentos, Deputados, membros de Governos ou personalidades estrangeiras que visitem Timor-Leste; b) através das Comissões parlamentares, que desempenham um papel essencial no controlo parlamentar da acção diplomática do executivo (recorrendo, para tal, a audiências e a inquéritos) e que reforçam a prática da Diplomacia Parlamentar com diversas missões ao estrangeiro; c) através das delegações permanentes às várias Assembleias Parlamentares com a sua participação das delegações parlamentares nas conferências das respectivas 1 O termo Relações Interparlamentares define todo o tipo de troca e/ou contacto entre parlamentos de diferentes países, e decorre da legitimidade própria desses mesmos parlamentos, enquanto assembleias legislativas e representativas de Estados Soberanos. 2 União Interparlamentar - UIP; Assembleia Parlamentar da Comunidade dos Países de Língua Países de Língua Portuguesa AP-CPLP.
organizações parlamentares internacionais que integram ou em outras acções realizadas no âmbito destes organismos, como é o caso das missões de observação de eleições ou missões de inquérito e de informação; d) através dos Grupos Parlamentares de Amizade. ORGANIZAÇÕES PARLAMENTARES INTERNACIONAIS União Interparlamentar - UIP www.iup.org A União Interparlamentar (UIP) foi fundada em 1889 como uma organização onde os conflitos fossem resolvidos através da arbitragem internacional. O objectivo inicial, o qual se pode afirmar que se mantém até aos nossos dias, era a resolução pacífica de conflitos internacionais através do recurso a árbitros, que neste caso seriam os parlamentares de diferentes países. Ao longo da sua história a UIP teve um papel pouco relevante, e só a partir do final da Guerra Fria, ou seja de 1991, é que começou a ter outro tipo de protagonismo, sobretudo tendo em consideração um dos seus princípios fundadores: a resolução pacífica de conflitos internacionais através da acção de parlamentares de todo o mundo. No entanto, sendo uma das mais antigas organizações internacionais em funcionamento, esta sua antiguidade ainda é inversamente proporcional à sua visibilidade como fórum dos parlamentos do mundo ou à sua ambição de se tornar, a prazo, nas Nações Unidas dos Parlamentos. Neste sentido, tem-se estreitado a colaboração nomeadamente em matéria de cooperação técnica e concertação política entre a UIP e a ONU 3 para que esta seja, eventualmente, dotada de uma dimensão parlamentar. No que diz respeito à área da cooperação técnica, deve ser salientado o trabalho desenvolvido nos últimos anos pela UIP muitas vezes em colaboração com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) na área do reforço das instituições parlamentares em diversos países recém saídos de situações de conflito. Alguns exemplos de projectos foram concretizados em Timor-Leste. No caso de Timor-Leste, vários Deputados e funcionários de parlamentos membros da UIP participaram em missões de assistência técnica em áreas tão diversas como a elaboração do orçamento parlamentar ou a promoção da igualdade entre géneros. A UIP actua preferencialmente nas áreas da Democracia Representativa; da Paz e Segurança Internacionais; do Desenvolvimento Sustentável; dos Direitos Humanos e Direito 3 A 19 de Novembro de 2002, a Assembleia Geral da ONU concedeu o estatuto de observador à UIP (Resolução 57/32).
Humanitário; da Igualdade entre Géneros; do Comércio Internacional e da Educação, Ciência e Cultura. De acordo com os Estatutos da UIP, todos os parlamentos nacionais que desejem tornar-se membros devem constituir-se em Grupos Nacionais. Serão os membros destes Grupos Nacionais que irão participar nas duas Assembleias plenárias anuais e noutros eventos organizados sob a égide da UIP. Actualmente, são membros da UIP 155 Grupos Nacionais que correspondem a outros tantos parlamentos e 9 membros associados 4. A participação do Parlamento Nacional na UIP é assegurada pela Comissão de Negócios Estrangeiros, Defesa e Segurança Nacionais que indica, caso a caso, de entre os seus membros, os representantes de Timor-Leste nas reuniões da UIP. 5 As delegações do Parlamento Nacional aos trabalhos da UIP incluem, sempre que se justifique, um membro da Mesa do Parlamento e deputados de outras comissões. Ainda no seio da UIP, merece destaque a Associação de Secretários-Gerais dos Parlamentos. Trata-se de um órgão consultivo desta organização onde os mais altos funcionários de cada Parlamento os respectivos Secretários-Gerais asseguram a discussão de matérias ligadas ao direito parlamentar e ao funcionamento dos parlamentos. Assembleia Parlamentar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - AP-CPLP A Assembleia Parlamentar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (AP-CPLP) é o mais recente órgão da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e foi criada em Novembro de 2007, pelo XII Conselho de Ministros da CPLP. A AP-CPLP é o órgão que reúne as representações de todos os Parlamentos da Comunidade, constituídas na base dos resultados das eleições legislativas dos respectivos países, e a sua institucionalização contribuiu para o reforço da actuação da CPLP e conferiu uma maior visibilidade e prestígio à Comunidade. A AP-CPLP surgiu da necessidade de dotar a Comunidade da vertente parlamentar aportando à instituição a distintiva democrática que é essência dos parlamentos. Fazem parte da AP-CPLP a Assembleia Nacional de Angola, a Câmara dos Representantes do Brasil, a Assembleia Nacional de Cabo Verde, a Assembleia Nacional Popular da Guiné- Bissau, a Assembleia da República de Moçambique, a Assembleia da República de Portugal, a Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe e o Parlamento Nacional de Timor-Leste. 4 São membros associados os seguintes: Assemblée législative est-africaine; Assemblée parlementaire du Conseil de l'europe; Comité interparlementaire de l'union économique et monétaire ouest-africaine; Parlement andin; Parlement arabe transitoire; Parlement centraméricain; Parlement de la Communauté économique des Etats de l'afrique de l'ouest; Parlement européen; Parlement latino-américain 5 Resolução do Parlamento Nacional n.º 3/2008, de 27 de Fevereiro, Jornal da República, Série I, n.º 9
Tem como objectivos gerais contribuir para a paz e para o fortalecimento da democracia e das suas instituições representativas; contribuir para a boa governação e para a consolidação do Estado de direito; promover e defender os direitos humanos, nomeadamente o direito das crianças, adolescentes e idosos, a igualdade e equidade do género e combater todas as formas de xenofobia e racismo; examinar questões de interesse comum, tendo, designadamente, em vista a intensificação da cooperação cultural, educativa, económica, científica e tecnológica ambiental e o combate a todas as formas de discriminação; combater todos os tipos ilícitos de tráfico; harmonizar os interesses e concertar posições, tendo em vista a sua promoção noutros fora parlamentares; promover a harmonização legislativa em matérias de interesse comum especialmente relevantes; acompanhar e estimular as actividades da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa; recomendar aos órgãos da Comunidade as possíveis linhas e parâmetros para a promoção das relações políticas, económicas, científicas, ambientais e culturais; promover contactos e o intercâmbio de experiências entre os respectivos Parlamentos, Deputados e Funcionários; promover o intercâmbio de experiências, designadamente, nos domínios da legislação e do controlo da acção do executivo; organizar acções de cooperação e solidariedade entre os Parlamentos Nacionais dos Estados membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. O seu processo de construção remonta a 2005, quando, na cidade de Brasília, foi decidido formar um Grupo de Trabalho vocacionado para proceder à análise da criação da AP-CPLP. Em 2006, em Angola, foi aprovada a constituição de outro Grupo de Trabalho, composto por Angola, Moçambique e Portugal, para a elaboração de uma proposta de alteração ao Tratado da CPLP no sentido da formalização de uma Assembleia Parlamentar da CPLP, tendo esta surgido em 2007. A primeira reunião da AP-CPLP teve lugar em São Tomé e Príncipe, em 2009, tendo, nessa altura, sido aprovados os Estatutos e o Regimento e sido eleito como seu Presidente e por um período de dois anos, o Presidente da Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe. No biénio 2011-2012 cabe a Timor-Leste assumir, na pessoa do Presidente do Parlamento Nacional. a presidência deste importante órgão interparlamentar, Cada Parlamento membro participa, para além do respectivo Presidente, com uma delegação, que se denomina Grupo Nacional, composto por seis Deputados. O Grupo Nacional de Timor-Leste, foi eleito no dia 15 de Novembro de 2010 6, é composto pelos seguintes membros efectivos: Deputado Estanislau da Silva (FRETILIN), Presidente do Grupo Nacional Deputado Adriano do Nascimento (PD), Vice-Presidente do Grupo Nacional 6 Resolução do Parlamento Nacional n.º 30/2010, de 1 de Dezembro, Jornal da República, I Série, n.º 45
Deputada Maria Fernanda Lay (CNRT), Secretária do Grupo Nacional Deputado Paulo de Fátima Martins (CNRT) Deputada Josefa Soares (FRETILIN) Deputado Francisco Branco (FRETLIN) e pelos seguintes membros suplentes: Deputada Maria Teresinha Viegas (CNRT) Deputado Arsénio Bano (FRETILIN) Deputado Domingos da Costa (ASDT) Deputado Eduardo Barreto (CNRT) Deputada Aicha Bassarewan (FRETILIN) GRUPOS PARLAMENTARES DE AMIZADE Os Grupos Parlamentares de Amizade 7 (GPA) são organismos do Parlamento Nacional com vista a estabelecer e desenvolver o diálogo interparlamentar e para a cooperação com os parlamentos de países amigos de Timor-Leste, não podendo existir GPA com países com os quais Timor-Leste não mantenha relações diplomáticas ou que não tenham parlamentos plurais livremente eleitos. São pluripartidários e reflectem a composição do Parlamento Nacional. Os GPA promovem as acções necessárias à intensificação das relações de amizade entre deputados timorenses e deputados de outros Estados, designadamente, para efeitos de intercâmbio geral de conhecimentos e experiências; estudo das relações bilaterais e do seu enquadramento nas alianças e instituições em que ambos os Estados participem; divulgação e promoção dos interesses e objectivos comuns nos domínios político, económico, social e cultural; toca de informações e consultas mútuas tendo em vista a eventual articulação de posições em organismos internacionais de natureza interparlamentar, sem prejuízo da plena autonomia de cada grupo nacional; reflexão conjunta sobre problemas envolvendo os dois Estado e os seus nacionais e busca de soluções que relevem da competência legislativa de cada uma; e, valorização do papel histórico e actual, das comunidades de emigrantes respectivos, porventura existentes. Durante a I Legislatura (20 de Maio de 2002 a 29 de Julho de 2007) o Parlamento Nacional constituiu os seguintes GPA: Timor-Leste/Austrália; Timor-Leste/Brasil; Timor-Leste/China; Timor-Leste Indonésia; Timor-Leste/Portugal. Associação dos Secretários-Gerais dos Parlamentos de Língua Portuguesa - ASG-PLP www.asg-plp.org 7 Resolução do Parlamento Nacional n.º 6/2003, de 22 de Julho,
A Associação dos Secretários-Gerais dos Parlamentos de Língua Portuguesa (ASG-PLP) é um organismo internacional de carácter interparlamentar ao nível do Secretariado Técnico dos parlamentos. Foi criado em 1998 e é composto pelos Secretários-Gerais, ou cargos equivalentes, dos parlamentos de Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, Senado e Câmara de Deputados do Brasil. Tendo presentes as afinidades culturais que ligam os países de língua portuguesa a ASG- PLP tem por objectivos promover o desenvolvimento da cooperação técnico-parlamentar comum, contribuir para a modernização das instituições parlamentares e facilitar o contacto pessoal e institucional dos seus membros. A Associação mantém relações preferenciais com a UIP através da Associação de Secretários-Gerais dos Parlamentos criada no seu âmbito. A ASG-PLP desenvolve uma intensa actividade formativa dos funcionários dos Parlamentos de Língua Portuguesa e reúne, ao nível dos Secretários-Gerais, uma vez por ano no pais a que pertence o Secretário-Geral que nesse ano preside à Associação A presidência da ASG-PLP pertence, em 2011, ao Secretário-Geral do Parlamento Nacional de Timor-Leste.