TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DE DAVID AUSUBEL

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Transcrição:

TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DE DAVID AUSUBEL Sérgio Choiti Yamazaki Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul David Paul Ausubel é médico, tendo se especializado em psiquiatria. Professor da Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque, é representante do cognitivismo, que define um dos tipos de aprendizagem: a aprendizagem cognitiva. Aprendizagem Cognitiva pode ser definida como aquela na qual certo conteúdo é inserido na Estrutura Cognitiva 1 de forma organizada, criando um complexo organizado de informações. Dois outros tipos de aprendizagem são comumente citados por educadores e cientistas da área de Ensino de Ciências: a afetiva e a psicomotora. A aprendizagem afetiva é um tipo de conhecimento que provoca sentimentos ou sensações como dor, prazer, satisfações, desejos, ansiedades etc. Já a aprendizagem psicomotora é aquela que provoca respostas condicionadas, resultado de muita prática. Pode-se afirmar que a Aprendizagem Afetiva e Psicomotora muitas vezes são acompanhadas por Aprendizagem Cognitiva. 2 1 Estrutura Cognitiva pode ser definida como o conjunto global de idéias sobre determinado assunto, disciplina ou mesmo conjunto total de pensamentos de um indivíduo, e a forma com que são organizadas. 2 Ausubel, apesar de sugerir uma explicação para o processo de aprendizagem baseada no cognitivismo, não descarta a dimensão afetiva como importante fonte de expressiva experiência.

Ausubel propôs uma teoria, conhecida por Teoria da Aprendizagem Significativa, através da qual afirma que é a partir de conteúdos que indivíduos já possuem na Estrutura Cognitiva, que aprendizagem pode ocorrer. Estes conteúdos prévios deverão receber novos conteúdos que, por sua vez, poderão modificar e dar outras significações àquelas pré-existentes. Nas palavras do próprio autor o fator mais importante que influi na aprendizagem é aquilo que o aluno já sabe. Isto deve ser averiguado e o ensino deve depender desses dados (Ausubel, Novak e Hanesian, 1983). 2 Assim, Aprendizagem Significativa é um processo por meio do qual uma nova informação é acoplada a uma estrutura cognitiva particular e específica, prévia, conhecida como subsunçor. A estrutura cognitiva do aprendiz tem conceitos pessoalmente relevantes, e é a eles que novas informações devem ser relacionadas para que o estudante possa organizar outros conhecimentos. Nessa perspectiva, para que uma aprendizagem seja significativa, o novo conteúdo deve estar relacionado a conteúdos prévios importantes do aprendiz, ou seja, a conceitos subsunçores relevantes. Sua teoria é construtivista e o papel da interação professor aluno, sem dúvida é importante, para que, a partir dos subsunçores que o aluno possui, construir novos subsunçores ou modificar os velhos. A aprendizagem é dinâmica, pois ela é uma interação entre aluno e professor, a partir do conhecimento prévio que o aluno têm. (MEES, sem data) MATERIAL PREPARADO PARA DISCIPLINA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM ENSINO DE FÍSICA I 2008

3 Nesse sentido, um material que pode ser relacionado à estrutura cognitiva do aluno, é um material potencialmente significativo, e pode ser uma figura, imagem, conceito, princípio etc. A esse processo de aquisição e de organização de novos conhecimentos na estrutura cognitiva de um indivíduo, foi dado o nome de Teoria da Assimilação. Moreira (1999) a representa através da seguinte seqüência: Nova informação potencialmente significativa (a) [É] relacionada a, e assimilada por Conceito Subsunçor existente na estrutura cognitiva (A) [resultando em] Produto interacional (subsunçor modificado) (A a ). As afirmações acima mostram que o conceito subsunçor existente previamente no indivíduo é modificado depois da assimilação do novo conceito. Os conceitos A e a são diferenciados ainda durante um certo tempo após a assimilação. No entanto, através de uma organização cognitiva, o sujeito passa a um segundo estágio de assimilação, conhecida como assimilação obliteradora, tornando a separação entre A e a cada vez mais difícil. O resultado é o subsunçor modificado A. A esse processo (diferenciação progressiva do conceito subsunçor, modificando-o) é dado o nome de diferenciação progressiva, que acontece em uma das categorias de aprendizagem significativa, que veremos adiante (a aprendizagem significativa subordinada). Em contraposição, na aprendizagem mecânica não há (ou há muito pouca) relação com subsunçores relevantes do estudante. O Ensino de conceitos, leis e

Teorias, dentro de uma mesma disciplina de forma não integrada, sem relação entre as bases dos conteúdos trabalhados e, muito menos, com os elementos existentes na Estrutura Cognitiva do aprendiz, é um exemplo de um ensino que não requer Aprendizagem Significativa. 4 Entretanto, há situações em que os estudantes não possuem subsunçores relacionados aos novos conceitos; nesses casos, talvez seja preciso, antes, introduzi-los através de aprendizagem mecânica. Ausubel propõe, nesses casos, utilizar organizadores prévios como estratégia para ensino-aprendizagem. Organizadores prévios são materiais introdutórios, apresentados a um nível mais alto de abstração, generalidade e inclusividade que o conteúdo do material instrucional a ser aprendido proposto por David P. Ausubel para facilitar a aprendizagem significativa. Eles se destinam a servir como pontes coqnitivas entre aquilo que o aprendiz já sabe e o que ele deve saber para que possa aprender significativamente o novo conteúdo. Ausubel propõe os organizadores prévios como a estratégia mais eficaz para facilitar a aprendizagem significativa quando o aluno não dispõe, em sua estrutura cognitiva, dos conceitos relevantes para a aprendizagem de um determinado tópico. Os organizadores prévios não devem ser confundidos com sumários e introduções que são escritos no mesmo nível de abstração, generalidade e inclusividade do material que se segue, simplesmente enfatizando os pontos principais desse material. Na concepção ausubeliana, os organizadores prévios destinam-se a facilitar a aprendizagem de um tópico específico. Por outro lado, os materiais introdutórios construídos para este estudo, são denominados pseudoorganizadores prévios, porque se destinam a faci1itar a aprendizagem de uma unidade. (SOUZA & MOREIRA, 1981) Contudo, para Ausubel, ainda há a preocupação de que os estudantes estejam dispostos a relacionar o novo material à sua estrutura cognitiva, caso

contrário, a aprendizagem será meramente mecânica, mesmo que o material seja potencialmente significativo. 5 Da mesma forma, se o material não for potencialmente significativo, os estudantes, mesmo com grande disposição para incorporar o conteúdo à sua estrutura cognitiva, terão aprendizagem mecânica. Além disso, Ausubel afirma que a organização dos elementos no cérebro humano é hierarquizada, ou seja, conceitos específicos são ligados a conceitos mais gerais. Nesse sentido, Estrutura Cognitiva na realidade é uma estrutura hierárquica de conceitos. Mas como podemos avaliar se uma aprendizagem adquirida é significativa ou não? Segundo Ausubel, o conteúdo adquirido tem que estar claro, preciso e deve haver competência em transferi-lo a situações novas, diferentes daquelas que foram usadas para o seu ensino. O fato do aluno conseguir definir conceitos, discorrer sobre eles ou mesmo resolver problemas complexos, não significa que teve aprendizagem significativa. Ausubel... argumenta que uma longa experiencia em fazer exames faz com que os estudantes se habituem em memorizar não só proposições e fórmulas, mas também causas, exemplos, explicações e maneiras de resolver problemas típicos (MOREIRA, 1999). significativa? Mas então, como seria um instrumento avaliativo de aprendizagem Moreira descreve a visão de Ausubel quanto a esse aspecto:

6... ao procurar evidência de compreensão significativa, a melhor maneira de evitar a simulação da aprendizagem significativa é formular questões e problemas de uma maneira nova e não familiar, que requeira máxima transformação do conhecimento adquirido. Testes de compreensão, por exemplo, devem, no mínimo, ser fraseados de maneira diferente e apresentados em um contexto de alguma forma diferente daquele originalmente encontrado no material instrucional. (MOREIRA, 1999, p. 156) Para melhor caracterizar a aprendizagem significativa, Ausubel, ainda o diferencia em três categorias. A primeira, denominada de aprendizagem representacional, grosso modo, é identificada quando um indivíduo consegue atribuir significado a símbolos particulares e aos eventos aos quais eles se referem. A segunda, chamada de aprendizagem de conceitos, é mais genérica, abstrata e representa regularidades; talvez possamos afirmar que ela é uma aprendizagem representacional generalizada. Já a terceira, conhecida como aprendizagem proposicional, define a aprendizagem como uma idéia advinda dos conceitos; em outras palavras, o conceito é definido através de uma proposição, portanto, através de várias palavras. É importante frisar que todas elas são categorias de aprendizagem significativa. Há também outras categorias de aprendizagem não conflituosas com essas (acima); pelo contrário, são complementares. Elas são: aprendizagem subordinada, que acontece quando o novo conhecimento interage com subsunçores, tornando o novo, cheio de significado; aprendizagem superordenada, acontece quando, partindo dos subsunçores, se forma uma idéia mais geral (conceito ou proposição), organizando os subsunçores como partes desta idéia genérica; aprendizagem combinatória, pode ser entendida

como aprendizagem de proposições mais amplas, mais gerais do que aquelas que já existem na estrutura cognitiva. É aprendizagem de uma proposição global, portanto, não subordinada e nem superordenada, por não se ligar com conceitos ou proposições específicos. 7 Assim, uma aprendizagem pode ser analisada de acordo com as seis classificações vistas anteriormente (e elas não são excludentes). Um indivíduo pode ter aprendizagem de proposições e também aprendizagem superordenada, por exemplo. Ausubel ainda destaca dois interessantes processos que ocorrem na aprendizagem significativa: a diferenciação progressiva e a reconciliação integrativa. O primeiro já foi citado quando observamos que o subsunçor pode modificar-se com a introdução de uma nova informação, alterando-o e dando novo significado; esse é o processo conhecido como diferenciação progressiva, e está normalmente presente na aprendizagem significativa subordinada. O segundo acontece quando, idéias mais gerais relacionam subsunçores que inicialmente estavam separados na estrutura cognitiva; normalmente este processo ocorre na aprendizagem significativa superordenada ou na aprendizagem significativa combinatória. Ausubel atribui o status de princípio à afirmação de que conceituações ou proposições mais gerais devem ser apresentadas no início de um processo de instrução. Este princípio é baseado em duas hipóteses: 1) as dificuldades de aprendizagem são menores quando, a partir do todo, se olha as partes, do que quando, a partir das partes, tenta-se entender o todo; 2) na estrutura mental de um indivíduo, existe certa hierarquia, na qual idéias mais gerais encontram-

se no topo, incluindo mais abaixo proposições e conceitos específicos (MOREIRA, 1999). 8 Mas como, em um planejamento de ensino, esses processos podem ser usados? Ausubel propõe uso de organizadores prévios e de mapas conceituais. De um modo geral, mapas conceituais, ou mapas de conceitos, são apenas diagramas indicando relações entre conceitos, ou entre palavras que usamos para representar conceitos. (MOREIRA, 2005) Para estudo sobre mapa conceitual, indicamos um texto que define muito bem esta ferramenta e ainda dá exemplos de aplicação. O texto se encontra no endereço abaixo: http://www.if.ufrgs.br/~moreira/mapasport.pdf Porém, a confecção de mapas conceituais não é nada fácil. É preciso saber a priori, quais são os conceitos básicos que estruturam a teoria que pretendemos ensinar, ou seja, é preciso que se tenha uma visão global do paradigma a ser trabalhado. Só a partir desse momento, é que o programa, com sua seqüência e com seus detalhes, pode ser montado. Ausubel sugere alguns princípios que devem existir em uma programação de ensino, para que ela seja eficiente. Dois deles já foram comentados nesse texto: diferenciação progressiva e reconciliação integrativa. Há, ainda, duas outras, organização seqüencial e consolidação. A organização seqüencial, como princípio a ser observado na programação do conteúdo com fins instrucionais, consiste em seqüenciar os tópicos, ou unidades de estudo, de maneira tão coerente quanto possível (observados os princípios de diferenciação progressiva e reconciliação integrativa) com as relações de dependência naturalmente existentes entre eles na matéria de ensino.

9 A consolidação como quarto princípio programático de um ensino objetivando a aprendizagem significativa leva a insistir no domínio (respeitada a progressividade da aprendizagem significativa) do que está sendo estudado antes de introduzir-se novos conhecimentos. É uma decorrência natural da premissa de que o conhecimento prévio é a variável que mais influencia a aprendizagem subseqüente. (MOREIRA, 2000) Para terminar, é preciso ficar claro que, para Ausubel, o ensino deve ocorrer sempre a partir do que o aluno já sabe, organizando o conteúdo de acordo com essa estrutura cognitiva prévia. E, além disso, a predisposição para aprender passa a ser uma condição para aprendizagem (MOREIRA, 2003). Quando o aluno não possui subsunçores, a sugestão é usar organizadores prévios que desenvolverão subsunçores apropriados para ancorar novos conhecimentos; mas, o que acontece quando se usam organizadores prévios quando o aluno já possui subsunçores? Pense a respeito. Referências Bibliográficas AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D., HANESIAN, H. Psicología Educativa: un punto de vista cognoscitivo. México: Trillas, 1983. MEES, Alberto Antonio. Implicações das Teorias de Aprendizagem para o Ensino de Física. In: http://www.if.ufrgs.br/~amees/teorias.htm. MOREIRA, Marco Antonio. Aprendizagem Significativa Subversiva. Série Estudos periódico do mestrado em educação da UCDB. Campo Grande, n. 21, p. 15-32, 2006.

MOREIRA, Marco Antonio. Mapas Conceituais e Aprendizagem Significativa. Revista Chilena de Educação Científica, v. 4, n. 2, 2005. 10 MOREIRA, Marco Antonio. Conferência de encerramento do IV Encontro Internacional sobre Aprendizagem Significativa. Maragogi, AL, Brasil, 8 a 12 de setembro de 2003. MOREIRA, Marco Antonio. Aprendizagem Significativa Crítica. Disponível em http://vicenterisi.googlepages.com/aprend_signif-postweingartner.pdf. MOREIRA, Marco Antonio. A Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel. Cap. 10, p. 151-165. In: Teorias da Aprendizagem. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, EPU, 1999. SOUZA, Célia Maria Soares Gomes; MOREIRA, Marco Antônio. Pseudoorganizadores prévios como elementos facilitadores da aprendizagem em Física. Revista Brasileira de Física, v. 11, n. 1, 1981.