20 a 22 de outubro de 2015

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Transcrição:

A CONSTRUÇÃO DE NARRATIVIZAÇÃO IDENTITÁRIA NO GÊNERO REPORTAGEM DE REVISTA SEMANAL DE INFORMAÇÃO Amanda Oliveira Rechetnicou 1, Sostenes Lima 2 1 Mestrado Interdisciplinar em Educação, Linguagem e Tecnologias, bolsista CAPES, Câmpus de Ciências Socioeconômicas e Humanas. E-mail: amanda_yea@hotmail.com 2 Docente da Universidade Estadual de Goiás, Anápolis (GO) INTRODUÇÃO Neste trabalho 1, apresentamos uma discussão sobre o modo como a revista semanal de informação, por meio do gênero reportagem, constrói narrativizações identitárias em favor de interesses sociopolíticos particulares e como, desse modo, a revista se posiciona no campo político-ideológico. Tomamos concepções da perspectiva da Análise Crítica de Gêneros (ACG) considerando que o estudo de gêneros jornalísticos segundo essa abordagem pode oportunizar a ampliação dos conhecimentos sobre as práticas jornalísticas, mas também, e principalmente, favorecer o debate, a formação do cidadão crítico, e a participação política (BONINI, 2012, p. 8). Consideramos que a construção de modos de identificação de atores sociais no gênero reportagem pode constituir-se um problema social e discursivo quando essa construção reproduz, naturaliza e/ou legitima identificações particulares em favor de relações assimétricas de poder ou de posicionamentos ideológico específicos. Também consideramos que, por meio do gênero em questão, a revista semanal de informação busca desempenhar 1 Este trabalho consiste em um breve recorte da pesquisa da autora que está sendo realizada no Mestrado Interdisciplinar em Educação, Linguagem e Tecnologias da Universidade Estadual de Goiás, sob orientação do professor Sostenes Lima.

propósitos que defendem seus interesses sociopolíticos. Nesse sentido, inicialmente apresentamos uma breve contextualização sobre a abordagem teórico-metodológica da ACG e na seção seguinte apresentamos aspectos metodológicos que utilizamos na pesquisa e que baseiam a discussão proposta. Em seguida, apresentamos uma discussão concisa sobre resultados parciais da análise da construção de narrativizações identitárias em reportagens de revistas semanais de informação. DISCUSSÃO TEÓRICA A Análise Crítica de Gêneros (ACG) constitui-se uma abordagem teóricometodológica que combina concepções de diferentes perspectivas disciplinares que visam o estudo da linguagem como forma de prática social. É uma perspectiva que, de modo geral, pretende analisar gêneros como práticas discursivas socialmente situadas, cujos participantes atualizam identidades e relações sociais nos textos que são produzidos, distribuídos e consumidos em atividades específicas da vida social (MOTTA-ROTH; MARCUZZO, 2010, p. 520). Trabalhos como os de Bhatia (2004, 2007, 2008, 2010), Motta-Roth (2011, 2008), Bonini (2010, 2011, 2012) e Lima (2013) têm contribuído significativamente para o desenvolvimento de pesquisas em ACG. Basicamente, a ACG se configura a partir da junção de concepções da Análise de Discurso Crítica (ADC) a concepções da Análise Sociorretórica de Gêneros (ASG), o que direcionou a tradição sociorretórica para além da investigação de aspectos retóricos. Isso fez com que a análise de gêneros passasse a investigar problemas sociais e efeitos ideológicos que envolvem a produção, o consumo e a distribuição (FAIRCLOUGH, 2001) de gêneros nas práticas. Essa abordagem também utiliza de ferramentas teórico-analíticas da Linguística Sistêmico-Funcional (MOTTA-ROTH, 2008) para a compreensão de gêneros no contexto situacional e de cultura. De acordo com Bhatia (2007), a ACG pode ser caracterizada como um movimento em direção ao estudo crítico das atividades discursivas de culturas profissionais, empresariais e

institucionais, focado na interação entre as práticas envolvidas. É, portanto, uma abordagem que considera, entre os aspectos inerentes ao gênero, as ações humanas em contextos situados, as ações de produção e consumo de gêneros e sua organização genérica, as redes de práticas que englobam o uso de gêneros e seu papel na mudança social. METODOLOGIA Com base na ACG, buscamos investigar em reportagens das revistas CartaCapital, Época, IstoÉ e Veja elementos que apontam para procedimentos retóricos peculiares ao gênero que constituem a narrativização identitária de atores sociais do cenário político brasileiro. Dentre esses procedimentos retóricos, apontamos para o papel do uso de metáforas, da avaliação (sistema de avaliatividade), da intertextualidade e das estruturas visuais que compõem o gênero como importantes para a construção de uma narrativa que visa (des)favorecer atores sociais específicos do campo político. Chamamos de narrativização identitária o processo narrativo em que gêneros contam histórias que, voluntariamente ou não, constroem maneiras particulares de identificar atores sociais. A narrativização identitária pode construir em gêneros estereótipos e modos de identificação negativos por meio da exclusão ou da marginalização bem como pode construir identificações que superam as ideologias postas, abrindo possibilidades de ação de grupos desprivilegiados. Na análise, adotamos o conceito de metáfora segundo Lakoff e Johnson (2002), também adotado por Fairclough (2001, 2003). Segundo Lakoff e Johnson (2002), uma metáfora é uma maneira convencional de conceituar um domínio de experiência em termos de outro, partindo de nossas experiências com o mundo, de nossos comportamentos e nossas relações sociais na vida cotidiana. Na concepção de Fairclough (2011, p. 241), todos os tipos de metáfora necessariamente realçam ou encobrem certos aspectos do que se representa e, por isso, podem servir à dissimulação de relações de poder e desigualdades sociais em textos. Tomamos a avaliação como uma categoria que permite investigar processos de

identificação em textos por meio da análise de apreciações ou perspectivas do falante/escrevente sobre aspectos do mundo (FAIRCLOUGH, 2003). Lima e Coroa (2010), ao estudarem o sistema de avaliatividade, apontam que avaliações são fundamentais para a composição do gênero reportagem. Tomando as proposições de Martin e White (2005), que estão inseridas no arcabouço teórico da LSF, os autores explicam que esse sistema é composto por três subsistemas: atitude, engajamento e gradação. O subsistema atitude diz respeito ao modo como o falante/escrevente pode expressar um posicionamento subjetivo no que se refere a afeto, ética (julgamento) e estética (apreciação). O subsistema engajamento refere-se à participação e envolvimento do falante naquilo que diz. E o subsistema gradação se relaciona ao modo pelo qual o falante/escrevente marca uma intensificação ou mitigação das atitudes e engajamentos inscritos no texto (LIMA, COROA, 2010, p. 128). A intertextualidade, por sua vez, diz respeito à relação que um texto estabelece com outros textos que o antecedem, por meio de citações, paráfrases, resumos de atos de fala, comentários etc. Fairclough (2001, p. 114) define a intertextualidade como a propriedade que têm os textos de ser cheios de fragmentos de outros textos. Textos articulam outros textos por meio da articulação de vozes específicas. Nesse sentido, a intertextualidade, como categoria de análise, permite investigar a articulação de vozes específicas em gêneros, o que contribui para investigar práticas discursivas na sociedade que estão relacionadas a lutas hegemônicas (FAIRCLOUGH, 2001). Como o material dessa pesquisa é basicamente formado por reportagens de revistas semanais de informação, não deixamos de considerar os gêneros complementares na análise (fotografias, infográficos etc.), que são basicamente gêneros multimodais. Utilizamos na análise concepções da gramática visual, de Kress e van Leeuwen (2006), que tem base na LSF. Segundo Kress e van Leeuwen (2006), a linguagem visual, bem como a linguagem verbal, constrói significados, principalmente, em termos de representações do mundo. Segundo essa perspectiva, a comunicação visual constrói também significados, os quais podem, por exemplo, ser identificados por meio do uso de cores ou de diferentes estruturas de composição da imagem. Para a ACG, interessa a análise de como gêneros específicos

articulam imagens, numa construção multimodal que pode ser associada a efeitos e sentidos ideológicos. ANÁLISE E DISCUSSÃO Analisamos reportagens com conteúdo temático em torno de acontecimentos no campo político durante o mês de março de 2015. Alguns acontecimentos desse período, tomados como valor-notícia, impulsionaram a construção de narrativas sobre a identificação de líderes políticos brasileiros. Dentre esses acontecimentos, a divulgação da relação de Rodrigo Janot, Procurador-geral da República, que lista os líderes políticos a serem investigados de corrupção na Petrobras, e as manifestações ocorridas no dia 15 de março, inclusive o tema sobre os pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Observamos que o uso de metáforas, a articulação de vozes particulares, os itens lexicais que refletem avaliações e posicionamentos específicos, bem como a forma como o político é representado caricaturalmente em imagens são elementos fundamentais para a construção da narrativização que identifica de modos particulares diferentes atores sociais do campo político brasileiro. As metáforas, em muitos casos, são usadas para dissimular as relações de dominação nesse contexto. São usadas como estratégia para justificar os posicionamentos políticos defendidos e desviar a atenção das relações de poder que envolvem esses posicionamentos. Já as vozes que são articuladas servem, por um lado, como vozes de autoridade para legitimar uma ideia ou um posicionamento específico ou, por outro lado, servem para ridicularizar os atores sociais e o que eles dizem. Os traços significativos de avaliatividade demonstram especificamente a opinião e o julgamento da revista sobre os atores sociais representados e suas ações políticas. As imagens que compõem os blocos em que se inserem as reportagens contribuem potencialmente para a construção de uma visão caricatural e ridicularizada de certos líderes políticos, legitimando não só uma identificação negativa desses atores sociais, mas também justificando posicionamentos partidários específicos.

A representação de atores sociais por meio da narrativização identitária mostra que a revista usa o gênero reportagem para (des)favorecer a identificação de certos atores sociais em detrimento de outros. Observamos, por exemplo, que revistas como Veja e IstoÉ constroem uma narrativização que promove uma identificação negativa para a presidente Dilma Rousseff e membros do PT, buscando reafirmar os posicionamentos contrários ao governo da presidente e ao partido. Enquanto a revista CartaCapital, por exemplo, foca na identificação negativa de membros do PSDB, como a do senador Aécio Neves, o que legitima seu posicionamento favorável ao governo da presidente Dilma Rousseff. O gênero reportagem da revista semanal de informação, nesse sentido, pode influenciar o modo como as pessoas identificam certos atores sociais e, mais especificamente, atores do cenário político ao construir narrativizações identitárias. Consideramos, portanto, que a análise da narrativização identitária pode contribuir para a compreensão de como gêneros jornalísticos atuam na legitimação de discursos e identificações particulares. Uma observação importante é feita por Thompson (2011, p. 285) quando afirma que o conhecimento sobre os líderes políticos e suas políticas é derivado quase que totalmente dos jornais, da rádio e da televisão, e as maneiras como participamos do sistema institucionalizado do poder político são profundamente afetadas pelo conhecimento que daí deriva. Aplicando essa visão ao gênero reportagem da revista semanal de informação, consideramos que esse gênero influencia fundamentalmente o modo como as pessoas identificam os líderes políticos no Brasil e o modo como agem discursivamente no campo da experiência que é vista como política. CONSIDERAÇÕES FINAIS Consideramos que o gênero reportagem é usado pela revista semanal de informação como uma forma de ação social nas práticas sociais. Esse gênero é fundamental para que a revista construa modos particulares de identificação de atores sociais e, com isso, se posicione no cenário político e ideológico. Ao construir para certo grupo de atores sociais

narrativizações e identificações negativas e, para outros, narrativizações e identificações positivas, o gênero reportagem atua em serviço da sustentação e reprodução de discursos ideológicos que buscam reproduzir e naturalizar modos de identificação. Vale ressaltar a importância do gênero, nesse sentido, para a manutenção ou mudança de práticas sociais, de acordo com os interesses de quem produz e distribui o gênero. Além disso, alguns procedimentos retóricos peculiares ao gênero reportagem considerando aqui a metáfora, a intertextualidade, a avaliação e as estruturas visuais especificamente se mostraram importantes para a análise do modo como a revista semanal de informação se opõe a certas correntes político-ideológicas e se alinha a outras e, desse modo, defende seu posicionamento político-ideológico. REFERÊNCIAS BHATIA, V. K. Accessibility of discoursal data in Critical Genre Analysis: international commercial arbitration practice. Linguagem em (Dis)curso, Palhoça, v. 10, n. 3, p. 465-483, 2010.. Interdiscursivity in critical genre analysis. In: BONINI, A.; FIGUEIREDO, D. C.; RAUEN, F. (Org.). Proceedings from the 4th International Symposium on Genre Studies (SIGET). Tubarão: Unisul, 2007. v. 1, p. 391-400. Disponível em: <http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/cd/english/36i.pdf>.. Towards Critical Genre Analysis. In: BHATIA, V. K.; FLOWERDEW, J.; JONES, R. H. (Ed.). Advances in discourse studies. London: Routledge, 2008. p. 166-177.. Worlds of written discourse: a genre-based view. London New York: Continuum, 2004. BONINI, A. Análise crítica de gêneros jornalísticos. 2012. SBJor. 10º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo. Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, nov. 2012. Disponível em: <http://soac.bce.unb.br/index.php/enpjor/xenpjor/paper/viewfile/1776/292. Critical genre analysis and professional practice: the case of public contests to select professors for Brazilian public universities. Linguagem em (dis)curso, v. 10, p. 485-510, 2010.

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