LEONARDO VIZEU FIGUEIREDO Procurador Federal. Lotado na Subprocuradoria Jurídica de Dívida Ativa da Comissão de Valores Mobiliários. Especialista em Direito Público pela UNESA/RJ. Especialista em Direito do Estado e Regulação de Mercados pelo CEPED/UERJ. Mestre em Direito Econômico Internacional pela Universidade Gama Filho/RJ. Professor de Direito Econômico e Processo Constitucional da Universidade Santa Úrsula. Professor Palestrante de Direito Constitucional da EMERJ. Professor Substituto da Universidade Federal Fluminense (2006-2008). Professor de Direito Constitucional do Centro Universitário Plínio Leite. Direito Econômico para concursos 2010 www.editorajuspodivm.com.br
CAPÍTULO 1 DIREITO ECONÔMICO CONSTITUCIONAL Sumário: 1.1. Introdução ao Direito Econômico 1.2. Autonomia do Direito Econômico 1.3. Liberalismo e Intervencionismo: 1.3.1. Estado Liberal; 1.3.2. Estado Intervencionista Econômico; 1.3.3. Estado Intervencionista Social; 1.3.4. Estado Intervencionista Socialista; 1.3.5. Estado Regulador 1.4. Constituição Econômica 1.5. Evolução das Constituições Econômicas no direito pátrio 1.6. Ordem Econômica na CRFB e seus valores: 1.6.1. Jurisprudência selecionada 1.7. Princípios da Ordem Econômica na CRFB: 1.7.1. Súmulas aplicáveis; 1.7.2. Jurisprudência selecionada 1.8. Exercício de atividade econômica na CRFB: 1.8.1. Jurisprudência selecionada 1.9. Formas de Intervenção do Estado na Ordem Econômica: classificação doutrinária: 1.9.1. Direito pátrio; 1.9.2. Direito comparado; 1.9.3. Jurisprudência selecionada 1.10. Intervenção indireta do Estado na Ordem Econômica na CRFB: 1.10.1. Agente normativo e regulador; 1.10.2. Fiscalização econômica; 1.10.3. Incentivo econômico; 1.10.4. Planejamento econômico; 1.10.5. Jurisprudência selecionada 1.11. Investimentos estrangeiros: 1.11.1 Jurisprudência selecionada 1.12. Intervenção direta do Estado brasileiro na Ordem Econômica: 1.12.1. Classificação das atividades econômicas; 1.12.2. Exploração direta de atividade econômica; 1.12.3. Prestação de Serviços Públicos; 1.12.4. Monopólio 1.13. Exploração de Recursos Naturais 1.13.1. Jurisprudência selecionada 1.14. Ordenação dos transportes: 1.14.1. Jurisprudência selecionada 1.15. Microempresas e empresas de pequeno porte: 1.15.1. Jurisprudência selecionada 1.16. Promoção e incentivo ao turismo 1.17. Quadros sinópticos 1.18. Questões de concurso comentadas: 1.18. Resolução de exames de concursos públicos: 1.18.1. Magistratura federal; 1.18.2. Ministério Público Federal; 1.18.3. AGU CESPE Advogado da União, Procurador Federal e Procurador do BACEN; 1.18.4. AGU ESAF Procurador da Fazenda Nacional. 1.1. INTRODUÇÃO AO DIREITO ECONÔMICO Antes de iniciar o estudo do direito econômico, positivado no texto constitucional, faz-se necessário discorrer sobre alguns conceitos basilares sobre o tema, a fim de dotar o leitor do conteúdo necessário para a compreensão da matéria. As noções introdutórias e os conceitos doutrinários ora apresentados sobre Direito Econômico são pontos constantes nos programas da Magistratura Federal, do Ministério Público Federal e das carreiras da Advocacia Geral da União, sendo necessário, na preparação do concursando, o seu aprendizado. Atenção! Direito econômico é ramo de direito público que normatiza e disciplina as formas pelas quais o Estado está autorizado a interferir no processo de geração de rendas e riquezas da Nação, nos limites e perspectivas determinados na Constituição. Objetiva, dessarte, garantir que o Estado, por meio da intervenção na Ordem Econômica, alcance metas e resultados socialmente desejáveis, previamente estabelecidos em seu planejamento econômico. 25
Direito Econômico Constitucional 1.6. ORDEM ECONÔMICA NA CRFB E SEUS VALORES A Ordem Econômica na Constituição da República Federativa do Brasil é inaugurada no art. 170, o qual se traduz em dispositivo de forte teor axiológico, denotando forte riqueza de conteúdo. Valores são todos os preceitos fundamentais sobre os quais a sociedade se baseia, com primazia axiológica 20 sobre os demais, uma vez que são essencialmente qualificados pelo direito, que lhes outorga cogência por meio da norma jurídica. Atenção! A Ordem Econômica pode ser vista tanto sob um aspecto material (econômico), representando o conjunto de riquezas presentes no território de uma Nação e sujeitas ao seu ius imperii, bem como sob um prisma formal (jurídico), traduzindo-se no ordenamento constitucional e legal que disciplina as formas pelas quais a exploração de atividade econômica deverá ser efetuada. Visto isso, a sociedade brasileira, por ocasião da constituinte que resultou em nossa atual Carta Magna, elegeu como preceitos fundamentais de sua Ordem Econômica, os valores a seguir transcritos, nos termos do art. 170, caput, da CRFB: a) valorização do trabalho humano: trata-se de primar pela proteção ao fator de produção mão-de-obra. Para tanto, o Estado deve atuar de maneira a assegurar que o produto do labor do homem seja capaz de garantir, por si e sem interferências externas, o acesso a todos os bens de consumos essenciais para viver condignamente no seio da sociedade. Assim, tal valor deve ser o meio pelo qual o trabalhador irá efetivar todos os direitos sociais positivados no art. 6º, observadas as garantias do art. 7º, ambos da CRFB. Observe-se que, para o direito econômico, pessoa digna é aquela que conquistou sua independência econômica, isto é, aquela que se sustenta e é capaz de gerar renda que lhe garanta acesso aos bens essenciais para uma existência digna. Em outras palavras, a valorização do trabalho humano é fator de garantia do princípio da dignidade da pessoa humana. Vale observar que, a valorização do trabalho humano necessita de políticas de investimento em 20. Axiologia é a teoria crítica dos conceitos de valor. Cuida do estudo ou da teoria de alguma espécie de valor, particularmente os morais. 43
Leonardo Vizeu Figueiredo capacitação de mão-de-obra, que, para tanto, deve passar necessariamente por um conjunto de políticas de investimento em educação. Por fim, insta salientar que historicamente o trabalho sempre foi malvisto, sendo tarefa outorgada aos escravos. Esse quadro somente mudou com o avanço das idéias de Jesus Cristo, que foi o primeiro filósofo da humanidade a valorizar o trabalho humano; b) livre iniciativa: é corolário do liberalismo econômico de Adam Smith, que se faz presente nos textos constitucionais. Significa a liberdade de entrar, permanecer e sair do mercado, sem interferências externas. Observe-se que não há mais espaço para a máxima Laissez-faire, laissez-passer; le monde va de lui-même, uma vez que, como veremos, o Estado atua como agente normativo e regulador de sua Ordem Econômica. Todavia, com base no princípio da subsidiariedade, a intervenção estatal só se fará presente quando preciso. Nos nichos de nossa economia, quando não houver necessidade de interferência do Poder Público, o mercado se auto-regulará; c) existência digna: é valor legado ao mundo por meio da Constituição alemã de 1919. Significa que o Estado deve envidar todos os esforços para que a população, como um todo, tenha acesso aos bens de consumos essenciais para a vida em sociedade. Todavia, deve ser ressaltado que o Poder Público deve focar esforços em suas políticas de seguridade social, em sua vertente assistencialista, apenas à parcela de população notadamente necessitada, isto é, ao hipossuficiente. d) justiça social: é o corolário lógico da junção de todos os outros valores, e deve ser entendido como justiça distributiva. Trata-se do compartilhamento social de todos os riscos e riquezas da Nação, a fim de que o desenvolvimento sócio-econômico de um seja eqüitativamente distribuído a todos os membros da sociedade. Por óbvio, nem todos terão acesso aos mesmos níveis de renda, diante das naturais desigualdades que cercam as pessoas, na qualidade de seres individuais que são. Todavia, deve o Estado garantir renda mínima àquela parcela menos abastada da sociedade, mediante efetivação do princípio da solidariedade, característico do intervencionismo social, que se encontra presente em nossa atual Constituição, nos termos do art. 195. FATOS SOCIAIS VALORES NORMA JURÍDICA Fatos e acontecimentos econômicos; Proteção ao: Trabalho humano; Livre iniciativa; Existência digna; Justiça social Produção de normas para: Ordem Econômica e Direito Econômico 44
Direito Econômico Constitucional 1.15.1. Jurisprudência selecionada» Por disposição constitucional (CF, art. 179), as microempresas e as empresas de pequeno porte devem ser beneficiadas, nos termos da lei, pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas (CF, art. 179). Não há ofensa ao princípio da isonomia tributária se a lei, por motivos extrafiscais, imprime tratamento desigual a microempresas e empresas de pequeno porte de capacidade contributiva distinta, afastando do regime do Simples aquelas cujos sócios têm condição de disputar o mercado de trabalho sem assistência do Estado. (ADI 1.643, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 5-12-2003, Plenário, DJ de 14-3-2003.) 1.16. PROMOÇÃO E INCENTIVO AO TURISMO Por turismo entende-se o conjunto de atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por um período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios, dentre outros. Trata-se de setor importante para a economia doméstica, uma vez que movimenta parcela relevante do Produto Interno Bruto de uma Nação, representando importante vetor de entrada de divisas. Fora isso, um sistema de turismo bem estruturado, além de movimentar diretamente diversos setores da economia, tais como hotelaria, gastronomia, comércio, dentre outros, e aquece diversos outros setores de produção de bens de consumo e de infra-estrutura, dentre os quais indústria e transporte. Tal é a importância do setor que a própria ONU possui um organismo a ele vinculado, a saber, a Organização Mundial do Turismo OMT. Segundo a OMT, dependendo de uma pessoa estar em viagem para, de ou dentro de um certo país, o turismo pode ser classificado em: a) receptivo: quando não-residentes são recebidos por um país de destino, do ponto de vista desse destino; b) emissivo: quando residentes viajam a outro país, do ponto de vista do país de origem; e c) doméstico: quando residentes de dado país viajam dentro dos limites do mesmo. Atualmente, o turismo no Brasil encontra-se disciplinado na Lei nº 11.771, de 2008, que dispõe sobre a Política Nacional de Turismo, define as atribuições 125
Leonardo Vizeu Figueiredo do Governo Federal no planejamento, no desenvolvimento e no estímulo ao setor turístico e revoga a Lei nº 6.505, de 1977. Por sua vez, para fins de promoção do turismo brasileiro no mundo, foi criada, em 1966, a Empresa Brasileira de Turismo EMBRATUR, a qual teve suas competências legais atribuídas ao Ministério do Turismo, por ocasião da criação da pasta em 2003, sendo atualmente denominada de Instituto Brasileiro de Turismo. Aplicação em concurso (Procurador Federal/CESPE/2010) Se a empresa de turismo X for contratada para fornecer passagens aéreas para determinado órgão da União e, durante o prazo do contrato, essa empresa alterar o seu objeto social, de forma a contemplar também o transporte urbano de turistas e passageiros, mesmo que não haja prejuízo para o cumprimento do contrato administrativo já firmado com o órgão federal, a administração pública poderá rescindir unilateralmente o contrato. Resposta: Errada. 1.17. QUADROS SINÓPTICOS Os presentes quadros objetivam trabalhar com o leitor, para desenvolver sua memória de literária, além de sua memória visual. Dessarte, a partir da apresentação da matéria sob forma de quadros sinópticos, pretende-se potencializar a capa cidade de memorização do concursando, trabalhando-a de forma lite rária-visual. 1. INTRODUÇÃO AO DIREITO ECONÔMICO 1.1. Conceito (expressões chave): Direito Público. Intervenção do Estado na Ordem Econômica. Realização de metas socialmente desejáveis e previamente estabelecidas. 1.2. Escolas: 1.2.1. Européia: a) Portugal: Direito Econômico (Luis Sérgio de Cabral Moncada); b) França: Droit public économique (André de Ladaubère); 1.2.2. Estados Unidos: Law and Economics (Richard Allen Posner); 1.2.3. Brasil: forte influência da Escola Européia. 1.3. Princípios: a) Economicidade: art. 70, caput, c/c art. 170, CRFB; b) Eficiência: art. 37, caput, c/c art. 170, CRFB; c) Generalidade: art. 5º, caput, c/c art. 170, CRFB. 2. AUTONOMIA DO DIREITO ECONÔMICO 2.1. CRFB: a) Competência legislativa concorrente: art. 24, I, CRFB; b) Princípios: art. 170, incisos, CRFB. 126
Direito Econômico Constitucional 1.18.4.3. Procurador da Fazenda Nacional - 2004 59. Consoante a Constituição Federal, a lei deverá reprimir o abuso do poder econômico que vise à: a) dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros. b) dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento das desigualdades regionais e sociais. c) dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e a causar lesão ao meio ambiente. d) dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e à redução do emprego. e) dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos preços. 1.18.4.4. Procurador da Fazenda Nacional - 2003 60. Assinale a opção incorreta. a) A exploração de atividade econômica pelas empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas constitui intervenção estatal direta no domínio econômico. b) A criação de infra-estruturas e o exercício do poder de política econômica constituem formas de intervenção indireta do Estado no domínio econômico. c) O Estado intervém na economia por meio do planejamento, que, de acordo com a Constituição Federal, obriga os setores público e privado. d) A intervenção do domínio econômico, tanto direta quanto indireta, pode ser realizada por todas as pessoas políticas. e) Constitui objetivo da intervenção do Estado na ordem econômica a correção dos efeitos econômicos das disparidades regionais. Gabarito Questão Gabarito Oficial 01 C 02 A 03 Questão subjetiva 04 A Comentários A proteção ao consumo depende da defesa da livre concorrência, uma vez que esta garante ao consumidor final direito de escolha e opção. Princípio da solidariedade que rege o intervencionismo social, característico da Europa Ocidental. A Constituição Econômica pode ser entendida tanto em sentido material, quanto em sentido formal, adotando-se, por analogia, a teoria de classificação das constituições quanto ao conteúdo. Por Constituição Econômica material entende-se todas as normas de extração constitucional que versem sobre matéria econômica, estejam ou não disciplinadas em capítulo próprio. Por sua vez, a Constituição Econômica formal se traduz no título ou capítulo específico, dedicado exclusivamente à Ordem Econômica. Trata-se das disposições constitucionais formalmente fixadas para a matéria econômica, em capítulo próprio, bem como das demais normas de extração constitucional, esparsas em seu texto, com conteúdo eminentemente econômico. Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. Onde encontro 1: 1.7. 1: 1.3.3. 1: 1.4. 1: 1.10. 141