#20. Inclusão financeira



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Brasília, 9 de maio de 2013

Transcrição:

ANO 5 OUT/NOV/DEZ 2014 #20 UMA REVISTA DO SISTEMA DE COOPERATIVAS DE CRÉDITO DO BRASIL Inclusão financeira Sicoob é a única instituição financeira em 227 municípios brasileiros. O cooperado Osmário Cunha, da cidade de Gavião (BA), é um dos beneficiados pela capilaridade do Sistema Boas práticas Sicoob Ecocredi multiplica de tamanho em menos de quatro anos e mostra a força do Sistema no Sul do país Cooperação Parceria entre Credicampo e associação de moradores concretiza o sonho da casa própria

4 Sumário 7 Entrevista Uma conversa com Luiz Edson Feltrim, do Banco Central, sobre cooperativismo e inclusão financeira 14 Estratégia Pesquisa revela qual imagem o público tem do Sicoob e o índice de satisfação dos cooperados 22 Cooperação Parceria entre Sicoob Credicampo e associação de moradores permite que 90 famílias realizem o sonho da casa própria 25 CAPA Sicoob promove inclusão financeira em 227 municípios do país, onde não há agências bancárias 38 Regionalismo Nos meios urbano e rural, o cooperativismo financeiro impulsiona a economia do estado de São Paulo 6 ABC do cooperativismo Conheça os13 ramos do cooperativismo definidos pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) 6 Números Saiba quais foram os destaques do Sicoob 10 Boas práticas No Sul do país, Sicoob Ecocredi multiplica de tamanho e vira exemplo de eficiência no Sistema 12 Economia Cooperados conseguem crédito facilitado, rápido e a juros atrativos para financiar a compra de veículos 17 Perfil Ana Maria Almeida de Souza contou com a ajuda do Sicoob Sertão para adquirir três veículos e ampliar o transporte de passageiros 18 Empresas Cooperativismo financeiro tem sido importante parceiro para alavancar os pequenos negócios 20 Comportamento Falta de relevância, ausência de foco e autossabotagem são os principais motivos para não colocar em prática as resoluções de ano novo 31 Ponto de vista O diretor-presidente do Sicoob Planalto Central, José Alves de Sena, avalia os significativos números do cooperativismo financeiro brasileiro 32 Cultura Ingresso comprado com Sicoobcard, nas funções débito ou crédito, tem meia-entrada, na rede Lumière, em Goiânia 35 Pioneiros Conheça um pouco dos 82 anos de história do Sicoob Creditapiranga que se consolida como patrimônio do cooperativismo 43 Giro Saiba o que está acontecendo nas cooperativas em todo o país

Editorial 5 Em prol da inclusão financeira Sicoob Confederação O avanço do cooperativismo financeiro tem levado mais dignidade aos brasileiros Gerar soluções financeiras adequadas e sustentáveis, por meio do cooperativismo, aos associados e às suas comunidades. Essa é a missão do Sicoob, que, felizmente, vem sendo cumprida com êxito. Nos últimos anos, o Sistema tem ampliado o portfólio de produtos e serviços, e lançado uma série de novidades tecnológicas para promover os negócios, facilitando, assim, a vida dos nossos cooperados. Essas soluções têm alcançado cooperados de quase todo o país. É gratificante poder chegar a comunidades que não eram assistidas pelo Sistema Financeiro Nacional (SFN). Nossas cooperativas atendem a pessoas que, antes, tinham de viajar quilômetros para outros municípios, em busca de produtos financeiros ou simplesmente para pagar uma conta de água, luz ou qualquer boleto. O avanço do cooperativismo financeiro também tem levado mais dignidade aos brasileiros. A melhoria da vida de milhares de pessoas com a chegada das nossas cooperativas é retratada na matéria de capa desta edição. A reportagem especial mostra que, dos 1.335 municípios, de norte a sul, onde o Sistema está presente, 227 cidades são atendidas, exclusivamente, pelas nossas cooperativas, sem a presença de nenhum banco privado ou público. Portanto, o Sicoob não apenas tem cumprido a sua missão como também tem promovido inclusão financeira nos quatro cantos do país, especialmente nas pequenas e remotas cidades. A inclusão financeira também foi o tema central da entrevista do diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do Banco Central (BC), Luiz Edson Feltrim, um dos organizadores do Fórum Banco Central sobre Inclusão Financeira, realizado, neste ano, em Florianópolis (SC). A expansão do Sistema tem ocorrido com eficácia e com bons resultados. Exemplo disso é o avanço exponencial do Sicoob Ecocredi, sediado em Três Coroas (RS). Seus ativos cresceram de R$ 3 milhões para R$ 200 milhões em apenas quatro anos. Esse modelo de eficiência é apresentado nesta edição, que mostra também os desafios superados, em seus 82 anos de história, pela mais antiga cooperativa integrante do Sistema, o Sicoob Creditapiranga, e o exemplo de solidariedade e de cooperação do Sicoob Credicampo, que vem realizando o sonho de dezenas de famílias da cidade de Entre Rios de Minas (MG) na conquista da casa própria. Juntamente com a inclusão financeira e com uma gestão eficiente, o Sicoob leva um portfólio completo de produtos e serviços financeiros e o apoio social à população, cumprindo com o 7 0 princípio do cooperativismo: o interesse pela comunidade. Henrique Castilhano Vilares Presidente do Sicoob ANO 5 N o 20 OUT/NOV/DEZ 2014

6 ABC DO COOPERATIVISMO Ramos do cooperativismo números 6 No Brasil, as cooperativas são divididas em 13 ramos pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Alguns deles são mais conhecidos, como: Crédito (ou financeiro): associações de pessoas que, por meio da ajuda mútua e de uma atuação coletiva, buscam melhores opções de produtos e serviços financeiros. O funcionamento é autorizado e supervisionado pelo Banco Central, e o Sicoob é o maior sistema de cooperativas desse segmento no país. Agropecuário: engloba produtores rurais, agropastoris e de pesca. Cerca de 50% de toda a produção agropecuária brasileira passam, de alguma maneira, por uma cooperativa. Educacionais: formada por professores, que se organizam como profissionais autônomos para prestar serviços educacionais, e por pais de alunos, que buscam uma educação melhor para seus filhos, administrando as escolas e contratando os professores. Consumo: buscam abastecer seus cooperados, fazendo compras em comum. Assim, conseguem tornar o preço mais baixo e manter a qualidade dos produtos. Produção: os cooperados contribuem com o trabalho para a produção em comum de bens e produtos. A propriedade dos meios de produção é dos trabalhadores da cooperativa. Ainda há as cooperativas sociais, de trabalho, transporte, habitacionais, de saúde, de infraestrutura, mineral, de turismo e lazer. 2.669 é o número de contemplados pelo Sicoob Consórcios até o mês agosto de 2014. R$ 2.316.591.722,07 é o saldo da carteira da Poupança Sicoob com fechamento em agosto de 2014. 34.333 é o número de participantes do Plano de Previdência Privada (Sicoob Previ) com fechamento em agosto de 2014. 2.754.930 é o número de cooperados do Sicoob no país, na data-base de junho de 2014. Até junho de 2014, foram realizadas mais de 33 milhões de transações por meio do mobile banking do Sicoob. O número é 31% superior àquelas feitas durante todo o ano 2013.

Fotos: Divulgação Banco Central Entrevista 7 O Banco Central tem proposto melhorias contínuas para aumentar a eficiência e promover competitividade ao segmento cooperativista Inclusão financeira e o papel do cooperativismo BC trabalha para elevar o grau de segurança e a confiabilidade das cooperativas e ampliar a oferta de serviços à população O diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do Banco Central (BC), Luiz Edson Feltrim, tem uma relação bastante estreita com o cooperativismo financeiro. Palestrante e debatedor nos principais eventos ligados ao segmento em todo o Brasil, é um dos organizadores do VI Fórum Banco Central sobre Inclusão Financeira, que aconteceu em novembro, em Florianópolis (SC). Feltrim destaca, na entrevista a seguir, a importância do evento, realizado anualmente pelo BC, e fala sobre o papel do cooperativismo no desenvolvimento da promoção da inclusão financeira no país. Nascido em Martinópolis (SP), em 1952, é bacharel em Matemática. De 2011 a 2012, foi secretário-executivo do BC e, entre 1999 e maio de 2011, esteve à frente da chefia do Departamento de Organização do Sistema Financeiro. Antes, de 1995 a 1999, foi chefe-adjunto desse mesmo departamento. Por várias vezes, o diretor representou o BC em reuniões de trabalho de organismos reguladores de diversos países. Também já atuou como integrante do Grupo de Trabalho Interministerial do Cooperativismo e do Grupo de Trabalho sobre Microfinanças, instituído pelo Ministério da Fazenda, que resultou nas principais normas sobre o assunto, além de ter sido autor e coautor de diversas publicações. ANO 5 N o 20 OUT/NOV/DEZ 2014

8 Entrevista REVISTA SICOOB - Qual é a importância da inclusão financeira para o país? Ela contribui para a eficiência do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e para a manutenção da estabilidade econômica. Em razão disso, o Banco Central vem atuando fortemente para uma inclusão mais efetiva e adequada da população que, em conjunto com a educação financeira e com a proteção ao consumidor, formam o pilar básico para a construção da cidadania financeira. Além disso, a promoção de um ambiente inclusivo fortalece os canais de transmissão da política monetária. Qual é o papel das instituições não bancárias, sobretudo das cooperativas financeiras, nisso? Elas têm importância fundamental na capilaridade do Sistema Financeiro em razão de sua atuação nacional. A presença forte, principalmente no interior do país, incentiva a concorrência na prestação de serviços pelas demais instituições financeiras. Além disso, no cooperativismo, a aplicação dos recursos transacionados fica dentro dos limites de sua área de atuação, estimulando a manutenção da renda dentro da própria comunidade e contribuindo para que a prestação de serviços financeiros seja ainda mais adequada às características demográficas e geográficas das diferentes localidades. Assim, as cooperativas contribuem para o desenvolvimento econômico e social local, porque também possibilitam à população ainda não totalmente integrada o acesso ao SFN. Alcançar as famílias de baixa renda é um dos principais desafios da inclusão financeira no país? A educação financeira da população é uma das prioridades do Banco Central nessa agenda. As famílias de baixa renda estão no nosso radar, como um dos públicos-alvo de nossas ações de educação e inclusão. Nesse sentido, em 2014, entra em execução o projeto Educação Financeira Cidadã, cujo foco é a promoção de conceitos de educação financeira para jovens e adultos em situação de pobreza e extrema pobreza, que fazem parte do Cadastro Único de Programas Sociais do Governo Federal. A metodologia do projeto será testada, a princípio, em dez comunidades distribuídas nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, por meio de parcerias com bancos comunitários. Nessa primeira fase, a meta é atingir aproximadamente 5 mil famílias. Feltrim aposta no projeto de educação financeira em conjunto com o Sescoop e com a unidade do DF da OCB para capitalizar a potencialidade do ramo Quais foram os principais avanços no processo de inclusão desde o último Fórum de Inclusão Financeira, realizado pelo Banco Central, em Fortaleza (CE), em novembro do ano passado? Muitos estudos e propostas foram discutidos ao longo do ano, inclusive relacionados ao cooperativismo financeiro. Alguns progressos podem ser citados, como a definição do censo de cooperados, que permitirá melhor conhecimento sobre os associados de cooperativas em todo o país.

9 A educação financeira começou a ser tratada como política de estado, em 2010, em prol do fortalecimento da cidadania, da eficiência e da solidez do Sistema Financeiro Nacional e das decisões conscientes por parte dos consumidores O Sicoob é a única instituição financeira em 227 municípios brasileiros. O BC estuda algum projeto para incentivar a expansão dessas instituições nas regiões onde os bancos comerciais não têm interesse em atuar? A regulamentação do SFN já trata de forma diferenciada as cooperativas com atuação em regiões com baixa participação no Sistema, como é o caso do artigo 31, parágrafo único, da Resolução nº 3.859 do Conselho Monetário Nacional. Estão sendo realizados estudos de aprimoramento da regulamentação, para que ela possa incentivar sua atuação em regiões mais remotas. Quais são os novos projetos e propostas de aprimoramento regulamentar do Banco Central para tornar ainda mais efetiva a inclusão financeira no país, por meio do cooperativismo financeiro, e como eles contribuirão para o fortalecimento do segmento? O BC tem empenhado esforços, de forma contínua, para elevar o grau de segurança e confiabilidade dessas instituições, bem como para ampliar a oferta de serviços e produtos financeiros, promovendo, assim, a inclusão financeira da população e o desenvolvimento econômico regional. Além da inclusão, outro importante desafio é a promoção da educação financeira. Como o BC vem estimulando a educação financeira no país? O Banco Central promove ações nesse campo desde 2003, quando foi criado o Programa de Educação Financeira do Banco Central (PEF-BC). A partir de março de 2012, uma estrutura multidisciplinar de trabalho foi criada com a finalidade de propor medidas para a formulação de estratégias e execução de iniciativas na área de educação financeira, resultando no redimensionamento do PEF-BC e reafirmando seu caráter permanente. Ao final de 2012, foi constituído o Departamento de Educação Financeira (Depef ). No ano seguinte, foi criado o Programa Cidadania Financeira, voltado à promoção da educação financeira e ao acesso a informações sobre o SFN, que visa a garantir proteção aos consumidores de serviços financeiros e melhorar a qualidade do relacionamento do cidadão com as instituições do SFN. É interessante lembrar que, com a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef), instituída em dezembro de 2010, a educação financeira começou a ser tratada como política de estado, unindo o setor público, a iniciativa privada e a sociedade civil em prol do fortalecimento da cidadania, da eficiência e da solidez do Sistema Financeiro Nacional e da tomada de decisões conscientes por parte dos consumidores. Garantindo a aderência a diretrizes centrais, como a gratuidade das ações, a prevalência do interesse público e a avaliação e revisão permanentes, é conferido um senso de direcionamento à atuação brasileira em educação financeira, possibilitando sinergia, facilitando parcerias e, consequentemente, aproximando-nos da consecução dos nossos objetivos. De que forma o cooperativismo financeiro pode contribuir ainda mais para a disseminação da educação financeira? O segmento cooperativista tem enorme importância no cenário nacional, com grande capilaridade e abrangência de 10 milhões de cidadãos brasileiros. Para capitalizar as potencialidades do ramo, estamos desenvolvendo um projeto de educação financeira de grande magnitude em conjunto com o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) e com a unidade do Distrito Federal da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). O projeto prevê a elaboração de curso e material didático para a formação de multiplicadores em educação financeira, com ênfase na gestão de finanças pessoais e no relacionamento do cooperado com o Sistema Financeiro Nacional. O senhor foi um dos palestrantes mais entusiasmados do último Congresso Brasileiro do Cooperativismo de Crédito (Concred). Qual é o balanço que o senhor faz sobre esse evento? E quais os grandes desafios do cooperativismo financeiro para os próximos anos? O evento foi um importante catalisador nas discussões de integração e racionalização de custos do segmento, que se colocam como desafios a serem vencidos. Há espaço, portanto, para que integrantes de diferentes sistemas se unam rumo a um sistema nacional cada vez mais cooperativo e inclusivo. ANO 5 N o 20 OUT/NOV/DEZ 2014

10 BOAS PRÁTICAS Crescimento surpreendente no Sul do país Em menos de quatro anos, Sicoob Ecocredi multiplica de tamanho e vira referência para o cooperativismo financeiro Claudio Fachel Palácio Piratini Polo calçadista do Vale dos Sinos retoma crescimento e investe em inovação tecnológica O polo calçadista do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, precisou vencer a barreira dos altos juros bancários para retomar a rota de crescimento. Por volta dos anos 2000, as altas taxas impediam o financiamento para expansão e inovação tecnológica das fábricas, que começavam a perder terreno no mercado brasileiro para os produtos chineses. Uma das saídas para os empresários foi criar a própria instituição financeira, o Sicoob Ecocredi. Em menos de quatro anos, a cooperativa viu seus ativos passarem de R$ 3 milhões para R$ 200 milhões, tornando-se exemplo de eficiência no Sistema. Anos antes da inauguração da cooperativa, o Sindicato da Indústria de Calçados da cidade gaúcha de Três Coroas havia realizado, sem sucesso, uma peregrinação pelos principais bancos comerciais, públicos e privados, da região. As respostas eram sempre as mesmas, de que não era possível melhorar as taxas de juros das linhas de financiamento. A rede

11 bancária nunca deu o apoio necessário ao nosso segmento industrial, lembra o sócio de uma grande indústria de sapatos femininos, Analdo Moraes. O sindicato foi atrás, então, de uma experiência bem-sucedida em Minas Gerais, mais precisamente em Nova Serrana, outro importante centro calçadista do país. Moraes e outros empresários conheceram o Sicoob Credinova e perceberam que a cooperativa conseguiu melhorar a competitividade da indústria local e, consequentemente, aumentar os empregos e a renda no comércio da cidade. Por tudo que vimos lá, pelo atendimento que tivemos e pelos resultados que eles alcançaram, decidimos que precisávamos construir a nossa cooperativa, conta. Em 2007, foi marcada uma assembleia em Três Coroas, que decretou o novo caminho. Dos 60 presentes, 42 se comprometeram com a empreitada e decidiram empregar, cada um deles, um capital de R$ 12 mil. Ficou definido também que a cooperativa atuaria em todo o Vale do Paranhana, Microrregião do Vale dos Sinos, que abrange, além de Três Coroas, as cidades de Igrejinha, Parobé, Riozinho, Rolante e Taquara. Ao longo de dois anos, cerca de 200 empresários se juntaram ao grupo inicial, aplicando o investimento e formando um capital próximo a R$ 3 milhões. O Sicoob Ecocredi, filiado ao Sicoob Central SC/RS, foi inaugurado só em 2010. O nome, sugerido e aprovado na assembleia, vem de ecologia - uma referência às belezas naturais da região, com resquícios da mata atlântica. de crédito, valor 32,4% superior ao mesmo período de 2013, e acumulado de R$ 140 milhões em depósitos. O crescimento vem ocorrendo de forma natural, como pode ser visto nos excelentes números apresentados, com sobras que já superam os R$ 10 milhões, além do ganho com redução de tarifas e com as taxas de juros mais competitivas, avalia o diretor-executivo do Sicoob Ecocredi, Serilo Kappes. Ele destaca a aceitação do público da cooperativa, cujo atendimento é diferente do encontrado nas agências bancárias. O horário é maior do que na rede convencional, e o atendimento, mais personalizado, feito por pessoas da própria comunidade. Além disso, temos os juros mais baixos e os melhores produtos financeiros oferecidos pelo mercado, inclusive o Cartão BNDES, ressalta. A cooperativa segue em expansão. Ainda neste ano, pretende entregar à população um Ponto de Atendimento em Gramado, cidade turística da Região das Hortênsias, na Serra Gaúcha. Com quase 35 mil habitantes, a localidade tem desenvolvido setor moveleiro, com mais de cem fábricas. Fundo comunitário Os projetos de responsabilidade social em pequenas comunidades do Vale do Paranhana também fazem parte dos objetivos do Sicoob Ecocredi. Um deles é o Fundo Social e Comunitário (FSC), formado por uma porcentagem das sobras líquidas da cooperativa e de doações diversas. Os recursos são utilizados em assistência à população, como cursos de capacitação e reforma de instalações de instituições filantrópicas. Kappes conta que nove entidades de Três Coroas e Igrejinha foram beneficiadas recentemente com os recursos do FSC. São elas: Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Três Coroas, Corpo de Bombeiros Voluntários de Três Coroas, Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Igrejinha, Fundação Hospitalar Dr. Oswaldo Diesel, Instituto Evangélico de Amparo ao Menor (Inevam), Associação de Pais e Amigos do Grupo Escoteiro Paranhana, Hospital Bom Pastor, Liga Trescoroense de Defesa dos Animais e Corpo de Bombeiros Voluntários de Igrejinha. Sicoob Ecocredi Crescimento O desempenho, em quatro anos, chegou a surpreender os próprios fundadores. Aquele capital inicial alcançou, em 2014, R$ 200 milhões em ativos totais, avanço superior a 6.300%. Os quatro Pontos de Atendimento da cooperativa atendem hoje a 2.455 cooperados, que movimentaram, no primeiro semestre deste ano, R$ 111,7 milhões em operações No Sicoob Ecocredi, o atendimento é feito por pessoas da própria comunidade ANO 5 N o 20 OUT/NOV/DEZ 2014

12 ECONOMIA Com a chave na mão Em oposição à tendência do mercado, o Sicoob facilita condições para financiamento de veículos Além da compra da casa própria, a aquisição de um veículo faz parte dos principais desejos de consumo dos brasileiros. Afinal, muito mais do que mobilidade, ter um carro é sinônimo de maior dinamismo e conforto no cotidiano. Entretanto, em um cenário econômico marcado pela redução de crédito, sobretudo para o financiamento de automóveis, esse sonho, para muitos, pode ter ficado ainda mais distante. É o que explica o professor do Ibmec-MG e doutor em Administração, Eduardo Coutinho. Nos últimos três anos, registrou-se fraco crescimento da renda dos brasileiros. Como consequência, o setor financeiro manteve-se mais conservador nessa modalidade de crédito, afirma. Além disso, observa ele, o aumento da inadimplência também tem dificultado o acesso ao crédito. Devido à diminuição da renda, as instituições financeiras assumiram um comportamento mais cuidadoso, uma vez que os riscos tornaram-se ainda maiores, acrescenta. Na contramão dessa tendência, os cooperados do Sicoob não têm enfrentado dificuldades para a obtenção de crédito para financiamento veicular. Em agosto passado, o funcionário público Antoninho Bedin, cooperado do Sicoob MaxiCrédito, de Nova Itaberaba (SC), recorreu à instituição e conseguiu crédito para trocar o antigo carro por uma picape Saveiro. Não encontrei obstáculos nesse processo. Pelo contrário, optei fazê-lo pelo Sicoob pela facilidade, agilidade e ótimo atendimento recebido. Estou certo de que foi um ótimo negócio, afirma. Desde então, o veículo tem facilitado muito o dia a dia dele, que o utiliza nos fins de semana, para passear com a mulher e a filha, e para ir ao trabalho. Proprietária de uma empresa de transporte de cargas, Marilei Silveira Fernandes, moradora de Chapecó (SC), também cooperada pessoa física do Sicoob MaxiCrédito, encontrou na instituição a oportunidade de financiar dois veículos em menos de um ano e renovar parte da frota. Primeiramente, comprei um Doblò, em outubro do ano passado. Em menos de um ano depois, em julho, obtive financiamento para uma picape, comemora. Claudia Schuster Antoninho Bedin aproveitou as vantagens do Sicoob para financiar o novo carro

Juros atrativos A excelência no atendimento e a rapidez na liberação do crédito não foram os únicos benefícios apontados pelos cooperados. A atratividade da taxa de juros foi um fator decisivo, se comparada com a de outras instituições financeiras pesquisadas, revela a empresária. Fiz um levantamento com outros bancos, e as vantagens de financiar por meio do Sicoob se destacaram, comenta Bedin. O presidente do Sicoob MaxiCrédito, Elói Frazzon, afirma que a manutenção da taxa de juros mais baixa é resultado da pulverização do crédito. Seja para pessoas físicas, seja para pessoas jurídicas, a cooperativa trabalha com diferentes linhas de crédito. Essa estratégia favorece a criação de uma carteira mais equilibrada e condizente com as situações financeiras dos nossos cooperados, tornando, consequentemente, os financiamentos mais acessíveis, explica. Ainda segundo ele, outro diferencial do Sicoob é a forma com que os cooperados são vistos dentro do próprio negócio. Mais do que clientes, eles são cotistas, ou seja, além de terem tratamento diferenciado e personalizado, são donos e recebem a divisão dos resultados, a cada ano, conforme a movimentação financeira de cada um, destaca. Portanto, ao optar por realizar a operação financeira na cooperativa, o cooperado contribui para os resultados da instituição, chamados de sobras. Isso significa que parte dos juros que ele pagou no financiamento retornará para ele na forma de sobras ao final do ano. Para Bedin, essa condição também pesou na hora de decidir financiar o veículo. Além de confiar na minha cooperativa, sei que quanto maior o volume de operações, maior será também o meu retorno, observa. Prevenido, ele aproveitou para contratar o seguro oferecido pelo Sicoob, devido às boas condições e à confiança no produto. Cresce procura O segmento de veículos é o mais representativo na comercialização de seguros no Sicoob e representa cerca de 50% do total de vendas. De acordo com o consultor de seguros, Marcelo Carneiro Costa, responsável pela implantação do projeto de constituição da Seguradora do Sicoob, em 2013, a venda desse produto superou os R$ 120 milhões, e a expectativa para 2014 é de ultrapassar R$ 150 milhões. No comparativo entre o 1 o semestre de 2013 com o mesmo período de 2014, o crescimento foi de 24%, percentual que deve ser superado no comparativo anual. Além do preço competitivo, o cooperado conta com a qualidade de atendimento do Sicoob no pós-venda, a partir dos serviços contratados nas companhias seguradoras. Outro ponto relevante é que a remuneração gerada à cooperativa pela comercialização do seguro contribui para a elevação do resultado auferido ao final do exercício, trazendo ganho adicional ao cooperado, que exerce também o papel de dono da instituição financeira, observa Carneiro. 13 Planejamento consciente O professor do Ibmec-MG e doutor em Administração, Eduardo Coutinho (foto), alerta que o financiamento de um veículo deve ser uma decisão planejada, uma vez que compromete a renda futura. Durante o prazo do financiamento, o consumidor precisa entender que é como se ele iniciasse, todo o mês, com a conta no vermelho, ou seja, já com o valor da parcela a menos no salário. Veja algumas dicas para não se enforcar: ao trocar o veículo por um de maior valor, lembre-se de que os gastos com o IPVA e com o seguro serão maiores. Por isso, além do financiamento, leve em conta esses adicionais; para quem vai comprar o primeiro carro, é importante avaliar os custos de manutenção e de combustível, além do IPVA e do seguro; pesquise bastante e escolha pelo financiamento que apresentar o menor Custo Efetivo Total (CET). Ele corresponde a todos os encargos e despesas incidentes nas operações de crédito e de arrendamento mercantil financeiro, contratadas ou ofertadas. Financiamento de veículos Veja as cooperativas que mais operam com o produto: Sicoob Credicitrus, filiado ao Sicoob SP: 6.949 operações, totalizando R$ 160,8 milhões. Sicoob MaxiCrédito, filiado ao Sicoob SC/RS: 2.966 operações, resultando em R$ 53,3 milhões. Sicoob Leste Capixaba, associado ao Sicoob ES, com 2.654 operações e R$ 67,5 milhões. (Dados referentes à data-base de 31-7-2014) ANO 5 N o 20 OUT/NOV/DEZ 2014

14 ESTRATÉGIA Satisfação e atendimento Pesquisa revela que 91,7% dos cooperados estão satisfeitos com o Sicoob Satisfação é uma das primeiras palavras que vem à mente quando o assunto é Sicoob, e o atendimento diferenciado é a principal vantagem apontada pelos participantes da primeira Pesquisa Nacional de Imagem, realizada no início de 2014. O estudo sistêmico foi feito entre outubro de 2013 e janeiro de 2014, para detectar qual a imagem e a visibilidade que o público tem do Sistema e para apurar o índice de satisfação dos cooperados. Os dados foram levantados por meio da realização de grupos focais e aplicação de questionários a 3.159 cooperados e 1.410 não cooperados. Entre o público consultado, o Sicoob é percebido como uma cooperativa, 91,7% afirmaram estar satisfeitos com o Sistema e 59,3% disseram conhecer uma cooperativa financeira e usaram o Sicoob como principal referência. A conta-corrente lidera os produtos e serviços mais utilizados, com 83,8%, seguida de cartão de débito (50,6%) e empréstimo pessoal (49,8%). A supervisora da área de Comunicação e Marketing do Sicoob Confederação e coordenadora do estudo, Jussimara Zobel, acredita que a conclusão da pesquisa vai conferir mais assertividade às ações de marketing e de negócios. Os resultados obtidos trazem mais unicidade por ter sido utilizada uma única metodologia. A realização da pesquisa possibilitou o estabelecimento do marco zero. Antes, o Sistema tinha informações fragmentadas sobre o mercado, comenta. A pesquisa revela que a capilaridade está entre os quesitos que precisam ser melhorados. Para os cooperados, o Sicoob deveria investir em um maior número de caixas eletrônicos e de Pontos de Atendimento. Informações como essas vão auxiliar no desenvolvimento de estratégias direcionadas às necessidades e às expectativas dos cooperados, subsidiando a estruturação dos projetos estratégicos do Sistema e apoiando a reestruturação e o lançamento de novos produtos e serviços. Só é possível atender com qualidade, e isso inclui oferecer os melhores produtos e serviços, se soubermos, a fundo, o que os cooperados esperam da instituição. Claro que sempre nos mantivemos atentos às necessidades deles. Porém, trabalhar com dados embasados por um estudo

15 aprofundado aumentam nossas chances de superar as expectativas, afirma a gerente de Comunicação e Marketing do Sicoob Confederação, Débora Ingrisano. A pesquisa também vai ao encontro dos objetivos do ciclo 2013/2015 do Planejamento Estratégico, como fidelizar o associado, reforçando a identidade cooperativista; ter um portfólio que atenda às necessidades dos cooperados; fortalecer o marketing para atrair novos cooperados; e incrementar a cultura de negócios e desempenho em todos os âmbitos. Débora Ingrisano observa que alguns resultados foram surpreendentes. Muitas coisas das quais acreditávamos caíram por terra. Uma delas é que os cooperados, em boa parte, demonstram saber que o nosso portfólio de produtos e serviços vai além do crédito, comemora. O trabalho abordou Pontos de Atendimento, rapidez/eficiência de atendimento, produtos e serviços oferecidos, tecnologia, meios de comunicação, novos produtos e melhorias. Satisfação no alto Um dos principais resultados positivos indicados na Pesquisa de Imagem foi o índice de recomendação Net Promoter Score (NPS), que, no Sicoob, corresponde a 69%, enquanto, em média, os índices dos bancos brasileiros variam entre 8% negativos até, no máximo, 46% positivos. Esse percentual traduz a credibilidade do Sistema, já que é um indicativo dos níveis de motivação dos entrevistados em recomendar a instituição e da satisfação geral, ambos elevados. A empresa responsável pelo estudo, a Opinião, avalia que, com NPS superior aos serviços de outros bancos voltados ao atendimento personalizado, como o HSBC Premier e o Itaú Personalité, a carteira de clientes é o principal ativo e multiplicador dos produtos e serviços do Sicoob. De acordo com a BainCompany, empresa global de consultoria empresarial, organizações com maior NPS apresentam índices de crescimento superiores às demais. O NPS é calculado com base nas respostas à pergunta Você nos recomendaria a um amigo ou colega?. Em uma escala de 0 a 10, classificam-se os clientes em promotores (aqueles que respondem nove ou dez, fãs genuínos dos produtos); passivos ou neutros (aqueles que respondem sete ou oito) e detratores (aqueles que respondem seis ou menos). Metodologia O trabalho foi dividido em duas etapas. Na primeira, qualitativa, foram feitas reuniões, em 2013, com grupos de discussão para debater, livremente e com a mediação de um especialista, temas relacionados ao cooperativismo e ao Sicoob em 13 cidades brasileiras. Cada um era composto por oito a dez pessoas, cooperadas e não cooperadas, escolhidas de acordo com o perfil do público que se desejava investigar. Na segunda, cooperados e não cooperados de todo o país foram abordados por telefone e orientados a responder a um questionário desenvolvido conforme pontos observados na etapa anterior. Todo o trabalho foi realizado por uma empresa especializada, sob a coordenação da Área de Comunicação e Marketing do Sicoob Confederação, e com o apoio de um Grupo de Trabalho (GT), composto por representantes estratégicos indicados pelas diretorias do Bancoob e da Confederação, que acompanhou todo o processo e auxiliou na formatação da pesquisa. Perfil dos entrevistados Homens: 65,7% Escolaridade: a maioria (41,7%) tem até o Ensino Médio completo Ao subtrair as porcentagens de detratores de promotores, obtém-se a métrica denominada Net Promoter Score (NPSSM). A metodologia, além da simplicidade, guarda correlação com o crescimento das empresas. O NPS tem ganhado cada vez mais adeptos no Brasil, como empresas que viram na metodologia uma ferramenta eficaz para avaliar e para buscar melhoria contínua dos serviços prestados aos clientes. Mulheres: 34,3 % 1 a etapa Grupos de discussão 2 a etapa Questionários Idade média: 43 anos Estado civil: 75% são casados ou vivem em regime de união estável ANO 5 N o 20 OUT/NOV/DEZ 2014

16 ESTRATÉGIA Revelações 59,3% 59,3% dos entrevistados afirmaram conhecer uma cooperativa e usaram o Sicoob como principal referência; 91,7% satisfação é uma das primeiras palavras utilizadas pelos entrevistados na hora de falar do Sicoob: 91,7 % afirmaram estar satisfeitos com o Sistema; AJUDA UNIÃO PARCERIA quando questionados sobre qual a primeira palavra que vem à cabeça ao pensar em uma cooperativa, a sigla Sicoob aparece em segundo lugar; união, parceria e ajuda foram alguns dos termos citados; 76,7% 76,7 % afirmaram que recomendariam o Sicoob para conhecidos; 87% 87% dos entrevistados disseram ter uma imagem positiva das cooperativas. Quando a mesma pergunta foi feita sobre os bancos, esse percentual caiu para 56,4%; 88,4% 88,4% relataram estar insatisfeitos com algum dos produtos bancários que utilizam. Sicoob Confederação Fachada do Centro Corporativo Sicoob, em Brasília (DF)

perfil 17 Seguindo sempre em frente Tudo começou com a aquisição de uma Veraneio marrom, em 1984, logo que Ana Maria Almeida de Souza e o marido, Givaldo Carmo de Souza retornaram de São Paulo (SP), onde foram tentar a vida. O veículo já era paquerado pelo casal, e o empurrãozinho para comprá-lo veio do pai dela, com a promessa de transferir aos dois o transporte de passageiros da cidade baiana de Pintadas para Ipirá. Meu pai era dono dessa linha e passou pra gente os segredos da profissão, conta. A Veraneio transportava uma média de dez pessoas em cada três viagens diárias, em um percurso de aproximadamente 50 quilômetros, por estrada de terra e atoleiros. Os moradores dos povoados iam para Ipirá em busca de atendimento médico, bancos e comércio mais diversificado. Com o aumento da demanda e a chegada do Sicoob Sertão, cooperativa filiada ao Sicoob Central Bahia, em 1997, em Pintadas, Ana Maria decidiu buscar apoio do Sistema para comprar uma van. Cinco anos depois, vendeu o veículo e adquiriu um micro-ônibus e, após outros cinco anos, mais um micro-ônibus. Hoje ela tem ainda um ônibus com capacidade para 44 pessoas. Graças ao Sicoob Sertão, ela conta que conseguiu abrir a empresa Givaldo Turismo. O nome é uma homenagem ao marido, seu grande incentivador e parceiro. Em Pintadas, não havia banco. Ipirá tinha agência, mas nunca me ofereceram as facilidades como a cooperativa. O Sicoob sempre me ajudou a financiar meus veículos, sem muita burocracia. Além disso, sempre fui muito bem atendida. Eu digo que a cooperativa e eu somos uma família, afirma Ana Maria. Mais que expandir os negócios, com juros atraentes proporcionados pelo Sistema, ela conseguiu, há quatro anos, contratar um motorista e, no ano passado, outro condutor, para auxiliar o marido, que sempre dirigiu os veículos. Atenta às necessidades da freguesia, conta que, atualmente, são realizadas quatro viagens por dia, fretes particulares e deslocamentos para as praias, durante o verão. Os favores aos conhecidos são constantes, para evitar que se desloquem sem muita necessidade. Busco resultados de exames, pago um carnê... Uma mão lava a outra. Com isso, fidelizo o cliente. Por enquanto, não tenho concorrentes, mas não deixo espaço vago, afirma, com bom humor. Para um futuro próximo, o plano é adquirir um ônibus mais novo e investir no turismo em todo o estado da Bahia. O projeto da empreendedora é crescer na área de excursão e, sem perder tempo, já ensaia algumas conversas com a gerente do Sicoob Sertão sobre a possibilidade de um novo financiamento, dentro de aproximadamente dois anos. Tudo tem seu tempo certo. O importante é ir degrau por degrau, ensina. Fotos: Jorge Henrique As dificuldades impostas pela vida foram a principal escola para tornar Ana Maria Almeida de Souza, 50 anos, uma mulher guerreira e arrojada. Com ensino médio completo, ela montou a Givaldo Turismo, empresa que transporta passageiros entre Pintadas e Ipirá, no Sertão da Bahia. Natural de Ipirá, ela tem dois filhos: uma comerciante de 34 anos e um advogado de 28. ANO 5 N o 20 OUT/NOV/DEZ 2014

18 EMPRESAS Prosperar nos negócios Sicoob oferece soluções personalizadas aos micros e pequenos empreendedores Com clientes na Paraíba, no Rio Grande do Norte e em Pernambuco, Carlos Assis driblou as dificuldades financeiras e hoje produz 30 toneladas em produtos por mês Fotos: Charles Dias Noventa e oito por cento dos cooperados pessoa jurídica do Sicoob são formados por micro e pequenos empresários. Esse perfil de empreendedor tem se profissionalizado, buscado orientação para se planejar e conseguir as melhores opções de crédito do mercado. Há dez anos, do total de empresas que abria as portas, metade delas não conseguia levar o projeto adiante antes mesmo de completar os primeiros dois anos de atividade, de acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Hoje, 76% dos micro e pequenos negócios têm alcançado esse período de sobrevivência. Para o diretor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos, o cooperativismo financeiro tem sido um parceiro importante dos empresários, apesar de ainda não ser o segmento mais representativo em volume de recursos para os pequenos negócios. O crédito para financiamento a micro e pequenos empreendedores cresceu, desde dezembro de 2012, 11,66%, via Sistema Financeiro Nacional, alcançando R$ 335 bilhões, em agosto de 2014, mais 31,2%, por meio do Sistema Financeiro Cooperativo, chegando a R$ 10,1 bilhões. Cada vez mais, os pequenos negócios serão atendidos por meio das cooperativas, acredita. O empresário Carlos Hermano Pereira de Assis encontrou no Sicoob CGCred, de Campina Grande (PB), o apoio necessário para vencer as dificuldades inerentes à manutenção de uma panificadora na cidade, onde produz bolachas, biscoitos e pães artesanais para revenda. Com clientes na Paraíba, no Rio Grande do Norte e em Pernambuco, a empresa emprega hoje 34 funcionários e produz, aproximadamente, 30 toneladas em produtos por mês.

Genêz Neto comemora a evolução da própria distribuidora de rações e implementos agrícolas, depois de ter vivenciado uma crise 19 Em 2012 e 2013, ele passou por uma crise financeira e foi no Sicoob que conseguiu o crédito necessário para continuar o negócio. Estava com dificuldades para pagar em dia os meus funcionários. Felizmente, em pouco tempo, já estava com a situação resolvida. Um dos maiores diferenciais da cooperativa é que a minha empresa não é vista somente como um número de CNPJ, considera. Na tentativa de empreender o próprio negócio, em 1998, Genêz Cordeiro Duarte Neto trocou a cidade natal, Campina Grande (PB), por Queimados, no mesmo estado. Hoje, após 14 anos, ele comemora a evolução da empresa, uma distribuidora de rações e implementos agrícolas. Com faturamento mensal de R$ 80 mil, ele conta que também driblou as dificuldades graças ao apoio da cooperativa. Cooperado do Sicoob CGcred, de Queimados, desde 2013, Neto enfrentava muitas dificuldades financeiras, pois estava descapitalizado. Recorri à cooperativa para obter financiamento e, felizmente, consegui me restabelecer, reconhece. Entre as vantagens oferecidas, ele destaca a atratividade das taxas de juros e o atendimento diferenciado. A equipe é muito preparada, ágil e está sempre disposta a ajudar e a esclarecer as minhas dúvidas, conta. O diretor-presidente do Bancoob, Marco Aurélio Almada, diz que os micro e pequenos empreendedores têm à disposição, nas cooperativas do Sicoob, as linhas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os cartões BNDES, pré-pago, frota, de débito e de crédito e vouchers, a cobrança bancária, a antecipação de recebíveis (cartões, cheques e boletos), a contasalário e o capital de giro. O objetivo é expandir ainda mais esse portfólio com condições compatíveis com a realidade do Receita de sucesso elabore um plano de negócios; mantenha-se focado no cliente e nas tendências do mercado; adote modelos de gestão que valorizem a eficiência dos processos e a qualidade dos produtos e/ou serviços oferecidos; busque sempre a profissionalização e mensure os riscos; procure sempre inovar, faça diferente para fazer mais e melhor. * Fonte: Sebrae segmento. Em um futuro próximo, os cooperados poderão ter acesso à própria máquina de cartão com condições muito mais interessantes se comparadas às que são atualmente oferecidas no mercado, antecipa. ANO 5 N o 20 OUT/NOV/DEZ 2014

20 COMPORTAMENTO Agora vai dar certo Especialista explica por que muitos não conseguem colocar em prática as resoluções de início de ano Fim de ano é época propícia para fazer um balanço de todos os aspectos da vida, analisando o que deu certo e o que precisa ser melhorado, e, claro, colocando no papel ou em uma planilha no computador as resoluções para o ano seguinte. No entanto, há quem se recuse a fazer as tradicionais promessas de ano novo pelo motivo de sempre: nunca conseguir cumpri-las. A justificativa, na maioria das vezes, é a falta de tempo para estudar, para se cuidar, para investir no plano B, para mudar de emprego, para curtir mais a família e os amigos, para passear, etc. No fundo, o motivo da desistência vai além, na opinião do especialista em Administração de Tempo e Produtividade, Christian Barbosa, autor de diversos livros sobre o tema. A questão de não se conter diante dos obstáculos, sejam eles quais forem, está dividida em três fatores: falta de relevância, ausência de foco e autossabotagem. A relevância está relacionada ao fato de a pessoa começar algo que não é realmente importante. Mais cedo ou mais tarde, irá desistir, pois, com o tempo, perderá o sentido, observa. A dica é, ao começar algo, pensar na relevância, além do objetivo. Ter foco também é fundamental, pois os resultados aparecem, e a pessoa acaba se motivando. Mas não é uma habilidade que se adquire do dia para a noite. É preciso criar esse hábito. O especialista recomenda começar com pequenas atividades e, aos poucos, ampliar o tempo de foco. Quando estiver com seus filhos ou com a família, esteja com eles de verdade, e não com a atenção focada na televisão, por exemplo. Quando estiver trabalhando, feche seu e-mail, seu navegador e outros programas, para ter atenção total ao que está fazendo. A desatenção e a falta de foco podem roubar horas preciosas do nosso dia sem percebermos, observa. Para conseguir pôr em prática as promessas, é necessário planejar poucas coisas, em vez de uma diversidade de tarefas, para não perder a flexibilidade, a espontaneidade e a liberdade. Divulgação Christian Barbosa afirma que ter foco é fundamental para os resultados aparecerem e a pessoa se motivar

21 Razões psicológicas Quem já ouviu falar em autossabotagem sabe a força que as razões psicológicas têm para impedir o término dos projetos. Há quem comece a lutar pelos próprios objetivos, mas, no meio do caminho, autossabota a execução, ou seja, dificulta ou inviabiliza mudanças que trariam bem-estar ou algum tipo de melhora, para não sair da rotina e enfrentar novos desafios. Barbosa recomenda ficar atento e identificar se os constantes adiamentos dos projetos estão relacionados à autossabotagem e, claro, eliminar essa atitude. Sem se esquecer das finanças Um dos planejamentos importantes é o financeiro. Com a justificativa de que não têm tempo para pensar ou de que não sobrou dinheiro, muitos vão adiando o investimento financeiro no futuro. Fazer dinheiro é importante. Por isso, é preciso ter uma relação empreendedora com ele, de forma que ele trabalhe por você e não você trabalhe para o dinheiro, observa Christian Barbosa. Uma das maneiras para que isso aconteça num momento da vida quando ele é muito bemvindo é investir na previdência privada. Com as limitações da previdência social e com a ampliação da longevidade do brasileiro, hoje em 73,9 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a previdência tem de fazer parte do portfólio de investimento de qualquer pessoa, é uma forma de garantir a tranquilidade na aposentadoria, recomenda o diretor-superintendente da Fundação Sicoob Previ, José Vicente da Silva. O Sicoob tem o produto Sicoob Previ, cuja taxa de carregamento é 2,5% e a taxa de administração é 0,25 ao ano. Para acessa-lo, é necessário ser associado a alguma cooperativa e contribuir com o valor mínimo de R$ 50. A rentabilidade é de 107% do CDI. No ano passado, muitos fundos de pensão tiveram rentabilidade negativa ou chegaram a, no máximo, 3%. O Sicoob Previ alcançou 9%, comemora. Outra vantagem é a dedução de até 12% da renda no Imposto de Renda. Silva recomenda planejar-se e somente resgatar o valor ao se aposentar. Quanto mais nova a pessoa iniciar o investimento em previdência, melhor, pois vai recolher um valor baixo, mas terá uma aposentadoria maior no futuro, observa. Dicas para os projetos saírem do papel Limite a quantidade: escolha bem, escolha poucos e leve a sério suas decisões. Se possível, defina um único objetivo. Defina uma meta: ela deve ser desafiadora, alcançável e mensurável. Coloque prazos para todos os objetivos. Seja gradual: mudanças radicais também podem ser atingidas em passos pequenos. Associe metas temporais ou já preveja a periodicidade em que irá revê-las. De olho no calendário: defina em qual mês irá realizar determinadas atividades do seu plano. Comece já: após definir seu plano, registre-o detalhadamente (será um contrato de você consigo mesmo) e comece imediatamente a segui-lo. Siga o plano: esforce-se para seguir o que planejou ou para alcançar as metas que definiu. ANO 5 N o 20 OUT/NOV/DEZ 2014

22 COOPERAÇÃO Renascimento da esperança Sicoob Credicampo firma parceria com Amsca e permite a famílias financiarem casa própria Fotos: Thiago Fernandes João Bosco de Andrade, presidente da Amsca, orgulha-se de ter ajudado moradores Solidariedade é enxergar no próximo as lágrimas nunca choradas e as angústias nunca verbalizadas. A frase é de Augusto Cury, um dos escritores brasileiros mais lidos da década, e traduz bem a parceria firmada entre o Sicoob Credicampo e a Associação dos Moradores Sem Casa (Amsca), de Entre Rios de Minas (MG), que vai permitir a 90 famílias realizarem o sonho da casa própria. Tudo começou em 2013, quando a Associação foi contemplada por um programa social do Governo Federal, que oferece subsídios para a construção de habitações para famílias de baixa renda. Mas, para receber a verba, era necessário que a entidade fosse proprietária do terreno onde as casas seriam erguidas. Desde então, os associados se desdobraram em busca do dinheiro necessário para a compra da área, promovendo eventos, como barraquinhas de rua, quermesse e venda de rifas. Mas isso não era suficiente. A alternativa era fazer um empréstimo junto a instituições financeiras. Entretanto isso não foi possível, nem mesmo com o banco em que fizemos as nossas movimentações por mais de 20 anos, conta a membro da Amsca, Sandra de Assis Reis. A história mudou de rumo quando a voluntária da associação e cooperada do Sicoob Credicampo, Elizabeth Andrade Ribeiro de Oliveira, teve a ideia de pedir ajuda à cooperativa. A solidariedade com o próximo faz parte dos meus princípios de vida. Quando morava em São Paulo (SP), eu auxiliava os conselhos de saúde. Atualmente, minha missão é trabalhar para que essas pessoas realizem o sonho de adquirir a casa própria. Para isso, é fundamental que os participantes estejam focados na conquista coletiva, de toda a nossa comunidade, e não somente no próprio benefício. E é por incentivar a cooperação e saber que

23 Maria Terezinha, Elizabeth, Marlene e Sueli comemoram a conquista do terreno esses valores também são fundamentais para o cooperativismo que eu busquei a parceria com o Sicoob, conta. A princípio, o objetivo da Amsca era conseguir alguma doação em dinheiro para ajudar no pagamento do lote. O patrocínio ajudaria algumas famílias, mas não todas. Dessa forma, propomos financiar o terreno, com recursos do Sicoobcred Garantia Imóveis, uma linha de crédito com recursos da própria cooperativa, que tem taxas de juros e condições de pagamento atrativas, oferecidas apenas a cooperados, explica a gerente do Sicoob Credicampo, Flávia Rodrigues. Assim, foi acordada a garantia hipotecária da sede da Amsca e o pagamento por meio de boletos. Para isso, a cooperativa doou uma impressora para a associação e treinou um voluntário para confeccionar o documento. O valor mensal pago foi planejado para não prejudicar a renda dos associados, com parcelas que variam de R$ 50 a R$ 200, de acordo com as condições de cada família. Para completar a renda dos associados, a Amsca também conta com o apoio de doações, da verba adquirida por meio de roupas vendidas em um bazar e da ajuda da Paróquia Nossa Senhora das Brotas, entre outros. Do total de 24 parcelas, 11 já foram quitadas. O pagamento deve ser concluído até o final de 2015. Sandra Reis acredita que, com esse gesto, o Sicoob Credicampo proporcionou muito mais do que a compra de um terreno, mas o renascimento da esperança em todos os beneficiados. Desde o início dessa parceria, nós, membros da Amsca, adotamos um lema: a fé é assim: você coloca o pé, e Deus dá o chão. No nosso caso, o Sicoob Credicampo é o chão que Deus nos proporcionou, ou seja, o caminho pelo qual tornaremos o nosso sonho realidade, diz. O presidente do Conselho de Administração do Sicoob Credicampo, Saulo Mascarenhas, considera que a parceria é motivo de grande orgulho para a cooperativa. A Amsca sempre chamou nossa atenção, sobretudo pela seriedade e pela persistência dos mais de 20 anos de trabalho. Contudo, jamais imaginaríamos contribuir tanto para a autoestima deles. Eles achavam que nenhuma instituição lhes concederia crédito e nem pensavam que teriam condições de pagar as parcelas pontualmente. Nós mostramos que é possível. Afinal de contas, é o que nos ensina o cooperativismo: as pessoas se unem na busca da realização coletiva, daí surgem os resultados para todos. Talvez esse tenha sido o empréstimo mais gratificante que já fizemos, observa. Praça de lazer As 90 casas, tão aguardadas pelos membros da Amsca, serão construídas em uma área de 41 mil metros quadrados, localizado no Bairro Castro, em Entre Rios de Minas. Todas terão o mesmo tamanho, aproximadamente 45 metros quadrados, com dois quartos, sala, cozinha, banheiro e área de serviço. O muro, o piso e a pintura interna serão de responsabilidade dos donos dos imóveis. O terreno tem uma área de preservação ambiental, que será mantida e estruturada para abrigar uma praça de lazer e convivência. Empréstimo para já quitar parcelas Marlene Cândida de Souza, 44 anos, trabalha na zona rural e é responsável por pagar o aluguel e sustentar, sozinha, os quatro filhos, já que o marido, Wellington, está desempregado. Quando nasceu o meu primeiro filho, Cleiton, 21 anos, eu ainda morava em um 'puxadinho' na casa da minha mãe. Depois veio a Andreza, 15; a Vitória, 12; e o Arthur, 8. O espaço ficou pequeno, e eu tive que sair em busca de um lugar nosso. Desde então, estou nessa luta, lembra. Membro da Amsca há quatro anos, Marlene teve tanto medo de perder a oportunidade da casa própria que, em vez de pagar o financiamento, fez um empréstimo com conhecidos e quitou as suas parcelas. Agora, eu pretendo ajudar o Cleiton, que está prestes a se casar, a comprar a casa dele. O meu maior desejo é não ver os meus filhos passarem pela dificuldade financeira que eu passei por falta de uma casa própria, conta. ANO 5 N o 20 OUT/NOV/DEZ 2014