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INTERPELANTE: LEONARDO RIBEIRO ALBUQUERQUE INTERPELADO: JORGE ALEXANDRE MARTINS FERREIRA - JUIZ DE DIREITO D E C I S Ã O M O N O C R Á T I C A E M E N T A PROCESSO PENAL INTERPELAÇÃO JUDICIAL PROCEDIMENTO DE NATUREZA CAUTELAR MEDIDA PREPARATÓRIA DE AÇÃO PENAL DELITOS CONTRA A HONRA (CP, ART. 144) PEDIDO DE EXPLICAÇÕES NOTIFICAÇÃO AUSÊNCIA DE RESPOSTA EXAURIMENTO DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. Se o art. 144 do Código Penal prevê a hipótese de o interpelado recusar-se a atender ao pedido de explicações em juízo, não assiste ao juiz constrangê-lo a prestá-las, posto que, feita a notificação, com ou sem resposta, está exaurida a tarefa judicial, sob pena de constituir constrangimento ilegal. Vistos, etc. Trata-se de Interpelação Judicial interposta por Leonardo Ribeiro Albuquerque, em face do Exmo. Sr. Juiz de Direito Jorge Alexandre Martins Ferreira, deduzida com fundamento no artigo 144 do Código Penal. O Interpelante pretende, com a medida processual ajuizada, que o interpelado ofereça explicações necessárias ao esclarecimento de afirmações, a ele Fl. 1 de 5

atribuídas, noticiadas no site do jornal oeste (www.jornaloeste.com.br), sob o título Juiz contesta críticas do deputado doutor Leonardo Freitas ao sistema carcerário de Cáceres. Justifica a formulação do pedido de explicações, argumentando que o Interpelado, na qualidade de Juiz titular da 1ª e 3ª Varas Criminais de Cáceres, convocou o jornal local para esclarecer alguns aspectos da fala do Interpelante, também feita a um veículo de comunicação, referente a problemas na cadeia pública daquela cidade. Sustenta que o Interpelado utilizou-se da inadequada ocasião para ofender sua pessoa, bem como seu trabalho parlamentar, pois, no exercício do seu mandato popular, apenas reuniu-se com a categoria de agentes penitenciários e visitou as dependências da precária cadeia pública, não tecendo críticas à referida unidade prisional. Assevera que a utilização, por parte do Interpelado, de fatos inexistentes configura, em tese, os crimes de difamação (artigo 139 do Código Penal) e de injúria (artigo 140, do Código Penal). Feita a análise dos diversos aspectos concernentes à interpelação penal (CP, art. 144), e reconhecida a competência originária do Tribunal Pleno para o processamento de eventual ação penal, determinei a notificação do Magistrado Jorge Alexandre Martins Ferreira, para que, responda, querendo, à presente interpelação (fls. 19/20-TJ). À fl. 32-TJ, a Secretária certifica que decorreu o prazo legal sem a manifestação do Interpelado. Instado a manifestar-se, o Interpelante manteve-se silente, conforme a certidão de fl. 35-TJ. Fl. 2 de 5

É a síntese. Decido. O pedido de explicações, na lição de Euclides Custódio da Silveira, constitui medida processual meramente facultativa, de sorte que quem se julga ofendido pode, desde logo, intentar a ação penal privada, dispensando qualquer explicações, se assim o entender (in Direito Penal Crimes Contra a Pessoa, p. 260, item 120, 2ª ed., 1973, RT). Reveste-se, portanto, de função instrumental, cuja destinação jurídica vincula-se ao esclarecimento de situações de dubiedade, equívoco ou ambiguidade, com vistas a viabilizar, em face do esclarecimento eventualmente prestado, a instauração de processo penal de conhecimento, tendente à obtenção de um provimento condenatório. Nesse sentido, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: O pedido de explicações constitui típica providência de ordem cautelar, destinada a aparelhar ação penal principal, tendente a sentença penal condenatória. O interessado, ao formulá-lo, invoca, em juízo, tutela cautelar penal, visando a que se esclareçam situações revestidas de equivocidade, ambiguidade ou dubiedade, a fim de que se viabilize o exercício futuro de ação penal condenatória. A notificação prevista no Código Penal (art. 144) (...) traduz mera faculdade processual, sujeita à discrição do ofendido. E só se justifica na hipótese de ofensas equívocas. (RTJ 142/816, Rel. Min. Celso de Mello). O pedido de explicações - formulado com suporte no Código Penal (art. 144) (...) - tem natureza cautelar (RTJ 142/816), é cabível em qualquer das modalidades de crimes contra honra, não obriga aquele a quem se dirige, pois o interpelado não poderá ser constrangido a prestar os esclarecimentos solicitados Fl. 3 de 5

(RTJ 107/160), é processável perante o mesmo órgão judiciário competente para o julgamento da causa penal principal (RTJ 159/107 - RTJ 170/60-61 - RT 709/401), reveste-se de caráter meramente facultativo (RT 602/368 - RT 627/365), não dispõe de eficácia interruptiva ou suspensiva da prescrição penal ou do prazo decadencial (RTJ 83/662 - RTJ 150/474-475 - RTJ 153/78-79), só se justifica quando ocorrentes situações de equivocidade, ambiguidade ou dubiedade (RT 694/412 - RT 709/401) e traduz faculdade processual sujeita à discrição do ofendido (RTJ 142/816), o qual poderá, por isso mesmo, ajuizar, desde logo (RT 752/611), a pertinente ação penal condenatória. Doutrina. Jurisprudência. (Pet 2.740-ED/DF, Rel. Min. Celso de Mello). Cumpre esclarecer, ainda, que o pedido de interpelação judicial submete-se à mesma ordem ritual que é peculiar às notificações avulsas, de acordo com o esclarecimento perfilado pelo autor Damásio E. de Jesus, em sua obra Código de Processo Penal Anotado, verbis: O pedido de explicações em Juízo segue o rito processual das notificações avulsas. Requerido, o juiz determina a notificação do autor da frase para vir explicá-la em Juízo. Fornecida a explicação, ou, no caso da recusa, certificada esta nos autos, o juiz simplesmente faz com que os autos sejam entregues ao requerente. Com eles, aquele que se sentiu ofendido pode ingressar em Juízo com ação penal por crime contra a honra ou requerer a instauração de inquérito policial. De notar-se que o juiz não julga a recusa ou a natureza das explicações (RT 752/627). Havendo ação penal, é na fase do recebimento da queixa que o juiz, à vista das explicações, irá analisar a matéria, recebendo a peça inicial ou a rejeitando, considerando, inclusive, para isso, as explicações dadas pelo pretenso ofensor (...). ( Código de Processo Penal Anotado, p. 456, 24ª ed., 2010, Saraiva) Destaquei. Fl. 4 de 5

Depreende-se, portanto, destinando-se a interpelação a esclarecer, ou positivar, o exato sentido da manifestação do pensamento do Interpelado, não cabendo a este Egrégio Tribunal de Justiça, portanto, avaliar o conteúdo das explicações, nem examinar a legitimidade jurídica de sua eventual recusa em prestá-la, uma vez que esse fato, por si só, não induz à tipificação irremissível do crime, devendo o Juiz simplesmente entregar os autos ao interpelante. Logo, tendo o Interpelado se recusado a prestar as explicações pleiteadas em juízo, não pode o julgador constrangê-lo a prestá-las, posto que, feita a notificação e, oportunizando prazo para cumprir a determinação, com ou sem resposta, no que exauri a tarefa judicial, sob pena de constituir constrangimento ilegal. Ante o exposto, esgotada a prestação jurisdicional na presente Interpelação Judicial, determino que a secretaria entregue os autos ao Interpelante, mediante certificação e registro. Intimem-se. Cumpra-se. Cuiabá, 6 de maio de 2016. Des. Márcio VIDAL. Relator. Fl. 5 de 5