Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Conselho Regional de Medicina rayer@usp.br
RELAÇÃO DOS MÉDICOS COM A INDÚSTRIA DE MEDICAMENTOS, ÓRTESES/ PRÓTESE E EQUIPAMENTOS MÉDICO-HOSPITALARES Conhecer o relacionamento dos médicos paulistas com a indústria de medicamentos, órteses/ próteses e equipamentos médico-hospitalares. Revelar a percepção dos profissionais sobre a atual relação com a indústria.
Metodologia Técnica Pesquisa quantitativa, com abordagem telefônica dos entrevistados, por meio de questionário estruturado. A pesquisa foi realizada em duas etapas: a primeira foi probabilística e a segunda intencional, visando obter base mínima em 14 especialidades Universo Médicos (ambos os sexos) ativos registrados no CREMESP, com CRM acima do número 18.000. Amostra e margem de erro máxima AMOSTRA MARGEM DE ERRO* Probabilística 300 - Intencional 300 - TOTAL 600 4 p.p. O campo foi realizado entre os dias 02 de dezembro de 2009 e 08 de janeiro de 2010.
Perfil da amostra Maioria dos médicos fez residência médica e cursou pós-graduação. A observação do perfil dos médicos paulistas entrevistados revela que a maior parte: é do sexo masculino (60%) tem entre 41 e 60 anos (60%) 45 anos em média reside e atua na região metropolitana (59%) 49% na capital concluiu a graduação até 1990 (58%) média: 1990 Obteve o título de especialista (34%)
Relacionamento geral do médico com a indústria Logo no início, foi solicitado aos entrevistados que avaliassem a atual relação dos médicos com a indústria de medicamentos, órteses/ próteses e equipamentos médico-hospitalares: seis de cada dez profissionais avaliam positivamente (62%), sendo que 54% atribuem o conceito bom e 8% ótimo 26% classificam como regular e 9%, como ruim ou péssimo. Avaliação da relação dos médicos com a indústria Razões positivas atendimento técnico dos representantes (39%, trazem novos medicamentos, informações atualizadas, são simpáticos) idoneidade, confiança (11%, não interferem nas prescrições, não fazem propaganda enganosa, há respeito mútuo) atualização científica (8% patrocinam congressos, cursos, eventos e fornecem materiais de estudo). Razões negativas relação comercial (19%, interesses financeiros, privilégios, influência na prescrição) atendimento ruim dos representantes (10%, faltam visitas regulares, mais demoradas, com explicações, com técnicos).
Relacionamento ético do médico com a indústria Maioria dos médicos recebe presentes de pequeno valor da indústria. 93% afirmam ter recebido produtos, benefícios ou pagamentos da indústria considerados de pequeno valor nos últimos 12 meses. 88% materiais informativos sobre medicamentos ou equipamentos 74% amostras grátis de medicamentos 61% revistas científicas patrocinadas pela indústria 58% objetos de pequeno valor como objetos para consultório 34% almoços ou jantares 15% ingressos para eventos culturais ou de lazer 5% honorários referentes a aulas e palestras
Relacionamento ético do médico com a indústria Prática de oferecer presentes é iniciada durante a graduação. Após estímulo, 74% declaram que presenciaram ou receberam alguns benefícios da indústria ainda durante a graduação. 63% material promocional, revista ou informativos produzidos pela indústria 58% visita de representantes da indústria no hospital escola ou estágio 20% aula ou seminário sobre o papel da indústria na prática médica 13% apoio ou financiamento da indústria para participar de algum evento científico, cultural ou esportivo.
Relacionamento ético do médico com a indústria Aproximadamente oito de cada dez médicos conhecem colegas que aceitaram presentes de maior valor, porém apenas quatro admitem recebimento. 77% declaram que conhecem médicos que aceitaram produtos, benefícios ou pagamentos da indústria de maior valor, nos últimos 12 meses, enquanto apenas 37% afirmam que receberam e aceitaram algum deles. Conhece médicos que aceitaram convites para participação em cursos e eventos de educação continuada 59% viagens para congressos nacionais 49% viagens para congressos internacionais 36% convites para participar ou conduzir pesquisa clínica 35% honorários referentes a serviços de consultoria, de speaker de congressos e eventos 27% cartões fidelidade 13% comissões ou prêmios por prescrever determinada quantidade de medicamentos ou equipamentos 12% objetos de valor acima de R$500,00 como artigos eletro-eletrônicos. 7% Recebeu e aceitou 27% 9% 3% 7% 2% 7% 0% 0%
Imagem da relação dos médicos com a indústria Frases foram apresentadas aos entrevistados... imagem da relação dos médicos com a indústria os médicos ao proferirem palestras ou escreverem artigos que divulguem ou promovam produtos farmacêuticos, devem declarar os agentes financeiros patrocinadores as diretrizes clínicas deveriam ser elaboradas apenas por sociedades médicas CONCORDA TOTALMENTE + EM PARTE (média geral: 66%) 91% 89% as autoridades sanitárias e conselhos de fiscalização devem investir mais na produção autônoma e isenta de informações sobre novos medicamentos os Congressos Médicos não se viabilizariam sem o apoio da indústria 79% 73% a indústria tem, de modo geral, muita influência na educação, terapêutica, prescrição e nos parâmetros 61% a maioria dos médicos prefere participar de congressos e cursos de educação continuada sem o patrocínio da indústria 51%
Principais resultados Porque eles oferecem atualizações, informações sobre novos medicamentos, pagam viagens para congressos sem pedir nada em troca, ou seja, sem querer obter vantagens, sem forçar que prescrevamos os seus medicamentos, não existe troca de favores. Divergências de opinião sobre uma mesma questão que permeiam todo o estudo. Porque a atividade comercial que os seus representantes praticam é extremamente fora de um padrão ético aceitável, pois eles fazem o que podem para captar os médicos em defesa de seus interesses financeiros, eles tentam comprar os médicos com presentes e vantagens, isso é suborno. Vale notar que 61% concordam que a indústria tem, de modo geral, muita influência na educação, terapêutica, prescrição e nos parâmetros. 80% recebem visitas mensais de representante da indústria de medicamentos, enquanto parcela bem menor (cerca de 10% a 15%) é visitada por representantes de órteses/ próteses e equipamentos médico-hospitalares. Apesar do hábito de prescrição de medicamentos ser mais expressivo, nota-se que a efetividade para equipamentos médico-hospitalares é maior. RECEBE (em %) PRESCRIÇÃO (em %) Medicamentos 80 38 Órteses e próteses 14 8 Equipamentos médico - hospitalares 14 10 Maior efetividade: 70% dos que recebem visita, costumam prescrever
Principais resultados Com este relacionamento, algumas percepções ficam divididas, principalmente as ligadas à contribuição da indústria na atualização científica e no recebimento de presentes de menor valor. Concordam que: os congressos médicos não se viabilizariam sem o apoio da indústria (73%) a indústria financie educação continuada dos médicos, por meio de cursos de capacitação e/ou material informativos (67%) os congressos médicos, publicações e programas de educação continuada sejam financiados pela indústria (58%) a maioria dos médicos prefere participar de congressos e cursos de educação continuada, sem o patrocínio da indústria (51%) que o médico deva ser proibido de receber qualquer tipo de brinde, presente ou outro bem material ou apoio financeiro em qualquer situação (52%). Relação de dependência.
Principais resultados Para a maioria, a indústria exerce apoio fundamental no exercício da profissão. Neste sentido, acreditam que para manter a relação em bons níveis, regras para conduta ética devem ser definidas e adotadas. Grande maioria concorda que: os médicos ao proferirem palestras ou escreverem artigos que divulguem ou promovam produtos farmacêuticos devem declarar os agentes financeiros patrocinadores (91%) o médico pode trabalhar para a indústria desde que a relação fique às claras (81%) o médico deve ser proibido de vincular prescrição médica ao recebimento de vantagens materiais ou apoio financeiro (76%). Favoráveis à maior transparência. as diretrizes clínicas deveriam ser elaboradas apenas por sociedades médicas (89%) autoridades sanitárias e conselhos de fiscalização devem investir mais na produção autônoma e isenta de informações sobre novos medicamentos (79%) que a indústria opine sobre a programação de congressos e simpósios médicos (19%). Favoráveis à maior independência.
Principais resultados Uma parcela importante dos médicos mostra-se mais crítica com a atual relação entre médicos e a indústria. Cerca de um terço: acredita que o relacionamento dos médicos com a indústria está totalmente fora de controle (32%) soube ou presenciou casos de pressão da indústria sobre os médicos (33% recebimento de comissão por indicação, recomendação de procedimento desnecessário) soube ou presenciou alguma parceria considerada inadequada (32%) avalia como regular (26%) ou negativa (9%) a relação dos médicos e a indústria razão: relação comercial com interesses financeiros, privilégios, influência na prescrição. considera insuficiente a iniciativa do novo Código de Ética para a regulamentação da ética médica (33%). Maior ceticismo e preocupação.
Com este relacionamento, algumas percepções ficam divididas, principalmente as ligadas à contribuição da indústria na atualização científica e no recebimento de presentes de menor valor. Concordam que: os congressos médicos não se viabilizariam sem o apoio da indústria (73%) a indústria financie educação continuada dos médicos, por meio de cursos de capacitação e/ou material informativos (67%) os congressos médicos, publicações e programas de educação continuada sejam financiados pela indústria (58%) a maioria dos médicos prefere participar de congressos e cursos de educação continuada, sem o patrocínio da indústria (51%) que o médico deva ser proibido de receber qualquer tipo de brinde, presente ou outro bem material ou apoio financeiro em qualquer situação (52%). Relação de dependência.
Questões a serem respondidas (Simpósio e Entrevistas qualitativas) 1. É aceitável que os médicos receitem ou solicitem exames baseados em contrapartidas, como pagamentos de inscrições em congressos e viagens? 2. É aceitável que os congressos, simpósios, seminários e outras atividades de educação continuada sejam pautados por interesses mercantis?
Questões a serem respondidas (Simpósio e Entrevistas qualitativas) 3. É aceitável que no ambiente onde se realizam atividades científicas e de atualização médica sejam compartilhados eventos como Simpósios Satélites e workshops, cuja programação é dirigida pelo interesse comercial? 4. É aceitável que brindes relevantes comercialmente sejam distribuídos aos médicos como forma de sedução, tornando-os mais propensos a prescrever determinados produtos? 5. Como assegurar que prescrições de medicamentos sejam decididas pelos médicos exclusivamente de acordo com as credenciais científicas dos produtos e as necessidades de saúde do paciente?
Questões a serem respondidas (Simpósio e Entrevistas qualitativas) Os médicos podem ter viagens patrocinadas, simplesmente porque preencheram cotas de prescrições de medicamentos ou de outros produtos? É aceitável que um médico contratado para ministrar palestras ou para a divulgar determinado produto deixe de explicitar de maneira cabal tal situação. É possível uma melhor regulação ética dessas questões?
Cerca de metade dos médicos declara-se informada sobre os artigos do novo Código de Ética e, quatro em cada dez os consideram suficientes para a regulamentação da ética médica. No NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA, aprovado em agosto de 2009, existem alguns artigos que abordam a relação dos médicos com a indústria de medicamentos, órteses e próteses e de equipamentos médico-hospitalares. Eles estabelecem que o profissional: - tem que declarar conflito de interesse com a indústria, quando ele existir e - que o médico não pode obter vantagem com prescrição. 55% dos médicos declaram que estão informados sobre os artigos no novo Código de Ética. 19% mais ou menos informados e 26% desinformados. 43% consideram suficiente a iniciativa para a regulamentação da ética médica. 33% insuficiente, portanto existem dúvidas quanto à suficiência.
René Descartes_ DISCURSO DO MÉTODO todos aqueles cujos sentimentos são contrários aos nossos não são necessariamente bárbaros e selvagens, mas podem ter tanto quanto ou mais razão do que nós.