EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA RODRIGO JANOT MONTEIRO DE BARROS RAUL BELENS JUNGMANN PINTO, brasileiro, solteiro portador da Cédula de Identidade RG n 964.067 SSP-PE, inscrito no CPF sob o n 244.449.284-68, Deputado Federal pelo Partido Popular Socialista (PPS-PE), com endereço no Gabinete nº 754 do anexo IV, da Câmara dos Deputados, em Brasília-DF, CEP 70.160-900, vem representar em desfavor de DILMA VANA ROUSSEF, brasileira, economista, Presidente da República, com endereço no Palácio do Planalto, Praça dos Três Poderes, Brasília - DF, CEP 70150-900, pelos fatos e fundamentos que passa a expor: I DOS FATOS Conforme vem sendo amplamente noticiado pela imprensa nacional 1, a presidenta república, senhora DILMA VANA ROUSSEF, vem se valendo de vários tipos de ardilosos esquemas para conseguir o apoio para barrar o processo de impeachment na Câmara dos Deputados. Inclusive, o deputado Paulo Maluf (PP-SP) declarou que: "O governo está se metendo num processo de compra e venda que é detestável. ( ) Querem construir maioria no Legislativo dividindo o Executivo. Não é assim 2." 1 Como nos sítios eletrônicos de notícias: http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2016-03/lana-senadores-vao-pgr-contra-dilma-e-jaqueswagner http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/04/1757546-dilma-deve-dar-ministerios-e-cargos-para-pp-pr-epsd.shtml http://oglobo.globo.com/brasil/sem-pmdb-dilma-vai-usar-cargos-contra-impeachment-18980716 2 http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/04/1757695-maluf-acusa-governo-de-comprar-deputados-dopp.shtml
Deputado Maluf é integrante da comissão que analisa do impeachment. Segundo ele, a negociação o desobriga de seguir a postura do governo na votação. Diz não querer fazer uma injustiça com a presidente, que é uma senhora correta, de vida limpa, mas está mudando de tendência 3. O ministro da Chefia de Gabinete da presidente, Jaques Wagner, chegou a falar em governo novo, e disse que saída do PMDB, principal aliado político do governo, abre uma boa oportunidade para que Dilma inicie uma nova fase. Disse o Ministro que: A decisão dele (PMDB) chega numa boa hora. Numa boa hora porque oferece à presidenta Dilma uma ótima oportunidade de repactuar o seu governo. Eu poderia até falar de um novo governo, no sentido de que sai um parceiro importante e, portanto, abre espaço político para uma repactuação de governo. Política é assim 4. Ou seja, DILMA VANA ROUSSEF vai preencher os espaços deixados pelo PMDB com outros aliados. Agora como vem sendo realizada é transição é que está a questão criminal. Inclusive, na data de 5 de abril, o deputado Paulinho da Força (SD-SP) acusou o governo de compra de votos. Segundo o congressista, o Poder Executivo Planalto está negociando a ausência no dia da votação em plenário por R$ 400 mil. Além de pagar R$ 2 milhões para quem votar contra 5. Vejamos então o caso das emendas parlamentares. Elas são importante instrumento de capilarização, democratização e de aplicação local, em estados e especialmente municípios, do Orçamento Público Federal, mas, e infelizmente, em sucessivos governos sua execução foi instrumento de barganha política muito pouco republicana. 3 http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/04/1757695-maluf-acusa-governo-de-comprar-deputados-dopp.shtml 4 http://oglobo.globo.com/brasil/sem-pmdb-dilma-vai-usar-cargos-contra-impeachment- 18980716#ixzz454lbpXFh 5 http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,paulinho-da-forca-acusa-governo-de-oferecer-r-2-milhoespara-voto-contra-impeachment,10000024910
Para corrigir o desvio de conduta do Poder Executivo, o Congresso Nacional, no âmbito de sua estrita competência, fez votar a aprovou a Emenda Constitucional de nº 86/2015, que no parágrafo 18, de seu artigo primeiro, é incisivo: Considera-se equitativa a execução das programações de caráter obrigatório que atenda de forma igualitária e impessoal às emendas apresentadas, independentemente da autoria. Com efeito, é republicana e democrática a obrigação da Presidência da República no atendimento equânime de todas as emendas de todos os parlamentares seja qual for o partido a que pertençam. Emendas Parlamentares não podem e não devem ser objeto de negociações escusas, feitas nos vãos escuros, para o bem do respeito a nossa tradição republicana. Seno assim, qualquer prática diferente da equidade de direitos na execução das emendas parlamentares, se antes eram atos imorais, hoje são atos ilegais segundo ordenamento jurídico pátrio. Sabemos que é prática contumaz da atual gestão, e de anteriores, a recusa de executar as emendas parlamentares no exercício para o qual foram autorizadas. A normalidade é que mais de 90% das emendas parlamentares sejam transformadas em Restos a Pagar, o que pode confundir as avaliações de execução. Se tivermos em vista os restos a pagar apenas do período relativo aos anos de 2014 e 2015, e considerarmos apenas dois grupos de partidos, de um lado PT, PDT, PC do B e PMDB e de outro PSDB, DEM e PPS, ou seja, partidos definidamente da base de governo e da oposição, respectivamente, chegamos a uma constatação alarmante. A execução dos Restos a Pagar dos dois anos considerados é quase 100% maior no caso dos partidos da base aliada, uma disparidade tremenda! Importante reproduzir os números, por partidos da base de governo e da oposição, referentes às emendas impositivas:
Emendas impositivas - 2014 e 2015 Resto a Pagar pagos em 2016 (até 29/03) RAP 2014+2015 Titulares 23.126.700,77 PT 69 PC DO 1.316.992,99 B 10 1.785.391,86 PDT 20 RAP 2014+2015 Titulares PS DB 5.203.455,78 54 DE M 1.232.023,83 21 PP S 2.359.420,57 9 6.083.219,08 PMDB 65 32.312.304,70 164 8.794.900,18 84 197.026,25 104.701,19 0,531407 33 Se tomado o critério per capita, as emendas parlamentares dos partidos de oposição, dadas como em Restos a Pagar, foram de fato executadas em valor equivalente a 53% das emendas executadas para os partidos da base do governo. O Boletim de emendas parlamentares, versão 2015, da Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados, traz um comentário, na página 27 com referência à tabela apresentada no Boletim: A tabela mostra a execução das emendas individuais de 2012 a 2014, anos fechados. Observa-se que a proporção dos valores pagos em cada exercício é maior em relação à execução das emendas de orçamentos pretéritos. Assim, em 2014, foram pagos R$ 2.214,7 milhões de Restos a Pagar (RAP) de programações, incluídas por emendas individuais e apenas R$ 146,1 milhões relativas à LOA do exercício (2014). Os valores pagos no ano do empenho continuam muito baixos, apesar do orçamento impositivo. (grifos nossos) Dessa forma, vemos mais um malabarismo econômico realizado pelo Poder Executivo. Não bastassem as pedaladas fiscais, que são uma das bases do processo de impeachment da presidente da república, o governo federal se vale de meios escusos para manobrar com os valores das emendas parlamentares. Temos como cristalino o fato de a presidente necessitar de apoio político, em via de desbancar o processo de impeachment em curso, e os valores liberados nas emendas parlamentares. Obviamente se liberam os valores requisitados pela base governista,
enquanto a oposição não tem seus pleitos atendidos. Isto como parte do sujo jogo de interesses, para a compra de votos para o impeachment da presidente da república não passar na Câmara dos Deputados. Isto é uma completa afronta aos princípios da isonomia, e vai de encontro à moralidade administrativa. Esse, e outros atos, são visivelmente ilegais. II DAS RELAÇÕES JURÍDICAS A lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos. A Seção III deste diploma legal versa dos atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da administração pública. A lei aduz que: Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência; (...) IV - negar publicidade aos atos oficiais; (...) VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo; Vemos que DILMA VANA ROUSSEF, ao não atender isonomicamente às emendas parlamentares, com o fulcro de compra de votos para lhe ajudar no processo de impeachment, atentou contra os princípios da administração pública. Bem como praticou ato visando fim proibido/ilícito, escondendo tal fato publicamente e não demonstrando claramente os valores das emendas parlamentares para o público em geral. Não obstante, o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, o nosso Código Penal, tipifica vários crimes contra a administração pública, entre os de concussão, corrupção passiva, prevaricação e advocacia administrativa:
Concussão Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Corrupção passiva Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Prevaricação Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Advocacia administrativa Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa. O esquema de compra de votos para barrar o processo de impeachment contra DILMA VANA ROUSSEF abarca TODOS estes crimes! DILMA VANA ROUSSEF exige o voto para conseguir a vantagem indevida, para fugir do impeachment (concussão). Ela receberá diretamente a vantagem da base governista, pois lhe proporcionou um número muito mais de orçamento graças às emendas parlamentares (corrupção passiva). A presidente evidentemente se vale da máquina pública para satisfazer sentimento pessoal (prevaricação). E ela patrocina interesse privado, e ilegítimo, valendo-se do cargo (advocacia administrativa).
III DO REQUERIMENTO A lei nº 8.429 versa que: Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta lei, o Ministério Público, de ofício, a requerimento de autoridade administrativa ou mediante representação formulada de acordo com o disposto no art. 14, poderá requisitar a instauração de inquérito policial ou procedimento administrativo. Ademais, o Código Penal, em seu art. 100, explica que ação penal é pública. Posto isto, o representante espera que V. Exa. requisite a instauração de inquérito policial e procedimento administrativo para apurar os fatos supra narrados nas esferas cível e penal, e, após, que ofereça denúncia contra a representada. Brasília-DF, 06 de abril de 2016 Raul Belens Jungmann Pinto Deputado Federal