INTRODUÇÃO À CRIMINOLOGIA. 19, 20 e 26 de Outubro

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Transcrição:

INTRODUÇÃO À CRIMINOLOGIA 19, 20 e 26 de Outubro

Emergência do conceito de 2 personalidade criminal 1ª metade do séc. XIX Monomania homicida A justiça convoca a psiquiatria A difusão das ideias de Lombroso Substituição da responsabilidade penal (culpa) pela perigosidade (natureza do criminoso) A intervenção do poder público funda-se no estado perigoso Defesa social e tratamento

Emergência do conceito de 3 personalidade criminal União internacional de Direito Penal: fundada em 1889 por von Lizt e Prins Conceito de perigosidade: Congresso da União Internacional de Direito Penal (1890) Medidas especiais para indivíduos perigoso: reincidentes e criminosos profissionais 1910: detenção indefinida Penas + medidas de segurança Culpabilidade + perigosidade

4 Emergência do conceito de personalidade criminal A importância do saber dos peritos Pena individualizada Contributos positivistas no Direito Penal: - Noção de perigo na teoria da infracção - Novos domínios da sanção Ex. art. 160º do Código de Processo Penal

Teorias da personalidade criminal 5 Pressupostos: - Existem características de personalidade que distinguem delinquentes de não delinquentes - Estas características determinam o comportamento anti-social ou delinquente - Desenvolvimento das ciências do comportamento (psicologia) - Autores principais: De Greeff; Glueck; Fréchette; Gottfredson e Hisrchi, Pinatel

6 Abordagens diferenciais da personalidade criminal Teoria do Nó Central de J. Pinatel (1963-1991) Vol. III do Tratado de Direito Penal e Criminologia (1963) Diferença de grau entre delinquente e não delinquente Delinquente: maior aptidão para a passagem ao acto; específica estrutura: a personalidade criminal

7 Abordagens diferenciais da personalidade criminal Teoria do Nó Central de J. Pinatel (cont.) Traços da personalidade criminal Nó central egocentrismo labilidade agressividade indiferença afectiva determinam passagem ao acto - Variantes: actividade, aptidões físicas, intelectuais, técnicas, necessidades interferem na modalidade do acto

Abordagens diferenciais da 8 personalidade criminal Estudos sobre o delinquente crónico Estudos sobre reincidência E a delinquência ocasional? E a flutuação da delinquência com a idade? E a distribuição da delinquência pelo género?

Abordagens diferenciais da 9 personalidade criminal Os estudos de Farrington, Moffitt, Herrnstein, Gottfredson e Hirschi, Gorenstein, Fréchette e outros sobre delinquentes crónicos - Dificuldade no raciocínio abstracto, em conceber relações causaefeito não imediatas, a importância da recompensa imediata - Presentismo, o aqui e agora, incapacidade para reflectir no futuro - Desfasamento entre pensamento e acção, impulsividade - Incapacidade para adoptar o ponto de vista do outro, egocentrismo e sentimento de injustiça, hostilidade

Abordagens diferenciais da personalidade criminal Os estudos dos Glueck (1950) e as carências cognitivas - Lacunas educativas - Vigilância parental deficiente - Permissividade e inconstância - Rejeição pelos pais - Falta de vinculação aos pais

Análise do vivido do indivíduo Compreensão do sentido da transgressão na vida do indivíduo (tempo) Como se inscreve a transgressão na relação do indivíduo consigo, com os outros e com o mundo O sentido O quadro de referências A visão do mundo Valores e ética

12 E. De Greeff Domínio da Criminologia francófona entre 1935-1960 Médico e antropólogo na prisão de Louvain (desde 1926); professor e investigador de antropologia criminal na Univ. de Louvain (desde 1929) Forte crítico das teorias positivistas Compreender o delinquente a partir da forma como este se vê a si próprio

13 O delinquente não é qualitativamente diferente do não delinquente é quantitativamente diferente (intensidade de determinadas características ou traços psicológicos que levam à passagem ao acto) Compreensão do indivíduo à luz da sua história Conjunto de processos psicológicos, afectivos, sociais e culturais

Como aceder ao vivido do outro para o compreender? Como o conhecer sem o reduzir a um objecto?

15 Prática clínica Condições para o encontro com o outro: 1) Identidade fundamental entre mim e o outro 2) O outro é sempre diferente de mim específico quadro de valores, história, características

Objectivo: reduzir a zona de incomunicabilidade entre os homens A procura do sentido, o quadro de referências, a visão do mundo, os valores

Identidade e valores Homem é ser ambivalente Instinto de simpatia: aceitação total do outro, respeito do outro enquanto pessoa Instinto de defesa: conservação de si, sentimento de justiça e imputação de responsabilidade a outrem, na base da agressividade, redução do outro

A identidade constrói-se na integração destas duas tendências Tomada de consciência: estruturas afectivas + inteligência

Sentimento de injustiça sofrida Estrutura da personalidade + relevância da situação + interpretação O crime como acto de justiça, legitimado Existência de um código moral Relação com valores ética

A inserção no tempo O agir delinquente é um momento num processo Indivíduo prevê consequências e antecipa o futuro Vida moral

Estudo dos processos psicológicos dos homicidas A passagem ao acto desenvolve-se no tempo Estádios: 1) Assentimento ineficaz 2) Assentimento formulado 3) Crise Processo suicida Processo de reivindicação

Ch. Debuyst e a Teoria do Actor Social Crítica ao conceito de personalidade criminal Crítica aos modelos factoriais e multifactoriais Estabilidade dos traços de personalidade e negligência de outras variáveis (situacionais) Substituição do conceito de personalidade criminal pelo de situação ou posição que o indivíduo ocupa na sociedade

A importância das interacções entre indivíduos e entre estes e o grupo social Personalidade (sujeito) + meio + inter-relações Noção de actor social: sujeito que age e reage em função de um projecto, com ponto de vista próprio Outros actores: legislador, grupo social, vítima, outras instituições Delinquência: momento numa inter-relação difícil, momento de ruptura

Interpretação e análise do sentido do comportamento delinquente Delinquência como processo de interacção Inscrição do comportamento na dimensão temporal (história de vida) Reacção social e poder A transgressão perspectivada no tempo; processo com ou sem interrupções; 3 tipos de processos

Bibliografia Cusson, M. ( 2006). Criminologia. Cruz Quebrada: Casa das Letras/Editorial Notícias. Debuyst, C. (1994). Etienne De Greeff. Une analyse complexe du comportement délinquant. In: L. Mucchielli (dir.), Histoire de la Criminologie Française (p. 335-348). Paris: L Harmattan Dias, J. e Andrade, M. (1992). Criminologia. Coimbra: Coimbra Editora. Gassin, R. (1994). Criminologie. Paris: Éditions Dalloz.