Revista Brasileira de História das Religiões.

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DISCURSOS EM BRANCO E PRETO: O PAPEL DA ÁFRICA, AFRICANOS E DESCENDENTES NO BRASIL NA CONSTRUÇÃO DA UMBANDA, NOS CONFLITOS ENTRE OS MEMBROS DA FACULDADE TEOLÓGICA DE UMBANDA FTU E O COLÉGIO DE UMBANDA SAGRADA PAI BENEDITO DE ARUANDA CUSPBA Thiago Coelho Silva. Universidade Federal da Grande Dourados. thiagopfe@yahoo.com.br Este artigo faz parte de uma pesquisa de iniciação científica que se encontra em andamento, buscando perceber os movimentos históricos (CHARTIER, 1986) i a partir de modos de fazer (práticas) e modos de ver (representações). Por muito tempo diversas vozes foram abafadas pela existência de determinados conceitos que regiam o comportamento da sociedade. Por muitas vezes as assombrações destes conceitos parecem continuar abafando o que muito precisa ser dito. De diversas formas as manifestações que são produções da cultura humana solicitam a presença de discursos que façam sentido para a construção de abordagens que focalizem o conhecimento sobre a vida e o cotidiano. Os meios de comunicação por muito tempo permaneceram alheios a diversas realidades, a melhor forma de se ter acesso ao conhecimento em tempos antigos foi a oralidade. Mas, diversos temas perdiam espaço para o preconceito na vida do orador. Da mesma forma na atualidade os meios de comunicação mais acessíveis são controlados por diversas instancias que prolongam a permanência de preconceitos na sociedade. Todas estas realidades agora perdem um pouco de seu espaço com as novas formas de comunicação, que adquirem características abertas voltadas para uma abrangente forma de repercussão de diálogos. A internet tem tomado um espaço amplamente notável nos meios de comunicação vinculando assim muitos debates que até então não eram tão bem conhecidos. Os fenômenos religiosos não ficam atualmente retidos em espaços reservados, exemplos desta realidade pode-se observar na utilização por parte das agencias religiosas dos meios de comunicação, principalmente a internet. O que estava restrito a marginalidade, a lugares ocultos tanto por características próprias como preconceito social, passa a ter espaço para expor seus pensamentos,

idéias e opiniões, tudo isso proporcionado pela internet. É exatamente isto que ocorre com a Umbanda, que vem utilizando deste espaço para fazer-se conhecida dentro da sociedade como componente da cultura a qual pertence. Com este direito a Umbanda abandona de certa forma a escuridão de sua condição para estar em contato com os diálogos que formam o conhecimento da vida da sociedade. Mas que tipo de discurso a Umbanda produz? É a analise destes discursos que nos propomos nesta pesquisa para a melhor compreensão da contribuição que a Umbanda tem feito para o conhecimento. A Umbanda já algum tempo vem sendo estudada por alguns pesquisadores que lançaram as bases de um estudo mais sistematizado para a melhor compreensão da importância de seu papel na cultura brasileira (NEGRÃO,1985; BRUMANA & MARTINEZ, 1991) ii. Mas, é fundamental o reconhecimento das novas posições assumidas por esta religião nos tempos atuais, o caráter anárquico da Umbanda vem se refletindo em diversas posições tomadas perante a sociedade. Para compreendermos estas posições faz-se necessária a análise de um dos campos em que grupos adeptos da Umbanda vêm se manifestando: um deles a internet. São inúmeras as federações Umbandistas que a muito procuram uma unidade entre terreiros, busca esta que vem sendo fadada ao fracasso pela característica de autonomia de cada terreiro (NEGRÃO,1985). Dentro desse universo dois grupos buscam uma legitimação da Umbanda perante a sociedade. Eles vêm promovendo um debate entre si sobre as diferentes formas que interpretam a religião Umbandista, através da internet. O estudo deste embate pode nos ajudar a perceber realidades importantes de alguns grupos seguidores da Umbanda e, por conseguinte da sociedade brasileira, que como afirmam Brumana e Martinez a Umbanda é um microcosmo da cultura brasileira e, que ela diz sobre a realidade brasileira e não diz pouco (1991, p. 143) iii. Pesquisas constataram a existência de grupos umbandistas que para uma maior aceitação social extraíram de sua constituição a matriz africana (ORTIZ, 1978 iv ; DANTAS, 1988 v ; SÁ JUNIOR, 2004 vi ). Influenciados pelo cientificismo europeu do século XIX e início do XX, buscaram construir um modelo religioso, negando as suas influências africanas e de seus descendentes. Sá Junior afirma que 2

Seguindo as propostas eugenistas, de embranquecimento racial, caberia aos intelectuais desses grupos praticantes, adequá-las aos seus propósitos. Era preciso embranquecer a macumba; extrair dela o que de negro houvesse. Seria preciso inventar a Umbanda. Essa seria adjetivada de branca ou pura (2004, 61) vii. O maior representante desse grupo de intelectuais umbandistas foi W. W. da Matta e Silva. Autor de diversos livros sobre a temática umbandista viii Pai Matta, como era conhecido, procurou desqualificar o papel de africanos e descendentes na constituição da referida religião (SILVA, 1996) ix. Passados mais de 40 anos da produção inicial desse grupo, uma nova realidade se apresenta. O discípulo mais próximo de Matta e Silva, Francisco Rivas Neto, que na época comungava com a exclusão do continente africano na construção da Umbanda e, por conseguinte, na formação desse aspecto da cultura brasileira, hoje está à frente de uma instituição de ensino superior: a Faculdade Teológica de Umbanda FTU. Aprovada para funcionar pelo Ministério da Educação MEC, ela já vem funcionando como IES desde o ano de 2004 x e já formou a sua primeira turma de teólogos em Umbanda em 2008. É nessa nova seara que a pesquisa se desenvolve. Nela, busca se compreender como a participação de africanos e descendentes estão colocadas na FTU tendo em vista o avanço nas lutas pelos direitos desses grupos xi. Buscando dialogar e contribuir, esse trabalho de iniciação científica procura desenvolver uma abordagem complementar. Para tal é realizado uma análise dos discursos de dois grupos pela disputa do domínio da doutrina umbandista. De um lado, o grupo de Rivas Neto e, por outro, o liderado por Rubens Saraceni. Esse segundo grupo fundou uma instituição de ensino intitulada Colégio de Umbanda Sagrada Pai Benedito de Aruanda - CUSPBA. Como há um confronto de idéias, expostas em grupos de debates que se desenvolvem na internet - como o grupo os guerreiros do axé -, a pesquisa analisa como o papel da África e dos afro-brasileiros estão representados nesses discursos. Como o embate se faz, muitas vezes, de forma muito acalorada, muitos elementos são expressos sem os cuidados que os textos politicamente corretos possuem. É assim, que em relação ao papel da opinião pública sobre declarações de um intelectual umbandista na internet é colocado: 3

Apesar de 80% da população ser católica, 100% dos telespectadores, audientes ou leitores dos veículos e meios de comunicação massiva do Brasil são influenciados pelo que a mídia faz parecer. Entenda: a exposição midiática de uma mensagem adquire desdobramentos de proporções incalculáveis, de acordo com o contexto em que estão inseridas. Assim, um representante da FTU pode sim ser analogicamente comparado a uma bomba atômica explodindo no peito do movimento umbandista. Salve-se quem puder! Em tempo: formar opinião tem um sentido bem mais amplo do que foi pontuado. Só para se ter uma idéia, a título de exemplo: o ponto de vista de um professor de relações internacionais, convidado para um programa de entrevistas na televisão, a respeito de um determinado hábito incomum das mulheres árabes mulçumanas produz opinião para todos que lhe assistem, inclusive aos 80% de católicos e aos 20% restantes. A partir dessa lógica, espero poder estar indicando a hecatombe que pode derivar da exposição de qualquer assunto relacionado a Umbanda feito por um representante da FTU.(21.02.2005 Sandro Torrês) Do outro lado um texto postado em um sítio eletrônico xii escreve: [...] agora vou chamar a atenção de vocês para que não leiam não percam o precioso tempo de vocês com um escritor e seus livros 'já que me recuso a chamar de obra só se for obra do demo e o pior é que é, estou falando aqui do Sr. Rubens Saraceni,, este sim e um marionete do baixo astral e não quer sair das garras da manipulação do bruxedo, seus livros tentam fazer uma lavagem cerebral, a partir do momento que você lê uma linha! pronto, esta frito. É nesse cenário que tentamos verificar se a presença de sociedades africanas na composição da Umbanda aparece de forma positiva ou representam, como outrora, elementos que contribuem como categoria de acusação entre esses e outros grupos que se arvoram a paternidade umbandista. Notas i CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações.rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1986. ii NEGRÃO, Lísias Nogueira. Entre a Cruz e a Encruzilhada. São Paulo: EDUSP, 1996; BRUMANA, Fernando G. & MARTINEZ, Elda G. Marginália Sagrada. Campinas: Ed. da Unicamp, 1991. iii BRUMANA, Fernando G. & MARTINEZ, Elda G. Marginália Sagrada. Campinas: Ed. da Unicamp, 1991 iv ORTIZ, Renato. A morte branca do feiticeiro negro. Rio de Janeiro: Vozes, 1978. v DANTAS, Beatriz Góis. Vovó nagô e papai branco. Rio de Janeiro: Graal, 1988. 4

vi SÁ JUNIOR, Mario Teixeira de. A invenção da alva nação umbandista: a relação entre a produção historiográfica brasileira e a sua influência na produção dos intelectuais da Umbanda (1840-1960). Dissertação (Mestrado em História). Dourados: UFMS, 2004 vii SÁ JUNIOR, Mario Teixeira de. A invenção da alva nação umbandista: a relação entre a produção historiográfica brasileira e a sua influência na produção dos intelectuais da Umbanda (1840-1960). Dissertação (Mestrado em História). Dourados: UFMS, 2004 viii MATA E SILVA, W.W. A Umbanda de Todos Nós. São Paulo: Ícone, 1996.; Lições de Umbanda e Quimbanda na Palavra de Um Preto Velho. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1995; Macumbas e candomblés na Umbanda. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1977. ix MATA E SILVA, W.W. A Umbanda de Todos Nós. São Paulo: Ícone, 1996 x Informações obtidas no endereço eletrônico www.ftu.edu.br. Capturadas em Fevereiro de 2010. xi Por exemplo Leis como a apelidada de Caó, [7.716/1989 que classifica de crime as práticas racistas], e a Lei 10.639/2003 [que institui nas Diretrizes Curriculares Nacionais a obrigatoriedade de disciplinas referentes ao continente africano e sua influência na construção da sociedade brasileira, são exemplos desse novo cenário sócio-político brasileiro], xii http://geociti.es/augusta/3589/7-umb_livros-18.htm captado em 12 de fevereiro de 2010. 5