Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, Senhores Ouvintes e Telespectadores,

Transcrição

1 1 Discurso pronunciado pelo Deputado João Mendes de Jesus (PSL-RJ), em / /2005. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, Senhores Ouvintes e Telespectadores, Hoje é o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, um dia muito importante para os brasileiros de origem africana, principalmente àqueles que se autodefinem ou são definidos como negros, pardos, mulatos, cafuzos e mamelucos. Todas essas definições, na verdade, são fraudes, verdadeiras ignomínias, infâmias, desonras, bem como formas cruéis de determinar o que um ser humano é ou deixa de ser por intermédio de sua raça, ou pior, de sua cor. Porque cor e raça são palavras de significados distintos e por isso não convém aos ignorantes, aos preconceituosos, aos racistas, procederem de uma forma arrogante, prepotente e cruel, com o propósito de manter o status quo, retratado nos poderes político, econômico e social.

2 2 O homem e a mulher negros, Senhor Presidente, estão presentes no mundo inteiro. Sua cultura (dança, música, vestuário, artesanato, artes plásticas, literatura, esportes, gastronomia, conhecimentos medicinais, religiões, dentre outros incontáveis itens do conhecimento) enriqueceu o universo humano e alavancou a luta por uma democracia multirracial, por meio da tolerância das diferenças, não as humanas mas sim as culturais. Porque as diferenças humanas não existem. O homem e a mulher são os mesmos. Sentem dor, amor, fome, raiva, alegria, tristeza e ficam doentes. As necessidades básicas, essenciais, não têm raça, nem credo e muito menos ideologia. Nós todos, independente da cor da pele, pertencemos a uma espécie a espécie humana. Nós, seres humanos, somos da espécie humana, com pouquíssimas diferenças, que são as diferenças culturais e sociais. Apenas isso. Aqueles que querem tripudiar, com

3 teorias sem base científica e simploriamente preconceituosas deveriam se envergonhar, se olhar no espelho e perceber que a espécie humana é uma só, que navega no mesmo barco e ocupa o mesmo lugar, que é o planeta Terra. Aqueles que insistem em criar problemas para que todos os homens e mulheres tenham direito a uma vida de melhor qualidade, com o objetivo de manter seus privilégios econômicos e financeiros, por meio de preconceitos raciais e sociais que se apresentem e não se escondem quando de seus pensamentos violentos e, portanto, desumanos. Senhor Presidente, Senhores Deputados, a questão da violência, da pobreza e do racismo está intrinsicamente ligada aos mais de 350 anos de escravidão e à concentração de renda e de terras. Se torna imperativo realizar a distribuição de renda e de terras, equacionar os impostos, diminuir os tributos, criar empregos e exigir um novo reescalonamento das dívidas públicas. Basta o Governo ter coragem, disposição e, por 3

4 intermédio desse processo, levantar recursos para combater a criminalidade, a ignorância e a miséria, ingredientes demoníacos do racismo. Quem discorda, de maneira superficial do que eu falo, é porque não conhece os ditames seculares do racismo e nem se permite adquirir conhecimento, informação sobre a questão. Não há nada mais cruel do que milhões de meninos e meninas, rapazes e moças terem seus sonhos de melhoria de vida barrados por causa da cor de suas peles. Quem desconhece o que eu digo procure conhecer os guetos, os morros e as periferias e assim verá, inapelavelmente, o que a sociedade hegemônica deixou para os herdeiros dos escravos. Para confirmar o que foi dito, necessário se torna falar sobre o relatório divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) que mostra que, de 1982 a 2003, a proporção de negros entre os pobres e indigentes do Brasil praticamente não teve alteração. Observe-se que 21 anos 4

5 depois as elites brasileiras, herdeiras dos senhores de escravos, não cumpriram com suas responsabilidades e obrigações, mesmo após a redemocratização do País. Como em 1982, o percentual de negros em 2003 entre os pobres se manteve em 65% e entre os indigentes o percentual se manteve em 70%. Para o demógrafo Eduardo Rios Neto, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG, um dos autores do Atlas do Pnud, a raça é a dimensão estrutural da pobreza e da indigência e por isso a mais difícil de solucionar. O demógrafo disse ainda que mesmo quando houve planos que distribuíram alguma renda, como o Plano Cruzado de 1986, a situação social e econômica da população negra não melhorou. Rios Neto afirmou também que a pobreza não é exclusiva dos negros, mas aparece em suas vidas com maior intensidade. O Atlas informa que brancos e negros de mesma escolaridade não recebem salários iguais. A renda dos negros é menor, uma prova 5

6 inquestionável de que a discriminação racial explica e reflete as desigualdades no nosso País. A desigualdade, entre cidadãos brasileiros, retrata, cristalinamente, o racismo nas relações de trabalho no Brasil e, por conseguinte, em todas relações sociais. O racismo aprofunda as desigualdades e a sociedade brasileira o institucionalizou, bem como o estado nacional. Outro fator que colaborou para a situação da população negra não ser condizente com sua importância como trabalhadora e por isso geradora de riquezas é sua condição de escrava no passado. Foram mais de 350 anos de escravidão, o que prejudicou, sobremaneira, os descendentes de afro-brasileiros, que, como seus antepassados, não tiveram acesso à terra e por isso tiveram de ocupar os morros e as periferias, onde hoje acontece toda modalidade de crime. Além disso, os negros não tiveram acesso à educação e à saúde de boa qualidade, fazendo com que essa parcela da nossa sociedade tenha em média cinco 6

7 anos de vida a menos que a parcela branca. Quanto à educação, o homem e a mulher negros estudam em média seis anos a menos. Este é o nosso País, que prefere ficar preso em condomínios e carros blindados do que desconcentrar a renda, a terra e as riquezas geradas pelos trabalhadores, brancos e negros. Existe somente uma espécie: a espécie humana. Definição de raça é racismo. É tudo o que eu tenho para dizer, Senhor Presidente. Muito Obrigado. 7