VISÃO MORAL DE PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E A HUMANIZAÇÃO EM REDE

Documentos relacionados
Atenção Básica: organização do trabalho na perspectiva da longitudinalidade e da coordenação do cuidado

Política Nacional de Atenção Básica. Portaria nº 648/GM de 28 de Março de 2006

ATENÇÃO BÁSICA. A produção do cuidado em Rede MARÇO/ 2017

I-Política de ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE 1) Como é definida? * Um conjunto de ações em saúde (amplas, complexas que abrangem múltiplas facetas da realida

Regionalização e Rede de Atenção à Saúde: CONCEITOS E DESAFIOS. Jorge Harada

O papel da Secretaria de Estado da Saúde no apoio e na articulação dos municípios para qualificar a Atenção Básica no Estado de São Paulo

Exemplos de integração socio -sanitárias em atenção básica: a experiência de São Paulo. Carmen L. A. de Santana

Oficina Processo. de Trabalho na. Atenção Básica

Linhas gerais e desafios da Política Nacional da Atenção Básica. Setembro, 2012

Oficina Processo. de Trabalho na. Atenção Básica

Integração Atenção Básica e Vigilância em Saúde

Gestão da Atenção Especializada e articulação com a Atenção Básica

POLÍTICAS PÚBLICAS. a) Mortalidade infantil b) Saúde do idoso c) Mortalidade materna d) Doenças emergentes e endêmicas e) Mortalidade por câncer.

ENFERMAGEM DEPENDÊNCIA. ALCOOLISMO Aula 5. Profª. Tatiane da Silva Campos

PROCESSO SELETIVO PÚBLICO Nº 001/2018 CADERNO DE QUESTÕES. 2 de 6 ASSINATURA PREFEITURA MUNICIPAL DE DIVISA NOVA ESTADO DE MINAS GERAIS

ANEXO 2 TEMÁTICAS E CATEGORIAS DAS EXPERIÊNCIAS

AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE AULA 5

As atribuições dos profissionais das Equipes de Saúde da Família, de saúde bucal e de acs

PSICOLOGIA, SISTEMA ÚNICO DE SAUDE E DIREITOS HUMANOS: RELATO DE UMA PSICÓLOGA SOBRE SUA ATUAÇÃO PROFISSIONAL.

NOTA TÉCNICA 41 /2012. Institui a Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Acolhimento Luana Gabriele Nilson. 20 de janeiro de 2016

POLÍTICAS PÚBLICAS ATENÇÃO PRIMÁRIA A SAÚDE

Introdução

Construção da Linha Regional de Cuidado do Sobrepeso e Obesidade. Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN/DAB/SAS) Ministério da Saúde

Linha de Cuidados. Mila Lemos Cintra

Articulação das Regiões de Saúde: definição de responsabilidades e compromissos dos Entes Federados

PARECER CREMEC N.º 26/ /12/2013

Possibilidades e desafios

Princípios da Rede de Atenção Integral: da Clínica Ampliada e Atenção Psicossocial à Responsabilidade e Co-responsabilização

CONGRESSO DE SECRETÁRIOS MUNICIPAIS DE SAÚDE DE SÃO PAULO. Implicações na prática da Assistência à Saúde no SUS. Mar/2012

Nenhum de nós é tão bom quanto todos nós juntos

Redes de Atenção à Saúde. Profa. Fernanda Barboza

O Núcleo de Apoio à Saúde da Família e suas funções na ABS

Panorama das Redes de Atenção à Saúde.

O Programa Saúde da Família nasceu oficialmente no Brasil em1994, fundamentado em algumas experiências municipais que já estavam em andamento no

Redes de Atenção à Saúde no SUS Adriano de Oliveira DARAS/SAS/MS

REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE

A Gestão do Cuidado e dos Serviços de Saúde

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DE VOLTA REDONDA DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA PROJETO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO

Secretaria da Saúde abre inscrições do Projeto QualificaAPSUS Ceará para os municípios do Estado

ENFERMAGEM ATENÇÃO BÁSICA E SAÚDE DA FAMÍLIA. Parte 2. Profª. Lívia Bahia

INTEGRALIDADE NO ATENDIMENTO AOS TRABALHADORES ACIDENTADOS DE TRABALHO: DIAGNÓSTICO E ESTRATÉGIAS PARA UMA INTERVENÇÃO COMPARTILHADA

IMPLEMENTAÇÃO DA REDE DE ATENÇÃO ÀS URGÊNCIAS/EMERGÊNCIAS RUE

Implementação dos Dispositivos do Decreto 7508/11

QUESTÕES DE RESIDÊNCIAS USP e UFPR 2018

ATUAÇÃO DO NUTRICIONISTA NO NASF: TEORIA E PRÁTICA

ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA. Carlos Leonardo F. Cunha

NASF e PAIF/CRAS: a contribuição de cada serviço para a garantia dos direitos. Débora Martini

SAMU: A importância do atendimento ao paciente e da regulação

MÓDULO 2 PROCESSO DE TRABALHO COLABORATIVO EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA CELINA RAGONI DE MORAES CORREIA / CAROLINA CARDOSO MANSO

ENFERMAGEM ATENÇÃO BÁSICA E SAÚDE DA FAMÍLIA. Parte 1. Profª. Lívia Bahia

Projeto Implantação de Linha de Cuidado: Distúrbio de Voz Relacionado ao Trabalho DVRT. Rede e Linha de Cuidado

Núcleo de Atenção Integral na Saúde da Família. Coordenação da Política Nacional de Promoção da Saúde/SE Coordenação de Gestão da Atenção Básica/SAS

REFERENCIAL PARA A GESTÃO DO CUIDAR. Prof. Dr. Pedro Marco Karan Barbosa - FAMEMA -

Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo Dr. Sebastião de Moraes - COSEMS/SP CNPJ / CARTA DE ARARAQUARA

Atenção Básica na Atenção Integral à Saúde da Criança. PMAQ Processo de trabalho ofertas para o cuidado

INSERÇÃO DA TEMÁTICA SAÚDE DO TRABALHADOR NO PROCESSO DE TRABALHO DA EQUIPE DE TÉCNICOS DO DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE

Integração das ações da Atenção Primária e da Vigilância em Saúde Rodrigo Said Subsecretaria de Vigilância e Proteção à Saúde

ATENÇÃO A SAÚDE. Seminário Nacional do Pró Saúde e PET Saúde. Brasília, 19 de outubro de 2011

NASF AB e o cuidado ampliado Fernanda Reis Julho/2018

O Apoio Matricial do Farmacêutico no NASF. Noemia Liege Maria da Cunha Bernardo

Luis Correia/PI, 05 de setembro de 2018

Saúde Mental: Interação entre o NASF e as equipes de Saúde da Família. Psic. Marcelo Richar Arua Piovanotti

ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (APS) SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF)

Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica - Nasf AB -

Lei 8.080/90 Lei Orgânica da Saúde

MINISTÉRIO DA SAÚDE SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE

PORTARIA Nº XX, de XX de xxxxxxx de 201X. O SECRETÁRIO MUNICIPAL DE SAÚDE, no uso de suas atribuições,

HUMANIZAÇÃO NO ATENDIMENTO À SAÚDE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1

Políticas públicas e gestão de serviços de saúde

ENFERMAGEM LEGISLAÇÃO EM SAÚDE

REDES ASSISTENCIAIS. Fragmentação da Atenção Conflitos de Condutas e Iatrogenia. Des-responsabilização. Ações Individualizantes

MINISTÉRIO DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA NATAL/RN ABRIL/2018

POLÍTICA NACIONAL DE INTERNAÇÃO DOMICILIAR

Manejo da Saúde Mental na Atenção Primária/Básica 80% da demanda de sofrimento psíquico pode (e deve) ser manejado na A.P. Envolve mais do que a Doenç

Estratégia Saúde da Família e a agenda de fortalecimento da Atenção Básica

Curso Especialização em Saúde Pública

O PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR NA ABORDAGEM DE CASOS COMPLEXOS

ARTIGOS. INTEGRALIDADE: elenco de serviços oferecidos

Alexandre de Araújo Pereira

APOIO MATRICIAL COMO FERRAMENTA PARA INSERÇÃO DA SAÚDE DO TRABALHADOR NA ATENÇÃO BÁSICA DO MUNICÍPIO DE BETIM/MG

Interação-ensino-serviço-comunidade: uma proposta inovadora na educação do trabalho em saúde, no município de Porto Seguro, BA.

Aracaju. Avanços e Desafios da Saúde da Família no município de Aracaju: a experiência do Modelo Saúde Todo Dia

Integração Atenção Básica e Vigilância em Saúde. Priscilla Azevedo Souza DAB/SAS/MS

O Desafio da Clínica na Estratégia Saúde da Família

ATENÇÃO BÁSICA : Um olhar para a Saúde do Trabalhador

SICA: Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) Prof. Walfrido K. Svoboda

04/10/2016. Relatório Dawson Atenção Primária à Saúde. Declaração de Alma-Ata Atenção Primária à Saúde Declaração de Alma-Ata

INTEGRAÇÃO ENTRE ATENÇÃO BÁSICA E REDE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

XXVI CONGRESSO DE SECRETÁRIOS MUNICIPAIS DE SAÚDE DE SÃO PAULO REDES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA NO SUS

Residência Multiprofissional em Saúde Redes de Atenção à Saúde

Estratégia Saúde da Família e a agenda de fortalecimento da Atenção Básica

AMQ é um projeto inserido no contexto da institucionalização da avaliação da Atenção Básica

TÍTULO DA PRÁTICA: CÓDIGO DA PRÁTICA:

Coordenação-Geral de Atenção Domiciliar/DAB/SAS/MS

ENFERMAGEM ATENÇÃO BÁSICA E SAÚDE DA FAMÍLIA. Parte 3. Profª. Lívia Bahia

Integração Atenção Básica e Vigilância em Saúde

O SUS como cenário de prática e o COAPES como dispositivo de fortalecimento da integração ensino serviço.

GESTÃO DA MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE NO SUS PARA ALÉM DOS REGISTROS DE ALTA INCORPORAÇÃO DE TECNOLOGIA MÉDICA

III Seminário PET-GraduaSUS / VERSUS / Residência Centro de Ciências da Saúde CCS

Transcrição:

XVIII ENCONTRO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE: DIMENSÕES DA QUALIDADE NA APS Juiz de Fora (MG) VISÃO MORAL DE PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E A HUMANIZAÇÃO EM REDE José Roque Junges PPG de Saúde Coletiva da UNISINOS São Leopoldo, RS

CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ÉTICA ÉTICA: Princípios e Valores / Moral: Regras e deveres/direitos (Códigos de moral profissional) Ordem da Intenção:Valores / Consciência: Autonomia/liberdade ORDEM DA EXECUÇÃO (resultados): Bens / Ambiente: Responsabilidade (Ordem jurídica/ sanção legal) ÉTICA PROCEDIMENTAL e Ética de atitudes ÉTICA UTILITARISTA (consequências) e Ética deontológica (direitos ou deveres) Paradigma Principialista ou CASUÍSTICO Diferença entre Conflitos/Dilemas éticos: em geral solução dicotômica e DESAFIOS/PROBLEMAS ÉTICOS: VÁRIOS CURSOS DE SOLUÇÃO. Conflitos e Dilemas em geral estão ligados ao uso de tecnologias. Desafios e problemas são mais CONFIGURADOS PELO CONTEXTO. Conflitos e dilemas em geral pedem uma consulta às normas jurídicas para encontrar a solução e por isso pedem muitas vezes a presença de experts. Problemas e desafios exigem o caminho ético da discussão, deliberação e planejamento desenvolvido em grupo. Problemas éticos pedem DELIBERAÇÃO e Desafios éticos apontam para o PLANEJAMENTO. Necessidade de uma ÉTICA HERMENÊUTICA no equacionamento dos problemas e desafios éticos na atenção básica.

ÉTICA HERMENÊUTICA Modelos de ética para a bioética: deontologismo kantiano (criticismo apriorístico) ou consequencialismo utilitarista (pragmatismo aposteriorístico) Modelo da Ética hermenêutica (J. Conill 2006): conjugar criticidade e facticidade Conill parte de uma interpretação heideggeriana de hermenêutica: a tarefa de desmontar a interpretação dominante e herdada, de manifestar os motivos ocultos, de destapar as tendências e os caminhos de interpretação, não sempre explicitados, de remontar-se às fontes originárias que motivam toda explicação por meio de uma estratégia de desmontagem (Heidegger, Interpretaciones fenomenológicas sobre Aristóteles[Informe Natorp] 2002, p. 51 apud Conill, p. 96).

Perspectiva da Atenção Básica Conjunto de ações de saúde no âmbito individual e coletivo que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde Desenvolver atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades Exercício de práticas de cuidado e gestão, democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios definidos pelas quais assume a responsabilidade sanitária

Perspectiva da Atenção Básica Centralidade na família Serviço de primeiro contato Responsabilid ade longitudinal e vínculo Competência cultural Atenção Básica Adscrição territorial Orientação para a comunidade Responsabilida de pela coordenação Integralidade do cuidado STARFIELD 2002; GIOVANELLA, MENDONÇA 2008

Eixos da Atenção Básica Necessida des de saúde Território Processos de trabalho

Problemas éticos da Atenção Básica NECESSIDADES DE SAÚDE TERRITÓRIO: PLANEJAR ATENÇÃO BÁSICA PROCESSOS DE TRABALHO: DELIBERAR GESTÃO / RAS

PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS SOBRE A OCORRÊNCIA DE PROBLEMAS ÉTICOS NA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE Pesquisa Quanti/Quali: Construção e validação de um instrumento de avaliação da ocorrência de problemas éticos na atenção básica e discussão sobre seus cursos de solução. Origem do questionário: Zoboli ELCP, Fortes, PAC. Bioética e atenção básica: um perfil dos problemas éticos vividos por enfermeiros e médicos do Programa Saúde da Família, São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública. 2004. 20 (6): 1690-1699.

PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS SOBRE A OCORRÊNCIA DE PROBLEMAS ÉTICOS NA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE Etapa Quanti: Estudo transversal através da aplicação de um questionário testado de 41 problemas aos 237 profissionais (total 250) das 12 unidades de saúde comunitária do Grupo Hospitalar Conceição, uma instituição pública federal do Ministério da Saúde de referência no atendimento do Sistema Único de Saúde e reconhecida nacionalmente como a maior rede pública de hospitais do Sul do país, com atendimento 100% SUS. Etapa Quali: Tendo presente os problemas éticos reunidos em 6 dimensões que emergiram da análise fatorial organizar grupos de discussão focal com 6 unidades sobre os cursos de solução para esses problemas.

PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS SOBRE A OCORRÊNCIA DE PROBLEMAS ÉTICOS NA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE METODOLOGIA QUANTI 1) Testar a compreensibilidade do questionário: Painel de 10 profissionais com expertise em Atenção Básica do município de São Leopoldo (RS) indicados pela Secretaria da Saúde Método Delphi: diversas rodadas até chegar a um consenso sobre a formulação/redação do problema 2)Testar a confiabilidade/fidedignidade do questionário, aplicado a 237 profissionais do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) de Porto Alegre. Análises estatísticas: análise de componentes principais e análise fatorial.

PROBLEMAS ÉTICOS GESTÃO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA: Evidencia-se como principal causador de problemas éticos. LONGITUDINALIDADE: Relação que se estabelece ao longo do tempo entre os usuários e o profissional da equipe. PRÁTICA EM EQUIPE: Dificuldade de superar a fragmentação do trabalho e construir uma prática interdisciplinar. PERFIL PROFISSIONAL: Discute-se a necessidade de possuir o perfil adequado para trabalhar na atenção primária e como o tipo de formação influencia nesse perfil. PRIVACIDADE E SIGILO PROFISSIONAL: Principio ético da privacidade e a necessidade da manutenção do sigilo profissional.

RESULTADOS Problemas éticos Gestão Logitudinalidade problema 40,804 problema 39,791 problema 41,766 problema 37,700 problema 38,680 problema 33,671 problema 8,755 problema 17,683 problema 25,626 Prática das Equipes problema 5,563,382 problema 23,768 problema 22,324,678 problema 24,349,626 problema 21,539 problema 4,778 problema 2,694 problema 3,412,668 Perfil Profissional Privacidade Sigilo problema 12,826 problema 10,324,764 problema 13,593 problema 27,834 problema 30,601 problema 20,322,581 problema 16,354,319,528

DIMENSÕES AGREGADORAS DOS PROBLEMAS ÉTICOS Gestão Sigilo Longitudinalidade 6 Dimensões Centrais Privacidade Práticas das Equipes Perfil Profissional

PROBLEMAS ÉTICOS DA GESTÃO DA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE QUESTIONÁRIO 33 Há um excesso de famílias adscritas para cada equipe da ESF. 37 Há dificuldades no sistema de referência e contra referência para a realização de exames complementares. 38 Há dificuldades quanto ao retorno e à confiabilidade dos resultados dos exames laboratoriais. 39 A UBS não oferece às equipes de saúde da família as condições para apoiar a realização de visitas domiciliares. 40 A UBS não tem condições para realizar atendimentos de urgência. 41 Não há retaguarda de serviço de remoção, na UBS. DISCUSSÃO FOCAL 1) Gestão da demanda: encaminhamento no sistema (referência / contra referência) 2) Gestão da equipe de saúde: rotatividade dos profissionais 3) Gestão da intersetorialidade

GESTÃO DA ATENÇÃO BÁSICA Indissociabilidade entre atenção e gestão/deliberar e planejar Mendes (2002) preconiza que a ABS deve cumprir 3 funções: 1) assumir o papel resolutivo, intrínseco à sua instrumentalidade como ponto de atenção, 2) resolver a maioria dos problemas de saúde da população, organizando todo sistema de referência e contra referência nos diversos pontos de atenção e 3) responsabilizar-se pela saúde das pessoas em quaisquer pontos de atenção que se encontrem. Portanto percebe-se que autor defende que a ABS é o centro responsável pela articulação dos diversos pontos de atenção dos prestadores de cuidados dentro e fora do setor saúde. Essa articulação é um desafios éticos primordiais da gestão Por outro lado, a execução dessas tarefas são também moduladas em sua geração e solução pelas condições de trabalho e pela cultura organizacional através da implementação de estratégias de discussão e engajamento dos profissionais para fomentar um ambiente de cogestão, coparticipação democrática e corresponsabilidade sanitária (Campos 2005)

PROBLEMAS ÉTICOS DO CUIDADO LONGITUDINAL QUESTIONÁRIO 5 Os profissionais prescrevem medicamentos que o usuário não terá dinheiro para comprar. 8 Os profissionais sentem-se impotentes para convencer o usuário a dar continuidade ao tratamento. 17 Usuários se recusam a seguir indicações médicas ou a fazerem exames. 25 É difícil definir, na prática, o papel e as responsabilidades de cada profissional da ESF. DISCUSSÃO FOCAL 1) Responsabilidade vínculo 2) Acolhimento cuidado 3) Autonomia autocuidado: educação em saúde 4) Ampliação do olhar (família, contexto, vizinhança, comunidade): determinantes sociais

CUIDADO LONGITUDINAL Acompanhamento do usuário ao longo do tempo por um médico generalista ou por uma equipe local. Isso exige três elementos: existência e reconhecimento de um fonte regular de cuidados de atenção básica; estabelecimento de vínculo terapêutico duradouro do usuário com a equipe; continuidade informacional (Starfield ) A atenção básica necessita desenvolver verdadeira clínica Clínica ampliada da atenção básica e a Clínica de procedimentos padronizados do hospital Produção de saúde é sempre produção de subjetividade Clínica ampliada é uma superação da excessiva medicalização das práticas de saúde: tudo se reduz a medicamentos e procedimentos médicos Clínica do sujeito: - nova dialética entre sujeito e doença - itinerários terapêuticos pactuados com o usuário - coprodução singular de saúde e doença. Como conjugar saúde coletiva e ampliação da clínica

QUESTIONÁRIO PROBLEMAS ÉTICOS DA PRÁTICA EM EQUIPE 21 Os profissionais das equipes de ESF atuam com falta de compromisso e envolvimento. 22 As equipes de saúde da família não colaboram umas com as outras. 23 Existe falta de respeito entre os membros da equipe da ESF. 24 Os profissionais da equipe não apresentam perfil para trabalhar na ESF. DISCUSSÃO FOCAL 1) Construir metas e pactuações (cultura organizacional) 2) Resolver conflitos e tensões (reuniões periódicas) 3) Cuidado dos cuidadores

PRÁTICA EM EQUIPE Responsabilidade clínica (deliberação) e sanitária (planejamento) compartilhada construída no coletivo profissional. Campos aponta o quanto a clínica é uma instituição importante e influente, mas que a cada dia percebe-se sua relação com os sujeitos como sendo pautada por crescente alienação, afastamento, desinteresse, fixação em procedimentos técnicos padronizados, dificuldade para escutar queixas, impossibilidade de comunicar qualquer coisa além da sequência automática de procedimentos. (Campos, 2003) A dificuldade do trabalho em rede, as características da própria legislação e os problemas de ordem organizacional e gerencial contribuem para a fragmentação da atenção e uma consequente responsabilização clínica insuficiente e inadequada, fazendo com que os profissionais reduzam seu objeto de trabalho ao invés de se responsabilizarem pelas pessoas de uma forma global. (Cunha e Campos, 2011)

PROBLEMAS ÉTICOS LIGADOS AO PERFIL DO PROFISSIONAL PARA A ATENÇÃO BÁSICA QUESTIONÁRIO 2 A equipe da ESF pré-julga os usuários e familiares com base em preconceitos e estigmas. 3 O profissional trata o usuário com falta de respeito. 4 Os profissionais fazem prescrições inadequadas ou erradas. DISCUSSÃO FOCAL 1) Gostar e saber trabalhar em equipe 2) Disponibilidade a resolver os problemas e não empurrar para outros 3) Flexibilidade e paciência: não julgar nem desistir dos usuários 4) Disposição a um perfil em constante formação pela equipe 5) Formação em Saúde coletiva.

PERFIL DO PROFISSIONAL Necessidade da educação permanente: não existe um perfil acabado e pronto, mas ele está em contínua construção no coletivo profissional Para a qualificação dos recursos humanos, uma das estratégias mais usadas pelas organizações é a capacitação, mas ela é condicionada pelas condições institucionais, políticas, ideológicas e culturais do ambiente profissional que são determinantes das possibilidades e dos limites dessa capacitação (Davini apud BRASIL 2009). Segundo Roschke, Brito e Palacios (2002: apud BRASIL 2009) os processos de capacitação tem como objetivo melhorar o desempenho pessoal, contribuir para o desenvolvimento de novas competências e servir de substrato para transformações culturais de acordo com as novas tendências na saúde. Isso significa que os processos de capacitação são parte essencial de uma estratégia de mudança institucional dos serviços. Assim para que a capacitação seja efetiva necessita de um contexto institucional e cultural de inovação. Ela precisa acontecer no espaço organizativo e no cotidiano das práticas dos trabalhadores. Por isso nem toda capacitação implica educação permanente, porque ela exige uma estratégia de desenho e execução que parta de uma análise da cultura institucional do serviço. Nesse sentido, a capacitação traduz uma aprendizagem organizacional que acontece no coletivo dos trabalhadores, implicando novas ações coletivas de equipe.

PROBLEMAS ÉTICOS DO SIGILO E DA PRIVACIDADE NA ATENÇÃO BÁSICA QUESTIONÁRIO PRIVACIDADE 10 O ACS comenta informações sobre a intimidade da família e do casal com a equipe de saúde. 12 O ACS conta a seus vizinhos informações obtidas no seu trabalho a respeito de usuários e famílias. 13 O profissional conta informações sobre a saúde de um dos membros da família que ele atende para os demais membros dessa família. QUESTIONÁRIO SIGILO 16 Menores de idade procuram a UBS e pedem à equipe exames, medicamentos ou outros procedimentos sem autorização e/ou conhecimento dos pais. 20 O profissional conta informações sobre a saúde de um dos membros da família que ele atende para os demais membros dessa família, quando este não consegue gerenciar o autocuidado e se expõe a riscos. 27 Usuários pedem a um dos membros da equipe de saúde da família que os outros membros não tenham acesso a alguma informação relacionada à sua saúde. 30 Usuários pedem a um dos membros da equipe de saúde da família que os outros membros não tenham acesso a alguma informação relacionada à sua saúde, mesmo em situação em que seja necessária a participação da família no cuidado. DISCUSSÃO FOCAL Acesso dos agentes comunitários de Saúde ao prontuário: sigilo e confidencialidade em equipe.

SIGILO E PRIVACIDADE Privacidade é um princípio derivado da autonomia que engloba intimidade, vida privada e a honra das pessoas. O Sigilo é um princípio ligado à preservação da dignidade da pessoa atendida. Como o cuidado e as informações sobre o usuário são sempre mais responsabilidade de uma equipe e não de um profissional é necessário pensar esses princípios a partir do exercício do cuidado em equipe e tendo presente os melhores interesses do usuário. Uma questão discutida é a inserção dos agentes comunitários nas equipes e o seu acesso às informações.

CASO EMBLEMÁTICO PARA A ÉTICA DA ATENÇÃO BÁSICA CUIDADO LONGITUDINAL DE USUÁRIOS EM CONDIÇÕES CRÔNICAS (Mendes 2011, 2012). Transição epidemiológica: eventos agudas para condições crônicas. O sistema está preparado para tratar eventos agudos Para condições crônicas a lógica do procedimento da tratar eventos agudos não funciona por ser episódico. A necessidade de um sistema integrado para atender longitudinalmente às condições crônicas exige repensar o atendimento clínico e a própria ferramenta do acolhimento e do vínculo, pois para os adoecidos cronicamente a doença torna-se uma experiência biográfica. Isso exige uma nova clínica. Essa clínica, própria de um sistema integrado não se identifica com procedimentos e ações isoladas, mas práticas em rede, exigindo uma gestão conectada dessa clínica. Ela exige deliberação e planejamento.

HUMANIZAÇÃO EM REDE O que significa humanização, quando é necessário organizar o cuidado em rede Essa humanização em rede exige uma nova clínica e uma nova vigilância. Linhas de cuidado podem representar diferentes desenhos e tipos de cuidado, a indivíduos e coletivos, e nem sempre começam na atenção básica, mas a ela sempre devem retornar. Em seus diversos fluxos, o usuário pode acessá-los a partir de qualquer serviços de atendimento. As linhas de cuidado são modelos de atenção matriciais que integram ações de promoção, vigilância, prevenção e assistência, voltadas para as especificidades de grupos ou necessidades individuais, permitindo não só a condução oportuna dos pacientes pelas diversas possibilidades de diagnóstico e de terapêutica, como também uma visão global das condições de vida (Lagrotta 2010)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAMPOS, GWS. Saúde Paidéia. São Paulo: Editora Hucitec, 2003. CAMPOS GWS. Um método para análise e cogestão de coletivos. São Paulo: Hucitec, 2005. CONILL J. Ética hermenéutica, Madrid: Tecnos, 2006. JUNGES JR, BARBIANI R. Repensando a Humanização do Sistema Único de Saúde à luz das Redes de Atenção à Saúde. O Mundo da Saúde 2012, 36(3): 397-406. JUNGES JR, BARBIANI. Interfaces entre território, ambiente e saúde na atenção primária : uma leitura bioética. Revista Bioética 2013; 21(2): 207-217. LAGROTTA M.T. Redes de atenção à saúde, territorialização e implementação das linhas de cuidado. 2010. MENDES EV. As redes de Atenção à Saúde. Brasília: CONASS / OPAS, 2011 MENDES EV. O cuidado das condições crônicas na atenção primária à saúde; o imperativo da consolidação da Estratégia da Saúde da Família. Brasília: CONASS / OPAS, 2012. MERHY E. E. Saúde. A cartografia do trabalho vivo. São Paulo: Hucitec 2007. SCHRAIBER L.B.; MENDES-GONÇALVES R.B. Necessidades de saúde e atenção primária. In: Saúde do Adulto: Programas e ações na unidade básica. São Paulo: Hucitec, 2000, p. 29-47. ZOBOLI ELCP, FORTES PAC. Bioética e atenção básica: um perfil dos problemas éticos vividos por enfermeiros e médicos do Programa Saúde da Família, São Paulo, Brasil, Cad. Saúde Pública 20(6) 2004: 1690-1699.