Avaliação do estado hídrico e grau de conhecimento sobre hidratação em adolescentes praticantes de futsal

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Transcrição:

Artigo original Avaliação do estado hídrico e grau de conhecimento sobre hidratação em adolescentes praticantes de futsal Evaluation of the hydric status and degree of knowledge about hydration in adolescents futsal practitioners Natalia Morais Cunha 1 Simone Biesek 2 Eduardo Bolicenha Simm 3 RESUMO O futsal vem sendo muito praticado por adolescentes e caracteriza-se pelo alto requerimento metabólico. O objetivo deste estudo foi avaliar o estado hídrico e grau de conhecimento sobre hidratação. Metodologia: Investigou-se 13 adolescentes praticantes de futsal, com faixa etária média de 14,4 anos (±0,506). O estudo foi dividido em: aplicação de questionário de conhecimento sobre hidratação; avaliação do percentual de perda de peso; ingestão hídrica e mensuração da gravidade específica da urina (GEU). Resultados: Os atletas apresentaram nível de conhecimento sobre hidratação satisfatório, porém por meio da avaliação da GEU observou-se que os mesmos iniciavam os jogos hipohidratados (Média GEU=1.023±0.010). Conclusão: O grau de conhecimento sobre hidratação parece não ser suficiente para influenciar o consumo hídrico. 29 PALAVRAS-CHAVE Desidratação; Exercício; Jovens; Desempenho. 1 Nutricionista graduada pelo Centro Universitário Autônomo do Brasil UNIBRASIL. 2 Docente dos Cursos de Saúde do Centro Universitário Autônomo do Brasil UNIBRASIL. 3 Docente e Coordenadora do Curso de Nutrição do Centro Universitário Autônomo do Brasil UNIBRASIL.

ABSTRACT The futsal has been widely practiced by adolescents and is characterized by high metabolic requirement. The aim of this study was to evaluate the hydric status and degree of knowledge about hydration. Methods: It was investigated 13 adolescents who practice futsal, with mean age of 14.4 years (± 0.506). The study was divided into: a questionnaire of knowledge about hydration; evaluation of weight loss percentage; hydric intake and measurement of urine specific gravity (USG). Results: The athletes presented a satisfactory level of knowledge about hydration, however, by evaluating the USG was observed that athletes were dehydrated before the games (Average USG = 1023 ± 0010). Conclusion: The degree of knowledge about hydration does not seems to be enough to influencing the hydric consumption. KEYWORDS Dehydration; Exercise; Adolescents; Performance. 30

Introdução O futsal também conhecido como futebol de salão foi criado na cidade de Montevidéu (Uruguai) em 1934. Esta modalidade é muito praticada no Brasil, fazendo parte de uma das principais atividades desportivas das aulas de educação física nas escolas de todo país, além de ser amplamente praticado como um esporte de competição ou simplesmente como lazer. Uma das finalidades da Confederação Brasileira de Futsal (CBFS) é permitir através dessa prática esportiva, a assistência e a proteção a crianças e adolescentes vulneráveis no âmbito social (Estatuto da CBFS, 2012). As equipes de futsal são formadas por cinco jogadores de linha, sendo um goleiro, e no máximo nove jogadores reservas. Os jogos na categoria juvenil ocorrem em 30 minutos cronometrados, divididos em dois tempos de 15 minutos, tendo um intervalo de 10 minutos entre eles (CBFS, 2013). O futsal se dá a partir de um sistema energético misto, ou seja, aeróbio e anaeróbio, o que demanda um alto requerimento metabólico e neuromuscular. Além disso, se caracteriza por conter grandes movimentações durante todo o tempo de jogo e a recuperação do atleta é incompleta, propiciando um maior gasto energético, aumento da temperatura corporal e da taxa de suor, e consequentemente elevando a necessidade da resistência física e cardiorrespiratória, fazendo com que a hidratação correta seja fundamental (Webber et al., 2009). Porém, sabe-se que crianças e adolescentes apresentam respostas termorregulatórias diferentes em relação aos adultos (SBME, 2009). Segundo Perrone e Meyer (2011) o sistema termoregulatório de crianças encontra-se em desenvolvimento, fazendo com que a eliminação de calor por evaporação, fique prejudicada, tendo em vista que crianças apresentam menores taxas de suor e concentração de eletrólitos do que os adultos. Além disso, com grande frequência, crianças e adolescentes não consomem água em quantidades suficientes para repor a perda da taxa de sudorese, principalmente durante os treinos e sugere-se que nessa população, a palatabilidade das bebidas possa ser um fator importante no estímulo à reposição de água (SBME, 2009). Cleary et al. (2012) revelam que não basta apenas que os jovens tenham um bom nível de conhecimento sobre o hábito de se hidratar, também é necessário programar práticas eficazes, onde a prescrição do volume a ser consumido individualmente e a exigência de se reidratar em horários estipulados tornam-se essenciais para manter o estado hídrico ideal. A desidratação tem sido definida como uma perda de peso maior do que 2%, o que compromete o desempenho aeróbio, o desempenho mental/cognitivo, aumenta a percepção do esforço e altera a resposta imunológica (Herring et al., 2013; Perrone e Meyer 2011). Além disso, a escassez de informações sobre o estado hídrico de jovens atletas justifica a necessidade em analisar aspectos sobre hidratação em adolescentes praticantes de futsal. Sendo assim, avaliar o estado hídrico de jovens praticantes de atividade física torna-se importante para prevenir que os mesmos iniciem o exercício desidratados. Portanto, o estudo teve como objetivo mensurar o grau de conhecimento sobre hidratação, analisar o consumo hídrico e o percentual de perda de peso durante três jogos de competição, além de comparar os marcadores urinários a fim de classificar o estado hídrico de adolescentes praticantes de Futsal. Métodos Trata-se de um estudo descritivo longitudinal, que investigou o conhecimento sobre hidratação e perda hídrica de adolescentes praticantes de futsal durante treinos e competições, após aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Autônomo Unibrasil/Complexo de Ensino Superior do Brasil (PARECER: 816.933). Foram investigados 13 adolescentes do sexo masculino, com idade entre 14 a 15 anos, que participam dos treinamentos e campeonatos de futsal de um clube privado da cidade de Curitiba/Pr. Como critérios de inclusão foram selecionados atletas da categoria Sub 15, que correspondem à faixa etária entre 14 e 15 anos e que tinham periodicidade nos treinamentos de no mínimo uma vez por semana. Foram excluídos do estudo, atletas que estivessem abaixo ou acima da faixa etária exigida, em outras catego- 31

32 rias e adolescentes que não tinham periodicidade nos treinamentos. Os dados foram coletados após o recolhimento da assinatura do Termo de Assentimento de todos os adolescentes e a assinatura dos pais ou responsáveis, pelo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Inicialmente foi aplicado um questionário composto por 13 perguntas estruturadas objetivas, adaptado de Brito e Marins (2005), porém com alguns faltantes, por ter sido um dia de treino comum, totalizaram 11 adolescentes. A avaliação do estado hídrico dos atletas se deu em duas etapas. Na primeira fase foi realizada a avaliação do consumo hídrico em três partidas de futsal durante um campeonato, estes também foram pesados antes e depois dos jogos, para que fosse obtido o percentual de perda de peso. Na segunda fase, verificou-se a densidade urinária de cada voluntário, a fim de adquirir os parâmetros urinários e assim classificá-los quanto ao estado hídrico. Consumo hídrico: durante três jogos do campeonato Metropolitano, aleatórios, cada atleta recebeu uma garrafa com água de 505 ml (Cristal ), para consumirem ad libitum. As garrafas foram demarcadas com os respectivos nomes, caso o atleta solicitasse mais água, outra garrafa estaria à disposição. Ao final, foi verificada a quantidade consumida por cada adolescente estimando o número de garrafas consumidas e a sobra das embalagens por meio de um copo medidor com capacidade de 500 ml. Percentual de perda de peso: nesses mesmos dias os atletas foram submetidos à pesagem antes e depois dos jogos. Para a determinação da massa corporal, o peso foi aferido com o atleta usando somente calção e camiseta, nas instalações do clube do time em questão, com auxílio de uma balança digital (Marca PLENNA capacidade máxima 180 kg). De acordo com o Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM, 2007), a mudança de peso corpóreo durante a prática de atividade física deve ser menor que 1%. A partir dos dados coletados foi utilizada a seguinte equação para calcular o percentual de perda de peso (Ferreira et al., 2012): Densidade urinária: Foi coletada a urina antes e depois de um jogo de campeonato, de cada adolescente, em frascos coletores de urina estéreis. Após foi extraída uma amostra de uma a duas gotas, onde se realizou a mensuração em um refratômetro manual de precisão em 0 a 32% (modelo 103, BIOBRIX). A densidade depende dos marcadores urinários, gravidade específica da urina (GEU), variando de 1.010 a 1.030 g/ml -1 e da coloração, sendo considerado normal entre um e dois. Dessa forma realizou-se a classificação do estado hídrico (Quadro 1). (Perrone e Meyer, 2011). Velentín et al. (2014) relatam, em um estudo comparativo, que um dos indicadores não invasivos mais recomendado para avaliar a hipohidratação é a GEU, assim como a Coloração pode ser uma ferramenta alternativa e eficaz para identificar especialmente a desidratação não extrema. Quadro 1: Classificação do estado hídrico através dos parâmetros urinários. Parâmetro Gravidade específica da urina (GEU) Coloração da urina Bem hidratado < 1.010 1 2 Hipohidratação leve 1.010-1.020 3 4 Hipohidratação moderada 1.021-1.030 5 6 Hipohidratação severa > 1.030 > 6 FONTE: ADAPTADA DE PERRONE E MEYER, 2011. Análise estatística: O tratamento estatístico dos dados se deu através do cálculo de medidas descritivas para as variáveis quantitativas e cálculo de porcentagens para o questionário. Para a comparação entre os resultados das variáveis e as especificações da literatura foi realizado o teste t de student para uma amostra e na comparação entre os três jogos, foi realizada a Análise de Variância (ANOVA) com fator único. Para a comparação dos resultados da GEU e Coloração foi realizado o teste de Wilcoxon para dados pareados. Os testes foram realizados com significância de 0,05 e obtidos pelo software Microsoft Office Excel 2007.

Resultados Foram investigados 13 adolescentes praticantes de futsal, com faixa etária média de 14,4 anos e desvio padrão 0,506. Destes atletas, apenas 11 responderam o questionário sobre o grau de conhecimento em hidratação, aplicado em um dia de treino comum. Observou-se que 63,6 % (n=7) dos jovens referiam o hábito de se hidratar durante os treinos e 72,7 % (n=8) referiam ter esse costume durante as competições. Em relação ao momento que costumavam se hidratar 81,8 % (n=9) referiam apresentar esse hábito durante os treinos e 90,9 % (n=10) durante as competições, conforme tabela 1. Percebe-se também que 54,5% (n=6) dos entrevistados se preocupavam com o tipo de hidratação, porém a grande maioria dos jovens referiu nunca ter recebido orientações sobre a melhor maneira de se hidratar, correspondendo a 72,7% (n=8) da amostra total (Tabela 2). Em relação ao momento ideal para se hidratar, os adolescentes acreditam que o mesmo deveria ser feito após a sensação de sede ou quando a sede já estiver muito acentuada, 45,5 % (n=5) e 27,3 % (n=3), respectivamente. Apenas 27,3 % (n=3) dos adolescentes disseram que a hidratação deveria ser realizada antes da percepção fisiológica da vontade de consumir líquidos. Quanto à preocupação à necessidade de se hidratar durante determinada época do ano, 63,6 % (n=6) dos jovens relataram que tal frequência independia da estação do ano (Tabela 3). Tabela 1: Respostas do questionário, representadas em percentual, aplicado nos adolescentes em um dia de treino, no clube do time em questão, em relação ao costume e momento de hidratar-se durante treinos e competições. Perguntas Variáveis % Treinos % Competições Nunca 0 0 Você tem o Quase nunca 0 0 costume de se Às vezes 36,4 27,3 hidratar? Sempre 63,6 72,7 Quando você Antes 0 0 se hidrata, seu Durante 81,8 90,9 costume é Depois 63,6 63,6 Fonte: Autor 2015 Tabela 2: Preocupação quanto ao tipo de hidratação realizada pelos jovens praticantes de futsal e se já receberam orientações sobre o tema. Perguntas Quando você se hidrata, se preocupa com o tipo de hidratação? Você já teve alguma orientação sobre qual a melhor maneira de se hidratar? Fonte: Autor 2015 Variáveis Sim (%) Não (%) 54,5 45,5 27,3 72,7 Tabela 3: Percepção dos adolescentes em relação ao momento ideal e época do ano em que se deve ter atenção redobrada ao processo de hidratação. Perguntas Variáveis % Quando se deve beber líquidos? Sua preocupação quanto a necessidade de hidratar é mais frequente: Fonte: Autor 2015 Antes da sensação de sede 27,3 Após sentir sede 45,5 Quando se sente muita sede 27,3 Verão 18,2 Inverno 0 Independente 63,6 Não se preocupa 18,2 Sobre como a hidratação correta deveria ser procedida, 45,5 % (n=5) opinaram que o ideal era beber ¼ de litro para cada ¼ de hora e 36,4 % (n=4) relataram que não tinham ideia do consumo. (Figura 1). Em relação ao estado hídrico, a tabela 4 descreve informações do percentual de perda de peso e a ingestão hídrica dos jogadores. Inicialmente foi feita uma comparação entre os três jogos, para verificar se havia diferença significativa entre estas observações, tanto para o percentual de perda de peso (p=0,833), quanto para ingestão hídrica (p=0,133). Conclui-se que não houve diferença significativa entre os jogos avaliados, o que possibilita a análise destas três observações de maneira conjunta. 33

Figura 1: Como deve proceder a hidratação adequada durante a atividade física. Fonte: Autor 2015 Tabela 4: Medidas descritivas para percentual de perda de peso (%PP) e ingestão hídrica (IH), avaliados durante três jogos aleatórios do campeonato Metropolitano 2014. 34 Medidas % PP-1 IH-1 % PP-2 IH-2 % PP-3 IH-3 % PP-m IH-m Média 0,67 443,0 0,50 626,4 0,60 382,5 0,63 466,0 Desvio padrão 0,82 286,3 0,57 392,0 0,57 151,4 0,51 206,4 Mínimo -0,18 150,0 0,00 80,0 0,00 220,0 0,10 156,7 Máximo 2,44 1020,0 1,47 1500,0 2,08 700,0 1,80 926,7 Mediana 0,39 450,0 0,37 500,0 0,54 375,0 0,60 450,0 Legenda: %PP-1 - percentual de perda de peso jogo 1, IH-1 - ingestão hídrica em ml jogo 1, %PP-2 - percentual de perda de peso jogo 2, IH-2 - ingestão hídrica em ml jogo 2, %PP-3 - percentual de perda de peso jogo 3, IH-3 - ingestão hídrica em ml jogo 3, %PP-m - percentual de perda de peso média dos três jogos, IH-m ingestão hídrica média dos três jogos. Fonte: Autor 2015 Na tabela 5 são apresentadas as medidas descritivas referentes à densidade urinária dos jovens pra- Observou-se que a média do percentual de perda de peso dos adolescentes nos três jogos foi de ticantes de futsal em relação ao estado hídrico. Dos 0,63±0,51% assim como a ingestão hídrica foi de 13 jogadores, um não competiu neste dia, sendo realizadas 12 coletas no pré-jogo e apenas sete no pós- 466±206,4 ml. Em relação ao percentual de perda de peso não houve diferença significativa entre o -jogo. Entre os que participaram da coleta verificouvalor e a recomendação de perda de até 1% -se que antes da partida a média dos marcadores (p=0,989). Para a ingestão hídrica os valores demonstram um consumo próximo do adequado, uma 0.010 e coloração urinária média 3,29 com desvio urinários, GEU foi de 1.023 com desvio padrão de vez que a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME, 2009) recomenda o consumo de um volusificação encontrada no quadro 1, estes adolescentes padrão 0,007, indicando que, de acordo com a clasme de líquidos, durante a prática de exercícios, entre iniciaram o jogo com estado de hipohidratação leve 500 a 2.000 ml/hora. O teste t de student demonstrou que os valores não diferem significativamente a moderado. Realizando o teste Wilcoxon para comparar os valores antes e depois (p>0,05) conclui-se que estes valores não apresentam uma alteração significativa para ambos os parâmetros do valor mínimo da recomendação (p=0,282) avaliados.

Tabela 5: Classificação do estado hídrico dos adolescentes através das medidas descritivas para a densidade urinária GEU-Pré GEU-Pós COLOR-Pré COLOR-Pós Média 1.023 1.017 3,29 4,00 Desvio padrão 0.010 0.007 1,70 1,15 Mínimo 1.005 1.007 1,00 3,00 Máximo 1.040 1.027 6,00 6,00 Mediana 1.024 1.015 4,00 4,00 Fonte: Autor 2015 Discussão A partir dos resultados obtidos por meio do questionário aplicado, principalmente pelas questões que investigaram a forma e o momento que a hidratação deveria ser feita, percebe-se que os jovens praticantes de futsal da categoria Sub 15 possuíam um conhecimento satisfatório, porém não o executavam na prática esportiva. De acordo com a literatura, condutas inadequadas no processo de hidratação podem trazer comprometimentos na termorregulação corporal, resultando na elevação do risco de hipertermia e consequente fadiga muscular (Perrone e Meyer 2011; Rossi et al., 2010). Além disso, esse desequilíbrio hidroeletrolítico pode prejudicar a capacidade de resistência aeróbica, diminuir a força do atleta e levar a um estado de letargia e dificuldades de concentração (Perrone, 2010). Almeida et al. (2002) encontraram resultados semelhantes ao presente estudo, ao investigar hábitos de hidratação em adolescentes que praticavam judô. Pereira et al. (2010) acompanharam corredores de rua amadores, com idade superior a 40 anos e verificaram que esses praticantes, além de não se hidratarem corretamente durante as corridas, tinham como principal indicativo para consumo de líquidos, a sensação de sede, o que pode ser considerado inadequado, já que a hidratação deve ser feita antes, durante e após a prática de atividade física, dessa forma garantindo que o indivíduo inicie o exercício adequadamente hidratado (SBME, 2009). Os autores do estudo apontam ainda que este indicativo de sensação de sede ocorre devido à necessidade fisiológica em restabelecer a homeostase hídrica. Em contrapartida, Ferigollo et al. (2012), demonstraram através de questionamentos sobre hidratação em handebolistas com idade entre 19 e 45 anos, que apesar desses atletas apresentaram baixo conhecimento sobre hidratação, os hábitos reais durante as competições eram excelentes, sendo que todos os atletas foram classificados com um bom estado hídrico, porém relataram que um professor de educação física já havia orientado sobre a importância desse hábito. Pereira et al. (2012), realizaram um estudo com um grupo de atletas adolescentes de futebol com idade média de 16 anos, e perceberam que após breves orientações sobre hidratação e pequenas pausas durante uma partida de futebol, ocorreram pequenas mudanças nos pesos aferidos, assim como um aumento no consumo hídrico durante as partidas. Kavouras et al. (2012) também observaram uma melhora na ingestão hídrica em jovens atletas por meio de intervenção educativa. Sabe-se que o consumo hídrico, principalmente na fase da adolescência, é bastante comprometido, sendo insuficiente para manter um estado hídrico adequado (Alvira et al., 2014). Quando se trata de jovens desportistas, esta preocupação tende a aumentar, pois a literatura aponta diversos efeitos negativos decorrentes da desidratação, uma vez que o aumento da temperatura ocorre de forma extremamente rápida quando comparado ao público adulto, podendo-se concluir que o processo de termorregulação dos adolescentes é menos eficiente, estando possivelmente interligado à menor taxa de sudorese, implicando assim no aumento das necessidades hídricas durante práticas esportivas. Além disso, pode- -se citar o aumento expressivo do calor metabólico natural que essa população está comumente sujeita (Juzwiak et al., 2000; SBME, 2009). 35

36 O American Academy of Pediatrics Committee on Sports recomenda que a hidratação adequada deva ser realizada durante toda a prática esportiva, ou seja, antes, durante e depois. Para que o consumo hídrico seja ideal para esta população, o mesmo deve ser iniciado de uma a duas horas antes do exercício, consumindo o equivalente entre 300 a 400 ml de água, durante o exercício, a cada 25 minutos, variar de 90 a 120 ml e após a atividade física, consumir em média 480 ml de água para cada 0,5 kg perdido durante a atividade (Reis et al., 2009). A recomendação da SBME (2009) é bastante semelhante, sendo esta de 250 a 500 ml duas horas que antecedem o exercício, durante, o consumo deve proceder a cada 15-20 minutos, totalizando um volume entre 500 a 2.000 ml/hora, dependendo da taxa de sudorese de cada indivíduo e após, continuar com a ingestão de líquidos. O consumo médio de água durante os treinos no presente estudo, investigado em três jogos de futsal foi de 466 ml, com desvio padrão de 206,4 ml. O consumo hídrico encontrado pode ser considerado adequado se comparada com a recomendação do American Academy of Pediatrics Committee on Sports e da SBME (2009). No entanto, no presente estudo observou-se uma variação bastante ampla, sendo que o menor consumo foi de 80 ml e o maior de 1.500 ml. Ao realizar o percentual do total de medições da ingestão nos três jogos avaliados, verificou-se que 55% dos adolescentes estavam dentro da recomendação citada e 45% apresentaram-se com consumo abaixo do indicado, o que nos leva a crer que nem todos os jogadores estavam adequadamente hidratados, uma vez que o jogo se destaca por exigir grandes explosões físicas em um curto período de tempo. Essa situação direciona para um aumento na produção de suor e consequentemente perda de líquido corporal, reforçando ainda mais, a necessidade de todos os jovens estarem bem hidratados, a fim de garantir um desempenho eficiente (Silva et al., 2010). Porém, para estar dentro da adequação sugerida, a hidratação deve ocorrer durante todo o tempo de jogo, o que não aconteceu com o grupo estudado. De acordo com o posicionamento do Colégio Americano de Medicina Esportiva (2007), a perda hídrica deve ser inferior a 1% durante a prática de exercícios. Perrone e Meyer (2011) relatam que um mínimo grau de desidratação, já é suficiente para que o atleta tenha um tempo de tolerância ao exercício reduzido. Uma perda hídrica de 1% do peso corpóreo diminui significativamente a resistência aeróbica e uma perda maior do que 2% podem afetar habilidades específicas e trazer prejuízos no processo termorregulatório. (Carvalho e Mara, 2010). No presente estudo, os adolescentes tiveram uma perda hídrica dentro do estabelecido, no entanto, é possível notar que semelhante ao encontrado com a ingestão hídrica, a perda hídrica também apresentou grande variação nos valores encontrados, podendo presumir que alguns jovens estariam com estado hídrico inadequado. O valor máximo de perda hídrica encontrado em alguns jovens correspondia a 2,4%, o que ultrapassa a recomendação citada. De acordo com Nobrega et al. (2007), o estado hídrico adequado é caracterizado pela variação dos valores da GEU entre 1.013 e 1.029. Quando estes valores ultrapassam 1.030 significa que o indivíduo encontra-se com desidratação. Porém, as informações divulgadas pela National Athletic Trainers Association (NATA), citada por Perrone e Meyer (2011), são divergentes. Considera-se o indivíduo bem hidratado aquele que apresentar valores de GEU abaixo de 1.010 e coloração urinária entre 1 e 2, desidratação leve GEU entre 1.010 e 1.020 e coloração urinária entre 3 e 4 e desidratação moderada GEU entre 1.021 e 1.030 e coloração urinária entre 5 e 6. Observou então que de acordo com os valores citados pela NATA, o grupo estudado apresentou-se com hipohidratação leve à moderada, antes mesmo de iniciar a partida de futsal, onde o GEU de 1.023 considera-se como hipohidratação moderada e coloração 3,29 à hipohidratação leve. Volpe et al. (2009) investigaram o estado hídrico prévio à prática esportiva em 138 homens e 125 mulheres atletas, com faixa etária média de 19,9 anos e verificaram que 47% dos homens e 28% das mulheres iniciavam o treino em estado de hipohidratação. No presente estudo, ao comparar os parâmetros urinários (GEU e Coloração urinária) obtidos antes e depois da partida de futsal, observou-se que não houve alterações sig-

nificativas, sugerindo que os adolescentes permaneceram hipohidratados durante o jogo. Nota-se que o estado de desidratação é comumente encontrado em atletas. É possível perceber também que esse problema não se encontra apenas na faixa etária e na modalidade esportiva estudada. (Almeida et al., 2002; Assis e Navarro 2010; Silva, Carneiro et al., 2011). Dessa forma, deve-se haver uma conscientização não apenas dos esportistas, mas sim, de toda a equipe técnica, para que assim, o conhecimento seja repassado e adquirido por todos, onde o hábito de consumir líquidos, em especial a água, deve ser praticado cotidianamente, principalmente pelo público jovem. Sabe-se que a necessidade hídrica é bastante individual, uma vez que depende do volume perdido pelo suor, do clima, da duração e intensidade do exercício (Perrone 2011; Ribeiro e Liberali, 2010; Silva et al., 2011). Com isso, vale ressaltar a importância da recomendação e prescrição individualizada de reposição de líquidos na efetivação do equilíbrio hídrico. Algumas premissas que ocorreram durante o período de realização do estudo, merecem ser apontadas, tais como as dificuldades encontradas durante o processo de coleta de dados. Mesmo que os adolescentes tenham sido informados sobre os benefícios compensatórios de uma hidratação adequada, talvez a faixa etária selecionada, onde a maturidade está em desenvolvimento, tenha influenciado no cumprimento das regras adotadas para as coletas de forma adequada, deixando de realizar algumas etapas para o aperfeiçoamento do estudo, além do baixo entendimento da seriedade do assunto, dificultando assim alguns processos durante a aplicação da pesquisa. Contudo, tendo em vista que crianças e adolescentes apresentam um maior risco para desidratação e que atletas tenham dificuldades em atingir as recomendações (Drumond et al., 2007; Ribeiro e Liberali, 2010), é fundamental que mais estudos sejam realizados em diferentes faixas etárias e modalidades esportivas, sendo também necessário que profissionais elaborem práticas eficazes para tal adequação. Métodos de intervenção também tem se mostrado bastante eficazes. Magal et al. (2015) relataram que após intervenção em um grupo de atletas do sexo masculino, perceberam um aumento significativo no consumo de líquidos. Dessa forma, o incentivo e a cobrança quanto ao consumo hídrico, deve ser reforçado por parte da equipe. Além do acompanhamento de um profissional adequado, sendo este o nutricionista, para estipular a quantidade recomendada individualmente, garantindo assim a conscientização do público em ter um consumo de líquidos suficiente para manter o estado hídrico ideal. Conclusão De acordo com os resultados do presente estudo, os jovens apresentaram um nível de conhecimento sobre hidratação satisfatório, porém na prática esportiva observou-se que nem todos os adolescentes mantiveram a ingestão suficiente, pois apesar do consumo médio estar dentro da recomendação, a variabilidade encontrada indicou que grande parte dos atletas não se hidratavam corretamente, correspondendo a 45% do grupo. Demonstrando que um bom conhecimento pode não ser o bastante para influenciar o consumo hídrico. Em relação aos parâmetros urinários (GEU e Coloração urinária), os atletas foram classificados com estado de desidratação leve a moderada, o que pode estar diretamente ligado ao percentual de perda de peso, mesmo que este esteja dentro da recomendação, identificou-se também uma variabilidade alta nos valores encontrados. Com isso conclui-se que pode haver falha em relação à falta de orientação, principalmente por profissionais envolvidos com equipes esportivas (educadores físicos, treinadores, nutricionistas). Esses profissionais devem constantemente esclarecer e evidenciar os momentos e a quantidade do consumo hídrico ideal, para que assim, os adolescentes percebam a importância em manter uma hidratação adequada, além da sua influência durante a prática esportiva, afetando de forma significativa o desempenho físico do atleta. 37

38 Referências ALMEIDA, EC; CAVALIERI, MC; HIRSCHBRUCH, MD; CINTRA, IP; FISBERG, M. Hábitos de hidratação em adolescentes praticantes de judô, 2002. Disponível em: <http://www.moreirajr.com.br/revistas. asp?fase=r003&id_materia=3160>. Acesso em: 05 mai. 2015. ALVIRA, JMF; IGLESIA, I; PÊGO, CF; BABIO, N; SALVADÓ, JS; MORENO, LA. Fluid intake in Spanish children and adolescents; a cross-sectional study. Nutr. Hosp, 29:1163-1170, 2014. AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Position Stand on Exercise and Fluid Replacement Medicine and Science in Sports and Exercise, v. 39, p. 377-390, 2007. BRITO, CJ; MARINS, JCB. Caracterização das práticas sobre hidratação em atletas da modalidade de judô no estado de Minas Gerais. Revista Brasileira Ciência e Movimento, 13(2): 59-74, 2005. CARVALHO, T; MARA, LS. Hidratação e nutrição no esporte. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 16, n. 2, 2010. CLEARY, MA; HETZLER, RK; WASSON, D; SALÁRIOS, JJ; STICKLEY, C; KIMURA IF. Hydration behaviors before and after na educational and prescribed hydration intervention in adolescent athletes. J. Athl. Tarin, 47(3): 273-81, 2012. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTSAL, LIVRO NACIONAL DE REGRAS, FIFA. Fortaleza/CE, 2013. Disponível em: <http://www.cbfs.com.br/2009/cbfs/livro_nacional_de_regras_2013_.pdf>. Acesso em: 16 mar. 2014. DRUMOND, MG; CARVALHO, FR; GUIMARÃES, EMA. Hidratação em atletas adolescentes hábitos e nível de conhecimento. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 1, n. 2, p. 76-93, 2007. ESTATUTO DA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTSAL. Fortaleza/CE, 27/Jul. 2012. Disponível em: <http://www.cbfs.com.br/2009/cbfs/estatuto_2012.pdf>. Acesso em: 01 abr. 2014. FERIGOLLO, MC; TRENTIN, MM; CONFORTIN, FG. Composição corporal, taxa de sudorese e hidratação de jogadores de handebol. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 6, n.31, p. 33-43, 2012. FERREIRA, FG; SEGHETO, W; ALVES, GMS; LIMA, EC. Estado de hidratação e taxa de sudorese de jogadores de futsal em situação competitiva no calor. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 6, n. 34, p. 292-299, 2012. HERRING, AS; KIBLER, WB; PUTUKIAN, M; O BRIEN S, JAFFE R et al. Selected issues for nutrition and the athlete: a team physician consensus statement. Med Sci Sports Exerc, 45(12):2378-86, 2013. JUZWIAK, CR; PASCHOAL, VCO; LOPEZ, FA. Nutrição e atividade física. Jornal de Pediatria, Sociedade Brasileira de Pediatria, v. 76, n. 3, p. S349-S358, 2000. KAVOURAS, AS; ARNAOUTIS, G; MAKRILLON, M; GARA- GOUNIC, C; NIKOLAOUS, E et al. Educational intervention on water intake improves hydration status and enhances exercise performance in athletic youth, Scand J Med Sci Sports, 22:684-689, 2012. MAGAL, M; CAIN, RJ; LONG, JC; THOMAS, KS. Pre-practice hydration status and the effects of hydration regimen on collegiate division III male athletes. Journal of Sports Science & Medicine, 14(1):23-28, 2015. NOBREGA, MM; TUMISKI, JÁ; JORGE, K; WORMS, RH; ROSA, WM et al. A desidratação corporal de atletas amadores de futsal. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, v.1, n.5, p. 24-36, 2007. PEREIRA, ER; ASSIS, FR; NAVARRO, F. Perfil e hábitos de hidratação dos corredores de rua de Curitiba, categoria amador. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 4, n. 22, p. 336-344, 2010. PEREIRA, GSP; LIBERALI, R; NAVARRO, F. Grau de desidratação após treinamento em atletas de futebol da categoria sub-18. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 6, n. 33, p.234-240, 2012. PERRONE, CA. Estado de hidratação, sudorese e reidratação durante uma sessão de treino no calor em jovens praticantes de diferentes esportes. Tese de Doutorado. UFRGS. Porto Alegre. 2010. PERRONE, CA; MEYER, F. Avaliação do estado hidroeletrolítico de crianças praticantes de exercício físico e recomendação de hidratação. Revista Brasileira Ciência Esporte, v. 33, n. 3, p. 773-786, 2011. REIS, VAB; AZEVEDO, COE; ROSSI, L. Perfil antropométrico e taxa de sudorese no futebol juvenil. Revista Brasileira Cineantropom Desempenho Humano, 11(2): 134-141, 2009. RIBEIRO, JPS; LIBERALI, R. Hidratação e exercício físico revisão sistemática. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 4, n.24, p. 506-514, 2010. ROSSI, L; REIS, AB; AZEVEDO, COE. Desidratação e recomendações para a reposição hídrica em crianças fisicamente ativas. Revista Paul. Pediatr, 28(3): 337-345, 2010. SBME (Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte). Modificações Dietéticas, Reposição Hídrica, Suplementos Alimentares e Drogas: Comprovação de Ação Ergogênica e

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