Risco Ambiental Causado pelo Descarte de Medicamentos. Vencidos ou não Utilizados pela População

Documentos relacionados
Descarte de Medicament os. Responsabilidade compartilhada

PERCEPÇÃO DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO SOBRE OS IMPACTOS AMBIENTAIS PROMOVIDOS PELO DESCARTE INADEQUADO DE FÁRMACOS

DESCARTE RESPONSÁVEL DE MEDICAMENTOS DENTRO DO CONTEXTO DO USO RACIONAL

DESCARTE DE MEDICAMENTOS REALIZADO PELA POPULAÇÃO DE SANTA HELENA, SC

Avaliação do conhecimento dos usuários de Unidades Básicas de Saúde sobre os riscos ambientais decorrentes do descarte incorreto de medicamentos.

~ 54 ~ DESCARTE DE MEDICAMENTOS DOMICILIARES E IMPACTO AMBIENTAL: CONSCIENTIZAÇÃO DA POPULAÇÃO NO MUNICÍPIO DE CAÇADOR/SC 1

DESCARTE E USO DE MEDICAMENTOS DE FORMA RACIONAL

Eixo Temático: Inovação e Sustentabilidade em Diferentes Setores DESCARTE CORRETO DE MEDICAMENTOS NO MUNICÍPIO DE SÃO GABRIEL (RS)

HOSPITAL PUC-CAMPINAS PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS COM IMPACTO AMBIENTAL E FINANCEIRO EM SERVIÇOS DE SAÚDE

Decreto de Regulamentação da Lei: DECRETO ESTADUAL n DE 03/12/02.

FOLDER DE CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS PARA CRIANÇAS

PERFIL DOS MEDICAMENTOS RECOLHIDOS NA I MARATONA DE MEDICAMENTOS VENCIDOS OU EM DESUSO DA FJN

LOGÍSTICA REVERSA NO PROJETO USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS

PALAVRAS-CHAVE Descarte de medicamentos. Uso racional de medicamentos. Informação.

A RELAÇÃO ENTRE O INDEVIDO GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS EM SAÚDE E O SEU IMPACTO AO MEIO AMBIENTE

Programa Integrado de Gerenciamento de resíduos em Instituição pública de saúde. Neuzeti Santos SP, 24/11/2016

8. Gestão de Resíduos Especiais. Roseane Maria Garcia Lopes de Souza. Há riscos no manejo de resíduos de serviços de saúde?

TÍTULO: USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS: ANÁLISE DO DESCARTE DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE POR USUÁRIOS DO MUNICÍPIO DE BARRETOS

USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS: DESCARTE CORRETO DE MEDICAMENTOS.

ASPECTOS RELEVANTES DO DESCARTE DE MEDICAMENTOS EM DROGARIAS

BRASIL RSS - GRUPOS 04/04/2017. RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE (RSS)-Conceito e Bases para seu Gerenciamento DENOMINAÇÃO

RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE: CONHECIMENTO DOS AGENTES DE LIMPEZA

AVALIAÇÃO DO DESCARTE DE PERFURO CORTANTES POR PACIENTES USUARIOS DE INSULINA ATENDIDOS POR UMA DROGARIA DE VIÇOSA, MG

AÇÕES DO PROJETO USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS EM 2011

BRASIL 30/05/2019. RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE (RSS)-Conceito e Bases para seu Gerenciamento DENOMINAÇÃO RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE

Resíduos de Serviços de Saúde RSS

AÇÕES DO PROJETO USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS EM 2012

Carência no armazenamento, gerenciamento e destinação do lixo hospitalar em um Município da região de Maringá-PR

Gestão de Resíduos. aplicada a farmácias e drogarias. Tatiana Ferrara Barros

PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE: DESCORTINANDO CONHECIMENTO DOS ENFERMEIROS

Dr NEILA CRISTINA FREITAS MAIA HOSPITAL E CLÍNICA VETERINÁRIA ZOOVET

AVALIAÇÃO DO DESCARTE INDEVIDO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO DE POCINHOS - PB

SAÚDE E LIMPEZA PÚBLICA

DIAGNÓSTICO DA DESTINAÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES NO ESTADO DA PARAÍBA

26 a 29 de novembro de 2013 Campus de Palmas

ESTUDO SOBRE A FORMA DO DESCARTE DE MEDICAMENTOS UTILIZADO EM AMBIENTE DOMICILIAR: UMA REVISÃO

Hsa GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS. Resíduos Sólidos. PROFa. WANDA R. GÜNTHER Departamento Saúde Ambiental FSP/USP

USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS: TROTE SOLIDÁRIO NA UEPG, VERSÃO 2010.

PALESTRA E FORMULÁRIO PARA CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS EM ESTUDANTES DE FARMÁCIA

ESTUDO SOBRE O DESCARTE DE MEDICAMENTOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE - SP

O gerenciamento dos Resíduos de Serviço de Saúde (RSS) gerados em Farmácias de Fortaleza-Ce

Anais do Simpósio de Iniciação Científica FACLEPP UNOESTE 1 RESUMOS DE PROJETOS...2

RESOLUÇÃO-RDC No- 59, DE 24 DE NOVEMBRO DE 2009

IBEAS - Instituto Brasileiro de Estudos Ambientais

Frente a Política Nacional de Resíduos Sólidos

DIAGNÓSTICO SOBRE A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS CONSUMIDORES QUANTO À LOGÍSTICA REVERSA DE RESÍDUOS FÁRMACOS

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS

MAPEAMENTO LOGÍSTICO DO PROCESSO DE DESCARTE DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NO SETOR SUL DA CIDADE DE BOTUCATU 1 INTRODUÇÃO

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

DESCARTE DE MEDICAMENTOS E SEUS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS

PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE PGRSS IPTSP/UFG

ANÁLISE DO DESCARTE DOMÉSTICO DE MEDICAMENTOS NO BAIRRO DE SÃO BRÁS NO MUNICÍPIO DE BELÉM PA

UM ESTUDO SOBRE A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUO SÓLIDO E O IMPACTO AMBIENTAL

ANÁLISE QUALITATIVA DA CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL SOBRE COLETA E DISPOSIÇÃO FINAL DE MEDICAMENTOS INSERVÍVEIS EM BELÉM DO PARÁ

IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DO SERVIÇO DE SAÚDE NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO SÃO FRANCISCO DE PAULA - MELHORIAS PARA QUALIDADE

11º ENTEC Encontro de Tecnologia: 16 de outubro a 30 de novembro de 2017

DIAGNÓSTICO DAS UNIDADES DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA PB QUANTO AOS SEUS RESÍDUOS

DIAGNÓSTICO DOS RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE NOS LABORATÓRIOS DE ANÁLISE CLÍNICA DO MUNICÍPIO DE CRUZ DAS ALMAS, BAHIA

PLATAFORMA ITUIUTABA LIXO ZERO

IV Congresso Baiano de Engenharia Sanitária e Ambiental

Anais do XVII Simpósio de Iniciação Científica FACLEPP UNOESTE 1 RESUMOS DE PROJETOS...2 RESUMOS COM RESULTADOS...5

Avaliação do Plano de Gerenciamento de Resíduos dos Serviços de Saúde em uma rede de Drogarias de Vitória da Conquista-BA

WORKSHOP RESÍDUOS SÓLIDOS DESAFiOS PARA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA SAÚDE E LIMPEZA PÚBLICA

PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA SECRETARIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE. Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS SERVIÇO DE SAÚDE/BIOTÉRIO BIOTÉRIO BIODINAMICA INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS CAMPUS DE RIO CLARO/SP

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

Biol. Regina Maris R. Murillo

DESCARTE DE MEDICAMENTOS: UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO NA SAÚDE

A responsabilidade pelo descarte de medicamentos a luz da Política Nacional de Resíduos Sólidos

INVESTIGAÇÃO DOS MEDICAMENTOS COMERCIALIZADOS NAS DROGARIAS E A CONDUTA QUANTO A POLÍTICA DE DESCARTE

O Descarte de Medicamentos no Brasil: um olhar socioeconômico e ambiental do lixo farmacêutico

CARACTERIZAÇÃO DO DESCARTE DE RESÍDUOS FARMACÊUTICOS E PERCEPÇÃO AMBIENTAL EM DROGARIAS DA CIDADE DE PARAGOMINAS-PA

USO RACIONAL E DESCARTE CORRETO DE MEDICAMENTOS

Itens mínimos de um Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos PGIRS

I AVALIAÇÃO DO DESCARTE DE MEDICAMENTOS VENCIDOS NO CONJUNTO CIDADE NOVA IV, NO MUNICÍPIO DE ANANINDEUA - PA

A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE GOIÁS, nos termos do artigo 10 da Constituição Estadual, decreta e eu sanciono

DIAGNÓSTICO DO DESCARTE DE MEDICAMENTOS NAS FARMÁCIAS: ENFOQUE NA LOGÍSTICA REVERSA

RSS CLASSIFICAÇÃO (CONAMA 358/2005)

Descarte de resíduos gerados na área de saúde no Brasil: - do risco ao meio ambiente às práticas regulares de dispensação

RSS - TERMINOLOGIA - GERENCIAMENTO INTRA - ESTABELECIMENTO ABNT NBR ABNT NBR Angela Maria Magosso Takayanagui

CARACTERIZAÇÃO DO DESCARTE DE LÂMPADAS FLUORESCENTES NA CIDADE DE ITABAIANA PB

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

TERMO DE REFERÊNCIA PARA APRESENTAÇÃO DO PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE PARANAVAÍ ESTADO DO PARANÁ

PLATAFORMA ITUIUTABA LIXO ZERO

SINFARMIG MESA REDONDA - DESCARTE DE MEDICAMENTOS. Agosto / 2011 DESCARTE DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS. Rogério Queiroz

- TERMO DE REFERÊNCIA - PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

ESTUDO DO DESCARTE DE MEDICAMENTOS E CONSCIENTIZAÇÃO NO IFSULDEMINAS - CAMPUS MACHADO/MG.

CATEGORIA: Apresentação Oral Eixo Temático - Tecnologias

Questionário: informações sobre a gestão municipal dos RSS

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

José F. Agostini Roxo ABNT NBR 16457:2016 LOGÍSTICA REVERSA DE MEDICAMENTOS T APRESENTAÇÃO

AUDIÊNCIA PÚBLICA SOBRE COLETA SELETIVA Piracicaba 17/05/2016. GVS XX PIRACICABA Luiz Alberto Buschinelli Carneiro.

Programa de Capacitação de Agentes Fiscais SANTA MARIA: 14/08/2013

IDENTIFICAÇÃO DE INCONFORMIDADES NAS PRESCRIÇÕES MÉDICAS DA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE DE GUIRICEMA, MG

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS

Responsabilidade ambiental

Descarte de medicamentos: atitudes e práticas da comunidade farmacêutica. Disposal of drugs: attitudes and practices of the pharmaceutical community

Transcrição:

Risco Ambiental Causado pelo Descarte de Medicamentos Fabiana Sousa Pugliese 1 Vencidos ou não Utilizados pela População Izabella Christynne Ribeiro Pinto Valadão 2 Saulo Roni Moraes 3 Resumo Devido o aumento do consumo de medicamentos nos últimos anos, proporcional ao crescimento populacional e aos avanços científicos houve o aumento do desperdício de medicamentos juntamente com o aumento da automedicação, com a população fazendo estoques em suas residências, levando a possíveis intoxicações ou uso de medicamentos fora da validade. O descarte de medicamentos no Brasil é feito por grande parte da população em lixo comum ou na rede de esgoto, gerando graves impactos ambientais. O objetivo deste estudo é traçar os riscos ambientais que o descarte de medicamentos vencidos, realizado pela população, produzem à saúde pública e ao meio ambiente. O levantamento bibliográfico realizado demonstra que o consumidor final destes medicamentos, não sabe o que fazer com seus estoques caseiros e que é muito pequena a parte da população brasileira que já recebeu alguma orientação quanto o descarte correto de seus medicamentos, tendo descartado algum medicamento vencido ou não utilizado, em postos de coleta. Palavras-chave: Medicamentos vencidos, descarte correto de medicamentos, riscos ambientais. Abstract Due to the increased consumption of drugs in recent years, in proportion to population growth and scientific advances there was an increase of drug waste along with the increase in selfmedication, with the population making inventories in their homes, leading to possible intoxication or drug use out of date. The disposal of medicines in Brazil is done by much of the population into the environment or into the sewer system, causing severe environmental impacts. The aim of this study is to outline the environmental risks that the disposal of expired medications, performed by the population, produce public health and the environment. The conducted literature demonstrates that the end consumer of these drugs, do not know what to do with your home inventory and it's very small part of the population that has already received some guidance as proper disposal of their medications, having dropped some expired medicine or unused in collection points. Keywords: out-of-date medicines, proper disposal of drugs, environmental risks. 1 Graduada em Farmácia pela Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO).Cursa o Mestrado Profissional de Ciências do Meio Ambiente da UVA. Professora e Coordenadora do Curso de Farmácia da Universidade Iguaçu (UNIG) - fabianapugliese@ig.com.br 2 Graduada em Engenharia Civil pelo UniFOA, Mestre e Doutora em Engenharia Metalúrgica pela UFF e Pós Doutorado pela UFF. Professora Adjunta da UFF e do Mestrado Profissional de Ciências do Meio Ambiente da UVA - izabella.valadao@uva.br 3 Doutor em Ciências pela UFRJ. Professor Adjunto da Graduação e do Mestrado Profissional de Ciências do Meio Ambiente da UVA - sauloroni@gmail.com Edição Especial em Ciências Ambientais - Novembro de 2015 pág.70

Introdução Nos últimos anos, a sociedade vem apresentando aumento significativo no consumo de medicamentos, principalmente pelo crescimento da população, mas também pelos avanços científicos, aumento da produção farmacêutica e pela chegada dos medicamentos genéricos (RODRIGUES, 2009). Favorecendo o aumento do desperdício, a dispensação além da quantidade exata do tratamento, a mudança do tratamento antes do término do medicamento, a distribuição de amostras grátis, automedicação, os medicamentos isentos de prescrição e gerenciamento inadequado de estoque por parte das indústrias e estabelecimentos de saúde (ANVISA, 2014). Diante da facilidade em adquirir medicamentos, a população faz estoques em suas residências, o que pode levar a situações perigosas, tais como: intoxicação em crianças, utilização para uma patologia que não está descrita na bula ou uso dos medicamentos fora da validade. Estudos demonstram que o descarte de medicamentos no Brasil é feito por grande parte da população em lixo comumna rede de esgoto, gerando graves impactos ambientais, danificando vários ecossistemas devido à ausência de tratamento adequado desses efluentes. Resíduos de medicamentos já foram encontrados em água tratada para o consumo humano, bem como em águas de rios (SCHENKEL et al., 2005). O consumidor final destes medicamentos, não sabe o que fazer com seus estoques caseiros e estudos demonstram que é muito pequenaa parte da população brasileira que já recebeu alguma orientação quanto o descarte correto de seus medicamentos, tendo descartado algum medicamento vencido ou não utilizado, em postos de coleta (FALQUETOet al., 2006). Dados preocupantes, já que o consumo de medicamentos aumentou nas últimas décadas (CALDEIRA e PIVATO, 2010; MAIA e GIORDANO, 2012). Resíduos Sólidos de Saúde (RSS), de acordo com a Lei Federal nº 12.305, de 2010, compreendem os resíduos gerados nos serviços de saúde (BRASIL, 2010). A Resolução CONAMA nº 358, de 29 de abril de 2005, define os RSS como os que resultam de processos que necessitam de manejo diferenciado, exigindo ou não, tratamento prévio à sua disposição final. Edição Especial em Ciências Ambientais - Novembro de 2015 pág.71

A NBR 10.004 regulamenta a classificação dos resíduos sólidos quanto sua periculosidade (IPEA, 2012) e a suas propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas, podendo ser perigosos (classe I) ou não perigosos (classe II), segundo as especificações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2004). Em 2004, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária estabeleceu em sua Resolução RDC n.º 306, de 7 de dezembro de 2004, que dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde, que classificou os RSS em: grupo A (resíduos com risco biológico); grupo B (resíduos com risco químico); grupo C (rejeitos radioativos); grupo D (resíduos comuns) e grupo E (resíduos perfurocortantes), contrapondo ao entendimento estabelecido pela NBR 12.808/93 (BRASIL, 2004) e regulamenta os processos de segregação, acondicionamento, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final. Realiza a inspeção dos serviços de saúde e estabelece procedimentos operacionais em função dos riscos envolvidos. No ano seguinte, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), por meio da Resolução CONAMA n.º 358, de 29 de abril de 2005 trata do gerenciamento sob a forma da preservação dos recursos naturais e do meio ambiente. Impõe aos órgãos ambientais estaduais e municipais o estabelecimento de critérios para o licenciamento ambiental dos sistemas de tratamento e destinação final dos RSS. Outro avanço significativo para a tentativa de diminuir o estoque caseiro de medicamentosda população brasileira foi a Resolução RDC n.º 44, de 17 de agosto de 2009, que dispõe sobre o Regulamento da participação das farmácias e drogarias nos programas de coleta de medicamentos descartados pela população.logo a seguir, em 2010 foi aprovada a Lei nº 12.305 que marcou de forma relevante a proteção de saúde pública e do meio ambiente, importante passo para a alteração dos padrões de produção e consumo, buscando o desenvolvimento sustentável. Embora não aborde claramente os medicamentos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é um importante passo para a alteração dos padrões de produção e consumo e contém os princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes relativos à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo aqueles Edição Especial em Ciências Ambientais - Novembro de 2015 pág.72

perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos, aplicáveis aos medicamentos vencidos e aos não utilizados pela população. O presente trabalho tem como objetivo conhecer as diferentes maneiras de descarte de medicamentos vencidos e não utilizados pela população, verificando o atendimento à Política Nacional de Resíduos Sólidos. 2. Metodologia O presente estudo é uma pesquisa bibliográfica com abordagem qualitativa, de modalidade teórica e com análise da bibliografia formal, discursiva e concludente. Para seu desenvolvimento foram pesquisados artigos e periódicos na área da saúde coletiva, realizados em base de dados Scielo e Periódicos CAPES, além de outros sítios eletrônicos, tendo como descritor de busca as seguintes palavras chaves: medicamentos vencidos, descarte correto, riscos ambientais. 3. Resultados Um total de 15 artigos, que retratam a realidade da população brasileira foi avaliado, tendo sido selecionados oito artigos diretamente relacionados ao objetivo deste estudo. 4. Discussão Não há divulgação em nenhum dos meios de comunicação, seja através das Indústrias Farmacêuticas, do Ministério da Saúde, do Ministério do Meio Ambiente, ou ainda pelos profissionais de saúde sobre a forma adequada de descarte, potenciais perigos a saúde pública, ou danos ambientais decorrentes do despejo aleatório desses resíduos seja no esgoto doméstico ou no aterro sanitário. Em 2013, o Brasil foi o sétimo mercado mundial em volume de medicamentos vendidos, gerando cerca de 10 a 28 mil toneladas/ano de descarte no lixo doméstico de medicamentos vencidos, juntamente com as sobras não utilizadas durante tratamento médico (RIBEIRO e BINSFELD, 2013). De acordo com o SINITOX (Sistema Nacional de Informações Tóxico - farmacológicas), os medicamentos ocupam o 13º lugar em Edição Especial em Ciências Ambientais - Novembro de 2015 pág.73

relação às intoxicações domiciliares. A sobra de medicamentos está relacionada à distribuição aleatória de amostra-grátis, juntamente com o uso indiscriminado de medicamentos e a quantidade dispensada além do tratamento do paciente e a interrupção ou mudança de tratamento. Em pesquisa realizada por Franco e Casabuena em 2014 em escola do SENAC,no município de Uruguaiana, Rio Grande do Sul, alunos do curso da área de saúde, constataram que grande parte da população não tem informação quanto ao descarte correto dos medicamentos não utilizados por elas mesmas e quanto ao impacto que eles provocam contaminando água, solo e animais, afetando além do ecossistema, sua própria saúde e a saúde das pessoas ao seu redor (ANVISA, 2014). No estudo de Bueno et al.(2009)evazet al.(2011), para saber se a população realmente possui medicamentos vencidos ou sem utilização em suas residências, dados preocupantes surgiram constatando que 97% da população possui medicamentos em casa, enquanto que 88%, demonstrando que o índice de medicamentos adquiridos e armazenados pela população vem aumentando através dos anos. Baseado nos artigos selecionados acredita-se que o alto índice de informantes terem medicamentos na residência seja consequência da facilidade de aquisição e que o acúmulo destes medicamentos também possa ocorrer devido a falhas na continuidade do tratamento onde o usuário não o siga até o fim. No caso de doenças crônicas como diabetes e hipertensão, existe a possibilidade de não adesão ao tratamento por parte do usuário principalmente por causa dos efeitos indesejáveis da droga ou custo dos fármacos, além de sobras de tratamentos anteriores cujos medicamentos não ofereciam possibilidade de fracionamento sendo vendidos em quantidade maior do que o prescrito, conforme evidenciado nas pesquisas mais recentes de Kalinke e Junior (2014)e Oliveira et al. (2015). Em contrapartida, em estudo realizado por Hoppe e Araújo (2012) e Pugliese etal., 2015 os resultados mostram que a população tem a percepção de que faz o descarte incorreto de medicamentos vencidos e não utilizados e estão conscientes que este descarte causa danos ambientais, entretanto, utiliza esta forma por não ter outra opção consolidada, simplesmente não sabendo como proceder para um descarte de forma correta e segura para a saúde humana e para o meio ambiente. Edição Especial em Ciências Ambientais - Novembro de 2015 pág.74

Neste mesmo estudo, com intuito de avaliar a disposição da população em realizar o correto descarte, havendo assim mais postos de coleta, se eles fariam o descarte nesses locais (MAIA e GIORDANO, 2012). Em que se teve 94,5% dos entrevistados se dispuseram ir até o local de descarte contra 5,5% que não fariam esse deslocamento, essa minoria considera que o recolhimento do medicamento deveria ser feito diretamente nas residências, assim como coleta do lixo doméstico realizado pela prefeitura. Considerações Finais As pesquisas realizadas demonstram que a população brasileira possui o hábito de descartar os medicamentos vencidos por grande parte da população em lixo comum ou na rede de esgoto, apesar de alguns demonstrarem conhecimento em relação às consequências do descarte indevido, talvez pelo fato de não existir nenhuma informação formal sobre o assunto por parte dos órgãos competentes em relação ao descarte correto de medicamentos vencidos. Apesar das diversas regulamentaçõesexistentes sobre o descarte de medicamentos no Brasil já citadas anteriormente, é possível perceber que os resíduos de medicamentos ainda não são tratados de maneira efetiva, sendo possível encontra-los na água, solo e ar, causando danos ao meio ambiente e a saúde do homem.as estatísticas demostram que algumas destas medidas não aumentaram o número de pessoas que fazem o descarte de maneira correta, indicando que somente a legislação não é suficiente, sendo necessária a conscientização da população, através de orientações e informações, de maneira uniforme. Referências ABNT. NBR 12808: Classificação de Resíduos de Serviços de Saúde. Associação Brasileira de Normas Técnicas.1ª edição, Rio de Janeiro, 1993. ABNT. NBR 10004: Classificação de Resíduos Sólidos. Associação Brasileira de Normas Técnicas. 2ª edição, Rio de Janeiro. 2004. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Descarte de medicamentos: responsabilidade compartilhada. 2014. Brasília. DF. Brasil. BUENO, C. S., WEBER, D., OLIVEIRA, K. R. Farmácia caseira e descarte de medicamentos no bairro Luiz Fogliatto do município de Ijuí - RS. Revista de Edição Especial em Ciências Ambientais - Novembro de 2015 pág.75

Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, Rio Grande do Sul, v. 30, n. 2, p. 75-82, 2009. BRASIL. Resolução do CONAMA nº 6 de 19 de setembro de 1991:Dispõe sobre a incineração de resíduos sólidos provenientes de estabelecimentos de saúde, portos e aeroportos.ministério do Meio Ambiente. Diário Oficial da União, Seção 1, p. 24. BRASIL. Resolução do CONAMA nº 358 de 29 de abril de 2005:Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências.ministério do Meio Ambiente. Diário Oficial da União nº 084, Seção 1, p. 63-65. BRASIL. Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Diário Oficial da União. Brasília, DF. BRASIL. Resolução RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004:Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde.agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diário Oficial da União nº 237, Seção 1, p. 49. BRASIL. Resolução RDC nº 44, DE 17 DE AGOSTO DE 2009:Dispõe sobre Boas Práticas Farmacêuticas para o controle sanitário do funcionamento da dispensação e da comercialização de produtos e da prestação de serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias e dá outras providências.agência Nacional de Vigilância Sanitária. CALDEIRA, D.; PIVATO, L.S. Descarte de medicamentos domiciliares vencidos: o que a legislação preconiza e o que fazer? Revista UNINGÁ. v.3, n.4, p.40-49, 2010. FALQUETO, E., KLIGERMAN, D. C., ASSUMPÇÃO, R.F. Como Realizar O Correto Descarte De Resíduos De Medicamentos? Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p.3283-3293, 2006. FRANCO, L. S. e CASABUENA, A. Investigação da forma de descarte de medicamentos e consciência ambiental dos alunos dos cursos da área da saúde da escola SENAC, Uruguaiana. Projeto apresentado à Escola de Educação SENAC Uruguaiana para a Feira de Projetos do SENAC RS. Curso técnico de balconista de farmácia. Escola de educação SENAC Uruguaina. 2014. HOPPE, T. R. G. e ARAÚJO, L. E. B. Contaminação do meio ambiente pelo descarte inadequado de medicamentos vencidos ou não utilizados. Revista Monografias Ambientais.V.6, n. 6, p.1248 1262. 2012. IPEA. Diagnóstico dos Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde, Relatório de Pesquisa. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasília, 2012. KALINKE, A. C., JUNIOR, L. M. Descarte de medicamentos: Situação atual, impactos e conhecimento da população. Revista saúde e pesquisa, v. 7, n. 3, p. 525-530. 2014. MAIA, M. e GIORDANO, F. Estudo da situação atual de conscientização da população de Santos a respeito do descarte de medicamentos. Revista Ceciliana. V.4. n.1.p. 24-28, 2012. OLIVEIRA,J. C.; LIMA,J. O. M.; ZAN,L. B.; MARCONDES,G.; IHA,M.; MARQUES,L. A. M. Implantação de postos de coleta para o descarte adequado de medicamentos e subsequente destinação final. Revista Saúde, Meio Ambiente e Sustentabilidade. V. 10. n.1. Junho de 2015. PUGLIESE, F. S., MORAES, S. R., VALADÃO, I. C. R., SILVA, C. E., CARVALHO, F. L., ANDRADE, L. G. Descarte de medicamentos vencidos Edição Especial em Ciências Ambientais - Novembro de 2015 pág.76

pela população: riscos ambientais. Revista de Ciência & Tecnologia (UNIG).V.15, n. 1, p.90-95, 2015. RIBEIRO, M.A.; BINSFELD, P.C. Descarte de medicamentos vencidos ou não utilizados: riscos e avanços recentes. 8ª Mostra de Produção Científica.Publicação Interna. Pós-Graduação Lato Sensu da PUC Goiás; Nov/2013; Goiânia/GO. RODRIGUES, C. R. B. Aspectos legais e ambientais do descarte. 112 f. Dissertação de Mestrado. Curso de Engenharia de Produção. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. 2009. SCHENKEL, E. P., FERNÁNDES, L. C., MENGUE, S. S. Como são armazenados os medicamentos nos domicílios. Revista Acta Farmacêutica Bonaerense, v. 24, n. 2, p. 266-270, 2005. VAZ, K. V., FREITAS, M. M., CIRQUEIRA, J. Z. Investigação sobre a forma de descarte de medicamentos vencidos: Revista Cenarium Pharmacêutico, Ano 4, n. 4, 2011. Edição Especial em Ciências Ambientais - Novembro de 2015 pág.77