PERFIL DOS MEDICAMENTOS RECOLHIDOS NA I MARATONA DE MEDICAMENTOS VENCIDOS OU EM DESUSO DA FJN

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1 PERFIL DOS MEDICAMENTOS RECOLHIDOS NA I MARATONA DE MEDICAMENTOS VENCIDOS OU EM DESUSO DA FJN Francisca Eritania Passos Rangel 1, Maria do Socorro da Silva¹, Alberto Malta Junior 2. Correspondência para: eritaniarangel@yahoo.com.br Palavras-chave: Medicamentos. Vencidos. Lixo. 1 INTRODUÇÃO A ampliação do acesso a medicamentos no Brasil nos âmbitos públicos e privados trouxe problemas relacionados a estes produtos, que representam um desafio à saúde pública tanto em países em desenvolvimento como em países desenvolvidos. Com o acesso facilitado e o acúmulo de medicamentos nos domicílios, aumenta a possibilidade desses produtos serem usados após sua data de validade (IOB et al, 2013). Segundo Melo et al. (2007), muitos medicamentos adquiridos pelos usuários acabam sobrando. Tais sobras ficam armazenadas nos armários domésticos até perderem a validade e então são descartados de modo incorreto ou então reutilizados por pacientes desatentos. O descarte incorreto é uma das três causas de intoxicação por medicamentos, junto com a autointoxicação e intoxicações acidentais com crianças. Conforme Falqueto et al.(2011), o Brasil é um grande consumidor de medicamentos e acredita-se que cerca de 20% dos medicamentos adquiridos é descartado diretamente na rede de esgoto sanitário ou no lixo doméstico. Eickhoff et al. (2009) relata que diversos estudos têm identificado a presença de fármacos, tanto nas 1 Discentes da Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN) 2 Docente da Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN)

2 águas, como no solo, em diversas partes do mundo como consequência da contaminação resultante do descarte indevido de medicamentos. A legislação existente em no Brasil não obriga as farmácias ou drogarias a fazerem o descarte dos medicamentos manipulados ou industrializados vencidos na mão dos usuários, como também permite ao consumidor descartar os medicamentos no lixo comum, em pias ou vasos sanitários, de onde vão para os esgotos (MELO et al., 2007). Nesse contexto, Alvarenga & Nicoletti (2010) reforçam que a legislação brasileira existente é direcionada aos estabelecimentos de saúde e não engloba a população no geral o que dificulta o entendimento sobre os impactos decorrentes do descarte doméstico de medicamentos. Na maioria das vezes o consumidor não consegue devolver os remédios para drogarias e farmácias, pois estas não têm obrigação legal para aceitá-los, ficando assim facultativo a elas, aceitarem ou não esses medicamentos (FUMAGALLI, 2012). Receber medicamentos vencidos dos usuários acaba gerando gastos adicionais para os estabelecimentos, uma vez que estes serão obrigados a dar a destino correto através de incineração. Segundo Gasparini (2010), o descarte inadequado é feito pela maioria das pessoas por falta de informação e divulgação sobre os danos causados pelos medicamentos ao meio ambiente e por carência de postos de coleta. De acordo com as colocações de Melo et al, (2007), inúmeros danos ambientais e à saúde pública podem ser decorrentes de práticas inadequadas de descarte dos mais diversos tipos de resíduos. Assim, o descarte aleatório de medicamentos vencidos culmina em impactos ambientais extremamente relevantes, afetando diversos ecossistemas. No Brasil não há um Programa Nacional de Recolhimento de Medicamentos Vencidos e sim ações isoladas que já foram iniciadas por municípios brasileiros (FALQUETO et al., 2011). Dentre essas iniciativas destaca-se a Lei Nº , de 3 de agosto de 2012 que estabelece procedimentos a serem adotados para o descarte de medicamentos vencidos e de suas embalagens no Município de Porto Alegre, ficando as farmácias obrigadas a receber e acondicionar os medicamentos vencidos e suas respectivas embalagens, bem como a providenciar-lhes destino ambientalmente

3 adequado. Este trabalho tem por objetivo traçar o perfil dos medicamentos recolhidos na I maratona de medicamentos vencidos ou em desuso da FJN. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de um estudo quantitativo e descritivo referente a catalogação dos medicamentos recolhidos na I Maratona de Medicamentos Vencidos ou em Desuso da FJN. A maratona ocorreu durante a 4ª Semana de Integração dos Alunos da FJN no mês de maio de Para participar da maratona, os alunos formaram esquipes e entregaram os medicamentos vencidos ou em desuso que seriam descartados incorretamente no lixo doméstico. Participaram da maratona 13 equipes dos cursos de Enfermagem, Nutrição, Farmácia e Ciências Contábeis da FJN que recolheram juntas um total de kg de medicamentos (incluindo as embalagens). Durante o mês de julho de 2014 todos os medicamentos foram catalogados com o objetivo de traçar o perfil dos medicamentos recolhidos. Incialmente foram catalogados 752 medicamentos e em seguida foi realizada uma análise mais criteriosa dos medicamentos catalogados onde foram retirados os medicamentos repetidos quanto ao mesmo princípio ativo e ao mesmo fabricante, chegando-se a um total de 583. Posteriormente, tais medicamentos foram analisados quanto ao tempo de vencimento, classificação farmacológica, forma farmacêutica, genéricos, fitoterápicos e amostra grátis. Após a catalogação, todos os medicamentos arrecadados na maratona foram devidamente encaminhados para incineração, evitando desta forma o descarte no lixo domestico e consequentemente evitando prejuízos ao meio ambiente. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Com relação tempo de vencimento, dos 583 medicamentos catalogados, 97% (N=567) estavam vencidos até julho 2014 e 3% (N=16) venceriam até dezembro de Do total vencido (N=567), 48% (N=271) estavam vencidos a mais de 6 meses.

4 Em um estudo realizado por Gasparinie et al. (2011) sobre o descarte de medicamentos e consciência ambiental no município de Catanduva-SP, foi observado que 61,35% dos entrevistados descartavam os medicamentos vencidos no lixo doméstico, sendo 88,18% no lixo seco e 7,75% no lixo úmido. Em um estudo semelhante realizado por Bueno et al. (2009) no município de Ijuí- SC, verificou-se que 56,87% dos entrevistados utilizavam o lixo como local para o descarte de medicamentos vencidos ou sobras e que apenas 19% devolviam para as Unidades Básicas de Saúde descartarem corretamente. Resultado maior foi encontrado por Silva (2005) no RJ, onde verificou-se que 83% dos pesquisados descartavam seus medicamentos vencidos no lixo comum, sem nenhum tratamento. Diversos estudos apontam para os impactos ambientais que o descarte de medicamentos no lixo doméstico pode ocasionar. Acrescenta-se a tal problema o fato de alguns catadores de lixo utilizam os medicamentos descartados colocando em risco a sua saúde. Os resíduos de medicamentos oriundos do depósito de medicamentos no lixo comum, pia ou vaso sanitário não conseguem ser eliminados nos aterros sanitários ou sistemas de tratamento de águas residuais. As substâncias presentes nos medicamentos acabam sendo transferidas para os meios receptores hídricos ou para o solo, podendo desta forma, causar efeitos adversos em seres humanos ou animais que venham a entrar em contato com a água ou solo contaminados (VAZ et al., 2011). Quanto a classificação farmacológica verificou-se uma predominância de medicamentos pertencentes a classe dos Antimicrobianos totalizando 12,7% (N=74), seguidos de Antihipertensivos 11,3% (N=66), Antinflamatórios não-esteroidais 8,6% (N=50), Antifúngicos 6,5% (N=38), Corticosteróides 4,8% (N=28), Outros 56% (N=327). No total foram encontrados medicamentos pertencentes a mais de 50 tipos de mecanismos de ação diferentes. Em um trabalho semelhante realizado por Rocha et al. (2009) para caracterizar os medicamentos descartados por usuários em uma farmácia de Cachoeirinha-RS, observou-se que as classes mais citadas foram Antiinflamatórios 13,2%, analgésicos 10,2%, Antimicrobianos 9,2%, Antihistamínicos 13,1% e Antifúngicos 4,0%. Do total de medicamentos classificados como antimicrobianos observou-se uma predominância

5 de Amoxicilina 16%, Cefalexina 9,3%, Ciprofloxacino 8% e Sulfametoxazol 8%, sendo citadas no total de 28 substâncias antimicrobianas diferentes. A classe de medicamentos mais encontrada no presente estudo reflete um problema comum na saúde brasileira. Mesmo com a legislação vigente, ainda é comum a prática do uso irracional de antimicrobianos. Quando vencidos representam outro agravante, pois o descarte diretamente no meio ambiente (lixo seco ou no lixo úmido) pode resultar em resistência bacteriana. Os medicamentos sólidos foram os mais encontrados neste estudo, sendo representados pelos comprimidos que totalizaram 53,2%, seguidos dos líquidos, sendo eles respectivamente, solução 10,5% e suspensão 7,2%. Com relação ao número de substância por medicamentos, observou-se que 86% (N=502) era constituído de medicamentos simples (uma única substância) e 14% (N=81) era composto (duas ou mais substâncias). A classificação quanto aos genéricos revelou que apenas 14,9% (N=87) pertenciam a este grupo e a grande maioria 85,1 (N=496) pertencia a não genéricos, não sendo realizada distinção entre similares e de referência. Foram encontrados 2,2% (N=13) de medicamentos fitoterápicos. O baixo número de fitoterápicos encontrados reflete a realidade da prescrição desse tipo de medicamentos. Ainda é muito pequena quando comparada com a prescrição dos demais medicamentos industrializados. Os medicamentos oriundos de amostra grátis representaram 8,7% (N=51). Os resultados encontrados neste estudo mostram um valor relativamente pequeno de amostras-grátis em relação ao total de medicamentos. Contudo, é importante ressaltar que amostras-grátis de medicamentos, distribuídas pelos laboratórios fabricantes aos profissionais médicos como forma de propaganda, muitas vezes são fornecidas aos pacientes para o tratamento Eickhoff et al. (2009). Em muitos casos, as apresentações não correspondem às prescritas contribuindo para o acúmulo de medicamentos nas residências e nas farmácias, embora não seja permitido às farmácias trabalhar com as amostras-grátis (CIM-RS, 2011).

6 4 CONCLUSÕES A enorme quantidade e diversidade de medicamentos recolhidos na maratona refletem problemas relacionados com a compra desnecessária de medicamentos e a consequente manutenção da farmácia caseira, falta de adesão ao tratamento ou interrupção do tratamento antes do tempo necessário, prescrições inadequadas, automedicação, inadequação das apresentações, distribuição de amostras grátis, etc. Tais fatores contribuem para o aumento de medicamentos vencidos ou em desuso nas residências e tendo como destino final o lixo doméstico. Os resultados encontrados neste estudo mostram a necessidade de uma legislação adequada que contemple a coleta e destino adequado dos medicamentos oriundos das residências, com o objetivo de minimizar os riscos de contaminação ambiental e seus problemas secundários. Por fim, evidencia-se a necessidade da realização de campanhas educativas pelos profissionais de saúde para a população e a discussão da problemática dentro das instituições de ensino e de saúde com o objetivo de formar uma comunidade ciente dos riscos que o descarte inadequado de medicamentos oferece à saúde ambiental e das pessoas. REFERÊNCIAS ALVARENGA, L.S.V.; NICOLETTI, M.A. Descarte doméstico de medicamentos e algumas, considerações sobre o impacto ambiental decorrente. Revista Saúde, Disponível em: Acesso: 13 ago BUENO, C. S.; WEBER, D.; OLIVEIRA, K. R. Farmácia caseira e descarte de medicamentos no bairro Luiz Fogliatto do município de Ijuí RS. Rev. Ciências Farm.

7 Básica Apl. Rio Grande do Sul, 30(2):75-82, out Disponível em: Acesso: 17 ago CIM - CENTRO DE INFORMAÇÕES DE MEDICAMWENTOS. Boletim informativo do CIM-RS, Nº2, Maio Prática profissional: Descarte de medicamentos. Disponível em: 1. Disponível em Acesso: 17 ago EICKHOFF, P; HEINECK, I; SEIXAS, L. J. Gerenciamento e destinação final de medicamentos: uma discussão sobre o problema. Revista Brasileira de Farmácia. Porto Alegre/RS, n 90, p , mar Disponível em: Acesso: 22 ago FALQUETO, E. et al. Diretrizes para um Programa de Recolhimento de Medicamentos Vencidos no Brasil. Revista Ciência & Saúde Coletiva da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, Disponível em: Acesso: 22 ago FUMAGALLI, T. Remédios descartados: Riscos à saúde e prejuízo ambiental Disponível em: Acesso em 02 set. 2014

8 GASPARINI, J.C.; GASPARINI, A. R.; FRIGIERI, M.C. Estudo do descarte de medicamentos e consciência ambiental no município de Catanduva-SP. Disponível em: Acesso: 03 set IOB, G. A.; CAMILLO, E.G.S.; PETRY, R.D. Análise da forma de descarte de medicamentos por usuários de uma unidade de Saúde da Família no município de Porto Alegre/RS. Infarma, v.25, n.3, , Disponível em: Acesso: 03 set LEI Nº , de 3 de agosto de Estabelece procedimentos a serem adotados para o descarte de medicamentos vencidos e de suas embalagens no Município de Porto Alegre. Disponível em: ce_45275_1.pdf. Acesso: 03 set MELO, V. et al. Descarte de medicamentos vencidos por usuários residentes na cidade de São Paulo. Faculdade de Ciências Farmacêuticas e Bioquímicas Oswaldo Cruz Disponível em: Acesso: 12 ago ROCHA, B.S.; HEINECK, I.; AMADOR, T. A.; SEIXAS, L. M. J.; GALLINA, S. M.; SALVADORETI, C.; BORGES, P. E. M. Caracterização dos medicamentos descartados por usuários da farmácia popular do brasil/farmáciaescola da UFRGS. 9º Salão de Extensão Universitária. Porto Alegre, UFRGS, Acesso: 12 ago SILVA, E.R. Problematizando o descarte de medicamentos vencidos: para onde destinar? Monografia. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio; Disponível em URL:

9 Acesso: 12 ago VAZ, K. V.; FREITAS, M. M.; CIRQUEIR, J.Z. Investigação sobre a forma de descarte de medicamentos vencidos. Cenarium Pharmacêutico, n 4, Maio/Nov Disponível em: Acesso: 12 ago